Libertária escrita por Ana Souza


Capítulo 21
Confronto Final




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Irrevogavelmente, eu sou uma mulher morta.

Elm me conduzia cantarolando uma canção, o bosque de magia negra já havia desaparecido a trinta minutos quando chegamos a ponte que levava ao palácio da Árvore da Vida que lembrava um coliseu macabro. A noite começava a chegar no mundo Meridional dotando o céu de treva revolta, como se o mar estivesse suspenso acima de nossas cabeças.

Elm fez questão de me virar para frente para que eu visse, a arena circular sustentava-se acima de um enorme e íngreme penhasco, com grandes espetos pontudos em espaços regulares, era preto cintilante e braseiros soltavam fogos dourados no céu de dez em dez segundos, pedaços de ossos e espelhos revestiam a fachada com um grosso portão de mogno polido como aço puro, e dentro disto o tronco da arvore, frondoso e impenetrável, alcançava o céu e se misturava a neblina noturna, onde haviam casulos gigantes brilhando em neon verde vivo, destes casulos brotavam canos escuros que se enroscavam nos galhos e troncos e iam para o que parecia ser a base. Daria um braço pra saber o que comportavam aqueles grandes casulos fluorescentes.

Tentei me debater, mas era inútil, a magia de Elm me tornou uma invalidada. Nessas condições uma criança de 4 anos com uma faca de manteiga poderia me matar sem dificuldades.

Ela começou a atravessar a ponte de corda que balançava muito, a queda era tão alta que eu não via nada além de escuridão ao invés de um fundo, e pelo barulho de gorgolejar e o fedor de enxofre tudo me levava a crer que lá embaixo se esgueirava um profundo e fulminante rio de lava fervente.

Chegamos a porta de mogno.

– Rompa-te – disse Elm com um sorriso vitorioso, e a porta a obedeceu abrindo-se com um rangido que lembrava gritos humanos.

Ela finalmente me pós no chão, mas não por muito tempo, seu chute me fez cair como um saco de batatas no chão de grama e cogumelos venenosos e fluorescentes, a árvore estava em no centro, fincada a alguns passos de mim, névoa rosa e toxica empesteava o ar como perfume barato.

A porta de mogno foi fechada atrás de nós.

Em torno da árvore cinco tronos de madeira e ouro se fixavam, destacando-se um por ser mais alto e brilhante, com anjos e demônios esculpidos com olhos que se moviam para onde quer que eu olhasse. Elm se sentou em um trono a extrema esquerda, e no chão como um porco só pude ver os pés de mais três pessoas sentadas nos tronos dispostos.

Haviam quadros, símbolos e cadáveres horrendos pendurados nas paredes da arena circular, juntamente com pessoas de capuz cinza e cabeça baixa aqui e ali que lembravam estátuas e gárgulas, segurando Tubérculos-velas nas mãos que queimavam intenso fogo vermelho e infinito.

Passos, passo nas minha direção.

Er gueteares. – disse a voz melódica e familiar.

Com isso senti meus músculos ganharem vida novamente o que me fez levantar um salto de horror e tônus de energia acumulado.

Pra dar de cara com ela...

Olivia Gremin, no trono mais alto e enfeitado.

Olhando pra mim com desprezo e ódio. Me fez prender a respiração.

O silencio mortal se aplacou. Acima da cena o barulho estridente de corvos que rodeavam o céu sincronicamente, o trono da extrema direita estava vazio, o do meio ocupado por Olivia, e os outros quatro irmãs restantes. Todas surpreendentemente diferentes, uma ruiva de cachos revoltos, uma de cabelos brancos curtos e espetados com um aspecto angelical e imponente nos olhos, uma negra com ondas que tocavam os ombros e finalmente a conhecida Elm...

Olivia levantou-se do trono... o que fez a coisas tomarem sentido pra mim, Olivia não era filha de Meredith com Kevin coisa nenhuma, ela era a própria Meredith! Que rejuvenesceu a custa dos humanos ao longo do tempo mantendo-se jovem, como eu não conclui isso antes! Era tão obvio, agora estava claro como se uma venda tivesse sido desatada da frente dos meus olhos. Mas onde estaria o bebe dela com Kevin?

– eu sempre soube. – sussurrei mais pra dentro de mim mesma. Mas foi audível o suficiente porque Olivia/Meredith deu um sorrisinho debochado.

