Eu queria comemorar nosso aniversário de namoro. E por isso a convidei para tomar um lanche comigo no final da tarde, antes mesmo do crepúsculo. Também era uma forma de agradecimento por me ter feito feliz durante esses dois anos juntos.
- Acho que eu vou querer esse X-burguer aqui. É perfeito pra mim. – disse Nee... quer dizer, Vary, passando o dedo no cardápio – E você Cast? Vai querer qual?
Abri um sorriso maroto, daqueles de criança, quando está aprontando alguma.
- O que foi? – a deixei curiosa só pelo sorriso e olhar.
- Nada. Por mim, eu como qualquer um mesmo. – eu era péssimo e não consegui conter o riso. Ela fez uma careta de indagação – Nada, Nada.
Levantei e fui comprar nossos pedidos deixando Vary sozinha na mesa. Tirei a mão do bolso e mostrei um anel pra moça do caixa fazendo um pequeno pedido: “Coloque isto, por favor. É especial. Muito. Você não imagina o quanto.” A moça abriu um sorriso e me respondeu com simpatia.
Dez minutos depois trouxe o nosso lanche à mesa. Não abri meu sanduíche, esperei ela abrir o dela:
- Casa comigo, Srta. Nee Bovary? – indaguei fazendo carinha de piedade.
Primeiro um sorriso, talvez involuntário; depois um olhar fixo no anel, na caixinha de hambúrguer. Realmente era inusitado um pedido de casamento na lanchonete, no lugar do hambúrguer. Segundo ela sorriu e confirmou com um meneio de cabeça, com os olhos lacrimejantes:
- Sim. Sim? SIM!
Peguei o anel, e coloquei no dedo dela. Ela fez o mesmo comigo. O sorriso, a felicidade, e o bem estar brotavam no rosto dela. Naquele momento existia a certeza de que ficaríamos juntos pra sempre... Alguns anos mais tarde essa certeza se escondeu atrás dos arbustos que chamamos de sofrimento. Não precisamos pular logo pra esta parte.
Sei que era muito cedo pra um casamento. Na nossa idade, as pessoas nem pensam em filhos, casamento, uma casa pra cuidar... Pensam em somente viver a vida e pronto. Mas me casar era viver a vida e pronto. Completávamos dois anos de namoro e nos já iniciávamos a faculdade. Eu de arquitetura e ela de administração. Era perfeito pro novo cargo dela na loja de decorações que Dona Anne tinha aberto há um ano. Tecnicamente não era cedo pra começar uma vida a dois. Sozinhos.
Entreolhamo-nos num momento tão especial como o primeiro beijo. Mas sempre há algo para causar dispersa. O meu telefone.
- Alô?! – minha voz saiu meio sonâmbula como se eu estivesse acabado de acordar.
- Alô o caramba! Já pediu? – Nath continuava brincalhão.
- Já. Já. – hesitei.
- Uruuuuuuuuh! – gritaram Nath e Carl do outro lado. Desliguei e me voltei a Nee.
- Onde eu parei? – indaguei desnorteado.
- Quem era? – ela abriu um enorme sorriso.
- Carl e Shelman. Eles queriam  saber se eu já tinha feito o pedido.
- Nossa, todo mundo sabia?
- Nem todo mundo. Sua mãe não sabia. – brinquei. Na realidade era só a mãe dela mesmo, porque fora Dona Anne, todo mundo sabia.
- Hmm. E estavam mordendo a língua pra não contar não é?
- Exatamente. – fiz uma pequena pausa – Eu amo você Nee!