Eyes On Fire escrita por Amy Moon


Capítulo 31
Capitulo 31


Notas iniciais do capítulo

Pov - Nee



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Após aquele dia do parque, o dia em que Matt reencontrou o tal “Jim”, não voltamos mais lá. Eu tentava evitar o local ao extremo, de modo que soou um pouco medroso. Então já era de se esperar que as coisas tomassem o rumo rotineiro, quase que imutável. Terças, quintas e domingos eram os dias de Patch – que para ser sincera já estavam ficando entediantes – e o resto da semana eu passava sozinha, já que Matt se enfiava o dia todo no videogame.
Finalmente o sábado chegou e era o dia de eu mandar Matt para a casa da minha irmã, Yasmin, já que Nicholas estava lá para a alegria de muitos. Mais tarde, bem mais tarde eu o veria.
Eram cinco da manha e eu já estava na porta de Carlinha. Deparei-me com a sua imagem completamente embaçada do é, já que estava sonolenta. Ainda de pijamas e pantufa e com aquela cara de sono.
– Alguém morreu? – ela balbuciou.
Entrei sem ser convidada. Eu definitivamente não precisava de convite para entrar.
Joguei-me no primeiro elemento que se parecia com um sofá, que era por sinal, muito fofo. Eu ainda estava um pouco confusa, pois não consigo processar muito as ideias logo de manha. Mas mesmo assim, eu teria de conversar com Carlinha antes que EU morresse.
– Não. Mas se você não conversar comigo sobre certo assunto, quem vai morrer sou eu.
Ela coçou os olhos e sumiu na cozinha, enquanto minha língua coçava freneticamente e meu pé não parava de bater. Ressurgiu um minuto depois com dois copos de leite. Eu aceitei, na por educação, por fome.
– E então? Qual é o assunto que não pode me esperar dormir?
Contei tudo. Sobre o “novo amigo de Matt”, sobre a aproximação repentina deles e do fato de “Jim” ser “Castiel”
– Então? O que acha?
Carlinha ficou estática e sem voz. Voltou à cozinha pela terceira vez desde comecei a conversa e voltou à sala com outro copo de leite:
– Não sei o que dizer, exatamente.
– Como não? Como não sabe? Não tem notícias de Castiel? Não é amiga da família Hanson?
Ela pousou o copo na mesinha de centro e uniu os dedos:
– Sim, sou super amiga da família, mas, qualquer coisa que eu diga possa fazer uma enorme diferença. Então pense. Eu não quero atrapalhar a vida de ambos, então é melhor me deixar fora disso.
– Então você fala com ele frequentemente não é? – retruquei. Eu era realmente boa nisso.
– Não. Quero dizer, não muito. – ela corrigiu hesitante.
Levantei-me do sofá e sentei na mesinha de centro, de frente para ela:
– Só me diga uma coisa: ele está em Chapel Hill?
Ela fez que sim com a cabeça.
– Droga! Eu sabia!... E ele é esse tal Jim não é? Aposto que sabe. Vai ser melhor se eu souber.
Ela repetiu o gesto.
E antes que eu pudesse comentar alguma coisa, ela tomou a frente da conversa:
– Mas, olha, é melhor você enxerga-lo como Jim, e não como Castiel. Ele mudou muito nesses anos, e não é mais aquele garotinho problemático. Ele cresceu, amadureceu. Jim agora é um homem totalmente diferente do que você possa imaginar ou esperar de Castiel. Ou seja, vocês voltaram à estaca zero. Não se conhecem mais.
“Não se conhecem mais... Não se conhecem mais...” essa frase ecoou por muito tempo na minha cabeça. Como a vida é surpreendente! Um dia você conhece tudo sobre a pessoa, conhece suas origens, e depois de anos, você não a reconhece mais. Não esperei que ele voltasse igual como era antes, afinal foram longos anos de amadurecimento. Mas se ele for tudo que Carlinha descreveu, eu realmente não o conheço. E isso soava estranho pra mim. Não sei por quê. Eu tinha muitas perguntas em minha mente: “Como ele descobriu que eu estava aqui?”, “Porque que ele veio?”, “Se ele sabe da sua relação paterna com Matt”. “Como ele está?” ou “Se ele contou algo a Matt sobre isso”.
Uma vez naquele momento, me flagrei tentando recordar alguma coisa do momento em que eu o vi no parque, mas a minha memória me decepcionava. E o meu coração também. Não esperei ficar mexida com a volta dele e tampouco com um dos primeiros contatos com Matt que eu vi. Os dois pareciam já saber que eram pai e filho. Era como se a boba fosse eu.