Ela vestia um longo vestido preto sem alças, cobras pareciam se mover em torno da sua vestimenta e enfeitar-lhe, o cabelo dela estava solto e deslumbrante com duas tranças nas laterais que lhe formavam uma tiara natural, haviam tatuagens que saiam do seu pescoço e subiam até a nuca, brilhando, diamantes no lugar das unhas, oas lábios tão vermelhos quanto botões de sangue e a pele parecia de mogno como a porta, branca e levemente rosada.

– então foi essa coisa que Aria mandou pra me afrontar? – ela olhou pra mim de cima a baixo como se nunca tivesse me visto antes. – a sua ignorância é adorável descendente, e olhe que por aqui uns e outros traidores andam lhe chamando de... – ela sufocou o riso com a ponta dos dedos -... Libertária.

– zombar de mim não vai lhe livrar você de fazer o que eu vim fazer aqui. – não sei de onde eu tirei a corajem para dizer isso, mas por incrível que pareça eu não me sentia com medo ou intimidada, eu me sentia... Perfeitamente encaixada naquela situação, preparada, mesmo sabendo que se Meredith resolvesse levantar o dedo eu viraria cinza da terra.

As irmãs todas desdenharam de mim com o olhar.

Meredith sorriu sem humor, ela era a loba e eu o coelho.

– e a que devo a honra então?

– você sabe muito bem Olivia! – retruquei – espada!

O cetro transformou-se numa reluzente espada, ainda mais brilhante, de lamina transparente e revestimento de ouro e titânio, um delicado brilho azul recobria o armamento como uma atmosfera.

“não se deixe enganar” Era a voz de Aria no meu ouvido, sua presença estava revestindo a espada.

Gargalhando com as irmãs ela direcionou o olhar pra mim.

– do que me chamou?

– Meredith ou Olivia pra mim não faz diferença!

– você é realmente uma criatura patética Agnes... te enganar vou muito mais fácil do que imaginei... Confesso que te tirar do caminho não tem sido tarefa fácil mas vamos terminar com isso do jeito que eu pretendia desde o início. Aria é uma criatura digna de pena! – scalamaer!

Um cetro reluzente surgiu nas mãos de Meredith, com uma joia vermelha no topo e um cajado imponente como corpo.

– eu estava com você o tempo todo sua tolinha! Vim aguardando seu nascimento com muita sede se quer saber! Mas o mundo pútrido dos humanos é imiscível a certos tipos de magia e eu não pude fazer muita coisa. Eu era a cobra no seu berço quando você nasceu... mas o inútil do seu pai me encontrou antes que eu pudesse lhe aplicar o veneno da morte, eu fiz o mar ficar revoto nas suas férias de verão enquanto você nadava, mas sua mãe veio e lhe resgatou antes que você pudesse se afogar, de pequenos em pequenos acidentes a magia de Aria provou ser mais forte do que eu pensava, então... esperei que você crescesse um pouco mais para investir mais forte... como no acidente de carro...

Cerrei os dentes e a fechei os punhos como toda força.

– então foi você sua desgraçada! – berrei me preparando para correr na direção de Meredith, mas duas de suas irmãs fizeram um bloqueio com uma espécie de campo de força mantendo-me no lugar com choques elétricos.

– pensei que fosse obvio pra você. – disse-me ela com indiferença movendo-se um pouco pra mais perto de mim – mas você escapou, e a idade da profecia começava a chegar consumindo seu prazo, de acidente em acidente você sempre escapava escorregando das suas mãos... mas eu sempre estive ao seu lado, queimando circuitos da sala fechada, jogando motocicletas contra você e te deixando petrificada debaixo d’água... eu estava lá.

Então Meredith tocou o próprio peito, uma névoa rosada a envolveu e de repente... não era mais ela! Ela havia se transformado em outra pessoa.

Que fez o meu queixo cair e meus joelhos amolecerem.

Piercings, mechas roxa,s cabelos curtos...

Era Diane Perón.

Levei a mão aos lábios.

– Olivia Gremin nunca existiu sua idiota! Era eu o tempo todo, acompanhando você silenciosamente na escola, seguindo seus passos, mas você sempre foi uma humana ignorante que nada sabia do mundo da magia. Aria sabia que era eu o tempo todo! Mas quando forjei meu desaparecimento... a idiota achou que eu havia desistido de atentar contra sua vida e resolveu por Ícaro, o descendente de magos, em seu caminho para revelar o seu mundo... ela não sabia que eu estava por perto na forma de outra pessoa... Olivia, quando sequestrei seus preciosos amiguinhos tirei as conclusões que precisava para saber que já era hora e atacar novamente, eu sabia que você viria até mim, nos meus domínios é muito mais fácil eliminar uma humana nojenta e sem graça como você.

