Libertária escrita por Ana Souza


Capítulo 14
A Segunda Dádiva Fatal


Notas iniciais do capítulo

a história está emocionante,não?
porque não comenta? me deixa feliz e me impulsiona a escrever : D o fim se aproxima, são grandes decisões. torçam por Isa galera.



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Eu não vou olhar pra trás. Porque tudo que passou não pode ter existido, não pode ter acontecido, acho que eu bati a cabeça com muita força em algum lugar e sonhei com todo resto. Mas o corpo inerte, respirando fraco no meu colo não me deixa duvidar de nada, o hálito fraco que sai da boca, o peito se move com um ronco, os machucados protuberantes flamejam em todo seu corpo, no seu peito exposto.

- fale comigo – eu sussurrei pela milésima vez. Eu não obtive resposta como todas as outras vezes.

Com o carro destruído, sem dinheiro, fracos, sujos e indefesos eu e Ícaro estávamos ali, não sei quanto tempo, sei que o sol já se pôs, está escuro, o vento está frio... estávamos encostados em uma arvore, nem se eu quisesse poderia voltar a civilização, me perdi completamente do caminho.

- vamos ficar bem – me ouvi dizer. – eu prometo.

 Como agradecer a ele por ter lutado por minha vida bravamente? Ele acabou usado a magia de Aria, o que quase consumiu sua vida em quanto eu estava incapacitada de lutar.

Eu beijei sua bochecha.

- eu estava esperando por isso. – ele ronronou abrindo levemente seus olhos, olhos penosos de criança.

Eu sorri, extasiada de felicidade, meio segundo depois eu fiquei irritada, por quanto tempo ele estava ali, escutando meus lamentos, meus pedidos desesperados e sentimentais para que ele sobrevivesse?  Ele estava totalmente consciente em quanto eu fazia carinho em seu rosto?

Eu xinguei de todos os nomes possíveis, mas no fundo não consegui me irritar, ele estava muito fraco ainda, seus olhos estavam pesados, como se ele estivesse fazendo esforço pra ficar acordado.

- vamos pernoitar no mato. – declarei

Ele assentiu. Ele tinha total e plena consciência de que não tínhamos nenhuma solução plausível em todas as circunstancias que nos cercavam. Em seguida ele fez um esforço tremendo para se levantar, urrou de dor e tornou a cair no meu colo.

- você ta maluco? Não pode fazer esforço! Acabou de batalhar com uma cobra maligna de uma tonelada.

Ele então pôs-se a me dar ordens, pediu para que eu deitasse sua cabeça no chão e fosse atrás de gravetos para uma fogueira, não vi muito sentido porque não tínhamos fósforos, mas ao que parece, o pingente de cetro é mais poderoso do que eu imaginava, intimo do objeto mágico, Ícaro pediu para que eu encostasse o pingente nos gravetos amontoados, um brilho vermelho partiu dele e logo fogo vivo e ardente começou a queimar na madeira.

- o que mais essa coisa faz? Toca musica? Serve batata frita? – questionei.

Ícaro produziu um som dolorido muito parecido com uma risada.

- parece mais complexo do que a gente imaginava, ele é armamento, escudo e controla alguns elementos, descobri isso da pior maneira possível – ele me esclareceu apontado para as feridas da batalha.

O fogo crepitou cintilando e  dançando, provocando claridade na noite. Juntei algumas folhas secas que serviram de apoio de cabeça  para Ícaro, percebi que estava faminta. Peguei o pingente das mãos de Ícaro.

- um franguinho? Uma pizza?

O pingente não reagiu.

- inútil.

Joguei-o no chão, imediatamente uma fumaça fantasmagórica azul brotou de dentro do pingente tomando formato cintilante e azul de uma linda mulher de vestido.

- jogando meu presente fora?

- Aria?

- claro que sou eu.

O susto fez Ícaro se levantar apoiado na arvore.

- não tenho muito tempo por tanto ouçam. – a luz tremulou com o vento e o fogo fazendo a fumaça fantasmagórica de Aria ficar assustadora. – vocês receberam hoje uma dádiva da minha inimiga.

- chama aquela Anaconda de dádiva? – questionei.

- calada – Aria e Ícaro me disseram ao mesmo tempo.

- sabe exatamente o que quero dizer – ela se direcionou a mim com  sua hostilidade imperial – Meredith sabe que vocês tem muito poder, mas sabe também que estão correndo contra o tempo. Por isso não usará somente a força bruta para dete-los e sim a mente e o coração.  Se não chegarem a Camilo no prazo ela estará completamente imune a vocês e vai continuar sugando as vidas por onde passar pra se manter viva.

- Hugo. – eu disse sufocada

- quem é Hugo? – questionou-me Ícaro com a voz embargada.

É o motivo pelo qual estou lutando. Eu tinha que dizer isso, mas não disse, senti que isso magoaria Ícaro, ou talvez fosse presunção minha.

