Eyes On Fire escrita por Amy Moon


Capítulo 28
Capítulo 28 – Único caminho {Castiel}




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/305111/chapter/28

Eu apenas a respeitei. E fiquei triste de repente. Pensando no quanto poderia ter sido diferente sem a interferência de Patch no meu passado. Naquele momento, eu podia ouvir Lysandre me falar pra esquecer o passado e viver o presente, porque não se avança quando se olha para trás. Mas algumas coisas do meu passado me prendia lá, alguma coisa insistia em me puxar.
Era um buraco que nem Auria e nem Matt podiam preencher. Parecia que os dois conseguiam curar, mas era só uma ilusão. Uma ilusão que estava me passando para trás, que fazia com que eu vivesse meu passado, jogando meu futuro e meu presente no lixo. Eu precisava curar.
Saí de repente sem se despedir de ninguém e sem olhar para trás. Pude perceber que alguém me seguia, mas não era no meu interesse mais saber quem era. Eu duvidei de que fosse Nee. Ela nunca correria atrás de um estranho para saber se estava bem. Soava um pouco egoísta da parte dela. Mas o que a gente pode fazer? Se não conseguimos controlar as emoções e ações das pessoas? Me diz, porque é assim? Dizem que procuramos Deus somente quando precisamos. Eu lamento muito. Lamento só lamentar e não consertar nada; lamento não perdoar quem deveria ser perdoado e que mostra que mudou; lamento o que fiz e o que vou fazer; lamento pecar tanto e nunca agradecer. Mas o que eu posso dizer? Estou de mãos atadas e a única coisa que eu posso – ou devo – fazer, é estragar tudo. Parece que o que importa não é tentar e sim consertar. Falta algo em mim.
Ainda dobrando a esquina sentir os passos se aproximando. Cada vez mais. Mais frenético, e apressado... E mais longo. Alguém me puxou pelo braço, como eu costumava fazer com Nee.
Era Carlinha e eu já podia ver três interrogações acima de sua cabeça.
- O que aconteceu? Vocês dois brigaram?
Um chuvisco me atingiu. Olhei para o céu e sabia que era a hora de partir. 
- Hein? O que aconteceu? – Carlinha me chacoalhou lembrando de que estava falando comigo.
- Nada. O problema não é com ela. É comigo. O Castiel. O Castiel que estraga tudo, que só faz merd4, o Castiel só sabe fazer aquilo que machuca os outros. Sou sempre eu. – me desvencilhei de seus braços  segui em frente. Carlinha me seguiu até eu chegar em casa.
Tentei destrancar a porta, ainda frenético, mas não consegui. Meus braços tremiam e mal conseguiu acertar a chave na fechadura. Quando Carlinha finalmente abriu a porta, eu corri para o quarto e tirei a roupa sem a preocupação de me despir em sua frente e logo arrumei minha mochila.
Não dei ouvidos a ela que não parava de falar, e quando eu já tinha juntado tudo que era meu, e dobrado a roupa de cowboy, expliquei tudo: 
- Você talvez não entenda. Tudo bem. Mas eu preciso voltar para Virgínia. E rápido. – toquei seu ombro.
- Olha lá o que você vai falar para a Auria hein. Não tô gostando nada disso. Por favor, seja gentil.
“Seja gentil” era tudo que eu precisava ser e era tudo que eu não era numa situação daquelas. Por mais que eu tentasse, era quase impossível.
Entreguei a chave a Carlinha.
No dia seguinte voltei ao parque pela última vez procurando ver Matt. Era meu último dia na cidade, e o que eu poderia fazer de melhor era aproveitar.
Novamente, na mesma hora e do mesmo modo, Matt apareceu e sorriu a me ver.
- Cast! – ele correu ao meu encontro.
- Matt! – minha voz saiu um pouco abafada no abraço.
- Cast, eu queria te convidar para tomar um chá lá em casa. Já até falei com minha mãe.
Justo agora Matt? Estou indo embora. Pensei.
- Matt, não sei se você sabe, mas eu vou embora. Eu moro em Virginia. Não posso ficar mais em Chapel Hill.
O brilho dos olhos do menino se apagou. Ele abaixou a cabeça e me abraçou novamente.
Sussurrou:
- Por favor, Cast. Prometa que vai voltar. Você é meu único amigo. Eu me abri contigo, cara.
Cara? Ele me chamou de cara? Além de meu possível filho, ele agora era meu parceiro? Não. Tinha que voltar a Chapel Hill, cedo ou tarde, eu voltaria. Por ele.
Desvencilhei-me do abraço e procurei olhar em seus olhos que já estavam úmidos. Assim que o vi daquele jeito, acredite, os meus olhos também queriam chorar.
- Matt, eu não posso prometer o que eu talvez não possa cumprir. Eu não posso lhe prometer isto. – fiz uma pausa e as primeiras lágrimas caíram, fazendo manchas na camisa.
Continuei:
- Mas eu posso prometer que vou tentar voltar. E que vou te ligar, caso eu não volte. Mas saiba que tudo que eu mais quero é voltar pra te ver garotão!
Ele me abraçou novamente; limpou suas lágrimas quando o abraço chegou ao fim, e me estendeu a sua bola.
