O fim de semana havia chegado e com ele um nervosismo maior ainda.

Era a primeira vez que iria encontrar com Hunter sem ser por acaso.

Leah estava muito nervosa, sem saber por onde começar e como começar. Nunca havia ido ao um encontro em sua vida e depois de tudo o que ocorrera, não saberia que poderia ter um encontro.

Mas era com Hunter. Isso fazia toda a diferença.

Ela não sabia por que, mas sentia por Hunter uma coisa diferente. Um calor em seu corpo quando ele se aproximava, um frio imenso em sua barriga e uma palpitação diferente em seu coração.

Nunca havia sentido isso por ninguém antes. Era normal?

Ela havia acabado de tomar um banho e estava escolhendo a sua roupa. Mas, nervosa do jeito que estava, acabaria indo com a primeira roupa que visse.

Por fim, ela decidiu ir com uma roupa mais casual, com os cabelos soltos em volta de seu rosto. Eles eram levemente ondulados e ajudou o rosto dela a parecer mais bonito.

Leah não acreditava no que estava pensando.

Estava realmente se achando... Bonita.

Ela nunca se achava bonita e sempre achava que as pessoas que diziam isso para ela, achava que estavam sendo gentis ou querendo curtir uma com a sua cara.

Mas, depois daquele dia, Leah nunca mais cogitou a possibilidade de se achar bonita.

Tudo o que queria era amargurar em sua dor. Mas a vida estava virando ao seu favor.

Quando te mostrara o amor de Natalie, a compaixão de Edward, a compreensão de seus pais e... Hunter.

Ela não sabia o que descrever para ele. Ele salvara mais do que a sua vida naquele dia. Disso ela sabia.

E foi por isso que ela conseguiu andar novamente. Por Hunter.

Quando já estava pronta, sua mãe estava na porta, com lágrimas nos olhos. Ela não disse nada, mas abraçou a filha como se não existisse mais nada no mundo.

Elas ficaram abraçadas por um tempo, antes de saírem. Ambas não disseram nada.

Mas a cumplicidade com que os seus sentimentos eram expressos já valiam por um discurso inteiro.

Finalmente, Leah estava na porta do cinema.

Hunter já estava ali esperando por ela, e quando o viu, ela sentiu todas aquelas sensações bizarras de antes.

Respirando fundo, foi até ele, sorrindo confiante. Nem ela acreditava que estava dando esse sorriso.

Hunter sorriu imensamente quando a viu e mais ainda quando a abraçou.

– Leah – Ele disse mal conseguindo conter e empolgação. – Que bom que veio!

Os dois riram. Depois foram para dentro do cinema, escolherem algo para ver. Secretamente, ela pensou que para ela não importava o filme. Estar com Hunter era muito melhor.

Escolheram um filme leve, descontraído, apenas para poderem se divertir e se conhecerem melhor.

Eles praticamente não assistiram ao filme.

– Então – Hunter disse enquanto estavam dentro da sala, pouco antes de iniciar o filme. – Tudo bem com você?

Leah assentiu sorrindo.

– E você? – Ela perguntou enquanto tomava um gole de sua Coca-Cola. – Como está?

– Eu estava bem, sabe – Ele sorriu. – Mas agora estou infinitamente melhor.

Leah não pode deixar de ter corado. Sentia o sangue subir a seu rosto, mas não disse nada. Queria absorver aquelas pequenas palavras que esquentavam seu coração.

O filme começara, mas Hunter e Leah nem prestaram atenção. Continuaram conversando animadamente, até que por ironia do destino, aquele assunto surgiu novamente.

Ela sempre soubera que isso poderia acontecer, mas não queria falar daquilo em um momento como aquele. Ela já estava conseguindo conversar normalmente com Natalie, Hunter, seus pais e Edward.

Isso já estava mais do que bom.

É claro que Leah ainda não falava com as outras pessoas, não queria se envolver ainda mais com alguém. Isso para ela era um grande avanço e já estava ótimo.

– Leah – Hunter disse depois que percebeu o desconforto da menina. – Em que tudo isso o boxe se encaixa?

Ela suspirou.

