Aishiteru escrita por Dibigo


Capítulo 2
Pouco tempo




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Capítulo 2 - Pouco tempo

Depois da noite de ontem, eu me sinto meio estranho. Acabei sonhando com o Matheus e nesse sonho ele estava muito doente e tossindo muito, eu estava junto dele tentando ajudá-lo a melhorar; dei remédios, tapas nas costas. Tentei fazer de tudo para ele melhorar, mas só piorava. Então, no desespero, eu o peguei no colo e corri o mais rápido que podia para o hospital local que não ficava muito longe, não conseguia achar nenhuma outra pessoa pelo caminho para pedir ajuda. Corri bastante e finalmente estava perto do hospital a ponto de conseguir vê-lo, então continuei correndo, mas por mais que continua-se a correr, parecia que mais longe estava o hospital, mesmo vendo ele na minha frente eu não conseguia chegar até lá. Quando olhei novamente para o Matheus, percebi que ele estava morto. Acordei no susto e com o coração quase pulando do meu peito. Quando olhei para o relógio e percebi que estava atrasado para ir à escola, peguei minha mochila e meu uniforme e me vesti rapidamente e fui apressadamente para lá.

Assim que eu cheguei na porta da minha sala eu o encontrei. O Matheus estava rodeado pelos alunos bagunceiros, um deles era baixinho e andava sempre com uma expressão irritada, o outro parecia que o seu rosto era deformado de tão incomum que era - o que tornava muito difícil de esquece-lo - o ultimo tinha uma aparência bem normal, era até bonitinho, mas ele é maléfico. Gosta de brincar com os sentimentos das pessoas apenas por diversão. Eu considero muito perigoso mexer com ele.

Ao que eu pude perceber, os alunos estavam com uma intenção maldosa em relação ao Matheus. Então sem pensar duas vezes, eu fui na direção dele e dei um pequeno empurrão em suas costas que o fez perder o equilíbrio e quase cair, sendo salvo por um pequeno reflexo de uma da sua perna direita que sustentou o corpo dando um passo pra frente.

– Bom dia pessoal, Oi Matheus, eu tenho que te passar algumas coisas das aulas passadas, vamos nos sentar antes que a professora chegue. – Tentei parecer o mais amigável possível.

Os alunos me cumprimentaram como se fossemos amigos, perguntaram se eu estava bem e foram e se sentar. Logo após eu e Matheus fomos nos sentar também e no momento que eu iria falar com ele, a professora chegou na sala. A sua expressão estava diferente, ela olhava para o Matheus e o escarava com olhares de tristeza, como se tivesse com pena dele, e esse olhar ficava muito claro espelhados pelos seus olhos azuis em meio a sua pela sua pele branca e seus cabelos pretos. A Aula não demorou muito para começar, mas pelo incrível que pareça, eu não cheguei a prestar atenção nela nesse dia. Eu podia sentir que o clima estava meio estranho, será que tinha acontecido alguma coisa para a professora olhar para ele daquele jeito? Eu não conseguia tirar essa dúvida da cabeça.

Finalmente o sinal bateu anunciando o início do intervalo, em uma breve observação da turma percebi que o Matheus estava sendo encarado pelos outros alunos que pareciam esperar ele na porta da sala.

– Matheus, vamos ficar aqui, eu trouxe comida de casa eu divido com você.
– Tudo bem, eu também trouxe...

Quando peguei minha mochila e olhei dentro, me lembrei que tinha acordado atrasado e tinha esquecido de colocar a comida lá dentro.

– Putz, Cara... eu esqueci a comida.
– Não tem problema, eu tenho o suficiente para nos dois, vamos dividir.
– Obrigado – Agradeci enquanto dava uma risada tímida.
(...)
– Posso perguntar uma coisa? – Perguntei.
– Pode... – A expressão dele parecia adivinhar a pergunta que eu iria fazer.
– Você percebeu que a professora estava te olhando de uma forma diferente hoje? Você Sabe por que ela fez isso?
– Sim... Eu imagino o porquê... – O olhar dele começou a expressar tristeza.
– Por quê?
– Não gosto de falar sobre isso. – Ele falou enquanto desviava o olhar.
– Não tem problema em me contar, nós somos amigos! – Insisti.
– Mas quando você descobrir, você vai me tratar diferente, como todos fazem. – ele olhava para cima parecendo se esforçar para não soltar lagrimas.
– Eu não vou te tratar diferente! Pode confiar em mim, eu quero te ajudar o máximo que puder. – segurei forte nos ombros dele e olhei em seus olhos.
(....)
– Matheus!
– Eu... tenho leucemia, e vou morrer em breve... – Falou enquanto olhava em meus olhos - Bom. Agora você vai ter pena de mim e vai começar a me tratar diferente que nem todos os outros fazem.

