Os Anéis De Saturno escrita por João Henrique


Capítulo 2
Capítulo 2




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  Na avenida em frente ao cemitério a moto de Abraham corria com toda sua potência,era a única coisa que ele tinha naquele momento,uma moto velha,embora conservada,velha.Era uma Harley-Davidson 1947 WLA,uma das poucas coisas que Abraham tinha que lhe pertenciam de fato;atrás dele vinha outra moto e sobre ela um homem furioso “Droga,esse cara vai me pegar,vai me pegar.” Abraham olhou para o lado e pode ouvir distante um barulho enorme vindo do interior de um cemitério,desviou novamente seu olhar para o caminho e percebeu que havia um carro na contra mão.Imediatamente virou o guidão da moto fazendo-a derrapar na estrada molhada,guiava a moto com toda força,para que ela não perdesse o controle e por  pouco ele não sofreu um grave acidente,mas parou a moto.

    Logo atrás dele o homem que vinha montado em outra moto parou um pouco distante e saiu de cima da moto,ainda de capacete e começou a falar,a voz saia abafada — Seu idiota,você disse que me pagaria a um mês atrás ! essa sua moto,ela pode até servir como pagamento…— o garoto retirou o capacete preto que usava,o velho agiota tocou em um assunto delicado — Não,a moto não,olha só;me dá mais um mês,eu prometo,vou te pagar.— o velho homem pegou o capacete e amarrou a correia as mão esquerda — Já passou da hora garoto,você não devia ter pedido o empréstimo se sabia que não ia pagar.— Abraham foi se afastando conforme o homem se aproximava até não ter mais pra onde recuar,a moto barrava o caminho — Espera ai,cara,vamos conversar.— o homem estava nervoso,rangia os dentes como um cão — Não tem mais conversa,imbecil,ou me paga,ou me dá a moto como garantia,ou então vai apanhar.— o homem ergueu o capacete,mas quando iria bater em Abraham ele se desviou e o capacete se chocou contra a lâmpada traseira.

   Quando o homem se preparava para lançar novamente o capacete contra Abraham que estava caído ao lado da moto,um barulho enorme de algo sendo derrubado veio de dentro do cemitério;o agiota se assustou e olhou para o céu;no topo da torre da pequena capela interna do cemitério duas criaturas lutavam ferozmente,um deles,peludo e com feições de lobo e outro parecia um homem comum,mas tinha longas asas de morcego nas costas.

     O agiota correu em direção a sua própria moto,colocou o capacete e ligou-a;Abraham ficou lá,parado,olhando as duas bestas se enfrentarem no teto da capela “ Mas que porra é essa ?” pensava assustado,esfregou os olhos duas ou três vezes até perceber que não estava sonhando. O homem com asas de morcego desferiu um soco contra o lobisomem,a princípio,Abraham tencionou subir na moto,mas percebeu que algo vinha na sua direção;era brilhante,algo que refletia a luz dos postes próximos caiu no meio da rua…ele correu e intuitivamente pegou o estranho anel em forma de serpente,tinha dois grandes rubis no lugar dos olhos,mas a prata de que era feita o anel era negra,quase completamente preta — Porra ! — quando ele gritou quando vendo o lobisomem ser lançado na sua direção,saltou sobre a moto ligando-a,a chave por sorte ainda estava na ignição.

   Ainda teve tempo de olhar para trás e ver as duas criaturas se matando no meio da rua,acelerou a moto e desapareceu na escuridão com o estranho anel em forma de serpente no bolso.

   Alguns minutos depois,ele chegou em casa,se é que aquilo podia ser chamado de casa;era um cômodo relativamente grande dividido em duas partes,um banheiro com porta e na “sala” uma cama militar,uma pequena televisão antiga,e nas estantes vários livros dos mais diversos autores;os livros pertenciam a seu pai de quem ele herdara o nome,o Dr. Abraham,um famoso historiador e arqueólogo que havia desaparecido nos anos 90 e deixara com o filho apenas duas coisas antes de desaparecer: a moto,que era algo que ele adorava e uma estante cheia de livros,os quais ele já havia lido a maioria.O resto dos bens do pai haviam sido interditados pela justiça para pagar suas dívidas e no fim,Abraham que na época tinha pouco mais de dezoito anos passou a viver sozinho no lugar que antes era o escritório do seu pai.

