Talvez aquele fosse um dos mais animados jantares que Lothlórien testemunhara até os dias de hoje. Aos poucos, conforme os copos de vinho iam sido servidos, as piadas e risadas aumentavam junto com as músicas e danças.
Thranduil e Boromir cantavam juntos e abraçados, os dois já haviam bebido o suficiente para uma só noite, mas se permitido, continuariam até caírem das cadeiras.
Mary afastou-se até um canto do salão, se debruçou no parapeito da sacada e observou as luzes lá embaixo.
- Parece um sonho falou Faramir apoiando-se a seu lado
- Sim, com certeza parece um sonho a garota sorriu sem tirar os olhos da cidade
- Vou embora amanhã, ao despontar da aurora continuou ele
- É uma pena a moça sorriu lançando um olhar para o irmão mais novo de Boromir tem sido um ótimo amigo.
- Não deixe meu irmão ouvir isso ele deu uma risada fraca
- Acho que Boromir não ouviria nem que gritasse em seus ouvidos ambos riram mas por quê?
- Eu...não sei se pensará que fui desrespeitoso, mas eu encantei-me por você desde o momento em que a vi ele pegou as mãos da jovem e ela estava tão paralisada que não protestou
- Faramir...
- Boromir implorou que pedisse sua mão o soldado baixou o olhar mas não posso fazer isso com você.
Um alívio tomou conta do coração de Marianne e ela deu-se ao direito de sorrir.
- Nem sabe o quanto agradeço por não forçar-me a algo que não queria ela apertou as mãos do rapaz em resposta Obrigado.
- Não há de quê murmurou tristonho
- Espero que tenha sorte em sua jornada.
- E você na sua ele sorriu vendo a moça dar-lhe as costas
***
O acampamento dos viajantes ahavia sido montado entre as raízes dos mallorns logo abaixo, tendas simples, porém de aspecto aconchegante.
E lá estava Mary novamente na sala de banho, com Turelië e Almarvarnë amarrando-lhe as fitas de uma longa camisola branca de alças largas e com busto enfeitado em renda.
A moça desceu as escadas, tomando o cuidado de não tropeçar na barra da camisola, afinal não queria levar um tombo.
- Marianne.
- Olá Glorfindel disse ela com um meio sorriso apertando o roupão junto ao corpo
- Precisava desculpar-me antes de partir, meu comportamento com a senhorita foi inteiramente infantil disse o elfo parecendo sincero
- Parte da culpa foi minha, o perdoo se perdoar-me também a moça sorriu e Glorfindel correspondeu-lhe
- Nai anar caluva tielyanna (Que o sol brilhe sobre seu caminho) desejou ele sorrindo
- Alwa (boa sorte) ela lhe deu um abraço Namárië (Adeus).
Depois de despedir-se de todos, o elfo partiu em sua própria jornada, acompanhado de Asfaloth.
Aragorn e Legolas ajeitavam as poucas bagagens que haviam trazido, nas tendas arrumadas em semi-círculo, por esse motivo a moça não quis atrapalhá-los.
- Cansada? perguntou-lhe Sam
- Um pouco admitiu ela espreguiçando-se
- Também pudera, passou o dia todo de um lado para o outro disse ele soltando um pouco de fumaça com seu cachimbo
- É mesmo a moça sentou-se próxima do hobbit e você, não está cansado Mestre Samwise?
- Um pouco também, mas creio que estar neste lugar recompense qualquer cansaço.
Marianne suspirou, concordava plenamente com Sam e era por esse motivo que não queria ir dormir, tinha medo de acordar em seu quarto na fazenda de sua avó.
- Deveria ir descansar senhorita aconselhou Merry
- Tenho medo de isso tudo ser um sonho e de repente eu acordar sem lembrar nada ela deu um meio sorriso sem graça
- Sentia o mesmo um Pippin saltitante ocupou seu campo de visão sentando-se a seus pés mas depois da primeira noite, não acordei mais.
Eles riram.
- Tudo é uma questão de encarar os fatos minha cara xará Merry deu uma piscadela para a moça
- Tudo bem então ela se levantou dando um beijo no topo da cabeça de cada um dos hobbits boa noite meninos.