Não consegui responder nada de imediato, no momento me bateu uma tristeza muito incomum. Já tinham acontecido muitas coisas tristes na minha vida, mas nada me fez ficar assim. Eu só conseguia olhar para o rosto dele, queria falar alguma coisa, mas minha boca não se mexia. Quando finalmente consegui abri a boca para falar algo, o sinal bateu e o intervalo acabou. Pude perceber nos olhos dele que estava triste. A professora voltou para sala e iniciou a aula. Eu tinha perdido a chance de mostrar que era diferente das pessoas que ele conheceu, que eu iria continuar tratando ele normalmente indiferentemente da saúde dele.

A aula acabou de uma forma que eu nem percebi e o sinal tocou novamente, dessa vez sinalizando o final da aula. Assim que o barulho do sinal acabou - para minha surpresa - o Matheus foi correndo saindo da sala e por reflexo eu fui atrás dele. Assim que finalmente o alcancei segurei sua mão, ao olhar pra ele pude ver em seu rosto a sua pele avermelhada por causa da corrida e senti uma sensação estranha. Não demorou muito e ele puxou a mão dele soltando da minha. Olhei ao redor e percebi que já estávamos fora da escola.

– Eu... Não vou te tratar diferente! Eu quero estar com você! Quero ser seu amigo! Não sei por que mas eu gosto de estar com você! – Falei tudo que sentia.
– Felipe, eu tenho pouco tempo, e para falar a verdade eu já estou pronto para morrer...

Ouvir aquelas palavras me fizeram sentir uma dor enorme no peito, era como se meu coração estivesse sendo perfurado. Eu definitivamente queria salva-lo. Agora eu podia entender o que significava meu sonho, por mais que eu tente, não posso livrar ele da morte, mas mesmo assim quero estar com ele. O silencio ficou por um tempo até que tive uma ideia.

– Vou te mostrar como você pode viver bem, venha comigo!
– Mas tenho que ir para casa...
– Vem! – Falei com um sorriso bobo.

Logo em seguida segurei a mão dele e fui andando para o campo, o mesmo que eu tinha o encontrado antes. Muitas pessoas ficaram nos encarando enquanto passávamos pela rua e quando me dei conta que eu ainda estava segurando a mão dele, nós chegamos.

Mostrei para ele um lugar que eu considerava como secreto, uma arvore de mais ou menos cinco metros de altura. Apontei para um galho que ficava quase no topo dela, ele me olhou com uma expressão de quem nunca iria conseguir subir até lá, mas eu insisti. De maneira estabanada eu o ajudei a subir na arvore, empurrando ele pra cima todas as vezes que ele escorregava, subindo logo atrás para caso ele caísse tentar salva-lo. Assim que chegamos ao galho, eu apontei para ele a vista de toda a cidade.

– Está vendo como a vista é linda Matheus.
– Sim...
– Tudo depende só do ângulo que você está vendo as coisas. Olha o outro lado, ali tem uma praia, olha que mar!
– Que lindo! Eu nunca tinha visto uma praia pessoalmente antes. – Ele sorriu.
– Serio!? Você nunca foi a praia ?! Então está decidido, amanhã vamos à praia!
– Felipe, eu tenho apenas 1 mês... Mas eu estou ansioso para viver ele com você.
– Então vamos viver esse mês! - Tentei disfarçar meu espanto, um mês é muito pouco tempo! Não sei como vou fazer para ele ser feliz, quero ver ele sorrindo outra vez!
– Não estou me sentindo muito bem.. É melhor eu ir para casa, muito obrigado por hoje.
– Tudo bem, eu também vou.

Ajudei ele a descer, e então cada um foi para sua casa. Quando eu cheguei meus pais estavam brigando outra vez, dessa vez eu fiz questão de não saber o motivo da briga, fui direto para o meu quarto e deitei para dormir esperando amanhecer, ansioso para o dia na praia.

~Continua


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