Eu estava chocada.

– você era Diane Perón todo esse tempo.

Meredith tomou sua forma novamente de loira jovem reluzente.

– errado. Eu sou Meredith Lyathor, todo esse tempo a sua espreita... e a sua espera.

Meio minuto de silencio.

– Assuero. – ladrou Meredith.

– sim, minha irmã? – respondeu a bruxa de cachos ruivos;

– traga os três casulos especiais. Valentia, ajude-a. quero motivar a nossa perdedora a lutar sua primeira ultima batalha.

A ruiva Assuero foi seguida de Valentina, a bruxa pequena de cabelos brancos e espetados... ambas subiram na arvore com total agilidade e trouxeram de um dos galho três enormes casulos verdes.

Meredith posicionou os três casulos no chão e pegou um tubo verde que ligava os três e minava seiva dourada, ela sorveu da seiva dourada com gosto fazendo os três casulos se agitarem.

– juventude querida – disse ela limpado os lábios, parecia mais jovem e bonita do que nunca. – sabe de quem.

Eu sabia perfeitamente.

Meredith abriu os três casulos.

Ágata, Amanda e Hugo... nus, sujos, e desmaiados dentro dos casulos, com tubos que partiam de várias partes dos seus corpos sugando suas juventudes, todos estavam ossudos, magros e deveras pálidos.

– pare com isso! – gritei chorando antes de me chocar contra o campo de força novamente.

–porque pararia querida? – provocou ela – em pouco tempo eles se dissolveram e enrugaram como ameixas podres e poderemos tratar de jogar seu corpos humanos inúteis no fogo para que virem meros reflexos de luz.

Choquei-me conta o campo de novo.

– você é uma covarde Meredith! Solte-me deste campo e lute comigo. Acabemos com isso logo.

– pensei que nunca fosse propor isso.

Então ela abriu os braços, raios e trovoes começaram a cair sacudindo o local como um enorme terremoto iminente, as irmãs de Meredith retiraram os casulos do caminho como também o campo de força que nos separava.

– essa luta é minha, irmãs, fiquem fora disso, a profecia foi pra mim - as irmãs de Meredith rosnaram mas se limitaram a ficar nas extremidades da arena, limitando as quatro saídas que ali existiam.

Estávamos frente a frente agora. Cara a cara, a lua cor de sangue surgiu no topo do céu e estrelas começaram a cair em cascata no horizonte, a natureza parecia estar em fuga do nosso confronto.

– eu esperei 300 anos pra provar o seu sangue descententesinha, me de ao menos uma batalha descente, não me faça ficar a eternidade sonhando com mais tempo trucidando você. – suspirou Meredith girando o cetro nos dedos como uma fina baqueta fazendo faíscas saírem dele.

“invoque seu cetro também filha.” Disse a voz de Aria em minha cabeça.

– cetro! – obedeci.

E minha espada tornou-se um cetro idêntico ao de Meredith porém com uma pedra azul no lugar da vermelha. Ela arqueou uma sobrancelha em desdém.

Então ela atacou, mais veloz do que eu poderia prever a luz emanou do seu cetro e me atingiu em cheio no peito me lançando contra a porta de entrada da arena, minha cabeça rodava e sentia o golpe queimando no peito como as cicatrizes do ataque do corvo que agora foram reabertas.

– isso vai ser melhor do que imaginei. – gralhou Meredith.

Tentei levantar-me, mas o mundo estava em caleidoscópio, movendo-se em uma velocidade reduzida, acho que acabo de ser enfeitiçada. Ponho-me de pé e torno a cair de frente na grama venenosa que pinica minhas bochechas.

“levante-se”

“é fácil falar” pensei para que Aria pudesse ouvir.

Por fim me pus de pé, Meredith parecia estar se deliciando, brincando com se eu fosse um jantar no qual se mexe nos cantos do prato até finalmente se ter vontade de devorar por inteiro.

Direcionei meu cetro para Meredith que emanou luz azul, mas a bruxa se esquivou com facilidade e tornou a me golpear de novo com a sua mágica, dessa vez tão mais forte que meu impacto contra o muro criou fissuras na estrutura.

