"Say goodbye on a night like this

If it's the last thing you'll ever do

You never looked as lost as this

Sometimes it doesn't even look like you

It goes dark it goes darker still please stay

But I watch you like I'm made of stone as you walk away."

"Diga adeus em uma noite como essa

Nem que seja a última coisa que façamos

Você nunca pareceu tão perdida assim

Às vezes nem mesmo parece você

Escurece, fica mais escuro ainda, por favor fique

Mas eu vejo você como se eu fosse feito de pedra, enquanto você vai embora."

( A Night Like This - The Cure )

.

O olhar analisava o local, como quem pudesse, inutilmente, sondar o que acontecia na cabeça de cada pessoa que parecia feliz demais com aquele noivado. Sentia-se injuriada, como um peixe fora d’água, quando Ino arrastava alguém até ela, fazendo-a sorrir e cumprimentar. Precisava de sua cama, o quanto antes.

Os enjoos e as sensações desconfortáveis que sentia devido à gravidez não se comparavam ao que estava sentindo ali, aprendendo a mentir e fingir melhor do que ninguém. E afinal, onde estava Naruto para irem embora? Mesmo que pensasse na importância dele estar ali, não podia – e muito menos, conseguia – cobrar algo do rapaz, além do que ele já estava fazendo. Mas a vontade de ir embora e o desconforto não passavam, mesmo que tentasse o tempo todo, evitar pensar nos seus próprios sentimentos.

Passou a ponta do dedo indicador na grossa aliança que circulava seu dedo anelar na mão direta. Naruto lhe dera, minutos antes de chegarem à própria festa de noivado, para que parecesse mais convincente. Sorriu tristemente. Nunca imaginara a sua vida daquela forma, num falso e infeliz casamento.

Não sabia se o corpo notara, ou mesmo uma sensação passara a incomodar, quando viu um par de olhos negros encararem a aquela ação de passar os dedos pela aliança. Ele estava a poucos metros de Sakura, olhando-a tão profundamente, como se pudesse ter acesso a todos os sentimentos e pensamentos da mesma. Desviou o olhar dele, que aparecera como um fantasma ao lado dela, e passou a olhar qualquer coisa que estava a sua frente.

— Naruto não está aqui. – Disse, rispidamente, evitando Sasuke.

— Onde ele está?

— Eu não sei. – Sakura pedia, mentalmente, que ele fosse embora o quanto antes.

Talvez as pessoas estivessem tão concentradas nos assuntos frívolos que travavam umas com as outras naquela festa, que não notaram a aproximação de Sasuke e Sakura. A Haruno gostaria que ninguém – principalmente Sasuke – notasse o nervosismo e a aparente fragilidade que a mesma adquiria todas as vezes que o Uchiha se aproximava dela.

— Você é noiva dele, deveria saber onde está.

— Mas eu não sei. – Sakura passou a encarar o moreno que continuava a analisando – Já pode ir embora.

Ela viu surgir um sorriso irônico em Sasuke, que se encostou ao balcão atrás de Sakura. Ela continuou a olhar as atitudes dele, esperando que mais cedo ou mais tarde ele tomasse seu rumo e saísse de perto dela. Mas, pelas aparentes atitudes de Sasuke, ele não aparentava que sairia dali tão facilmente.

— Atendeu prontamente ao meu pedido, não é Sakura? Não demorou nenhum um instante.

O rosto de Sakura tomou uma coloração que ela não gostava. Não gostava quando ele usava as palavras como espinhos, para feri-la. Com o tempo, Sakura adquiriu a habilidade de fingir ser imune a ele, quando estava longe, parecendo sempre que ele não mexia tanto com ela como parecia. Agora, ele estava perto, e era impossível ele não perceber o que causava a Haruno.

— É. Fiz o que você pediu. Se não entendeu, já pode ir embora.

O sentimento de decepção encheu o peito de Sasuke, mas nada que fosse perceptível a ela. De alguma forma, ele queria começar uma conversa com Sakura. Ultimamente, o modo como ele agia com ela trazia um vazio dentro de si. Como se o que ele havia dito para Sakura, em ela o esquecer de uma vez, tivesse sido começo de toda aquela história de noivado, o que na verdade não era mentira. Não entendia a razão pela qual sentia daquela forma. Pensou alguns instantes enquanto ela colocava seus olhos longe dele.