– Andei conversando com um amigo – Ela disse cabisbaixa. – Um amigo que se ofereceu para me ajudar a algum tempo. E ele disse que o boxe era útil para... Para aplacar a minha dor.

Hunter pareceu absorver tudo aquilo.

– Dor? – Ele perguntou depois de um instante.

Leah enxugou uma lágrima. Estava vindo a tona, ela sentia. Agora que começou, ela não podia mais reprimir. Teria que soltar.

E foi isso que ela fez.

Descreveu a sua vida depois do ocorrido. Sua obscuridade, seu modo de pensar, seus atos masoquistas.

Descreveu cada parte de seu sentimento, que ela nem havia mesmo descrito a Edward. Mas ela não se importava de dizer isso a Hunter. Ele era mais do que especial.

Salvara a sua vida. Vira a sua pessoa nas piores condições. E ainda assim era seu amigo. Talvez... Mais do que isso.

Ela começou a chorar baixinho, aquela dor reaparecendo novamente.

Sentia vontade de socar algo, tamanha era a raiva que estava. Estava tudo indo tão bem? Por que ela não conseguia esquecer nem nessas horas?

Mas Hunter estava quieto.

Pronto! Ela pensou em meio ao desespero. Agora ele vai achar que eu sou completamente louca.

Mas ele a surpreendeu.

Segurou a sua mão com força a levou junto ao seu rosto. Depois a encarou com aqueles olhos verdes intensos, que pareciam brilhar na escuridão da sala.

– Leah – Ele sussurrou, mas ainda assim sua voz estava intensa.

Não foi capaz de terminar a frase. Leah também estava estática, sem se mexer.

Por alguns minutos eram só seus olhos na escuridão. Seus olhos e mais nada.

O coração de Leah estava a mil, mas ela sabia o que estava prestes a acontecer. Hunter não possuía enigmas em seus olhos, nem em suas atitudes.

Ele se aproximou ainda mais de seu rosto. Leah ainda não retirara a mão de seu rosto, embora ele já houvesse soltado.

Ele se aproximava e o estômago dela estava revirando. Sua visão ficou embaçada e sua audição ficou surda. A reação era assim mesmo?

Hunter se aproximava ainda mais de Leah, e ela não se afastou.

Suas mãos ficaram úmidas, mas ela não teve tempo de pensar em mais nada.

Hunter havia chegado ao seu limite e ele apenas encarava Leah, como se esperasse.

Ela não se afastou. Apenas fechou os olhos.

Sentiu uma sensação macia como veludo em seus lábios. Os lábios de Hunter.

Ele se afastou, mas não muito. Não queria pressionar Leah, mas estava evidente o desejo em seus olhos. E com certeza, nos dela também deveriam estar.

Hunter se aproximou novamente. Mas dessa vez, não foi apenas um beijo. Foi O beijo!

Leah entreabriu os lábios e Hunter segurou sua cintura. A mão que estava no rosto dele, passou para seu pescoço, e por um momento só parecia que os dois estavam naquele planeta.

O beijo foi espontâneo, delicado, mas ainda assim com um toque sensual.

Hunter tinha um abraço forte e protetor e lábios delicados, mas sem perder o toque de atrevimento. Não soltou Leah nem uma vez, nem mesmo depois que seus lábios se separaram.

Ele encostou os lábios em seu ouvido e murmurou delicadamente:

– Não me importa o que tenha acontecido com você – Ele disse para ela enquanto a abraçava. – Não importa se você tenha caído. Eu não vou deixar você cair mais. O que eu penso de você nunca irá mudar. Você é uma guerreira, Leah. Não me importa o que você pense. Você é maravilhosa, determinada e nunca irá desabar.

– Quando a conheci senti toda a sua dor. E jurei um dia que eu faria você ficar bem. E eu vou fazer. Vou sempre estar ao seu lado, Leah Henderson. Não importa o que pense.

Leah chorou. Mas dessa vez, chorou de felicidade. Finalmente havia conseguido dar mais um passo e Hunter estava ao seu lado. Desde aquele dia, ele sempre estaria.

Pela primeira vez, em toda aquela tortura, ela sentiu que era alguém. E pela primeira vez, a sua consciência não rebateu com ela.

Ela não era um lixo.