Então estava tudo decidido. Eu iria viajar para Califórnia na próxima semana para passar as férias de verão. Seria meu presente de aniversário de 18 anos, de minha mãe. Ela pagaria a passagem de ida, eu a de volta. Minha tia se ofereceu para me dar hospedagem e comida, e me deixaria passar três semanas de folga lá. Só teria que aturar mais uma semana na faculdade de Artes, e logo eu estaria em um avião viajando de uma chuvosa Nova York a uma ensolarada Califórnia.

O tempo passou voando e quando vi já se faltava um dia. Minhas malas estavam prontas; passaporte na bolsa; cadernos de desenho e meu estojo de lápis na bagagem; livros e mais livros para eu me afogar em histórias românticas e clichês na mão. Fui dormir pensando em tudo que eu poderia fazer. Eu e minha mãe não tínhamos muito dinheiro, e eu quase não via minha tia, apenas quando ela ia visitar a gente uma vez ou outra. Mas minha mãe sabia o quanto eu queria viajar e me afastar daqueles pensamentos ruins que me rodeavam naquela cidade. Queria apenas um pouco de paz, era tudo o que eu queria.
Eu mal conseguia fechar meus olhos na madrugada anterior. Ficava pensando em como seria ter os pés enterrados debaixo da areia branquinha, o sol batendo em meu rosto, o ar puro entrando em meus pulmões, o barulho das ondas, e o mar azul à minha frente. Devo ter dormido apenas umas três horas, pois quando acordei, eu mal conseguia deixar meus olhos abertos.
Era também a primeira vez que eu andaria de avião, a adrenalina subindo pelas minhas veias. Sei que não deve parecer grande coisa para você, mas para mim era. Eu realmente estava MUITO animada.
– Mãe, eu vou sentir tanta falta de você – disse com lágrimas nos olhos.
– Então não vai filha, fica comigo, eu posso fazer um bolinho de chocolate no seu aniversário, e a gente pode passar juntas, vendo aqueles filmes que você gosta – ela estava se segurando para não chorar, eu podia ver em seus olhos.
– Se eu não for agora, eu posso nunca mais ter essa chance.. Tenho que ir mãe – eu a abracei forte deixando as lágrimas escorrerem e fui correndo para não perder o avião.
– Não se esqueça de passar protetor solar! E me atenda quando eu ligar! E não se esqueça que eu te amo filha! – ouvi gritos atrás de mim enquanto me virava
– Te amo também mãe! – E fui embora, sem olhar para trás.