Kendall’s POV

Cheguei na escola com o mesmo ânimo de todos os dias. Nenhum. Estava cedo e eu tinha saído sem tomar café, já que eu tinha dormido demais por causa da chuva. Mas não é culpa minha se o tempo estava bom demais e eu quis aproveitar. Não, espera. É sim.

Desliguei a moto, uma Ducate verde, e desci, sendo logo atacado por alguém, que me abraçava e dava gritinhos. Suspirei e me deparei com Jo na minha frente, o sorriso largo em seu rosto. Ela estava diferente hoje. Não que ela não fosse bonita, mas seu cabelo parecia estar sem brilho. E eu nunca tinha notado que suas sobrancelhas eram tão grossas, mas eu não posso falar nada, porque as minhas também são mas isso é coisa de homem.

--Oi, amor! – ela falou e me deu um selinho.

--Oi. – falei e saí de perto, para ir para a sala e ela me seguiu.

--Então... Cadê o meu presente? – ela falou e eu parei no meio da calçada. Porra. O que temos de especial hoje? O aniversário não é, o dela é no mesmo dia que o meu!

Deixa eu ver... Aniversário de namoro! É isso!

Droga. Eu não tenho presente.

--Hã... Amor, eu não comprei presente.- eu falei e ela me olhou, triste.

--Você se esqueceu, não foi? – ela falou e eu continuei caminhando. – Ei, não foge de mim assim! Você esqueceu do nosso aniversário de 1 ano, Kendall. Você nunca se esquece dos nossos aniversários. O que houve? – ela falou e eu suspirei.

Não queria confessar á ela daquele jeito, não aqui, não agora. A verdade é que...Desde que Lexi chegou, eu não consigo tirá-la da cabeça. Ela é tão linda e gentil. É inigualável. Ela é a  garota mais meiga e doce que já conheci.

--Jo. – eu falei e ela esperou, com os braços cruzados. Mas, para a minha felicidade, o sinal bateu anunciando o início da primeira aula. – A gente conversa na hora do almoço. – eu falei, ainda lhe dando um beijinho na testa e saindo correndo de lá.

--Espera, Kendall... – ela ainda tentou conversar mas eu já estava longe.

Minha primeira aula era de História e fiquei feliz, porque a aula do Sr. Herman sempre me alegrava. Ele era um excelente professor. Cheguei na sala e me sentei na minha mesa, como sempre, até que o professor chegou.

--Bom dia, seus vagabundos! – ele falou e metade da turma (inclusive eu) rimos. Demos bom dia á ele e ele riu. – Tudo bem, seus delinqüentes juvenis, hoje a aula vai falar sobre Napoleão Bonaparte, aquele anão de jardim que conseguiu conquistar a França. – ele falou.

Pegamos os livros enquanto ele continuava a explicar, de maneira irônica, as façanhas de Napoleão, o Golpe do 18 Brumário, entre outras coisas. A campainha bateu de novo e a sala inteira ficou em silêncio.

--É, foi bom, ver vocês de novo. Mentira, não foi, o que eu quero são minhas férias. – ele falou. – Até mais, gente. Hã, Kendall, pode vir aqui? – ele falou e eu dei de ombros, pegando minha mochila e indo até sua mesa.

--O que houve, professor?

--Kendall, eu sei que é um aluno exemplar e que tira excelentes notas, mas elas estão começando a cair. O que está acontecendo?

--Os treinos estão tomando muito meu tempo e eu não tenho tido tempo de estudar direito. Mas, eu prometo que começo a estudar mais, eu prometo.

--Eu sei que é apenas começo do ano, mas precisa melhorar suas notas. Se continuar assim, acho que terei que encontrar um professor particular á você.- ele falou e eu assenti, saindo da sala.

Ah, que merda!

Professor particular? Desde quando eu preciso disso? Eu realmente espero que melhore para o meu lado, porque eu acho que não vou suportar um nerd na minha cola todos os dias.

*

*

*

3 semanas se passaram e hoje era o resultado da prova surpresa de História sobre a história da França que o professor fez. Eu estava super nervoso. Eu precisava me dar bem em todas as matérias ou não ia conseguir segurar minha vaga no time de futebol e ainda, eu não quero um professor particular.

--Kendall. – O professor me chamou dentro da sala e eu entrei, meio constrangido. – Parece que não foi muito bem na prova. – ele falou e me entregou a prova com um D em cima.

--D? Mas, eu estudei demais para essa prova, professor! – eu falei, mas pareceu um grito.

--Bom, não é o que parece. E é por isso que já chamei um professor pra você. – ele falou e três batidas na porta foram ouvidas. – Deve ser ela. Pode entrar!- ele falou.

“Ela?” – Pensei mas meus pensamentos pararam ao ver quem era.

--Bom dia. – Lexi falou e sorriu, pondo uma das mechas do cabelo vermelho para detrás da orelha.

--Bom dia, Alexandra. – o professor falou e ela sorriu. – Conhece Kendall não?