- se concentrem no que eu digo. Minha energia está se dissipando. – a voz de Aria estava mais distante, como numa ligação ruim e abafada. – ao amanhecer faltaram quatro dias para seu encontro, e algo que me diz que Meredith está em Camilo, faz parte do seu histórico essa história de desaparecimento. Já que ela se alimenta de juventude humana.

- explique isso – disse sufocada

- você já deveria saber. – seu corpo agora perdeu a forma e tornou-se uma bola clara de fumaça gelada – as Pétreas são milenares e imortais por capturarem pessoas jovens, elas as dão como escravos para o mundo Meridional, o mundo das bruxas, através de um portal. Em troca o Mundo Meridional as fornece beleza e poder. Quanto mais tempo um humano passa no Mundo Meridional, mais se dissolve até não restar nada. Ele vira...

Ela não completou, a bola de fumaça se dissolveu no ar e o pingente de cetro flutuou até as minhas mãos.

Hugo, Amanda... todos os outros, em um mundo paralelo, escravizados.  Como seria esse Mundo Meridional?  Será que eles estariam acorrentados, trabalhando para outras bruxas ou criaturas mágicas? Será que eles estavam sendo torturados, maltratados? Ou será que todos já haviam sido dissolvidos? Eu não conseguia respirar. O sorriso de Hugo apareceu pra mim, em seguida tornou-se em brilhinhos minúsculos, voando dispersos no ar.

A dor pulsou mais forte em minha cabeça. Meus olhos incharam, minha boca ressequiu-se.

Aos meus pés surgiu um pequeno embrulho de papel com um bilhete: “eu sempre cuidarei das necessidades da minha descendente.”  O embrulho quente continha quatro sanduiches de rosbife, um saco gigante com cenouras cozidas, molho de churrasco e duas latas congeladas de refrigerante.

Ergui a comida no ar como um manjar divino.

- para um fantasma, ela até mandou bem – disse Ícaro me chamando com um gesto para sentar com ele. Meus músculos estavam travados, eu estava presa a sensação de que jamais conseguiria salvar meus amigos disso. Eu estava enjoada com a sensação de que fosse morrer.

Sentei ao lado dele, comemos em completo silencio, Ícaro mastigava como se tivesse pregos presos ao maxilar.

Ele parece ter esquecido de me perguntar quem era Hugo. Pra ele eu só estava nessa missão combatendo Meredith pela minha própria e insignificante existência, quando na verdade meu propósito era libertar em primeiro lugar Hugo (por mais egoísta que isso fosse) e em seguida as outras pessoas que foram capturadas.  Ele comia com voracidade sua porção de sanduiche e tentava sugar o refrigerante congelado.

Ícaro utilizou seus trapos que outrora foram uma jaqueta de algodão e fez um travesseiro improvisado para nos dois, claro que isso me deixou um tanto desconfortável, quando foi a ultima vez que eu passei tanto tempo próximo a um garoto? A situação agora é outra, não era tempo para pudor ou essas outras coisas.

Ele ficou me observando em quanto eu me desfazia das embalagens de comida. Isso me deixou mais sem graça ainda.

- o que vai ser então? – comecei dizendo para quebrar qualquer tipo de clima que estivesse existindo ali – estamos sem grana, sem carro e a quatro dias do encontro com a morte.

Ele verificou os bolsos,ainda tinha a carteira de couro chamuscado.

- ainda temos vinte reais.

- que animador – resmunguei atiçando o fogo com um graveto, o vento gelado da noite estava me deixando em pânico.

Ícaro me esclareceu que o seguro cobriria o carro,mas isso demoraria em torno de um mês ou dois, considerando o acidente e a perda total, nós dois sabíamos que não tínhamos todo esse tempo. O mais estranho de tudo é que aconteceram conosco acidentes de proporções mortais e ninguém como policia, bombeiros ou ocasionais pedestres pareceu se dar conta, ou ter o trabalho de procurar sobreviventes.

- você lembra que a pista estava vazia quando paramos no acostamento? Era bloqueio mágico, quando há um evento desse tipo a magia toma conta de embaralhar ou apagar a memória dos mortais não envolvidos, provavelmente todos os carros que iriam passar pela BR hoje a tarde foram bloqueados para que Meredith pudesse se livrar de nós sem expor o mundo das bruxas.

- esse mulher é um encanto – ironizei.

- amanhã à tarde, vamos nos recompor e pegar um ônibus até a cidade que o dinheiro puder pagar podemos fazer o restante do trajeto de carona. Você acha que encontraremos Meredith na casa dessa tal Olivia? – Ícaro estava afagando meu braço, fazendo-o queimar em brasa, como se tivesse sido arranhado.

- eu tenho quase certeza. – acho que foi isso que meu cérebro conseguiu formular automaticamente.

