Eyes On Fire escrita por Amy Moon


Capítulo 8
Capítulo 8 - Como estranhos




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Atrasada novamente. De novo Nee? Perguntava a mim mesma com certa ironia. Pelo menos acordei alegre. Sem suor, sem pesadelos e sem a voz bizarra da floresta deserta. Pensei que ligar para Carl me acompanhar até a escola, mas desisti. Fui sozinha mesmo, e a pé, no meio do chuvisco, que engrossou no final do percurso.
- Chuva boa, dona Nee? – disse Sra. Smith me olhando por cima dos óculos.
- Ah! Ótima. Devia pegar chuva também. – soltei a minha cota de ironia, enquanto espantava os pingos de chuva no cabelo.
Sra. Smith voltou a ler o livro, ajeitando os óculos caídos. Cheguei mais perto com toda simpatia, perdi minha autorização de entrada.
- Minha autorização, cadê? – nossa! Hoje eu estava demais!
Lentamente ergueu a cabeça e lançou-me um olhar venenoso. E começou a assinar uma autorização com aquela letra maravilhosa, que mais parecia um rabisco.
- Mas só vai entrar no segundo horário. – rosnou.
- Tá, eu sei.
Esperei os vinte e cinco minutos infernais que faltavam para a primeira aula acabar, sentindo o cheiro de hortelã. O sinal tocou e eu pude entrar na sala. Dei uma sondada no vidro da porta, e vi a professora Eunice, dei um suspiro de alívio tao grande, que o garoto que estava do outro lado do corredor, deve ter percebido isso. Adorava literatura, e a escola inteira sabia disso, devido a minha dedicação inigualável ao clube de teatro; não só por que contava ponto extra, mas por que eu amava teatro, música.
Abri a porta como quem quisesse dizer: ”Hello pessoal, estou aqui. Podem dar os gritinhos de saudade! Inclusive você, Castiel.” Percebi  que Eunice estava separando os grupos dos famosos seminários literários. Ou melhor, duplas. Fui entrando de fininho, como quem não quer ser notada, mas Eunice era melhor do que eu poderia imaginar. Ou então ela era o pior do que eu podia imaginar. Tanto faz.
- Nee! Minha querida.
Virei temendo quem seria minha dupla, e torcendo pra que fosse Carl, Lys ou Yasmin.
- Sente-se com Castiel. – ajeitou seus óculos.
Respirei fundo para não hesitar. Pensei duas vezes para me esquivar da gagueira que vinha junto com o nervosismo.
- Porque eu me sentaria com ele? – disse com uma expressão de desprezo no rosto. Era a máscara perfeita para não deixar na cara, que no fundo, mas bem no fundo, eu o achava um garoto legal. Meu defeito, ou qualidade, ou simplesmente uma característica sem sal, era esconder sentimentos. Nisso eu era expert.
- Porque ele é seu parceiro no seminário, e daqui pra frente terão muito o que conversar. – Eunice cruzou os óculos e me fitou severamente. Cinco anos estudando com ela, e ela sabia usar a expressão facial certinha para me intimidar/calar. Nesse caso, ela só me calou. Ninguém me intimida. A menos que seja Castiel. Só ele me calava por completo, me deixava sem palavras.
Olhei para o lado, e vi-o com um sorriso meio oculto no rosto, como quem falasse: “Não tem saída, mocinha.” Bufei, e transbordando “raivinha” sentei-me ao lado do indivíduo.
- Olá, moça.
O olhei mais de perto. Sentia que algo faltava nele, algo que o identificava de longe. Já estava tao acostumada a bufar pelos cantos, que nem percebi que poderia ter confudido ele com qualquer outro garoto da sala.
Estava totalmente diferente. Usava uma touca azul marinho, eu escondia boa parte dos fios vermelhos; uma camisa branca gola V quase colada no corpo, deixando notar os músculos do braço, e o peitoral; uma calça comum, porém com cheiro de nova, não era tao larga igual as que ele usava na semana passada, as também no era tao colada; e o mais importante: a famosa barba mal feita de três dias. Era todo que eu não sabia sobre Castiel na semana passada, e tudo que eu descobri nessa semana.
- Vai continuar a me ignorar?
Pisquei duas vezes e o fitei com uma cara de desentendida – acredite, eu me perdi, observando-o.
- Hã? – tentei lembrar pelo menos duas palavras do que ele disse. Fiz uma longa pausa, recapitulando.
- Ah! Sim. Desculpa. Estava distraída. O que disse?  - disse passando a mão  o cabelo, espantando novamente os pingos de chuva que insistiram ficar.
- Eu disse “oi”. – encolheu os ombros.
- Ah. Oi pra você também. – ergui as sobrancelhas
Seu olhar era distante, de certo pensado em algo sobre mim. O quanto eu era chata e insuportável, talvez. O silêncio brotou novamente, obrigando-nos a planejar o trabalho.
