“Você sabe muito bem”
Porque aquela frase parecia errada? Porque parecia fora de contexto? Eu havia mudado, e tinha consciência de que com a maternidade prematura, eu tinha “tomada juízo” o suficiente e tornado uma pessoa melhor.
Eu tinha duas teorias: a primeira seria que a minha mudança e amadurecimento não ocorreu de fato; e a segunda e última seria a pior: Castiel Hanson e eu não conseguíamos viver juntos. Vivemos brigando e discordando um do outro. Talvez não fossemos feitos um para o outro de fato.
– Talvez você tenha razão. Talvez ele tenha razão. Mas a questão é: vocês nunca conseguem conversar civilizadamente. Entre as duas opiniões, prefiro ficar com a sua. – disse Carlinha.
Como sempre, fui até ela para discutir sobre o assunto. Mas ela sempre dizia o que eu não queria ouvir.
– O que você quer que eu diga, Nee? Você pediu a minha opinião, e eu dei.
Coloquei as mãos na cabeça e tentei pensar em outro jeito.
– Então, a gente não foi feito pra viver juntos? – tentei acordar do pesadelo que parecia real. E era real.
– Eu não queria dizer exatamente isso, mas já que você conseguiu traduzir desse modo, é o que eu acho. Mas pense melhor. A minha opinião não significa uma ordem, e sim o que eu penso.
Sei o que ela quis dizer, mas não tem como não seguir um conselho de uma pessoa tão sensata como Carlinha.
***
– Lasanha novamente? – Matt reclamou.
Ultimamente eu não tinha cabeça para fazer algo além de lasanha pronta. Depois daquela conversa com Carlinha, Castiel nunca mais falou comigo e eu sequer o vi, aumentando minhas especulações sobre nós dois e sobre o que ele pensava.
– Mamãe, o que está acontecendo? Cast sumiu, você anda estranha e pensativa, e tem mais de cinco pacotes de lasanha na geladeira... O que está acontecendo?
Engoli seco.
– Coma tudo. – eu disse concentrada no meu pedaço de lasanha.
Matt estava decidido a comer e parar de me sabatinar, quando alguém bateu na porta.
– Fique aqui. – disse a Matt enquanto eu corria para atender a porta.
Abri a porta parcialmente, tentando evitar que Matt visse.
– Castiel? – sussurrei sorridente.
Ele abriu um sorriso, quando viu Matt comendo lasanha.
– Vim ver meu filho. – toda minha felicidade desabou.
– Sério? – soltei sem querer.
– Sério. Uma hora ele vai saber que tem pai. – levantou a sobrancelha.
Fechei a porta atrás de mim, e o forcei a ir para a varanda comigo.
Apontei para a cadeira de balanço:
– Sente-se.
Ele sentou ainda inquieto e um pouco nervoso, sem saber o motivo da nossa conversa.
Eu o norteei:
– Você sumiu. Não fala comigo há dias e dias. Você não me perdoou? Por tudo aquilo que eu disse na cafeteria? – apoiei meu cotovelo no joelho, inclinada para frente.
– Perdoei sim. Mas não dá mais pra brigar com você. Talvez não fiquemos bem juntos. – ele pegou na minha mão – Agora eu venho para ver meu filho. Exijo que ele saiba da minha existência como pai.
– E nós? – perguntei com certo desespero – Como a gente fica?
Ele demorou a responder, talvez, ponderando a melhor forma de dizer a verdade. Ele olhava para rua, olhava para mim, olhava para o teto da varanda, sem palavras.
– Não tem “nós”. Há muito tempo... Você é a mãe do meu filho, e nada mais.
Dei um tapa na cara dele.
– Você não vai chegar perto do meu filho. – disse, me levantando, decidida a entrar em casa.
Ele me puxou:
– Quer ir ao tribunal? Eu vou. – rosnou.
– Não faça isso... – sussurrei.