Dou uma olhadinha cautelosa para o coraçãozinho, como se ele pudesse morder. Sunny, Sunny. O QUE VOCÊ FEZ COMIGO? Será que isso realmente funciona? Não sei bem o que eu quero, o assunto sexo já ecoou bastante aqui nas cavernas e todos dizem ser um ato bastante prazeroso, mas este corpo nunca passou por isso. Tanto pet quanto a nossa hospedeira eram ingênuas o que me fazia me sentir extremamente deslocada e constrangida com essa situação.

“Acho que a vida deve ser vivida intensamente antes que seja tarde demais. Tente viver mais Peg. Você esta precisando mesmo disso.” Até nos pensamentos Sunny consegue me ser inconveniente, mas não posso deixar de concordar com ela.

        Corro, corro rápido e acho que faço isso para que ninguém me impeça (Melanie). O que Melanie faria se eu fizesse isso comigo mesma? A pergunta vem em minha mente e não quero descobrir a resposta. Paro na porta do refeitório ofegante. Vários olhos se dirigem ao meu rosto corado e eu tento me conter. Encho um copo de água e jogo o comprimido na boca. Algumas pessoas me cumprimentam e lhes devolvo com a mesma educação.

      Por fim estou na porta no meu quarto, agradecendo mentalmente por não ter esbarrado com aqueles que agora me perturbariam. Quando coloco minhas mãos na maçaneta e elas estão tremulas. Sorrio com essa sensação que não é só nas mãos, mas no corpo inteiro. Então antes que eu desista, eu entro no quarto.

       -Você demorou. –Ian tem um olhar meigo e sedutor em mim.

       O que esta acontecendo? De repente o mundo ao meu redor se tornou um lugar pervertido. Como faço agora? Como vou começar? Como vou fazê-lo entender o que eu quero? Hm... Que burra, poderia ter perguntado isso pra pervertida da Sunny.

        -Peg? Tudo bem? –ele se aproxima preocupado. –Você se encontrou com Jeb?

        -Tio Jeb? –eu sorrio. –Ele nunca conseguiria me deixar assim. Tão... Nervosa? –penso auto e tenho vontade de tapar a boca com as duas mãos.

        Ele me puxa para seus baços e eu estou de volta ao meu lar. Ele se abaixa um pouco e inspira o ar nos meus cabelos. Oh Ian... Ajude-me com isso.

        Delicadamente passo meus braços pela sua cintura sem interromper seu abraço. Faço alguns desenhos sem sentido com as pontas dos dedos na sua cintura e nas suas costas. Sinto seus pelos se arrepiarem. Talvez eu esteja fazendo alguma coisa certa. Sorrio para mim mesma com orgulho. Então eu paro de passar a mão nele e sem o olhar puxo sua camisa e ele se enrijecem.

        Droga, droga, droga...

        Ele me afasta, ele esta relutante. Ele direciona aqueles olhos azuis confusos para os meus prateados e cheios de desejo.

        -Peg. Eu não sei se isso esta certo. –suas palavras são como navalhas.

          Por que não era certo? Agora que Sunny me convenceu de fazer aquilo e me fez ficar tão curiosa? Eu queria tanto experimentar, mas não posso ignorar as lagrimas que brotam nos meus olhos, pela sua rejeição.

          -Peg, Eu... –Ele balbucia.

          -Esta tudo bem Ian. –Eu forço para que as palavras saiam com naturalidade, eu sabia o que minha própria dor provocava nele.

          Ele segura meu queixo delicadamente e inclinando-o para que eu possa ver seu rosto. Ele não esta feliz, mas também não esta triste. Sua expressão é diferente e aquilo me deixa bem preocupada. Há algumas horas atrás estávamos discutindo sobre seu distanciamento por mim e agora eu estou aqui me oferecendo pra ele desse jeito. E se ele não me quer? Seguro um soluço que se forma na minha garganta.

         -Não. Não esta tudo bem.

           Fecho os olhos e não quero mais ouvir nada. Minha vontade é de fugir dali e não ter que enfrentar aqueles olhos azuis novamente. Ao pensar nisso um desespero me consome. Eu estou fadada aquele humano. Meu Ian...

           -Peg, eu só acho que você é pura demais pra isso. Olha pra você. –tento não me sentir mal com suas palavras. –você é linda, jovem demais para isso.

           Já ouvi aquilo antes...

           Seguro seu rosto nas mãos.

          -Ian, eu devo ter milhões de anos de vida. Sou tão velha que nem sei ao certo. –quando termino de dizer isso, minhas bochechas queimam e algo dentro de mim se quebra. Meu ego.

          -E nesse corpo? –ele fala, com as palavras fortes.

          -Esqueça esse corpo. Sou eu aqui agora Ian.

          Sua expressão se fecha, ele esta decidido. Solto seu rosto e volto para cama.

          Ele me olha por um momento preocupado, mas eu lhe lanço um olhar tranquilizador, por dentro eu tenho a vontade de gritar. Gritar de tanta frustração. Desvio meu olhar do dele, por que sei que eu devo estar vermelha como uma pimenta. Vou até o colchão e me deito de lado, fecho os olhos na esperança de pegar no sono. Não demora muito e ouço os passos dele, sinto a ponta do colchão afundar com o peso dele e não quero estar aqui. Por que eu fui inventar isso? Minha vontade de sair correndo do quarto é tão grande que sinto meus músculos prontos, para qualquer fuga repentina.

      -Peg, eu amo você. –suas palavras são pronunciadas com muito carinho e até adoração. Sua mão grande começa a brincar com meu cabelo enquanto ele continua. –desculpe-me, não queria te magoar. É só que... Você é tão frágil.

         Por um minuto me sinto traída por minha própria aparência, mas ignoro meu pensamento ridículo. Sento e devagar me rastejo para seu colo, quando seus braços estão ao meu redor fechos os olhos e me inclino para tocar seus lábios com os meus.    

         -Peg...

         -Shh... –faço aquele barulho com a boca colocando o indicador em seus lábios. –Chega desse assunto. Esta tudo bem. Eu estou bem. –minha voz falha na ultima frase, mas dou um sorriso na tentativa de tranquiliza-lo.

        Ele balança a cabeça em negação. Retirando seus braços ao meu redor e segurando meu rosto com as mãos.

        -Já penso na hipótese de você engravidar? Você sabe o que acontece com as mulheres neste planeta quando elas fazem isso.

        -Ian, jamais faria isso se prejudicasse tanto a nós como um sersinho. Uma criança. Tomei amar antes de vir pra cá. Um anticoncepcional, na linguagem de vocês. –falo tentando conter a magoa perante sua acusação.

        -Como você conseguiu isso?

        -Ian, não importa. Vamos dormir agora. –falo desanimada, puxando-o de volta para o colchão.

       Fico triste por ser tarde. Eu passei a tarde toda aqui com ele tão feliz e agora queria tanto que eu tivesse algum trabalho para eu fazer. Alguma forma de me fazer esquecer aquele assunto. Nunca me senti tão arrependida como me senti agora desde que eu vim para cá. Nem quando eu trouxe todo aquele sofrimento para Jared e Jamie, naquela época eles me viam como um inimigo e eu não podia lhes julgar nunca por isso.

        Sinto o corpo dele rígido ao meu lado e ele parece estar lutando mentalmente consigo mesmo. O que será que deve estar se passando pela cabeça dele agora? Pergunto-me, mas o ignoro. Não estou com sono e tenho certeza de que ele também não esta.

        Ah... Essa noite vai ser bem longa. Penso soltando um suspiro pesado.