Brigas fazem parte do cotidiano de todo mundo. E fez parte do nosso cotidiano juntos. Olho para trás e vejo o quanto mudei e precisei mudar para viver com ela. Certamente ela mudou também, mais do que eu, admito, mas mesmo assim, brigamos ainda por pequenos motivos. E graças ao que nós temos, conseguimos fazer as pazes e abraçar um ao outro no final de tudo.
Acordo assustado, e sento na cama. Nee percebe todo meu alvoroço e sente-se preocupada comigo.
– Está... Tudo bem? – ela toca no meu ombro.
Olho para ela e peço um abraço.
– Está. Agora está. – faço uma longa pausa – Obrigado por tudo que fez durante esses dois anos de casamento.
Ela sorri e alisa minhas costas:
– Se pensarmos em tudo que vivemos e deixamos de viver, você merece tudo isso.
– Nós merecemos. – corrijo.
Ela levanta e abre o guarda-roupa, procura alguma roupa freneticamente, e me olha pedindo alguma ajuda do que vestir.
– Não tenho nada para vestir! Justo hoje!
Vou até ela, e tiro um vestido vermelho, escolhido aleatoriamente.
– É só uma apresentação do dia dos pais! Matt já irá estar satisfeito só de ver a mãe e o pai dele lá.
É o dia da pequena apresentação de Matt na escola. Ele fez questão no dia anterior, de que fossemos vê-lo fazer um pequeno discurso aos amiguinhos e pais presentes. Essa é a terceira apresentação do ano que eu vou como pai dele.
***
Depois dos aplausos para Iven, o aluno mais baixinho da sala de Matt, chega a vez de o meu filho fazer seu discurso sobre eu, seu pai. Ele usa a música de Iron & Wine chamada “Waiting for superman”.
E, por fim, ele conclui com as próprias palavras:
– Pai... Você não sabe quantas vezes eu perguntei por você à minha mãe. E quantas vezes ela elaborou uma resposta mirabolante para justificar sua falta, enquanto você mal sabia que eu existia. Cheguei a pensar que realmente soubesse da minha existência, porém, não quisesse me ver, pois já teria uma vida, e a última coisa do mundo que eu pensei que você iria fazer, era complicar sua vida com um filho. Mas não foi bem assim. Você chegou de mansinho, mostrando à todos, inclusive à minha mãe, que se importava comigo, e que eu era mais que um filho pra você. Eu era um amigo, e continuo sendo, meu pai. Você mostrou que eu não seria um empecilho para você daqui pra frente; você largou sua vida que já estava com um caminho traçado, e preferiu traçar um novo caminho comigo. Você não me rejeitou, me aceitou como eu sou, e hoje sei que você é um grande admirador. Você atravessou o estado por mim de moto, pai. E sou e serei eternamente grato por isso... Obrigado pai! De seu querido filho, Matthew Bovary Hanson.
Eu choro de emoção, e quando olho para o lado, vejo Patch e Yasmin, juntos, fazendo sinal de positivo com as duas mãos.
Quando eu vejo aqueles dois juntos e Yasmin esperando um filho de cinco meses, lembro-me de mim e Nee. Penso o quanto teria sido diferente se eu tivesse acompanhado a gestação dela; do quanto teria sido diferente a vida de meu filho e minha esposa sem aquelas perguntas perturbadoras sobre mim. E penso o quanto teria sido confortador para Matt ter um pai para todas as horas, ao invés de um futuro padrasto que mal sabia e queria jogar xadrez com ele. Mas para minha surpresa, quando penso nessas coisas, não fico com a sensação de culpa que me rodeou quando eu percebi que Matt era mesmo meu filho. Eu fico feliz, por ter mudado um capítulo significativo na vida de Matt e de Nee.