- Boa noite disseram eles
Ela caminhou na direção de sua barraca quando foi barrada por Frodo, ele trazia um olhar preocupado nos grandes olhos azuis.
- Precisava conversar disse-lhe ele
- Claro.
- Não sei se sou a pessoa certa para carregar isso o hobbit lhe mostrou a corrente onde o anel estava dependurado
- Se Gandalf o escolheu, é porque você deve carregá-lo Frodo, você é o único que não sucumbirá ao poder do Senhor do Escuro ela envolveu as pequeninas mãos nas suas você é especial, não se esqueça disso.
- Obrigada, boa noite Frodo sorriu beijando as mãos da moça
- Durma bem.
Marianne entrou em sua tenda, deitou a cabeça no travesseiro fofo cobrindo-se com as cobertas macias e logo após adormeceu.
POV ARAGORN
Não conseguia adormecer, por mais que tentasse, meus pensamentos não desviavam-se de Arwen e meus sonhos eram povoados por nossos momentos mais felizes.
Aquilo dilacerava-me o coração de uma forma perturbadora, não queria vê-la partir, mas sabia que se a amava, devia deixá-la ir para um lugar onde encontaria a felicidade.
Observando a lua que lançava seus raios prateados sobre as copas das árvores lembrei-me do dia em que a princesa de Rivendell dera-me seu colar
FLASHBACK ON
O casal estava de mãos dadas sobre uma ponte, os olhos azuis de ambos estavam conectados numa espécie de conversa muda. A elfa trajava um longo vestido branco e o austero Dunedáin estava com refinadas roupas.
- Renich i lú i erui govannem?(Lembra-se de quando encontramo-nos pela primeira vez?) questionou Arwen
- Nauthannen i ned ôl reniannen (Pensei estar dentro de um sonho) aquiesceu Aragorn
- Gwenwin in Eminath (Longos anos se passaram), ú-arnech in naeth i si celich (você não tinha as preocupações que tem agora) a estrela Vespertina passou a mão pelo rosto do amado Renich i beth i pennen? (lembra-se do que eu disse?)
- Disse que ficaria comigo, abandonando a imortalidade de seu povo Passolargo tocou o pescoço da elfa que estremeceu levemente
- E não mudei de ideia, prefiro viver como mortal ao seu lado do que passar eras e eras de uma vida imortal sozinha. ela então entregou-lhe seu colar eu escolho uma vida mortal.
- Não pode dar-me isso protestou o Dunedáin
- Ele é meu, para dar a quem quiser ela lhe lançou um belo sorriso assim como meu coração.
Selaram então sua união com um beijo cúmplice e apaixonado.
FLASHBACK OFF
Fui retirado de meus pensamentos ao escutar passos leves e sonolentos as minhas costas.
- Não deveria estar dormindo? perguntei virando-me e fitando Marianne que esfregava os olhos como uma criança ao ser acordada cedo demais
- Perdi o sono disse ela bocejando e você, também não deveria estar dormindo?
- Não consigo dormir respondi guardando o colar sobre a gola de minha camisa
- Sente saudades dela? Mary aproximou-se devagar sentando-se a meu lado
- Assim como você sente das pessoas que ama e que teve de deixar respondi
Ela baixou a cabeça, deixando os cabelos castanhos cobrirem sua face, desviou o olhar tentando esconder as lágrimas, podia ver que estava chorando.
Não consegui vê-la daquele modo, tomei-a em meus braços, como um pai que acolhe a filha depois de um tombo enquanto a jovem soluçava chorosa em meu ombro.
- Não fique assim, logo os verá novamente disse-lhe calmo
- Espero que sim sussurou com a voz embargada
Ficamos abraçados por um breve momento, até que a Guardiã afastou-se agora com um meio sorriso nos lábios.
- Você me faz lembrar meu pai disse-me ela
- E você uma filha que ainda quero ter correspondi o sorriso
Fomos interrompidos por um grito de pavor que vinha de uma das tendas, levantei em um salto sacando a espada, apenas para perceber que quem havia gritado, era Frodo.
