Mio colocou seu casaco no cabide e sentou-se na cama enquanto Ritsu observava os flocos de neve caírem em grande quantidade do céu.
–Ritsu...Você nunca saiu com um garoto não é? – Perguntou Mio sem graça.
O silêncio tomou conta do quarto por alguns minutos, mas logo foi quebrado.
–Não, você sabe que não.
–Nunca... Gostou de ninguém?
–Eu gosto de alguém há muito tempo, mas essa pessoa nunca percebeu e acho que se descobrisse não se importaria.
Ritsu derrubou algumas lágrimas que se misturaram com a neblina causada pela neve, Mio não havia percebido.
–Eu tenho certeza que sim. – Disse Mio corada, mesmo sem saber do que Ritsu falava.
O silêncio invadiu a sala novamente, mas foi quebrado pelos soluços cada vez mais altos de Ritsu.
–Você está chorando? –Perguntou Mio se aproximando.
–Eu estou bem. – Disse Ritsu enxugando as lágrimas que caiam de seus olhos sem pausa.
–Ritsu me diz o que está acontecendo– Disse Mio
–Não está acontecendo nada Mio Akirama! – Disse Ritsu enxugando as lágrimas que finalmente pararam de cair.
Mio deu um passo para trás assustada com a reação de Ritsu que estava cada vez mais estranha.
–Já chega, não vou mais chorar na sua frente. – Disse Ritsu descendo as escadas lentamente.
–Ritsu volta aqui! – Disse Mio correndo atrás dela – Você não vai a lugar nenhum sem me contar o que está te deixando tão triste.
Mio segurou a mão de Ritsu e a apertou com força.
–Talvez algum dia você saiba. – Disse Ritsu se soltando da mão de Mio que desceu as escadas correndo e parou na frente da porta.
–Você não pode ir embora, está nevando!
–Não importa Mio, eu já vou. – Disse Ritsu girando a maçaneta.
–Ritsu, por favor, apenas espere a nevasca parar.
–Está bem – Disse Ritsu enxugando as lágrimas e abrindo um grande sorriso – Não vamos mais falar sobre isso ok?
Mio acenou com a cabeça
–Vou fazer um miojo– Disse Mio caminhando até a cozinha.
–De bacon onegai!
–Você nunca gostou de bacon baka!
–Bah! É claro que sim.
–Desde quando?
–Desde que a Ui fez o melhor miojo de todos os tempos.
–É ela sabe mesmo cozinhar – disse rindo.
–Aposto que você nunca iria conseguir me fazer gostar de um sabor de miojo. Sabe por quê? Eu tenho um paladar diferente que...
Antes que Ritsu pudesse terminar tais palavras Mio colocou o macarrão em sua boca.
–Então, melhor que o da Ui? – Disse Mio sorrindo
–Ah,não exagera, o miojo da Ui é incomparável.
–Mas está bom, não está?
–Que sabor é esse?
–Legumes. – Disse mostrando a embalagem.
–Eu odeio legumes!
–Não mais. – Disse Mio colocando o macarrão na boca de Ritsu novamente.
O som do vento estava cada vez mais fraco, a nevasca havia parado.
–A nevasca parou? – Disse Ritsu olhando pela janela.
–Eu acho que sim.
–Então vou embora, tchau Mio.
–Ah, tchau.
–Tome cuidado com os monstros a noite eles podem estar te espreitando nesse momento.
–Ahhh- Gritou Mio tapando as orelhas.
Estava um pouco frio e a neve estava caindo levemente sobre o chão, não havia sinais de mais neve, porém, havia índices do começo do inverno.
As folhas das arvores estavam caídas no chão e cobertas por neve, a cada minuto uma folha pousava novamente no chão.
Ritsu caminhava sem pressa, observava a neve caindo sobre o chão, era como a chuva, mais era gélida.
Havia algumas crianças brincando na rua, não havia muita neve para formar um boneco, mas eles faziam guerras só com o pouco que havia caído.
–Onee-chan! – Gritou um garotinho de longe, era o irmão de Ritsu.
–Oni-chan, o que está fazendo aqui? – Disse Ritsu passando a mão sobre a cabeça do garoto.
–Eu estou brincando de guerra de neve e você? – Disse radiante.
–Eu estava na casa da Mio – Sorriu.
–Onee-chan, vem brincar com a gente – Disse o garoto puxando a mão de Ritsu.
–Eu estou com frio, não sei se eu consigo brincar.
–Onegai onee-chan! Chame a sua amiga.
–Tudo bem- Disse sorrindo – Eu vou chamá-la.
–Posso ir junto?
–Não, você fica aqui.
Ritsu correu com cuidado para não cair, o chão estava escorregadio por conta da neve. Bateu na porta de Mio que atendeu rapidamente.
–Ritsu! Você precisa me ajudar, o garoto adiou o encontro, ele quer me encontrar hoje, eu não sei o que fazer nem o que vestir! – Disse Mio desesperada.
Ritsu revirou os olhos nenhum pouco surpresa, mas disposta a ajudar Mio.
