-Ah. Meu. Deus.

(...)

Lily chegou ofegante ao ponto de encontro, uma Starbucks. Ainda tinha que comprar o tal do cookie para o pai. Pelo menos, estava tudo bem vazio.

-Aí está você- ela disse, arrumando a regata. - Atrasado. - bateu as unhas cor de rosa na mesa, enquanto se sentia analisada.

-Engarrafamento.

-Sei. - respondeu, virando para uma atendente super feia com os dentes para frente. Por que ela não colocava um aparelho? Fazia uma cirurgia? Pobrezinha.- Ei, querida, um cappuccino e um café extra forte. E um cookie.

Ele riu, sentando numa mesinha longe da janela:

-Um cookie?

Lily revirou os olhos:

-Para o meu pai- a atendente voltou com os pedidos, incluindo o cookie. Lily fez um gesto para dispensa-la o mais rápido possível- Não posso demorar nada. Ele está em casa, disse que só viria pegar um cappuccino.

-Não tenho direito a um beijinho, hein?

-Ah, cale a boca- disse, o afastando e se afundando na cadeira- Isso tem que acabar.

-Não gosta de mim?

Suspirou. Ele era bonito, daquele mesmo jeito certinho, com os cabelos castanhos curtos e olhos verdes, o típico garoto americano. Não tinha como acha-lo feio. Antes era legal estar com ele, apesar de que era um babaca a maior parte do tempo. Mas tinha toda aquela história... Como estava conseguindo fazer isso com uma amiga? Sentia-se horrível o tempo inteiro, como uma daquelas vilãs de filmes de High School que sempre se dava mal no final e precisava ir para uma escola horrível. Não um internato chique na Europa, ou um ano morando na Escócia que nem a Aria, mas uma escola horrível mesmo. E, Deus, como ela era viciada em seriados.

-Não é isso. Mas está errado. O que estamos fazendo... é simplesmente errado.

-Ela me já superou.

-Você que pensa. Ficar com vários na festa do Malfoy não significou que ela superou você, e sim que ela tem seu lado vadia e tentava esquecer um ex.

-Você está mesmo me dando um fora, Lily Luna Potter? Depois de tudo que aconteceu? Tem certeza?

Lily teve que se segurar mais forte na cadeira.

-Preciso... pensar.- ela balançou a cabeça. Isso era uma chantagem? Ele iria usar um ato impensado e digno de arrependimento contra ela? E se a história de que a princesinha Potter não era tão pura quanto parecia fosse contada ao mundo? Ou pelo menos, ao Upper East Side, que já era todo seu mundo? Você sabe como as fofocas quentes correm rápidas...

-Boa resposta. - ele completou, jogando algumas moedas na mesa- Se precisar de mim, sabe onde me encontrar, linda.

Ela sentiu nojo quando ela beijou na bochecha. Assim que saiu da cafeteria, pegou um guardanapo e limpou o rosto. Onde foi se meter? Estava nervosa como nunca antes. Engoliu o cookie que seria do pai, e pegou o celular, ligando para casa. Antes de qualquer coisa, precisava fazer isso e correr para onde sabia que não iria ser tão julgada assim.

-Alô, pai? Eu vou passar no loft da Victorie, preciso falar com Dominique, acho que ela está com meu batom preferido- mentiu, enquanto o pai concordava- Obrigada, pai.

Precisava fala com alguém, e a pessoa perfeita seria Dominique. Talvez as outras não estivessem percebido que ela estava mudada. Mais madura, um tanto quanto diferente. Contou algumas histórias, e podia ser a pessoa ideal para ajudar Lily. Tinha que ser.

O porteiro já o conhecia, e a deixou entrar sem interfonar. Por pura sorte, encontrou Victorie e Teddy abraçados esperando o elevador.

-Lily! Está indo para ver Domi?- Victorie perguntou, pegando a bolsinha. Lily só conseguiu assentir- Entregue para ela, e avise que vou estar no Teddy, no andar de cima. É a chave da cozinha, pode entrar por lá.

Subiram em silêncio, e foi bom que Lily já descia no primeiro andar. Silêncios em elevadores eram perturbadores, em sua opinião. A música ambiente era muito ruim também, algo como Frank Sinatra e todas essas coisas que os pais gostavam de ouvir. Suspirou em frente à porta. Por algum motivo, hesitou em abrir, mas girou a chave.

-Ah. Meu. Deus. - ela se segurou de novo para não desmaiar diante daquela cena. Seu irmão e Dominique se agarrando na cozinha. Estava chocada. Okay, nem tão chocada assim. Sempre rolou algum clima entre eles, mas nunca foi nada de mais. Devia ser só atração. Só que isso era sério. Não sabia nem como devia agir agora. Mas nenhum dos dois parecia estar se importando.

-Oi, Lily. - cumprimentou Dominique, empurrando James e consciente de que devia estar horrível, e que a prima devia estar pensando coisas horríveis sobre ela nesse momento. Mas o que era pior: não se importava. Tinha valido muito a pena.

Lily não respondeu. Estava com a mão na boca, se segurando no armário. Ela olhava de um para o outro como se estivesse num jogo de tênis. Encarou James, que deu um sorriso divertido. Ela não conseguiu conter o seu sorriso também. Esse era o efeito James Potter nela. Fazia com que nada mais importasse, nem mesmo as aparências.

