Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 6
O Olhar de um Homem




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O “Libertá” era um navio rápido, atingia uma velocidade considerável, mesmo quando o vento não estava a favor, o que facilitava o ataque a suas presas. Mesmo quando os pobres marinheiros se rendiam, não eram poupados. Os piratas atiravam em todos á bordo, ou apenas prendiam-nos no porão e explodiam o navio com os homens ainda vivos, para não correr o risco deles voltarem ao porto e delatarem sua localização. A ultima opção era a mais ultilizada, poupava munição, e no fundo, acredito que eles divertiam-se em ouvir os gritos de pavor dos marujos, antes de tudo ir pelos ares.

Eles tomavam diversos navios, alguns deles carregados de preciosidades das Índias. Peças de ouro, tecidos elegantes, e cargas valiosas, com objetos que eu nunca vira antes.

Com o tempo, acabei descobrindo o nome do capitão, a quem meu olhar mais se voltava. Ele chamava-se Richard. Neste dia, ele estava no convés junto com seu imediato e contramestre, tentando deseperadamente quebrar o cadeado do que parecia ser um baú. De onde eu estava não conveguia ver direito, pois eles estavam proximos a amurada, a qual atrapalhava-me a visão, mas era o que me parecia. O cadeado devia ser forte, o que os dificultava o trabalho, deixando os homens, inclusive o capitão, muito irritados. Foi então que começaram a bater fortemente com machados na tampa do baú, lançando lascas de madeira para todos os lados a cada golpe. O ultimo deles, no entanto, rompeu tambem a madeira do lado do baú. Fazendo um buraco, por onde várias moedas e jóias rolaram, algumas delas passando pela fenda na amurada, utilizada para escoar a água da chuva do convés e caindo na água.

–Idiotas ! -ouvi Richard esbravejar com os homens, enquanto uma porcentagem dos lucros deles iam ao fundo, fazendo um contraste com a areia branca no leito marítimo

Fui até lá e vi de perto as jóias. Haviam cordões, além de anéis e várias moedas de ouro e prata. Experimentei um colar dourado trabalhado com pedras grandes, vermelhas como sangue. Coloquei-o em meu pescoço, sentindo o frio das pedras em minha pele. Experimentei também um dos anéis de brilhantes, o qual ficou muito grande em meu dedo, então dixei-o de lado. Peguei por fim, um cordão de ouro comprido, detalhado com pequenas pérolas, e o coloquei ao redor da base da minha cauda, dando duas voltas nele. Sorri, nadando de costas, admirando-o sobre minhas escamas.

Então ouvi o som de algo batendo na água. Ao olhar para cima, vi que era um homem, mergulhando para pegar o que havia caído do baú. Rapidamente me escondi atrás de um recife de corais, abandonando o resto das jóias aonde estavam, e fiquei observando-o em seu mergulho, na tentativa de achá-las.

Ele tinha cabelos castanhos e possuía pouca agilidade dentro d água. Procurava inutilmente, já que as jóias haviam caído mais á direita de onde ele estava, tateando na areia. Pouco tempo depois, ele subiu a superfície por falta de ar. Chegando lá em cima, foi repreendido severamente pelo capitão.

–É um inútil mesmo ! -Richard exclamou tão nervoso, e dava para ouvi-lo claramente embaixo d água

Aquelas jóias e moedas eram muito importantes para ele, então decidi ajudar. Juntei tudo de valor que havia caído em meus braços, e subi discretamente a superfície para não ser vista. Olhei para averiguar se não estavam olhando na minha direção, e vi que os marujos continuavam com a atenção voltada na discussão que acontecia no convés. Aproveitei o momento, para pegar um anel e lança-lo para dentro do navio. O qual acertou o capitão bem em cheio na nuca. Ele reclamou irritado antes de finalmente ver o que era.

–Mas o que diabos está acontecendo ? -Ele indagou, olhando para água confuso, após pegar o anel de brilhantes no chão. -Vá ver o que é. - Richard manda o marujo mergulhar novamente.

–Não senhor, e se for um animal perigoso ? Eu não vou entrar na água novamente... - O homem nega, temeroso

–Animais não devolvem jóias. - O capitão revidou - Vá logo, faça o que eu estou mandando ! -Ele ordena

–Isso pode ser obra do demônio, capitão. Talvez seja melhor sairmos daqui...-Um outro tripulante tenta convencê-lo do contrário, temendo se tratar de algo sobrenatural.

–Quer pular no lugar dele, Lucius ? - Richard o desafia

–Não, senhor -Ele responde, abaixando a cabeça

–Então nos poupe de seus comentários inúteis -O capitão disse, antes de voltar-se ao primeiro marujo: - Terá duas opções, ou entra na água por bem, ou será jogado nela, pode escolher...

–Eu entrarei, capitão - Sem ter uma saída, o homem obedece

–Ótimo ! -Richard exclama, com um falso ar de aprovação

Quando o tripulante saltou do barco a estibordo e mergulhou, eu avancei até o outro lado da embarcação, certificando de que não me veriam. Aproveitando a distração de todos, que olhavam para o mar onde o homem já havia desaparecido, eu lançei o mais alto que podia, de uma vez só, todas as moedas e jóias que tinha, no outro lado do convés. Ao ouvir o som oco das jóias baterem na madeira, eu submergi novamente, antes que os piratas pudessem chegar ao outro lado da amurada e verem quem era o responsável por aquilo.

Esqueci-me no entanto, do pirata que mergulhava, e nadei novamente para o lado oposto daqueles á bordo, passando por debaixo do navio, como se brincasse de um esconde-esconde infantil com eles. Quando dei por mim, o marujo que estava na água, voltou a superfície. Antes que pudesse mergulhar novamente, ele olhou para o lado e viu-me. Aquela foi a primeira vez em minha vida que um homem colocara os olhos em mim.


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