Mas o modo como Matt falava de “Jim” me intrigava. Nesse tempo que ele ficou fora, ele sequer parava de falar dele, eram tantos elogios que nem lembro mais do que Matt o chamou. Matt parecia fascinado com Castiel, ao contrário do que ele sentia por Patch. Patch para ele era só um padrasto, o meu namorado e não passava disto. Eu podia ver claramente a frustação na cara do meu noivo. E já conseguia imaginar a rotina que seria depois que eu me casasse com Patch. As coisas iam tomar um rumo muito mais rotineiro do que o normal, tornando-se imutável. Os nossos movimentos iam parecer ou ser contador, como se fossemos programados para fazer determinada ação ou falar uma determinada frase como: “ Bom dia!”, “Como foi seu dia?”, “Boa noite!” e “Se cuide!”. Eu percebia claramente que as personalidades de Matt e Patch não se batiam, e de que eram completamente opostos. Por isso eu não sabia como lidar com meu casamento. Porque, sinceramente, as coisas vão se tornar tediosas. Por essa razão eu até poderia concordar com a presença de Castiel na vida de Matt, mesmo que fosse como amigo e não como pai. Até porque Matt nunca buscou em ninguém um pai, e sempre um amigo a mais na sua coleção.
Eu deveria estar arrependida de certa forma, por não contar aos dois que eram pai e filho. As temos que levar em consideração as consequências, como a tensão entre Castiel e eu. Certas coisas só o tempo pode amenizar, e de certa forma, amenizou entre Castiel e eu. Mas não posso deixar de considerar a única coisa boa: Matt seria mais feliz e vivaz do que é hoje. Ele teria um apoio em tudo que faria – eu acho – e Castiel poderia ate ser um bom pai. Mas na dúvida preferia não contar agora que estamos cara a cara. Se eu não contei antes, naquele momento também é que não vai ser. A ultima coisa que eu queria no mundo era complicar as coisas. Se é que não já estavam complicadas.
Por fim, tirei a única duvida que me impedia de concordar com a presença de Castiel na vida de Matt.
– Ele...? Ele sabe que o Matt é filho dele? – minhas mãos por fim congelaram. Sei que a provável resposta que eu receberia seria um “não”, porém as possibilidades de eu receber um “sim” não eram inexistentes. Ele pode muito bem sabatinar Lysandre e simplesmente ficar sabendo de tudo. Eu desejei que ele não suspeitasse disso, se é que isso era possível.
Carlinha não hesitou e demorou um tempo para responder. De fato, devia estar escolhendo as palavras certas, mas as palavras e a voz pareciam fugir.
– Não sei. Mas vou ser bem sincera, mas bem sincera. Ele gostou muito de Matt. Você tinha que ver a expressão dele de maravilhado. Eu lembro que ele chegou aqui e disse que conheceu um menino chamado Matt. Ele falou maravilhas do seu filho.
O tom de voz dela não podia revelar mais franqueza do que revelou. Era o mesmo tom de quando ela falava sobre o que achava do casamento – que era a maior bobagem que alguém poderia fazer, aliás, se apaixonar era a maior bobagem que alguém poderia fazer, segundo sua opinião.
– Maravilhado? – eu continuava intrigada – Tem certeza de que usou a palavra certa?
Carlinha passou a mão no queixo, que significava uma explicação, dessa vez, mais plausível e real.
– Nee, entenda. Castiel não é mais aquele garotão com calças largas e cabelo vermelho. Ele não tem mais aquele jeito moleque dele e perdeu boa parte disso nesses anos. Ele se tornou um homem com uma personalidade fantástica. Não digo isso porque o considero um primo, mas porque eu só prefiro fazer essa distinção. A verdade é que vocês não se conhecem mais. Tente entender. E conhecer esse novo Castiel, fruto de uma brusca separação do amor da vida dele, é quem você deve conhecer.
Esqueça o Castiel de 10 anos atrás. Ele não vai voltar.
E eu que pensava que a personalidade de Castiel era imutável. Era pra sempre imatura de ser... Carlinha estava coberta de razão. Eu apenas tinha de concordar com a cabeça.
Carlinha insistiu em continuar, como um advogado que defende seu cliente:
– E além do mais, vocês tem que mais é se entenderem. Vocês tem um filho juntos! UM FILHO! Entende?
Carlinha sempre teve razão. Mas isso não significava que eu seguisse todos os seus conselhos. Ate porque eu era cabeça dura, e duvidava de tudo um pouco.
– Um filho não significa nada se ele não souber. – disse com certa frieza que me assustou.
Carlinha fez uma cara legal.
– E você ainda não pretende contar? – ela plantou as mãos na cintura.
– Talvez. – hesitei – Talvez sim, talvez não.
– Você não acha que ele tem direito de saber?
Ela finalmente conseguiu me deixar tensa. Direito de saber, ele até tinha. Mas eu não sabia se deveria fazer isso. Eu teria que “conhecê-lo de novo” e repensar no assunto, de certa forma eu estava de mãos atadas, de uma forma que eu jamais poderia imaginas depois desses dez anos.
– Prometo repensar, Carlinha. Repensar.
Senti o alivio em seus olhos e o ar tornou-se vitorioso.


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