Nos deitamos muito próximos, e eu não estava reclamando, a noite estava exatamente muito fria. Eu percebi que Ícaro estava dolorido e cansado demais, por isso me ofereci para montar guarda durante a noite, caso a segunda dádiva fatal tentasse nos matar em quanto dormíamos.

- “mutantes em pele de bem” era a segunda – questionei – o que acha que quer dizer?

Ícaro deu de ombros. Tenho certeza de que nenhum de nos quer descobrir.

Ele me convenceu a ficar ali do lado dele, mesmo que fosse acordada. Como eu também estava exausta não foi difícil  discordar. Ele passou o braço pelos meus ombros, e por incrível que pareça me senti muito confortável com isso.

- e depois?

- depois o que? – questionei, estávamos em silencio fazia meia hora.

- quando isso acabar, se a gente sobreviver, e depois? – agora estávamos virados frente a frente.  Os olhos dele eram um imã para mim, me atraindo a ficar ali pra sempre, morrer ali se preciso fosse, e por mais que isso me causasse remorso em relação a Hugo eu não conseguia sentir isso agora.

- eu não sei – respondi

Ele traçou o desenho da minha bochecha com o polegar o que me fez recuar um pouco o rosto, ele parece não ter percebido minha defesa. Ele levantou um pouco o tronco do corpo para me olhar de cima, o que até foi engraçado pois seus cabelos escuros estavam dotados de folhas secas. Me atrevi e começar a tirar as folhas dali em quanto ele me encarava.

Ele seguro minha mão delicadamente para que eu parasse.

- eu não acreditava em tudo isso antes de hoje.

- o que você quer dizer? – questionei.

Ele franziu o cenho de uma forma encantadora, como se estivesse em conflito do que devesse falar ou não.

- eu estou rendido. Posso enfrentar cobras, tubarões...

- está achando que a próxima dádiva são tubarões?

- pode ficar quietinha meio minuto – ele disse em meio a uma gargalhada que sacudiu seu corpo e mando descargas estranhas para o meu.

“pare com isso” eu disse a mim mesma,mas não adiantava, eu estava respondendo isso normalmente, como se fosse natural, como se eu não fosse dona de mim.

- o que eu estou querendo dizer... é que eu não acreditava que um dia eu fosse tão fraco. A ponto de querer morrer por uma pessoa.  De ficar desesperado. – em quanto ele dizia essas palavras  ele alisava meu rosto.

Eu senti minhas bochechas queimarem, meus dedos petrificaram e eu senti vontade de afundar no chão, por mais que quisesse desviar dos seus olhos eu não era capaz, o seu sopro pairou no meu nariz e eu sabia tudo que ia acontecer como se meu futuro fosse uma linha reta.

Sim, ele me beijou. E não foi com se Hugo tivesse me beijado, beijos cheios de arrependimento, culpa ou confusão, foi algo que eu estava segura de querer, foi algo que eu esperava e por mais que me arrependesse depois não questionaria nem resistiria agora. Debruçado sobre mim, eu apoiei minha mão em seus ombros, ele me embalou pela cintura de modo que eu fiquei como um bebê no colo do pai.

Ele pôs seus lábios nos meus, desesperadamente, era um carinho dentro da minha alma, sua mão desenhava o caminho do meu cabelo até a base das costas várias vezes, seus lábios não soltavam os meus e eu esqueci de que respirar também me manteria viva, meu corpo estava em choque.

Quando tudo parou, fui desligada da tomada. Suspirei longamente ainda naquela posição de bebê, agarrada a ele, com os olhos nos dele, com a boca a centímetros da dele. O silencio falou tudo pra gente.

- eu amo você.

Minha garganta se apertou, quem disse isso? Eu ou ele? Eu não sei definir.

- vamos sobreviver – ele disse e pousou sua boca na minha uma infinidade de vezes antes de me deitar na relva.

Ele me abraçou e eu fiquei ali, desconfortável apoiada em seu ombro em quanto ele dormia , não mudei de posição porque ele dormiu com um sorriso tremendo em seu rosto.

O que acabei de fazer?

Meus olhos ficaram pesados, acho que não seria necessário montar guarda. Se sobrevivemos a uma cobra de oito metros, provavelmente Meredith ainda não saiba do feito e nos dê essa noite de trégua.

Uma risada farta de alegria. Uma risada tão deliciosa quando um pedaço de algodão doce na boca. Onde eu estava mesmo? Ah, lembrei. No meio do nada. Abri devagar os olhos, ainda estava muito escuro, devem ser duas da manhã, confirmei minha suspeita olhando o relógio de pulso de Ícaro, já que seu braço estava em torno da minha barriga. São duas e meia da manhã. Ele dormia como um neném dopado, os machucados em seu corpo ainda estavam horríveis, dotados de areia do chão.