–Tenho certeza de que você tem alguma coisa legal pra vestir, eu te disse que não sei nada sobre encontros...
–Mas você precisa me ajudar, onegai Ritsu!
–Bah, tudo bem.
Mio subiu as escadas acompanhada de Ritsu.
–Vê se tem alguma coisa legal. – Disse Mio abrindo o guarda-roupa.
–Nossa, é você quem escolhe suas roupas? – Disse Ritsu rindo.
–S...São feias?
–Não, são até bonitinhas. – Disse Ritsu tirando três vestidos do cabide. –Experimenta esses três, são os mais bonitos.
Mio foi até o banheiro se trocar, havia colocado um dos vestidos, mas estava demorando pra sair.
–Mio, sai logo daí!
–N-Não... Eu estou ridícula.
–Eu tenho certeza que não Mio. – Disse Ritsu corando levemente.
Mio abriu a porta devagar, colocou a cabeça pra fora e logo depois parte do corpo. Até que finalmente ela saiu.
–Eu não estou ridícula?- Perguntou Mio corada.
Mas Ritsu não respondeu, apenas a ficou olhando surpresa. Por alguns instantes o silêncio tomou conta do lugar, só se poderia ouvir os gritos das crianças que estavam brincando na neve, mas Mio quebrou o silêncio.
–Eu sei que está horrível, não precisa mentir, eu vou trocar.
–Você está linda. – Disse Ritsu sem esboçar reação.
Mio olhou para as paredes tentando disfarçar sua vergonha, mas Ritsu se levantou e levou Mio até o espelho.
–Você só precisa de um penteado, se estiver frio leva um casaco. – Disse Ritsu mexendo no cabelo de Mio.
–A... Arigato Ritsu! – Disse Mio baixo, quase como um sussurro.
–Ahm? O que eu fiz? – Disse Ritsu olhando para o espelho.
–Você me ajudou quando eu mais precisei, eu não sei como agradecer.
–Relaxa – Disse Ritsu rindo – Já me pagou com o miojo.
–Acho que um miojo não paga o que você fez por mim hoje...
Ritsu parou de mexer no cabelo de Mio surpresa.
–M...Mio, não se preocupe, você já fez muito por mim.
Finalmente Ritsu anunciou o novo penteado de Mio, ela havia feito duas tranças e colocou uma pequena presilha da mesma cor do vestido.
–Ficou muito bonito- Disse Mio sorrindo.
–Quando eu era pequena fazia tranças em mim mesma, mas nunca ficavam legais. –Disse rindo.
Algo interrompeu Ritsu, não era bem algo e sim um som, eram batidas na porta. Mio foi abrir-la e Ritsu a seguiu.
Era o mesmo garoto que Ritsu vira falando com Mio naquele mesmo dia. Ele era alto, tinha cabelos negros e olhos azulados.
–Ahh...Yoo! – Disse Mio corada.
–Yoo Mio-chan. Você está linda.
–Arigato!
Antes que Mio pudesse dizer mais alguma coisa seus lábios encostaram-se aos dele e Ritsu ficou completamente imóvel. A não ser pelas lágrimas que saíram automaticamente de seus olhos. Ela não exibia expressão nenhuma.
Mio estava muito corada e acabou soltando um riso abafado, mas quando olhou para Ritsu se sentiu como se estivesse triste também, por algum motivo.
–Por que ela está chorando?- Perguntou o garoto surpreso.
–Ritsu? – Chamou Mio.
Ritsu não respondeu nenhum deles, ela nem ao menos piscava, estava apenas esperando as lágrimas pararem de cair. Mas isso não aconteceu, Ritsu fechou os olhos por alguns segundos desejando que aquilo fosse mentira, que não havia acontecido. Mas quando os abriu novamente percebeu que realmente havia acontecido.
–Ritsu o que foi? –Perguntou Mio novamente
–Ei garota, tudo bem com você? – Disse encostando a mão no ombro de Ritsu
Mas ela deu um leve tapa na mão dele, em seguida abriu a porta e a bateu com força. Suas lágrimas impediam que ela enxergasse o caminho, caiu no chão coberto por neve derrotada. Sabia que nunca ia ter coragem para se confessar para Mio e também sabia que ela nunca ia gostar de Ritsu.
Suas lágrimas se misturaram com a neve esbranquiçada, até que escutou uma voz inocente vindo de longe.
–Onee-chan!
Ritsu rapidamente enxugou suas lágrimas e se levantou.
–Oni-chan, o que foi?
–Você não voltou com sua amiga pra brincar, o que aconteceu?
–Ela não pode vir – Disse Ritsu dando uns tapinhas nas costas dele.
–Ah, mas estava tão legal Onee-chan...
–Sinto muito.
–Vamos embora , estou morrendo de fome.
Assim que Ritsu chegou em sua casa se jogou sobre a cama, exausta. Já não bastava estar cansada, ela ainda tinha dever de casa. Assim que se levantou para pegar seu caderno acabou espirrando diversas vezes e desistiu de fazer o dever, com certeza estava resfriada. Ritsu tirou sua tiara amarela e se deitou na cama desejando que amanhecesse logo.