Tirou a mão dele da sua perna e desceu do balcão deslizando na superfície do mármore, pegando um copo limpo e enchendo de água.

-Senta aqui, Lily- disse, puxando um banquinho e entregando o copo- Fala alguma coisa.

-Qual é, a cena não foi tão traumatizante assim, nós somos muito gostosos- reclamou um sorridente James, enquanto as duas o encaravam.

Dominique revirou os olhos:

-Fique aqui- disse para Lily, que continuou sentada imóvel. Então apontou para a sala, e James a seguiu. - Você ajudou nada. - indicou Lily, que mexia (ou fingia mexer) no celular.

-Diga que não valeu a pena. - ele disse, se aproximando perigosamente. Ela deu tapa no seu braço- Isso dói.

-Eu sei, essa era a intenção. - explicou como se fosse óbvio- Eu acho que você devia ir.

-E quanto a nós?- James perguntou, a segurando pelo braço- E quanto a nós?

Ela mordeu o lábio. Se dependesse exclusivamente dela, ficariam juntos para sempre por mais clichê que isso fosse. Mas não sabia se ele sentia o mesmo. Sempre fora o galã, o pegador. Aquele que tratava as garotas como objetos. Podia ter mudado? Poderia mudar por ela? Não sabia o que responder.

-Podemos conversar depois?- disse, ainda mordendo o lábio.

-Vai sair com o Malfoy?

-Vou.

Ele respirou fundo. Não podia ser ciúme, podia? Ele nunca sentia ciúme, mas nunca diga nunca. Não sabia mais de nada, só que precisava passar cada segundo com ele, e que isso era loucura.

Saiu sem dizer mais nada. Não conseguia imaginar Dominique, a sua Dominique, saindo com o idiota do Malfoy. Ele era melhor. Muito melhor. Não chegou nem até a moto quando recebeu uma mensagem dela.

“A gente conversa depois. Por favor. É só um encontro, James.

Xoxo,

Dominique”

Ele nunca ia entender esse “xoxo” das garotas. E nem como conseguiam mandar mensagens tão rápido. Apenas subiu na moto e foi direto para casa, onde teria uma agradável tarde lendo jornal com seu pai e implicando com Alvo. É, podia ser pior.

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-Lily, eu...- Dominique não sabia o que dizer agora. Lily não parecia tão chocada quanto antes, mas tinha sido um pequeno grande drama da parte dela. Como se tivesse feito alguma coisa de mais. Ninguém deveria ir entrando assim na casa dos outros, mesmo que esteja com a chave.

Lily respirou fundo:

-Eu não conto se você me ajudar.

-Isso é uma ameaça?- Dominique perguntou, erguendo a sobrancelha perfeita.

-Uma troca- respondeu Lily, tirando coragem nem ela sabia de onde- eu preciso de ajuda. E você também, para estar se agarrando com James...

Observou a loira revirar os olhos e trancar a porta, sentando em outro banquinho:

-Fale então.

E ela contou. Dominique não dizia nada, o que a deixava nervosa. Cada vez mais nervosa, enquanto ia chegando ao ponto principal naquele momento: estava sendo chantageada. E se arrependia de tudo.

-Então é isso- finalizou, sem olhar a outra.

-Uau, Lily.- ela disse, tentando segurar o riso- Bom, eu nunca esperaria nada disso de você. Makayla talvez, mas você? Tipo, você e a Rose são quase santinhas.

-Só se for do pau oco- Lily bufou ainda nervosa- Vai me ajudar?

-E o que eu posso fazer, Lils? Quando vai falar com ele? O que exatamente quer que eu faça?  Não vejo muito que fazer.

-Também não sei. Eu só... preciso pensar. E como já disse, eu meio que gosto de outra pessoa e...

Dominique arrumou a postura. É, todos amam ouvir uma fofoca direto de alguém:

-Você tinha dito isso, mas... Achei que essa pessoa fosse ele, sabe?

-Ele? Ele é só uma fraqueza. Eu realmente gosto de outra pessoa.

-Mas não vai me contar quem é?

-Não, não vou, Dominique. Vamos por partes, tá?

Dominique se segurou para não revirar os olhos de novo. Alguém finalmente a lembrou que isso dá rugas?

-Okay então, senhorita Eu preciso pensar- disse, fazendo Lily rir- Não estou com fome, mas... quer pedir uma pizza? Pelo que sei, Victorie não vai dormir em casa. Eu vou sair daqui a pouco, mas tenho medo do restaurante que o Malfoy vai escolher.

-Eu adoraria uma pizza. Calabresa, presunto ou quatro queijos?- perguntou rindo, já com o telefone na mão. Parece que as duas conseguiriam manter um segredo. Ou talvez não. Vamos ver até onde vai durar, porque sua mãe não mentiu quando disse que mentira tem perna curta. E além disso, eu estou aqui para contar.

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Segredos são apenas aquelas informações que demoram mais tempo para vir à tona, e geralmente são as melhores. São como armas, quando apontadas para a direção certa. Podem arruinar vidas, criar escândalos. Alguns segredos nunca morrem, por mais enterrados que estejam. E esses são os piores.

É por isso que no Upper East Side, eles simplesmente não existem.

Got a secret, can you keep it? Swear this one you'll save. Better lock it, in your pocket take this one to the grave. If I show you then I know you won't tell what I said. Cause two can keep a secret. If one of them is dead...

XOXO,

Gossip Girl