Meredith bocejou.

– qual é o seu prazo Libertária? Não tenho o dia inteiro, bons escravos precisam de uma boa comandante.

Estava vendo Meredith embaçada e meu corpo queimava em uma febre causticante que me provocava vontade de arrancar a própria pele. Então comecei a pensar em seus crimes, seus descasos, em tudo que ela tirou de mim: minha família, meus amigos, minha cidade...

Investi contra ela com o cetro, a luz brilhante que emanou do meu cetro atingiu Meredith em cheio fazendo-a bater contra a arvore da vida e descer escorregando, a pancada não a pareceu machucar, apenas deixa-la ultrajada.

– bom. – disse ela – muito bom mesmo tolinha.

Meredith fincou o cetro no chão, o mesmo ondulou como uma arraia fazendo brotar da terra raízes da árvore, afiadas como espadas de esgrima e grossas como postes de eletricidade, o bosque de raízes nos envolveu em um labirinto gigante, em seguida névoa rosa e silencio deram a impressão de que eu estava em lugar novo, completamente sozinha.

Comecei a andar cautelosamente pelo emaranhado de raízes pontudas a procura de Meredith, antes que eu pudesse prever fui golpeada pelo centro bem na nuca o que me fez rolar e quase cair por cima de uma raiz que me perpassaria.

– bem atrás de você – cantarolou ela docemente

Levantei-me zonza e ela estava ante a mim portando o cetro, usei toda força bruta e lancei meu cetro contra ela mas ele atingiu uma superfície dura, um, espelho, fazendo-o quebrar a imagem refletida de Meredith em cacos.

– essa é um truque muito velho – disse Meredith se esgueirando das sombras atrás de mim – mas do que você entende não é?

Ela estava prestes a tentar me golpear quando bloqueei seu golpe com o meu cetro, minha força bruta se provou superior porque ela cambaleou e teve que se sustenta com muita força para permanecer de pé.

– espada! – gritei pro cetro.

E a espada de áurea brilhante retornou.

Meredith gargalhou e recitando palavras desconhecidas seu cetro também se transformou em uma espada mil vezes mais bonita e afiada que a minha, a base se enroscava em sua mão e a lamina era quase transparente de tão fina e afiada.

Começamos a duelar, o principal desafio não era me defender dos golpes magistrais e habilidosos da bruxa e sim me concentrar em não cair pra trás por cima de uma raiz que me furasse ao meio.

Meu corpo já estava coberto de suor, Meredith desferiu um golpe que por pouco não decepou meu pescoço, sua lamina roçou provocando um talho da base do meu seio até o antebraço, a dor começou a bruxulear na minha pele mas eu não podia me entregar tão facilmente.

Lancei minha lamina contra ela em um ponto desprevenido, a ponta triangular entrou poucos centímetros no seu ventre, puxei a lamina de volta pra mim pra contemplar o estrago causado em Meredith, sangue vermelho vivíssimo maculou seu vestido vertendo em gotas no chão, mas ela não parecia nem sentir cócegas com aquilo.

– faça melhor – bradou ela girando o corpo com a espada para sua lamina se chocar contra a minha soltando fagulhas elétricas no ar.

Conclui logicamente a impossibilidade de vencer.

Meredith não se feria.

Cada corte, cada golpe por mais forte que fosse não provocava nela dor ou sofrimento, ao contrario de mim que estava quase esfrangalhada de tão ferida, o cansaço já se aplacava sobre mim, morno, lento e inevitável.

Perdida nesse pensamento não vi quando Meredith proferiu:

“sucumbida” Ouvi claramente.

Então dos seus dedos emanou um fino raio que me atingiu em cheio, me fazendo cair no chão e me contorcer como uma lagarta na qual se brinca de torturar usando um isqueiro.

A dor estava atrofiando meus músculos, e eu ouvi claramente Meredith se aproximar a passos lentos, esperando que eu levantasse para que ele pudesse me matar.

– morre de pé descententezinha. Morra com honra, sabe muito bem que não pode me vencer, mas te darei essa dignidade. Você não me proporcionou um terço da diversão com que eu sonhei esse trezentos anos. – ela aguardou que eu me levantasse afiando as unhas de diamante com a lamina da espada. – Aria – bradou ela ao vento – você é realmente uma inútil.

Então meus olhos se fecharam contra a vontade, eu estava dentro de mim mesma, com Aria, a visão da rainha estava dentro de mim.