--Claro que sim! Oi, Kendall. – ela falou e veio até mim, já me abraçando.

--Você vai ser a minha professora particular? – falei e ela riu.

--Sim, serei. Na minha escola antiga, em Nova York, eu era do Grêmio Estudantil e sempre tirei ótimas notas em História. – ela falou.

--Alexandra lhe ensinará bastante, Kendall. Ela foi escolhida como a melhor aluna de muitos internatos, e todas as escolas lhe deram fortes recomendações. – o professor falou e eu sorri.

--Claro. Isso é ótimo.

--Então,  a primeira aula vai ser na minha casa ou na sua? – ela falou.

--Mas já? A próxima prova é apenas no próximo mês!

--Decidi lhe dar mais uma chance, Kendall. Você é um bom aluno e acho que não deve perder o ano por conta dos seus esportes. Alexandra lhe ajudará com a mesma matéria dessa prova e você refará, para eu ver como está seu desempenho.

--Obrigado, professor. – falei e ele deu um meio sorriso.

--É bom me agradecer mesmo, seu vagabundo, ou eu vou ter que pôr o livro dentro da sua cabeça! E com capa e tudo. – ele falou, fazendo graça, e eu e Lexi rimos. Nossos olhos se encontraram e ela corou, o vermelho de seu rosto se misturando com suas sardas.

--Acho melhor ser na minha casa. Você sabe, a aula. Minha mãe vai estar em Houston hoje e...Droga! Esqueci que minha irmã está lá!

--Tudo bem, Kendall. Eu tenho uma irmã também. Eu levo ela e elas ficam juntas, ok?

--Ok. Então, até depois da aula? – eu falei e ela sorriu, me dando um leve beijo na bochecha.

--Até logo, Cowboy.

*

*

*

--Katie, cheguei! – gritei assim que cheguei em casa. Katie apareceu na cozinha, com um pote de sorvete na mão e duas colheres.

--Como foi a escola? – Ela perguntou e eu revirei os olhos, pegando uma colher e comendo junto com ela o sorvete.

--Boa. Ei, eu vou precisar que cuide da irmã de uma garota que vem aqui em casa.

--Jo não tem irmã.

--Não é a Jo. É a minha professora particular de História, a Lexi.

--Ah! Aquela mesma Lexi que você vem falando esses dias? – ela falou e eu assenti. – Tudo bem. Quantos anos tem a irmã dela?

--Uns sete. Por quê?

--Uh, isso é bom! – ela falou, olhando para o além com cara de quem estava pensando em algo maléfico e eu a atingi com um pouco de sorvete.

--Nada de levar a menina pro lado negro, ok?

--Ah, você nunca deixa eu me divertir! – ela falou, tirando o sorvete da cara e rindo comigo. A campainha tocou e nos entreolhamos. Fiz um sinal de “Vai abrir a porta” e corri para o  meu quarto. Troquei de camisa e passei perfume em apenas 2 minutos e corri de volta á sala, me deparando com Lexi na porta de entrada.

--Oi, Kendall! – ela falou e eu sorri.

--Oi, Lexi. Essa é a minha irmã, Katie. – eu falei e Katie sorriu pra ela.

--Kendall vive falando de você, Lexi. – ela falou e eu tapei a boca dela com a minha mão, mas Lexi já tinha corado.

--Crianças. Não sabem do que estão falando. Hã, cadê a sua irmã?

--Ah, ela está aqui. Jessie! – ela chamou e a garotinha apareceu. Uau. As duas eram muito parecidas.

--Katie, Jessie. Jessie, Katie. Ok, as duas estão apresentadas agora. Katie, leva ela pro seu quarto.

--Tudo bem. Vem, Jessie. – ela falou e Jessie a seguiu. Ainda deu tempo de eu ouvir Katie perguntar se ela gostava de animais, e ela concordou, as duas subindo  pro quarto.

--Kendall? Kendall!

--Ah, desculpa. Entra. – falei e notei que ela ainda não estava dentro de casa.

--Uau, sua casa é linda.

--Obrigado, minha mãe é decoradora.

--Jura ? Meu pai é agente imobiliário!

--Parece que temos muita coisa a ver. – falei, de repente, e ela riu.

--Tudo bem, mas não viemos aqui para elogiar o trabalho de sua mãe. Pronto para o anão de jardim, Cowboy?

--Quando quiser, comandante. – falei, batendo continência e fomos para a sala de estar.

Ficamos estudando por horas, ela me explicou cada fase meticulosamente bem, muito melhor que alguns professores que eu conhecia, tirando o Sr. Herman. Cada vez, ficava mais fácil eu me lembrar da data da coroação de Napoleão ou a data do exílio dele.

--Tudo bem. Última pergunta, apenas para finalizar.

--Mas você já me perguntou tudo! – reclamei e ela sorriu, passando a mão em meu cabelo, fazendo um leve cafuné.

