Ele destampou seu rosto com as flores e esticou seu braço para mim. Seus olhos azuis brilhavam de uma forma que eu nem consigo descrever. Mantinha um sorriso de lado com seus lábios fechados e bochechas rosadas. Pude perceber seu violão dependurado em suas costas. Tudo isso em apenas um milésimo de um segundo, até ele dizer:

- São para você – Estiquei meus braços ao encontro daquele buquê colorido, tentando disfarçar o fato de eu estar corada.

- Obrigada Ed, não precisava! São.. perfeitas – Disse olhando fixamente para aquelas pequenas flores tumultuadas entre raminhos de folhas enquanto percorria a cozinha com os olhos tentando encontrar um vaso. Coloquei-as em um copo com água enquanto me virava para ele, ainda na porta.

- Achei que gostaria de flores coloridas. Você não parece ser como as outras garotas, você é diferente.. É artística, impulsiva – Isso parecia como uma catástrofe aos meus ouvidos, e estava me sentindo como a garota mais bizarra do mundo até que ele disse – E é isso o que eu mais gosto em você. – o que me fez rir igual uma menina de treze anos que teve seus olhares a um garoto correspondidos.

Peguei minha bolsa que tinha colocado na bancada para colocar água nas flores e fui andando em sua direção. Ele encostou a porta quando passei e se virou para mim, descendo a pequena escadinha até a entrada.

- Aonde vamos? – disse enquanto ele ajeitava a alça de seu violão.

- É surpresa. Não é longe, podemos ir andando daqui.

Fomos andando pela calçada observando a lua sobre o céu escuro atrás da praia. Aquilo daria um belo desenho, mas não estava com tempo para isso agora. Passamos por vários prédios chiques e alguns restaurantes também, até que chegamos a uma pracinha cheia de casais, além de alguns brinquedos para as crianças que ficavam ali a manhã inteira. Sentamos em um dos banquinhos ao redor da pracinha quando ele começou a me encarar com aqueles grandes olhos azuis.

- Então, o que vamos fazer?

- Pensei que poderíamos conversar.. Saber um pouco mais sobre cada um. Você começa, me faça uma pergunta.

- Hum, tudo bem. Você está aqui de férias certo? Tem algum parente por aqui?

- Não, só vim para conhecer a cidade, estou aqui com meus pais, viemos ha uma semana atrás. E você?

- Presente de aniversário de 18 anos. Eu e minha mãe juntamos dinheiro por um tempo, minha tia se voluntariou para ficar comigo. Afinal, quantos anos você tem?

- Tenho 18 também. Se quiser ver minha carteira eu posso comprovar – disse sorrindo - Você pretende seguir carreira de artista?

- Talvez. Gosto de desenhar, me sinto bem quando estou com um lápis na mão.  E você, pretende lançar um disco logo?

- Sim, na verdade, estou tentando escrever algumas músicas para esse álbum. Pegar um pouco de inspiração sabe, cidade nova, lugares novos. Você faria um desenho para mim? – me assustei um pouco com essa pergunta. Ninguém nunca havia pedido para eu fazer um desenho. Sempre fluía algo natural, do nada eu desenhava o que vinha na minha cabeça, nunca havia feito um desenho forçado.

- Você faria uma música pra mim?

- Sim, mas acho que ela não ficaria boa o suficiente. Não posso te comparar a uma música – Ele tinha essa mania louca de me deixar vermelha. - Acho que está na hora de nossa segunda surpresa – ele se levantou e ergueu sua mão para me levantar do banco.

- Outra? Quantas surpresas faltam? Achei que ficaríamos aqui..

- Prefiro um lugar mais a sós – e segurou minha mão me levando em direção à praia. Se fosse outra pessoa, eu nunca iria assim tão fácil, mas ele me trazia uma sensação de segurança que eu não conseguia explicar. Andamos na beirada da praia por um bom tempo, até que vi uma luz um pouco mais adiante, na areia.

- O que é aquilo? – disse apontando para aquele pequeno facho de luz.

- É parte da surpresa.

Ao chegarmos mais perto, vi que era uma tocha fincada na areia. Ele tirou a mochila das costas e dentro dela pegou um pequeno cobertor, o estendendo na areia. Nos sentamos ali enquanto ele pegava algumas comidas em pequenos potinhos dentro da mochila: aquilo era um piquenique. Tinha pequenos pedaços de fruta cortados em cubos, bolo de chocolate, pudim e várias outras coisas.

 - Wow, você sabe mesmo como impressionar uma menina, não?

 - Eu faço o que eu posso – disse enquanto começávamos a rir.

 - Pode tocar uma música para mim?

 - Se você realmente quer.. – E tirou o violão da capa, começando a tocar mais uma música que fazia meu coração derreter.