- você é uma pessoa horrível. – disse uma garota com voz alegre, a voz vinha de algum lugar a extrema esquerda no bosque. Seguida de uma risada deliciosa, extasiada da mais pura alegria. Levantei-me agitada. Quem mais estaria na floresta uma hora dessas rindo? Ainda por cima uma risada tão familiar e tão convidativa.

- Ícaro acorde. – eu solicitei sacudindo seus ombros, mas ele grunhiu de cansaço e virou-se para o outro lado agarrando um punhado de folhas secas.

- você é tão cheirosa Clair. – disse ele abraçando as folhas com mais veemência. Ícaro estava falando em quanto dormia, pensando em uma tal Clair.

Filho da mãe.

Decidi não perturbar seu maravilhoso sonho romântico com a tal Clair, não acredito que deixei esse cara me beijar .

Urrei de raiva e contive minha vontade de dar um grande chute no seu saco.  Eu ainda tinha um divida de vida com ele.

Levantei-me alarmada com a próxima voz risonha que ouvi.

- eu queria que ela estivesse aqui. – juro por Deus que ouvi a voz de Hugo, partindo da extrema esquerda da floresta.

Como uma louca comecei a seguir as risadas na mata escura, batendo o rosto em troncos retorcidos, correndo no meio da lama, orientada apelas pelas risadas furtivas das pessoas e a voz de Hugo.

Tropecei em um tronco frondoso e cai de cara na areia molhada.  Levantei o rosto e vi uma das coisas mais lindas de todo o universo, a floresta escondia um lindo lago que refletia perfeitamente a enorme lua cheia e as estrelas pontilhadas do céu, uma cachoeira minúscula despontava água nas pedras brancas, haviam rochas de puro quartzo rosa  que surgiam de dentro da água, ipês brancos lançavam perfume no ar e folhas imaculadas na superfície da água,  as folhas ao tocar o lago sereno formavam pequenos círculos de ondulação.

Aproximei-me incrédula, com um sorriso idiota na cara.

Do outro lado do lago, braseiros de prata perfeito se acenderam num estalo me fazendo recuar para trás, meu extinto dizia que eu tinha que correr dali imediatamente. Vi que um enorme tronco caído de  arvore servia de ponte para uma margem e outra do lago.

- nossa ultima convidada. – disse a ruiva reluzente, de sorriso avassalador, que andava como uma bailarina sobre o galho da arvore até mim.

Tive que me segurar para não cair de costas.

- Ágata?

Seu cabelo parecia estar em chamas, seu sorriso parecia estar sendo um reflexo da própria lua, seus olhos cintilava o mais puro verde do jaspe.

- estão todos atrás de você! Onde você esteve?

Ele sorriu, ergueu os braços para o céu e começou a rodar, juro que o vento agitou-se a sua volta carregado de aromas selvagens de churrasco e damascos frescos . aromas de felicidade, família e bem estar.

- é a nova onda garota. – disse-me ela saltitando em torno de mim, o curtíssimo vestido rosa dançava com a brisa. – todos estão fazendo  isso. Fugindo de suas vidinhas chatas e miseráveis da cidade e vindo para nosso pedaço de paraíso.

Ela apontou para a outra margem do rio e tochas flamejantes foram acessas revelando uma linda cabana amigável de dois andares, com videiras e pequenas flores de madressilva.

- tem alguém que quer te ver.

Ágata começou a andar sobre a ponte de tronco de arvore, acho que tem alguma coisa que estou esquecendo, mas por algum motivo não consigo me lembrar o que exatamente, o perfume das flores faz a minha cabeça rodar,  imagens felizes e multicoloridas surgem cada vez que penso no que estou esquecendo de importante.

Segui-a animadamente pelo tronco de arvore até a casa simpática, o cheiro de churrasco e torta quente era saboroso, havia boa musica lá dentro e pessoas que riam de forma tão extraordinária.

- vejam quem chegou! – disse Ágata.

Várias pessoas desconhecidas começaram a descer a escada, quando comecei a me questionar sobre não fazer sentido uma construção daquele porte no meio da floresta o perfume da torta assando no forno me fez pensar em coisas maravilhosas como o sorriso da minha mãe, e seus bolos deliciosos que ela costuma fazer.

No topo da escada a loira de expressão esperta demais sorria com braços abertos.

-Amanda! Amanda!

Corri pelos degraus como uma louca e a derrubei no carpete macio do primeiro andar.

- como você pode fazer aquilo comigo? O que aconteceu aquela noite por telefone? Você sumiu e  me deixou todo esse tempo preocupada sua maluca! Eu achei que você tinha sido seqüestrada por Meredith! -  berrei com o rosto inundado de lagrimas.

- quem é Meredith? – perguntou-me ela como se eu fosse louca, medindo minha temperatura com a mão.