Suas atitudes e até seu modo de falar eram estranhos. As coisas estavam estranhas. No intervalo, Malcolm, Lys e Castiel sentaram isolados. Os observei o tempo todo.
Na hora da saída não foi muito diferente, mas dessa vez, eu estava decidida a acabar com o clima entre estranhos. O avisei ao lado do seu carro, conversando com Malcolm. Caminhei até eles, com Malcolm se distanciou a media que eu me aproximava. Como se quisesse deixar Castiel e eu sozinhos ou se incomodasse com a minha presença.
- Castiel?
- Oi. – virou-se.
Sua expressão era fria.
- O que é? Por que está assim comigo? – minha voz saiu um pouquinho alterada do que o deveria.
Ele se aproximou. Sua voz saiu serena, calma.
- Calma Nee. – me segurou pelos dois braços, como quem conversasse com uma criança.
- Não estou nem um pouco diferente contigo! Não tenho culpa se você é uma menina insuportável! – ele continuou, levantando um pouco a voz. O olhei nos olhos. Pareciam queimar ao me verem, como se me odiassem. Acredite, eu também queria odiá-lo.
- Falso! – desvencilhei das suas mãos com brutalidade.
- Mimada! – ele levantou o dedo.
E quando eu menos percebi que Yasmin já estava apartando a discussão. Ela me segurava pelo braço, sussurrando “Calma, calma” em meu ouvido.
- Nee, mantenha-se no controle! – disse Yasmin.
- Me solta. Estou calma.
Mesmo assim Yasmin não me largou; puxava-me para perto dela, tentando evitar uma briga pior. Ela sabia que quando eu me alterava, era difícil de me acalmar.
Castiel pegou no meu pulso.
- Ela vai ficar calma. Já está.
Yasmin me largou e peguei carona com Castiel. Seu Dodge laranja era limpo, tanto por dentro como por fora. Era o carro mais limpo que eu já vi; não fedia a bebida; não tinha jornal nos tapetes; os bancos não eram rasgados e os retrovisores eram bem limpos, facilitando a visão de trás do carro.
Castiel sequer olhou pra mim no caminho. Dirigiu com os olhos grudados ao volante que até me intimidou de puxar assunto.
O motor parou, Castiel virou a chave do carro; fitou-me com uma expressão interrogativa; balançou a cabeça negativamente, apoiando seu braço por trás do banco.
- Porque você faz isso?
Puxei ar mais uma vez, abrindo uma fresta na janela, para não alterar a voz.
- Isso o que?
- Isso. Fingir que me odeia. É ridículo.
- E você finge que não me conhece. Ficou todo estranho comigo. – retruquei.
Percebi que suas palavras acabaram, e só restou o silêncio. Novamente o silêncio corroendo nossos assuntos, dando como encerrados.
- Não disse? Está estranho. – ergui as sobrancelhas com ar de comemoração.
- E quem disse que tenho que te tratar bem? Você nem gosta de mim! Se enxerga garota!
Procurei minha bolsa no carro, olhando nos bancos de trás e nos meus pés. Por fim me dei conta de que a bolsa já estava pendurada em mim, e então me armei para destravar a porta, e sair.
- Temos que adiantar nosso trabalho de literatura. – lembrei.
- Claro, você pesquisa na internet e eu pesquiso nos livros. – disse ele apontando dele mesmo para mim.
- Não. Eu pesquiso nos livros e você na internet. – contrariei levantando a voz.
- Escuta aqui garota, você fala baixo comigo! Ele levantou o dedo novamente, isso me tirava do sério. Mas do que tudo nesse mundo.
Desarmei-me da posição de saída do carro, e me preparei para uma briga. Virei em direção dele e o fitei nos olhos.
- E você não aponta esse dedo pra mim! E fala baixo comigo você! – minha voz estourou ainda mais no “você”
Era mania. Ele tornou a apontar o dedo pra mim novamente.
- Garota, você é...
Toc-toc. Uma leve batida no vidro do carro; virei-me e abaixei o vidro. Era minha mãe, com um pano de prato pendurado no ombro, e sorridente como nunca.
- Está tudo bem aí?
- As mil maravilhas, Sra. Bovary. – Castiel hesitou.
Olhei de Castiel para minha mãe, e fiquei em silencio, esperando pela próxima frase.
- Nee?
- Está tudo bem, mãe. Não há nada com se preocupar. – saí do carro, e apoei as mãos sobre a porta.
- Nós dois pesquisamos nos livros e internet. Melhor é fazermos juntos. – impuz.
Sem hesitar ou levantar a voz – não sei se era porque ele estava realmente calmo, ou se era porque não queria levantar a voz para mim na frente da minha mãe – ele concordou:
- Tem razão. Te pego amanha às 9:00h.
- Da manhã? Não, não, não... não dá. É muito cedo, Castiel.
- A biblioteca abre às 9:00h. É o horário mais ventilado do local, é bem melhor de trabalhar assim.
Sem contrariar, ou pensar em contrariar consenti.
- Se você prefere assim...


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