— Você fez o melhor para você mesma, Sakura.

— Como você pode saber Sasuke? Aliás, o que você – disse, encarando profundamente os olhos penetrantes do moreno – sabe sobre mim? Você não se importa mesmo.

— Eu nunca disse isso.

— Você nunca diz nada... – deu uma risada baixa e triste.

Sasuke se aproximou dela, falando um pouco mais baixo que o comum:

— Acredite. É melhor assim.

— É claro que é. Eu sempre fui insuportável para você, irritante. Quanto mais se distanciar de mim, para você é melhor.

— Foi por isso que você se aproximou do Naruto. Afinal, ele não te acha irritante e nem insuportável, não é?

Sasuke não identificou no primeiro momento que aquelas palavras realmente haviam saído de seus lábios. Só pode ver o que havia dito quando dois orbes esmeraldas o encaravam surpreso. Aquilo era ciúme? Arrependeu-se do que havia dito – achou que pensou alto demais – quando o olhar dela recaiu sobre ele, com um ar de dúvida. Sakura tinha o poder de deixá-lo estranhamente à vontade, chegando até a declarar particularidades que ninguém, nem mesmo Naruto, poderia saber.

As palavras dele carregavam um tom irônico e ao mesmo tempo, ressentimento. Talvez não quisesse admitir que o falso casamento houvesse mexido com Sasuke, ou ela estava imaginando coisas. O olhar dele tinha algo curioso, e ela não enxergou indiferença, como sempre enxergava. Lembrou-se do mesmo olhar da noite em que dois tiveram uma intimidade maior. Incrivelmente, os dois momentos pareciam semelhantes.

— Me responda Sasuke – aproximou seu rosto ao dele. Os olhos do Uchiha encararam os verdes de Sakura, sem se mover – por que então você se aproximou de mim? Podia ter me deixado ir embora naquele dia.

A coragem que o momento lhe proporcionava foi suficiente para que os dois estivessem tão próximos um ao outro, podendo sentir mais a respiração de cada um. Sasuke via nas palavras dela certo tom de sensualidade, mesmo que fossem usadas para atingir o Uchiha. Os olhos belos da moça o olhavam tão profundamente, que mesmo que fingisse um discurso, tinha certeza que ela seria capaz de desvendá-lo. O clima não era um dos melhores. Sasuke não respondeu a pergunta que Sakura o fazia – e fazia a mesma pergunta a si mesma com frequência -, mas o olhar de Sasuke surpreso para ela havia agradado a Haruno. O moreno estava incomodado com as indagações de Sakura, principalmente por saber que se abrisse a boca seria para dizer uma mentira, e que Sakura pudesse ver a verdade.

Uma voz estridente cortou o olhar dos dois. Próximo de Sakura, Ino aparecia sem mais delongas, interrompendo aquela conversa que o Uchiha e a Haruno haviam começado.

— Testuda, finalmente te achei! Queria mostrar pra você as roupinhas lindas que você ganhou de presente!

Sasuke parou seu olhar sobre a loira animada próxima dos dois. Quando Sakura passou a encarar Ino e prestar atenção no que a mesma falava, o Uchiha estreitou os olhos pela última vez na Haruno, antes que saísse dali, indo em direção à porta de saída.

— Educado como sempre o Uchiha, não é? – Ino disse com desdém assim que Sasuke se afastou do local.

Sakura virou o seu pescoço na direção em que Ino apontava. Pode observar as costas de Sasuke indo embora do local. Suspirou, aliviada. Manter a pose de forte a estava incomodando, ainda mais quando se sentia extremamente fraca próxima do Uchiha. Não entendeu o que estava acontecendo ali, mas pode concluir que tudo não passava de implicância da parte do Sasuke. Mesmo que tivesse dúvida pelos olhos do Uchiha, Sakura não podia deixar-se iludir por ele. Não permitiria que Sasuke a atingisse como quisesse constantemente. Balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos e olhou para a loira, que esperava uma resposta.

— Vamos, me leve até os presentes.