Ela explicou calmamente que ninguém poderia saber da reserva, que era essa casa em que estávamos, disse que tinha que ser tudo bem feito para que pais e autoridades jamais os encontrassem, explicou que ali era o paraíso adolescente, muita liberdade, comida e paz interior.

- você nunca foi chegada a natureza. – disse desconfiada. Aquilo no fundo ainda parecia loucura pra mim e... nossa que lugar mais lindo! A escada de mármore cintila como perolas recém tiradas de uma concha.

Tudo caiu por terra. De um portão de mogno saiu ele, o sorriso avassalador, o jeito de menino, a prudência ao andar, a cor, os olhos, o cabelo, o perfume... Hugo, em carne e osso, vestido em uma túnica branca, descalço.  Todo o amor que cultivei por anos explodiu do meu coração, não existia mais Ícaro, não existia mais universo, não existia mais Meredith e sua corja.

Eu o abracei, deixei-o sem defesa, derrubei-o no chão e nos dois rolamos pelo carpete ao pé da escada, perigosamente a ponto de sair rolando pelos degraus, mas eu não ligava, os outros moradores dali pareciam se divertir com a cena, riam e aplaudiam de pé.

- eu sempre soube que vocês eram tipo um casalzinho. – a voz de Diane retumbou pelo enorme salão polido, ele estava sorridente da vida, um longo vestido preto e um estranho colar de cigarros.

- estão todos aqui! Vivos! Em segurança! – gritei. Como fui burra em acreditar na existência de bruxas! É claro que havia uma resposta plausível para tudo aquilo. Mas a serpente, Kevin, o cetro... nada daquilo foi delírio, ou foi? Acho que dormi e sonhei com tudo aquilo. Só pode ser isso. Era exatamente isso.

Eu agarrei Hugo pela nuca.

- nunca mais faça isso comigo. – eu disse bem perto da sua boca. – nunca mais saia da minha vida.

- vai prometer ficara aqui comigo pra sempre? – disse rolando e me colando ao chão, agora estávamos praticamente nos beijando.

- eu prometo, porque não? – disse. Eu tinha uma pessoa importante em casa? Não consigo me lembrar. Um namorado? Uma mãe? Nada me vem em mente agora além dessas pessoas maravilhosas.

Todos aplaudiram, Hugo me levou no colo para uma enorme mesa de jantar, a musica agora estava entorpecente, ritmos indianos se misturavam a musica eletrônica, era como estasy para os ouvidos, todos começaram a comer e dançar, eu e Amanda ficamos rodando no salão como loucas, as outras pessoas derramavam bebidas coloridas no chão que cintilavam em neon, pratos de lagosta saborosa surgiam de repente, muito molho francês, a musica parecia cada vez melhor, envolvia cada vez meus músculos, Hugo me pegou pela cintura e começamos a dançar.

- uma nova moradora merece uma roupa melhor – disse uma garota morena de olhos muito verdes e bonitos, o garoto ao seu lado com toda certeza era seu irmão gêmeo. Não sei como mas quando olhei para baixo estava trajando um lindo vestido azul turquesa, que era bem acentuado na cintura, mas se abria em curtas camadas  dispersas na parte de baixo.

- é maravilhoso – me ouvi dizer.

- agora sente-se há algo que Hugo quer lhe dizer – disse Amanda trazendo uma linda cadeira com recosto belíssimo, parecia um trono na verdade, a enorme borda tinha anjos entalhados em ouro e estofado de cetim azul celeste.

Sente-me um pouco hesitante. Todos fizeram um circulo diante de mim, Hugo ajoelhou-se na minha frente com uma pequena caixinha preta, e isso fez meu coração parar? Será que ele ia fazer mesmo o que eu estou pensando? Isso é insanidade! Mas porque eu reusaria? Eu o amo! Se for mesmo o que estou pensando, eu não tenho nada a perder.

-Isadora Agnes... – começou ele abrindo vagarosamente a caixa. – você aceita morrer nas minhas mãos?

O que ele acabou de dizer?

Como se uma trava tivesse sido aberta uma comporta de informações desaguou em minha mente.

Olhei para o lado, Amanda, Diane, todas as outras pessoas... começaram a dissolver como pastilhas efervescentes , começaram a se dissipar como vapor fantasmagórico de uma chaleira maligna. Fios grossos de fumaça começaram a subir até o teto, a mansão num piscar de olhos virou um casebre sujo de madeira, cheio de fuligem, maquinário de construção abandonado, pilhas de caixas empoeiradas de explosivos se erguiam até o teto de madeira cheios de fendas.

Era tarde demais, cai no truque de Meredith. Sozinha, acho que o que vem pra mim é a segunda dádiva fatal.

“mutantes em pele de bem” estava tudo explicado.

A exuberante cadeira-trono, criou tentáculos e garras metálicas que me prenderam sentada. Tive medo de olhar para Hugo, sabia que não era o verdadeiro Hugo, foi uma ilusão.