   Abraham finalmente conseguiu dormir, jogado sobre o sofá barato com uma garrafa de Uísque na mão esquerda e o anel posto no dedo médio da mão direita;tinha achado o anel bonito,era prata pura,ele pretendia vender o anel assim que pudesse para pagar as próprias dívidas.

      Horas mais tarde o sol já estava nascendo, a televisão velha estava ligada e a única luz que iluminava todo o pequeno apartamento estava piscando provavelmente com defeito.Abraham se revirou na cama improvisada e abriu o olho,sentiu uma vontade imensa de olhar a mão direita e percebeu que o anel não estava lá.Largou a garrafa de Whisky no chão e passou a mão sobre os dedos da mão direita,sentiu algo se mexendo no pulso quando o virou quase não acreditou no que viu:uma pequena serpente metálica se arrastava ao redor do seu pulso,quando o rapaz observou a pequena criatura que parecia o observar com grandes olhos vermelhos,era brilhante e se mexia com muita velocidade.

    A criatura se enroscou na mão do garoto e se enrodilhou novamente, agora sobre o dedo indicador, Abraham esfregou os olhos com a mão esquerda e olhou novamente, o misterioso anel estava novamente no dedo, parado, como se feito de prata novamente “Devo ter bebido demais...” pensou gargalhando e se sentando no sofá.

    O dia havia começado e a primeira coisa que Abraham pensou foi em ir à loja de penhores mais próxima e vender o anel, pelo menos ele teria algum dinheiro para pagar as próprias dividas; depois de um banho rápido e de um gole de café forte para curar a ressaca Abraham desceu as escadas apressado e seguiu até o centro da cidade e foi talvez lá a primeira vez que ele teve certeza de que deveria ter deixado o anel perdido no asfalto.

     O centro da cidade era um lugar que Abraham não costumava ir, segundo ele era “barulhento e cheio de pessoas indiferentes e egoístas”, Abraham não gostava do centro,ele lembrava sua mãe,uma mulher da qual ele tinha poucas lembranças,ele a  considerava distante e imaculada,talvez como uma divindade.Chegou ao centro da cidade observando o mostrador de combustível da moto que estava quase indicando que o tanque estava vazio;o sol brilhava forte mas também fazia frio;era inverno e um vento gélido cortava as partes descobertas pelo casaco de couro negro.

   Parou em um posto de gasolina próximo,um  atendente vestido com um casaco de lã se aproximou da moto e ele  levantou a viseira do capacete — pode encher o tanque,por favor.— o homem retirou a bomba de gasolina e se aproximou do tanque da moto — é uma Davidson 1947 WLA ? — Abraham balançou a cabeça afirmando enquanto o homem abastecia a moto e assim que o homem terminou o rapaz pagou e acelerou apressadamente.

   Depois de alguns minutos parou em frente a primeira loja de antiguidades que ele viu;retirou o capacete e empurrou a porta da loja que a primeira vista era assustadora,haviam crânios,livros antigos e um numero grande de coisas que ninguém comum gostaria de comprar.

    Um senhor velho e de baixa estatura com poucos cabelos brancos,óculos pequenos e olhos profundos estava atrás do balcão ocupado com algum livro antiguíssimo,Abraham entrou na pequena e tímida loja olhando ao redor — Bom dia...— o velho homem atrás do balcão olhou o rapaz com grandes olhos verdes — Pois não rapaz...posso ajudar  ? — Abraham se aproximou do balcão e colocou a mão direita com o anel no dedo sobre a bancada — Quero vender esse anel,me pareceu ter muito valor.— o velho analisou o anel por alguns minutos e deixou o livro de lado — Só um minuto,vou chamar a minha neta;— antes que Abraham pudesse chamar o homem novamente ele entrou pela porta dos fundos.

   Abraham ficou observando o lugar,aquelas antiguidades lhe lembravam o seu pai.Uma garota passou pela porta,tinha longos cabelos negros e um rosto extremamente harmônico,olhos castanhos,pele clara,lábios vermelhos e um piercing sobre no nariz ela estava vestindo uma camisa do Black Sabbath — Abraham ? — o rapaz que estava distraído olhando as antiguidades se voltou para a garota, à voz lhe era familiar — Sophie ?— o rapaz abriu um sorriso tímido, era ela, aquela garota do ensino médio;eles eram dois desajustados,ele um garoto inteligente,mas problemático e que odiava seguir regras.Ela igualmente inteligente e igualmente problemática,segundo os amigos de ambos eles eram o casal perfeito,segundo a antiga diretora do colégio eles eram “dois pequenos diabinhos.”


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