- Toma. É pra você. Pra nunca se esquecer de mim.
Peguei a bola e alise-a, conhecendo cada lado do objeto.
- Eu não posso aceitar.
Ele insistiu.
- Eu tenho outra. E se não tivesse, ficaria feliz de entregar minha única bola a você. Eu te amo parceiro.
Diante daquelas palavras e sorrisos, eu não poderia negar a bola. Peguei.
***
Aproximadamente três horas de Chapel Hill para Virginia, eram suficientes para que eu pudesse pensar num diálogo perfeito com Auria. “Seja calmo e assertivo” eu repetia a mim mesmo desde manhã.
Cheguei por volta das 10H da manhã e não estava em casa. Liguei para Lysandre e nada dela. Liguei para Tim, e ele sequer tinha visto ela naquele dia.
Comecei a tirar as roupas sujas da mochila e as coloquei pra lavar. Enquanto eu via o mesmo movimento repetido dezenas de vezes pela máquina, sentado no banquinho, ouvi um barulho de chaves.
- Que bola é essa, Cast? – a voz de Auria ecoou pela casa quase vazia. Auria já tinha levado boa parte das coisas para “nossa nova casa” e isso me fez sentir culpado.
Surgi na sala sem querer assustá-la com minha expressão triste. Porém meus passos eram leves.
Ela me olhou e correu para um abraço que foi correspondido.
- Meu amor. – sussurrou.
Desvencilhei-me e a encostei na poltrona.
- É melhor sentar. 
“Tente ser calmo e assertivo... Calmo e assertivo...”
Droga!
- O que está acontecendo, Castiel?! – ela se alterou.
Mexi a boca várias vezes, tentando falar, mas som algum era emitido. Nada. Travei. Fiz um gesto que valeu por tudo que eu ia falar. Apenas tirei a aliança e entreguei na mão dela.
- Aqui está. Não é justo eu ficar com isto. Você me pediu em casamento, você fica com a aliança, você comprou. Sinto muito. – disse eu, bem calmo.
- Então é assim? Depois de cinco anos de namoro? – ela gritou levantando-se da cadeira. Sua primeira reação depois daquela frase foi me dar um tapa. Bem dado, daqueles que queimam por alguns minutos a mais.
- Gosta de outra não é? Arranjou outra em Chapel Hill não é? Eu já sabia. Esse seu papinho de “preciso de um tempo sozinho antes do casamento” era uma furada mesmo. Dessa vez eu que fui a mais esperta, querido. O casamento já estava cancelado há quatro dias!
Eu fiquei em silêncio por alguns minutos.
Aproximou-se de mim e tocou no meu rosto e continuou: 
- Por favor, diga que estou mentindo. Diga que eu estou errada... Por favor... – ela sussurrou.
- Esta bola é do meu filho. – apontei pra bola.
- Sinto muito querido, não estou grávida.
Desvencilhei-me delicadamente.
- Não, é serio. Do meu filho. Em Chapel Hill. Descobri que há uma grande possibilidade de eu ser pai desse garoto. E você não imagina o quanto foi bom estar com ele nesses últimos dias. Foi ótimo. – sorri.
- “Ex”, não é? – ela imitou as aspas com as mãos.
- Sim. Não é bem ela. Ela vai até se casa. Olha que irônico: ela vai se casar com o cara que destruiu meu casamento com ela. – me joguei na outra poltrona, bufando – Mas não vou me afastar do meu filho. Nunca.
Auria agachou-se para ficar na mesma altura que eu, sentado na poltrona:
- Você tem razão. Não se afaste desse garoto. Eu conheço a mãe dele? – ela passou a mão no meu cabelo.
Lembrei-me de como conheci Auria. Talvez ela conhecesse Nee. Seria melhor quem era a mãe de Matt.
- Talvez.
Ela me olhou pedindo para continuar.
- Nee Bovary. – por fim eu disse.
Ela se afastou aos poucos até jogar-se também na outra poltrona.
- Que mundo pequeno. Eu e ela somos melhores amigas. – Auria sorriu – Todo mês ela me escreve e eu recebo fotos de Matt. O filho dela, e com certeza deve ser seu filho também.
- Fotos?
Ela me mostrou dez fotos. Uma para cada ano de vida do Matt. Entre as dez escolhi a minha preferida: ele tinha uns cinco anos de idade, aquele foto fora tirada num estádio de beisebol, pelo avô do menino; Matt estava com um boné e uma camiseta de beisebol que mal cabia nele; segurava um taco e Nee estava abraçando-o por trás, agachada, tentando ficar do mesmo tamanho  que o menino. Todas as fotos estavam plastificadas, protegidas contra o tempo, que corrói as pessoas e objetos.
- Posso ficar com essa foto? – apontei para a minha favorita.
Ela sorriu e me entregou a foto. Não demonstrou nenhum sinal de possessão da foto e me abraçou.
- Matt merece um pai como você. – ela sussurrou novamente – E, por favor, não deixe Nee se casar com Patch. Ela não o ama. E todo mundo sabe disso. Eu sei que você vai voltar.
Então Auria era mais compreensiva e “pé no chão” do que eu imaginava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eyes On Fire" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.