Seu sorriso maligno ficou cada vez mais largo em quanto eu gritava, como do gato esquisito de Alice no País Das Maravilhas.

- nunca acredite em nada sem antes olhar duas vezes meu bem – disse-me ele, já não era a doce voz de Hugo, era uma voz rouca grotesca de um monstro.

A pele de Hugo foi derretendo como uma gelatina ao sol, me fazendo berrar de horror, agora entendia perfeitamente porque estava ali. Como pude ter sido facilmente enganada dessa forma? Um truque exatamente obvio.

Em todos os meus pesadelos, todos meus surtos de terror de criança quando minha mãe apaga a luz, nunca vi nada que se comparasse com aquilo. Por baixo da pele derretida do falso Hugo surgiu uma espécie de monstro, não sei nomear aquilo. O corpo era puro músculo exposto, carne viva, protuberâncias definiam braços finos e arqueados, tronco e panturrilhas grossas. A cabeça era de um enorme cachorro-jacaré vermelho, o focinho era flamejante como uma maçaneta posta num braseiro, orelhas pontudas e dentes proeminentes saltavam pontudos para fora da boca, asas curtas no apareciam por cima dos ombros, eram como leques vermelhos murchos.

O monstro rosnou para mim, seu hálito verde queimou minha garganta e narinas e fizeram meus olhos lacrimejarem.

Presa a cadeira não havia o que fazer, eu não conseguia alcançar o pingente em meus pescoço, o monstro abriu a boca colocando-me cara a cara com sua garganta.

Antes eu bancaria indefesa, pensaria que não existe mais possibilidade de escapatória e ficaria ali, com a cabeça enterrada na boca de um monstro horrível esperando ser mastigada até a morte. Usei minha perna, chutei a criatura, com uma força que eu jamais julguei ter, o monstro parou poucos centímetros do ar e bateu em uma velha viga de madeira. Soltando poeira por todo lugar.

Tentei me desfazer das minhas amarras, mas quanto mais eu me mexia na cadeira mais as garras e tentáculos me prendiam contra a cadeira.

O monstro se levantou com certa dificuldade, com certeza ele não esperava pelo meu golpe. Ele correu em minha direção.

- fogo! – ordenei ao pingente que reagiu imediatamente lançando uma seta de fogo no peito da criatura. Eu esperei que no mínimo o monstro ficasse chamuscado, mas o fogo associou-se a sua pele, fundindo-se a ele.

Ele mordeu o meu ombro, sacudiu-me com seus dentes, eu senti minha carne sendo perfurada, meus ossos sendo quebrados, nunca pensei que um dor dessa fosse possível, uma dor que me fez pedir pela morte, uma dor que queimou cadê milimétrica parte do meu corpo.

- escudo – gritei pro pingente de cetro

Uma bolha gigante que ondulava na cor púrpura, igual ao que me protegeu contra o machado de Kevin afastou a boca do monstro do meu ombro, um pedaço da minha carne pendia entre seus dentes. Mas o escudo não durou tempo suficiente, quanto mais eu usava o poder do cetro mais me sentia esgotada e exausta como se tivesse corrido uma maratona.

Eu urrava de dor, queria desmaiar, afundar para sempre em um sono profundo para nunca sentir essa dor excruciante novamente, meu ombro parecia estar sendo perfurado por uma britadeira.

- espada.

Ordenei ao pingente, senti a espada pairando em minha mão, cortei os tentáculos que me prendiam e combati as garras que não foram tão fortes para me prender a cadeira, eu me sentia forte, exatamente forte, eu entendia perfeitamente agora quando Ícaro estava batalhando naquele campo com a serpente, eu sentia dor mas agora, camas de poder a deixavam suportável, o contato com a espada me deixou totalmente forte.

- pode vir.

O monstro voou avançando para cima de mim, seu pio estridente quase me deixou surda por completo, em quanto ele estava no ar, acertei-o com a espada fazendo-o cair no chão em um baque que quebrou o assoalho.

Sangue laranja vivo como lava de um vulcão manchou a espada, meu braço protestou com uma nova dor, quase derrubei a arma, meus dedos com o contato to sangue da criatura queimaram até a pele descamar.

Ele cuspiu fogo e seu rastro de sangue inflamou-se  quase atingindo-me. Se eu não tivesse pulado para o lado com toda certeza teria sido frita.

- da próxima vez, mande Meredith vir me matar pessoalmente. – berrei

- ela teria todo prazer em fazer isso sua criatura inútil – eu não esperava que o monstro me respondesse, sua voz soou como milhares de maquinas em atividade. – mas como fui invocado para o trabalho, não ficarei triste em terminar.

