Entrando no avião eu me senti uma completa estranha. Acho que era a única lá que nunca havia entrado em um antes. E eu também não tinha a aparência mais normal de todas, na verdade, para quem estava viajando para um dos estados mais quentes dos Estados Unidos, eu era a mais friorenta de lá. Usava um moletom verde e calça leggin com all star, enquanto as pessoas lá usavam apenas um casaco ou algo do tipo para se esquentarem enquanto ainda estavam em Nova York.

Grande parte da viagem eu passei desenhando. Era divertido ser a única pessoa lá sem um computador no colo, ou um celular e fones de ouvido. Gostava de olhar para as expressões das pessoas e tentar desenhá-las o mais detalhadamente possível. A maioria das expressões pareciam cansadas, como se as pessoas não tivessem dormido há dias.

Continuei desenhando até que chegou uma hora, que eu estava tão cansada que dormi, mas eu dormi tanto, que quando acordei, faltava apenas meia hora para chegarmos a San Diego, onde minha tia morava. Ela disse a minha mãe que estaria me esperando no aeroporto, e que iríamos direto para a casa dela, e no dia seguinte ela me mostraria a cidade.

Olhei pela janela do avião e vi apenas o mar azul. Aquele lindo mar azul que me trazia tanta paz e tranqüilidade. Mal podia esperar para ser levada pelas ondas até meus sonhos mais profundos.

Ao chegar ao aeroporto, descendo as escadas do avião vi minha tia segurando uma plaquinha onde estava escrito “Charlotte” com uma caligrafia maravilhosa. Ela estava com um sorriso enorme e usando uma roupa bem chique, típico dela. Cheguei perto sem saber direito o que fazer então apenas a abracei. Ela sussurrou em meu ouvido algo como “oh querida, que saudade de você”. Minha tia era uma pessoa humilde, pelo menos por dentro. Ela parecia uma perua, com jóias e roupas caras, mas tinha um bom coração.

Fomos andando até o carro enquanto um homem forte de terno e gravata com óculos escuros foi levando minha bagagem atrás da gente. O carro era maravilhoso, e acredito que super caro também. Ela sentou no banco de trás comigo e foi me mostrando com o dedo os pontos turísticos de lá, enquanto o homem dirigia. A cidade era linda demais para ser verdade.

Quando chegamos a casa dela, eu quase caí para trás. Ela era incrível, tinha uma fachada de vidro, uma piscina e milhões de quartos. Podia caber nossa família inteira ali, e mais alguns amigos. Imaginava quantas festas ela já tinha feito ali, festas que aparecem em revistas e sites de fofocas.

Ela subiu comigo até o segundo andar e mostrou o quarto aonde eu iria ficar. Nele tinha uma de casal no centro, um banheiro, um armário enorme cheio de roupas de grife, além de um notebook da Apple em cima de uma mesinha branca.

- Não é possível que eu vou ficar aqui.. – Disse maravilhada, rodando em volta de mim mesma

- Pode não ser o melhor da casa, mas achei que você iria se sentir confortável aqui.. – minha tia sorriu ao ver minha reação.

- Nossa, eu vou ficar ainda mais que confortável aqui! É lindo, e tão organizado! – sorri ao virar para ela – Obrigada tia, obrigada mesmo. Por tudo, pela moradia, por ter ido até o aeroporto só para me buscar, por ter me deixado ficar aqui com você. Você é mesmo uma ótima tia! – a abracei forte.

- Bem, acho que isso é só o que as tias fazem, não é? Agora vá tirar suas roupas da mala e tomar um banho que eu vou pedir para Reena, minha cozinheira, preparar alguma coisa bem gostosa para você, que deve estar faminta. – ela me deu um beijo na testa e desceu as escadas me deixando sozinha.

Tirei minhas poucas roupas da mala e as pendurei junto com as outras que já estavam no armário e fui andando em direção ao banheiro. Tinha uma banheira enorme lá, e um chuveiro também. Optei pelo chuveiro porque eu não precisaria esperar encher e o liguei, deixando a água escorrer por meu corpo. Depois de tomar banho, fui ver as roupas dentro do guarda roupa e peguei um short de minha tia, pois estava muito calor e eu praticamente só tinha levado roupas de frio. Mesmo assim, não agüentei e coloquei um moletom por cima de uma regata e meu all star preto.

Desci as escadas com o cheiro da comida preparada por Reena em todo o canto. Quando vi a mesa preparada levei um susto, pois nunca havia visto tanta comida na minha frente. Tinha de torradinhas a todos os tipos de fruta cortadas em cubinhos e vários sucos diferentes. Comi bastante, pois realmente estava faminta, o que fez minha tia me olhar assustada por ver o tanto de comida em meu prato. Aquilo tudo era muito bom pra ser verdade.

Depois de comer, disse a minha tia que iria dar uma volta pela praia para a conhecer melhor, já que ela era logo em frente a sua casa. Subi para pegar meu bloco de desenhos e lápis de cor e depois fui em direção a porta. A praia estava calma e tranqüila, com poucas pessoas andando por lá e o sol se pondo atrás do mar. Me sentei na areia e comecei a desenhar aquele paraíso, era maravilhoso demais, até que depois de um tempo me toquei que havia alguma música tocando perto de mim, uma música calma e romântica com uma batida única, que nunca havia escutado antes. Olhei a minha volta para procurar de onde saia, até que vi alguém, a única pessoa além de mim na praia inteira que também usava um moletom. Achei aquilo engraçado, e tentei ouvir a música melhor. Ela me trazia uma sensação boa, de paz, tranquilidade. Olhei de novo para ele, estava a alguns metros de mim. Tinha cabelos ruivos e bagunçados, e do seu lado tinha um bloco de anotações aonde sempre escrevia ou riscava alguma coisa quando parava de repente de tocar. Continuei olhando, e do nada ele olhou para mim. Reparei apenas uma coisa. Olhos azuis.