--Vamos lá, Cowboy. É a última, prometo.

--Ok, faz logo antes que eu desista.

--Tudo bem. Qual a cor do cavalo branco de Napoleão? – ela falou e caímos na gargalhada. Não acredito que ela fez uma questão como essa.

--Não sei...Branco?

--Acertou! – ela falou e jogou os papéis para cima. – Você pensou muito nisso não é?

--Você não faz idéia. – falei e rimos de novo. – Já está tarde. Acho melhor levar vocês pra casa.

Ela apenas assentiu. Chamamos as meninas e eu peguei o SUV da minha mãe. De repente, no caminho, passamos por um Mc’Donalds e as meninas começaram a fazer um escândalo (e quando eu digo meninas, quero dizer até a Lexi) para irmos comer lá.

Estacionamos o carro e fomos andando até lá, quando eu senti uma mão se entrelaçando na minha.

--Vamos, seu lerdo, ou perdemos os lugares. – Lexi falou e me puxou.

--Ah, então isso é uma competição? – falei e comecei a correr, a puxando.

Ela riu e correu junto comigo, sem desgrudar sua mão da minha. Vi Katie me olhar de relance, mas decidi ignorar. Aquele estava sendo um dos melhores momentos da minha vida e nada podia...

--Kendall? - Ouvimos uma voz atrás de nós e eu desejei que não fosse ela. – O que você está fazendo aqui com a Lexi?

--Oi, Jo. – eu falei, e Lexi me olhou assustada, desgrudando minha mão da dela. – Hã, Lexi, leva as meninas lá pra dentro, ok?

--Tem certeza? – ela sussurrou e eu assenti.

--Me explica. Agora. – ela falou e eu bufei.

--Jo, Lexi virou minha professora particular de História. Hoje, ela foi lá em casa e ficamos estudando até agora, aí decidimos vir comer aqui. Satisfeita?

--Ainda não. – ela falou e se aproximou de mim. - Por quê estava de mãos dadas com ela?

--E-eu... Ela...

--Você não me ama mais não é? – ela falou e eu suspirei, baixando o olhar.

--Me desculpa, Jo. Ela é diferente, entende?

--Não entendo! Foi só essa forasteira chegar que a cabeça de você e de seus amigos viraram! Vocês estão cegos demais por causa dela, que não é nada!

--Não fala assim dela! Ela é diferente! É doce, meiga, gentil, muito diferente de você e suas amigas.

--Cala a boca, Kendall. Eu vou embora daqui. Espero que seja muito infeliz .

Ela saiu caminhando pelo estacionamento chorando e deu vontade de eu bater em mim mesmo. Eu detesto ver garotas chorarem e Jo não merecia isso.

Respirei fundo e voltei ao Mc’Donalds. As meninas estavam sentadas em uma mesa perto do balcão, Katie devia estar falando algo constrangedor porque Lexi ria sem parar.

--Cheguei! – falei e Jessie sorriu.

--Não sabia que tinha chupado chupeta até os 10 anos, Kendall. – ela falou e eu olhei, bravo, para Katie.

--Katie!

--O quê? É verdade!

--Kendall, posso falar com você? – Lexi falou e saímos de lá, indo parar do lado de fora.

--Como foi com a Jo?

--Terminamos.

--Ah, meu Deus. Eu sinto muito. – ela falou e me abraçou. – Como você está?

--Na verdade, eu terminei com ela.

--Você? Mas, vocês pareciam tão apaixonados.

--A paixão acabou há muito tempo.- falei e ela suspirou, ficando ao meu lado e pondo meu braço ao redor de seu pescoço. Ela me deu um leve beijinho na bochecha e riu.

--Melhor?

--Muito. Valeu, Lexi. – falei e a beijei.

Sim, eu a beijei.

Podem me chamar de louco, mas isso era o que eu mais queria fazer com ela desde que ela entrou naquele maldito colégio. Agora, estamos aqui, sozinhos, eu acabei de terminar com minha namorada, ela rindo e me chamando de Cowboy... Não há momento mais perfeito.

Juro que senti meu cérebro derreter com seus lábios macios e o gosto de Coca-Cola da sua boca. Parecia tudo tão certo. Aí o ar faltou e o beijo teve que terminar.

Nos encaramos por alguns minutos, nossas respirações entrecortadas.

--Nunca mais faça isso. – ela falou e saiu dali, furiosa.

--Lexi, espera. – falei, mas ela já estava entrando e pegando Jessie.

--Vamos, Jessie. A gente vai caminhando.

--Mas, a Katie...

--Jessie, agora! – ela falou e Jessie assentiu, saindo com ela. Segurei seu braço e a fiz olhar nos meus olhos.

--Aonde pensa que vai?

--Eu vou pra casa, Kendall. Me solta. – ela falou, se soltando e foi embora com Jessie. Olhei para Katie e ela deu de ombros, como se não soubesse o porquê dela ter saído.

Parece que a noite não é mais tão perfeita assim.

(...)