Avancei tentando perfurar a criatura com a espada, mas ele não parecia ser material, todas as vezes que me aproximava demais, o monstro voava veloz demais ou se dissolvia aparecendo em outro lugar, quando o golpeava com a espada, apenas rasgava alguns músculos, e esse esforço era mais prejudicial para mim do que pra ele.

- é inútil! – urrou o monstro com astucia – Fibreo nunca perde.

- você tem nome. – ironizei – é tão feio quanto você.

Fibreo urrou e bateu uma de suas asas no meu rosto derrubando-me no chão. Minha bochecha começou a latejar.

- chega de brincar. – disse-me ele prestes a rasgar meu pescoço.

Lutei inutilmente dando chutes, mas não conseguia me mover. Ele estava distraído pronto para saborear minha carne, o que me possibilitou a chance de golpeá-lo no pescoço com a lamina da espada.

Fibreo rolou para o lado me dando a chance de correr para fora do casebre, seu sangue-lava espirrou o suficiente para me provocar irritação e queimaduras no pescoço, assim que sai porta a fora do que eu vi realmente ser um velho deposito de maquinas, que começou a ruir, pedaços de madeira começaram a desabar, o chão começou a tremer.

O local que me hipnotizara outrora também foi fruto de uma possível ilusão, não haviam ipês, nem o lago que refletia o céu perfeitamente, tudo ali fora uma ilusão provocada certamente  por magia, o local se resumia a uma pequena queda d’água fina e caudalosa, escura como a noite, não havia mais braseiros de prata.

Uma explosão lançou toras da madeira e lava para todos os lados, Fibreo surgiu voando da fumaça vermelha e dos escombros do antigo casebre de maquinas, um pedaço do seu pescoço estava deslocado, jorrando lava e sangue borbulhante .

- sua hora chegou – ele urrou cintilando de fúria.

Sua boca cuspiu uma bola de fogo, tive que me atirar no lago pra não ser atingida em cheio. Afundei por um bom tempo, serenamente até voltar a tona.

Meu ombro protestou, eu não conseguia olhar para ferida exposta, pelo pedaço de osso, pelo sangue que jorrava e pintava a água de vermelho, a dor me dava vontade de me contorcer.

Tentei sair da água, segurei na margem mas logo fui puxada para baixo. As mãos dos fantasmas de Diane, Hugo, Amanda e Ágata me puxavam para baixo, sorrindo, vestindo o fardamento do nosso colégio, seus olhos penetravam o fundo do meu ser, toda minha angustia . suas mãos geladas e espectrais me arrastavam para o fundo do lago, o ar escapava em bolhas pequenas pela minha garganta, eu lutei nadando para cima, mas a força e a sedução daquelas criaturas me arrastava a cada segundo para a morte.

Fechei os olhos. Expeli o ar de vez dos meus pulmões. Aria estava se tornando inútil, aparecia com instruções e um pouco de comida mas na hora de me salvar de morrer afogada nem sinal dela. Em contato com a água a espada se tornou novamente em pingente, eu estava agarrado ao pequeno objeto como se fosse minha vida, mas não conseguia pensar em nenhum comando mágico que pudesse me salvar daquilo. Talvez eu não quisesse ser salva.

Dois braços. Um querubim de misericórdia.

Eu estava sendo puxada para cima, como Hugo fizeram uma vez. Uma ironia, um tapa na cara do destino.

Ícaro, senti medo de que fosse um fantasma, outro espectro, mas era ele mesmo! Eu tinha certeza,  ele estava com o rosto horrorizado, puxando-me para a superfície com esforço, os fantasmas não queriam soltar minhas pernas, Ícaro se debateu lutando com eles para que me soltassem, quando achei que fosse enlouquecer sem fôlego, nos dois abraçados viemos a tona.

- cheguei a tempo? – perguntou ele me arrastando para margem em quanto eu tinhas refluxos da água. Ele alisou meu rosto e me beijou de leve.

- bem na hora cowboy – respondi ajudando-o a levantar, ele ainda estava fraco.

- como me achou? – quis saber.

- tem certeza que quer que eu responda isso agora? – ele apontou para Fibreo que parecia ter dobrado de tamanho. – dia e tanto meu amor.

Fibreo urrou.

- acha que vai me impedir de eliminar essa verme?

- não acho – berrou Ícaro de volta – tenho certeza. Ninguém vai tocar na minha garota.

- você é um humano ridículo. – berrou Fibreo pairando acima de nós – a minha mestra contou-me tudo sobre essa aproveitadora. Descendente de Aria não se podia esperar nada melhor.

- a sua “mestra” não é a melhor pessoa do mundo – rebati nervosa.

- então vocês são iguais – Fibreo agora ficou frente a frente conosco – ambas usaram seus consortes para conseguir seu objetivo.  Minha mestra usou seu amante mortal Kevin e você esta usando seu sobrinho para resgatar o garoto. O garoto Hugo.