POV MARY
Aragorn tinha me acolhido num abraço como meu pai fizera tantas vezes, quando minha mãe se fora.
Afastei-me secando o rosto com as costas da mão, sorri para o Dunedáin que olhava-me preocupado.
- Você me faz lembrar meu pai falei
- E você uma filha que ainda quero ter ele correspondeu-me o sorriso
Escutamos um grito de medo, que parecia vir de uma das barracas, Aragorn levantou-se sacando a espada.
Levantei-me no mesmo instante, constatando então que o grito pertencia a Frodo, Legolas e Gimli saíram de sua tenda e fomos juntos até o local onde os hobbits repousavam.
O elfo afastou o tecido grosso que cobria a entrada da barraca e encontramos Sam, Merry e Pippin rodeando um Frodo de olhos arregalados.
Os cabelos negros grudavam-lhe na face como se tivesse corrido, ele agarrava com força a corrente de ouro em seu pescoço.
- Frodo, o que houve? perguntei abaixando-me
- Estão atrás de mim, querem roubar o anel disse-me ele parecendo um tanto obcecado
Sentei-me a seu lado, passando a mão por sua testa, ele relanceou seus olhos vidrados para meu rosto e então voltou a piscar.
- O que eu disse? perguntou ele
- Que iam roubar o anel respondeu Gimli
- Tive um pesadelo com os Nâzgul.
- Pudemos perceber falou Legolas
- Está bem agora? quis saber
- Sim, sua companhia me trás paz admitiu poderia ficar aqui um pouco?
- Claro eu ajeitei-me a seu lado e o pequeno hobbit escorou a cabeça em meu ombro, foi quase inevitável não pensar em Alícia
- Vamos deixá-los falou Aragorn preparando-se para se retirar
- Não, por favor, fiquem quanto mais companhia melhor pediu Frodo
- Ficamos então concordou Gimli
- Mary, posso lhe pedir uma coisa?
- O que quiser Frodo sorri olhando para Legolas
- Cante para mim ele lançou seus profundos olhos azuis para meu rosto
- Algum pedido especial?
- Uma canção de ninar talvez.
Vasculhei minha mente atrás de alguma coisa e acabei lembrando-me de uma canção.
Immen dúath caeda
Sui tollech gwanna thach omen
Boe naid bain gwannathar
Boe cuil ban firitha
With a sigh you will turn away
With a deepening heart
No more words to say
You will find that the world has changed forever
I amar prestart aen
And the trees are now turning from green to gold
And the sun is now fading
Wish I cold hold your closer
***
O hobbit foi embalado pela canção, sentindo as pálpebras pesarem e o sono arrebatar-lhe por completo.
Mary já não cantava, mas murmurava baixo a canção, que tomara conta da quase sempre silenciosa Lothlórien. A moça acariciava os cabelos negros de Frodo, percebendo que o mesmo acabara por adormecer.
Tratou de ajeitar cuidadosamente o hobbit nos travesseiros e levantar-se silenciosamente para não acordá-lo, com sorte não teria mais pesadelos.
Sam murmurou-lhe o que Marianne pensou ser um obrigado enquanto dava um enorme bocejo despencando nos travesseiros e almofadas.
Encontrou Aragorn e Legolas conversando do lado de fora da tenda, os dois viraram-se para a jovem ao verem-na afastar o tecido da barraca para abrir passagem.
- Espero que ele consiga dormir disse ela com outro bocejo quase fiz-me dormir com minha própria canção.
- É impossível não ser contagiado murmurou Legolas desta vez com um sorriso travesso teimando em aparecer nos lábios
- Obrigado.
- Vá dormir minha jovem, ainda terá muito o que fazer aconselhou Aragorn
- Acho que vou sim, boa noite.
- Boa noite.
Apesar de tentar, o elfo não conseguiu desviar os olhos de Marianne quando esta afastou-se, o tecido fino da camisola não conseguia cobrir-lhe as curvas suaves, os braços nus ao lado do corpo e os cabelos dançando ao ritmo do vento.
Naquele momento percebeu que nunca veria nenhuma mulher como via Mary Greyhood e que não seu coração não pertenceria a mais ninguém, a não ser a ela.