– ei filha – disse Aria flutuando em sua áurea azul de espectro.

– não diga nada rainha Aria, eu e você sabemos que eu não pude cumprir sua profecia. – disse com pesar.

– lembre-se das palavras recitadas e não tenha medo. Você encontrará a resposta. – disse-me ela desaparecendo e me deixando sozinha dentro de mim mesma.

Palavras citadas?

A profecia...

Maldição, maldição,maldição

Eis que a ladra de Bartolomeu, há de morrer

Dentro de 300 anos, que rapidamente passaram...

Até ai tudo certo, os trezentos anos estão se cumprindo hoje.

Há de se levantar a descendente de Aria, detentora das ações sabias

Com o cetro a destruirá, e esmagará suas irmãs

Devo ser muitíssimo sábia pra estar quase morrendo, e acho que esmagar as irmãs de Meredith está no sentido figurado, destronando Meredith elas serão oprimidas e não terão força conta mim.

Como vingança terá a força de um lobo e irá libertar o seu povo

O Amor de Meredith e seus encantos

Tentaram destruí-la, em nome da fidelidade

Admito ter uma força que nunca imaginei antes, uma humana fraca chegar onde cheguei é no mínimo algo surpreendente, e esta parte da profecia já se cumpriu, Kevin por amor a Meredith tentou me assassinar.

E com o cetro destruirá, e esmagar suas irmãs

Oitenta vezes tentam com sua vida, oitenta ela sobrevive

Será protegida por essa profecia até completar seu destino...

Faltava uma parte da profecia, lembro-me muito bem, minha mente se clareou como se alguém tivesse acendido uma lâmpada, então ai estava a resposta para derrotar Meredith, só havia um jeito de puxa-la pelo seu orgulho e de libertar o povo do Mundo Meridional, só havia uma saída para vingar Aria e fazer seu espírito descansar em paz.

Aria não havia mencionado esse detalhe para que eu não me acovardasse, para que eu fosse muda como uma ovelha no abate.

eu sinto muito querida. Mas é exatamente isso, não há outra forma” Disse a voz de Aria em minha mente.

Abri os olhos como se tudo isso tivesse me ocorrido em um milésimo de segundo. Eu aceito meu destino, eu aceito que se cumpra, não há muito o que fazer, será o fim do sofrimento das criaturas desse mundo, será Hugo, Ícaro e todos os outros livres, será o fim de todo sofrimento alheio.

Levantei-me e fiquei frente a frente com Meredith que empunhava sua espada para o golpe final.

Então eu simplesmente joguei minha espada no chão, metros longe de distancia até ela se perder nas sombras do bosque de galhos pontudos.

Meredith ficou completamente pasma com minha atitude.

– está desistindo assim? – gargalhou ela.

– de você sim.

Comecei a caminhar lentamente até uma pequena colina formada pela saída das raízes do solo, abaixo dessa colina havia um galho da espessura de uma lança, um único galho, envolto por nevoa cor de rosa e com a ponta direcionada para cima.

Abri os braços como se estivesse alçando voo.

– o que pensa que esta fazendo? – disse ela subindo o declive para acabar comigo, na ânsia de me agarrar pelo pescoço ela deixou cair a espada ao pé da colina.

“então é isso Aria” suspirei pra minha mente.

“ venha para mim filha, você será recompensada” disse ela em resposta.

Meredith me agarrou pelo pescoço, então a envolvi num inesperado abraço de urso, sufocante para que ela não se soltasse de mim e eu cumprisse meu objetivo.

– diga adeus Meredith – sussurrei em seu ouvido.

Joguei-me para trás agarrando o corpo da inimiga, caindo diretamente em cima do galho pontudo em forma de lança, juntamente com ela.

Senti nosso corpo ser perpassado... não ouve dor, só o impacto da queda.

Consegui olhar nos olhos de Meredith, agonizando, proferindo injurias cuspindo sangue... até finalmente afrouxar meu abraço e vê-la se transformando em poeira dourada e cacos de espelhos que me banharam o corpo juntamente como seu sangue.

o galho me atravessara.

Eu tive me morrer junto com Meredith.

Primeiro minha visão turvou, finalmente se apagou.

Não havia mais necessidade de respirar.

Tudo está desaparecendo... e desaparecendo... e...

“A custo de sangue.” Dizia a ultima frase da profecia.


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