Minha tentativa de chutar a cabeça de Fibreo foi em vão, ele abaixou a tempo e meu golpe pairou no ar derrubando-me no chão.

Ícaro que ficou aturdido com o comentário do monstro foi atingido por suas garras de monstro e caiu muito próximo ao lago, a lava esguichada pelo sangue afluente de Fibreo formou protuberâncias ainda mais causticantes em sua pele machucada.

- acabe logo com isso – disse eu em quanto ele se aproximava de mim com as garras apontadas para meu rosto.

- a humilhação e sempre a melhor parte. – retrucou o monstro.

Foi suficiente para que eu cuspisse em seu rosto.

Fibreo urrou de dor,com as mãos enterradas no rosto, ele caiu para trás. Ao retirar as mãos do rosto um ponto branco parecido com uma queimadura acida marcava o local onde eu tinha cuspido.

Bingo.

-Ícaro. Água! – gritei. – acabei de achar sua kriponita monstrengo!

Peguei o pingente de cetro em quanto o vencido e desorientado Fibreo voava para me pegar, seu corpo de gárgula de carne estava enfraquecido, como se eu acabasse de perfurar sua fonte de ego e vitalidade.

- água!

O pingente brilhou, um jato sônico de água partiu do objeto encharcando Fibreo, ele rolava e se contorcia no chão em quanto manchas acidas e branco purgavam seu corpo.

- o golpe final – disse Ícaro dando-lhe um pontapé, foi o suficiente para Fibreo cair na água do lago, dissolvendo-se em espuma branca, espessa e fedorenta.

Ficamos respirando o ar gelado por meio minuto, digerindo o que aconteceu. Logo em seguida a dor que outrora sumira tornou a aparecer cai no chão com a dor no braço, tocar no ferimento, olhar para ele era insuportável.

Ícaro sem muito me dizer pegou-me no colo , colocou-me em um pedaço macio de relva.

- sangue de Servis. – disse ele  completamente sério, sem emoção, sem aqueles olhos doces e cheios de compaixão que eu adorava, ele acabou recolhendo um pouco da lava nojenta que estava no chão, sangue da batalha com Fibreo – Servis são monstros servos, não entregam recados, são matadores de aluguel, chantagistas, atiçadores de guerras... seu sangue queima a pele morta e restaura a saúde do corpo. Eram usados para ajudar nos ferimentos de batalha ate serem escravizados pelas bruxas.

Ícaro passou um pouco da lava em seus ferimentos mais graves, a dor o fez encolher e curvar-se um pouco mas em seguida ele respirou fundo, a pele nos locais em que ele passara a lava-sangue estava tostada, entretanto ele parecia não se incomodar com isso.

- isso vai doer- advertiu ele pondo bastante sangue-lava em meu ombro. Eu me questionei anteriormente se existia dor maior possível do que a mordida desse tal Servil, existe sim! A dor da queimadura feita em cima de uma mordida. Descobri isso da pior maneira.

Não sei o quando gritei, ainda sentia dor quando fiquei rouca e sentia o gosto de sangue na garganta.

Lentamente a pele do meu ombro foi enrugando, eu sentia músculos dolorosamente se restaurando e o osso exposto se fortalecendo, a pele fluindo para a reconstrução.

Arfei, arfei por um longo tempo.

- obrigada – consegui gaguejar

Pus o meu braço bom em torno do pescoço de Ícaro

- nós conseguimos...

ele tirou meu braço do seu ombro de uma forma rígida, sem emoção, sem sentimento.

- estava me usando esse tempo todo não é?

Eu fiquei muda. Tinha um nó na minha garganta.

- você ama esse tal Hugo, só precisava de um acompanhante de viajem. Não é Isa? – ele gritou comigo.

Me desvencilhei dos seus olhos perfuradores.

- podia ter me dito desde o começo. Teria evitado muita coisa dentro de mim. – sua voz fria, desprovida de qualquer sentimento me fez ter vontade de chorar, senti vontade de dar um chute em mim mesma por isso. A magoa em seu rosto era tão evidente.

- pensei que fosse apaixonado por alguma Clair. estava sonhado com ela -disse irritada

- aquele beijo significou alguma coisa pra você garota maluca? - ele berrou - se eu disse o nome dela em quanto dormia não significa coisa alguma, Clair é uma garota do passado que se significasse alguma coisa estaria comigo agora, eu estaria dando minha vida por ela agora.

- eu sinto muito – disse

- sente muito? Eu também sinto. Eu queria nunca ter te conhecido Isa.

Ele pousou minha cabeça na relva confortável e se afastou de mim, chutou a água de lago e ficou dizendo “burro! Burro!” a si mesmo antes de ficar encolhido ao lado de uma pedra onde a água da cascata batia.

- eu queria muito não ter te conhecido também – disse antes de desabar em um choro inconsolável. – não se pode amar que não se conhece.


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