—/-

O caminho parecia mais longo, logo agora em que ele sentia uma necessidade imensa de sair do local. A cabeça girava, seu corpo estava tenso, e algo dentro dele... Doía. Sasuke sentia aquela coisa incômoda quando os olhos de Sakura pousavam nele, acusadores. Quando imaginava Naruto a tocando. Quando todo o seu corpo estava à mercê das vontades dela, sem ela nem mesmo perceber. A raiva ficava a flor da pele, porque aquele desconforto o atingia todas as vezes que Sakura acabava por invadir seus pensamentos. Afinal, Sakura ainda era menina irritante. A distância faria bem a ela – e a ele, como acreditava – pois nenhum dos dois pertencia um ao outro. Precisava se convencer disso.

Saiu rapidamente do salão, indo em direção à saída, quando ouviu alguém o chamar. Sabia exatamente quem era.

— Achei que não viria, Sasuke. Fico feliz que tenha vindo.

A voz de Naruto era acompanhada pelo sorriso sincero. Ele aparentava algo diferente nos olhos, algo de Sasuke não pode identificar. Talvez o loiro irritante estivesse a provocá-lo, ou então, mostrando como sempre a excessiva felicidade ao tornar-se noivo de Sakura. A ideia desagradava Sasuke, que não pode fingir felicidade ao iminente pensamento.

— Eu já estou indo.

Ignorando o olhar curioso de Naruto, Sasuke voltou aos seus passos para ir embora. Mas foi logo interrompido quando a voz de Naruto voltou aos seus ouvidos.

— Fique mais, não seja chato Teme!

O olhar de Sasuke recaiu sobre Naruto, que o encarava convidativo.

— Você é quem devia ficar com a sua noiva.

Para o Hokage, foi impossível esconder o sorriso que brotou em seus lábios. Cruzando os braços sobre o peito, não deixou de notar que Sasuke parecia estar demonstrando sentimentos. Estava ouvindo bem ou aquilo foi criação de sua cabeça? Mesmo que Sakura ficasse insatisfeita com isso, Naruto gostava de ver como Sasuke mostrava, cada vez mais, o desconforto por saber que o Hokage estava noivo de Sakura. Isso o deixava feliz. No fundo, aquele rapaz – ex-companheiro de time e assassino – escondia sentimentos que Sakura sabia como aflorá-los.

— Então você estava com a Sakura-chan, não é?

Foi impossível não se repreender pelo o que havia dito. Primeiro Sakura conseguia deixar sem fala, e agora Naruto. O sorriso irônico, o olhar, e os braços cruzados sobre o peito, davam ao Uzumaki um ar de vencedor, como se quisesse tirar de Sasuke exatamente o que o Uchiha havia denunciado. Sasuke estava cansado de tantos questionamentos estúpidos – ou então, intimidadores – quanto àqueles que Naruto e Sakura o faziam. Ele estreitou os olhos a Naruto e sorriu, com toda a sua ironia e sarcasmo ao loiro que o olhava da mesma forma.

— Cada dia que passa você parece mais patético.

Sasuke se virou e voltou a andar em direção a saída. Quanto mais longe dali, melhor. Fugiria do aperto que inflamava seu peito, fugiria do ridículo que parecia ser na situação e fugiria de Sakura. Suas emoções ficavam confusas. Afinal, ela era seu ponto fraco, e era obrigação dele inibir sua fraqueza o máximo que podia. Mesmo que doesse mais do que esperava.

Naruto sorriu ainda mais com a resposta de Sasuke antes de vê-lo sumir. O maior patético da situação era o Uchiha, que cada vez mais, sem querer, mostrava suas fraquezas, mesmo que Naruto já as conhecesse. Girou seus pés em direção ao salão, e a sua primeira visão não era a das melhores. Um sorriso largo – parecendo até falso - enfeitava o rosto de Shinji, assim que Hinata se aproximava dele, com passos lentos e um leve rubor nas maçãs do rosto. Suspirou. Fechou os olhos rapidamente procurando um bom motivo para que não se deixasse levar pela raiva de ver alguém tão próximo daquilo que lhe pertencia. Um pensamento surgia à mente, antes que fosse a busca de Sakura para que pudessem ir embora.

“Essa festa de noivado já deu o que tinha que dar.”