Todo ano na véspera da viagem que se realizava para ir para casa no natal, Hogwarts festejava a vitória sobre Voldemort com um grande baile. E como o baile do torneio tribruxo, este era apenas permitido para alunos a partir do quarto ano.

Todas as garotas nesse período ficavam histéricas, esperando serem convidadas pelos garotos. Todos estavam eufóricos em expectativas, principalmente os alunos do quarto ano por serem seu primeiro baile.

Rose bufou vendo Scorpius vangloriar-se por ter convidado a garota mais bonita de sua série, Claire Park e a forma como ele se achava um máximo por aquilo, era-lhe extremamente irritante. Superficial. Aquela palavra o definia bem.

– Com quem você vai, Rose? – perguntou Albus que estava sentado a sua frente.

– Você verá no baile. – respondeu voltando a atenção para o livro e Albus revirou os olhos.

– Ela não quer admitir que ninguém a convidou. – disse Scorpius debochadamente.

– Pense como desejar. – levantou-se da poltrona com seu livro. O ambiente sempre parecia-lhe tão pesado e sufocante quando Malfoy estava presente, principalmente naqueles dias em que ele fazia questão de mostrar para todo mundo que estava com a Park. Ao sair da torre soltou o ar. Scorpius Malfoy era um verdadeiro trasgo.

Algumas coisas realmente a deixavam confusa, primeiramente como ele podia ter entrado para a Grifinória, era impossível achar um traço na personalidade dele que o encaixasse ali. Segundo, como seu primo podia ser amigo dele? Possuíam personalidades tão opostas, como podiam se dar bem?

Caminhou abraçando seu livro. Sentia desapontada com ele também, em como aquele idiota era tão superficial, mas aquilo ela negaria até a morte. Não é como se eu esperasse alguma coisa dele, pensava, então eu não devo me sentir desapontada.

– Parece irritada com algo, Rose Weasley. – comentou uma voz conhecida, a garota ergueu o olhar para Lorcan que lhe sorria de forma doce.

– Não mais. – respondeu sorrindo também.

–x-x-x-

– Você não devia ter falado aquilo, cara. – repreendeu Albus.

– Por que não? É a verdade – defendeu-se – Quem convidaria Rose Weasley para o baile?

Albus o fitou irritado.

– Você sabe que falar essas coisas a magoa...

– Magoar ela? – repetiu descrente, o interrompendo – Há apenas dois sentimentos que a Weasley possui: alegria por tirar notas boas nos exames e irritação.

Albus revirou os olhos.

– Sem querer me intrometer – falou Lily sentando-se na poltrona que Rose deixara desocupada – Mas Rose realmente vai com alguém para o baile.

– Ah, é? – arqueou a sobrancelha, Scorpius – Com quem?

– Jurei que não contaria – falou – Mas sabe de uma coisa – fitou-o de cima abaixo – ele dá de dez a zero em comparação a você.

Scorpius bufou.

– Se ele é tão fantástico assim, por que não quer contar? – retrucou.

Lily cruzou as pernas e olhou-o nos olhos prendendo os lábios em um bico, como se tentasse não rir.

– Vendo você tão interessado nisso – começou com um risinho invadindo a fala – Parece até que está com ciúmes.

– Ciúmes? – riu – Da Weasley?

Lily arqueou uma sobrancelha, mas logo deu de ombros.

– E nem pense, ela não pro seu bico, Malfoy – Scorpius abriu a boca ofendido, no entanto antes que protestasse, ela falou: – Eu já vou indo antes que eu comece a ficar estressada com você.

Albus sibilou – Você realmente sabe como afastar garotas, me pergunto como conquistou a Claire – sorriu ironicamente enquanto parecia refletir – Será que... amortentia? – o outro jogou-lhe uma almofada e levantou-se.

– Scorpius, você não me engana – continuou ajeitando os óculos que saíra do lugar e erguendo-se também – Por que você fica implicando a minha prima o tempo todo?

– Por quê? – repetiu, com a pergunta o surpreendendo, pois lhe parecia óbvia a resposta – Eu não gosto dela.

– E por que não gosta? – sorriu Albus ao chegar exatamente onde queria.

A resposta lhe vinha clara como a lembrança de três anos antes, quando o outono parecia fazer um belo trabalho com a paisagem, mas naquele começo de sábado só se podia encontrar no jardim algumas garotas do primeiro ano e claro, ele.

Porém Scorpius Malfoy acabara de chegar quando viu o começo da discussão.

– Você realmente acha que o Tony Fodds com aquela bandinha que ele tem pode conseguir chegar aos pés dos Skies Hunters! – bradou uma menina de cabelos loiros escuros, meio rechonchuda.

– Skies Hunters? – seus olhos azuis possuíam uma coragem que hipnotizava o garoto, mesmo ela sendo encurralada por quatro garotas, Rose Weasley não parecia fraquejar – Aquela banda é uma piada! Vocês acham mesmo que eles vão ganhar o W.M.A., – bufou – por favor, eles deveriam ser considerados uma ameaça a música.

A loira a empurrou com força contra a árvore e antes que a batesse, uma morena a impediu colocando-se na frente.

– Você deveria ter cuidado com o que diz, Weasley – falou – sua família não está aqui para defendê-la.

– Não preciso de ninguém que me defenda – contrapôs – O que vocês querem? Que eu diga Skies Hunters é melhor que Moonlight? Então vocês gostam de ouvir mentiras, por isso escutam aquelas músicas.

Georgia Williams deu-lhe um tapa e agarrou-lhe os cabelos.

– Não ouse chamar Seconds to Lose you de mentira! – guinchou, enquanto algumas meninas tentavam afastá-las.

– É realmente, já que o Robbie muda de namorada todo santo mês! – Scorpius reparou como a face dela estava vermelha, como se estivesse em chamas, e começou a achar que deveria fazer alguma coisa, quando a garota que segurava ela, a soltou abruptamente e deu-lhe uma bofetada.

– Não fale assim do meu Robbie! – gritou com uma voz irritantemente aguda, mas antes que aquilo ganhasse escalas maiores, a garota morena do começo conseguiu novamente controlar a situação e Scorpius não pode esquecê-la por isso, Claire Park, a garota que salvara a dona do olhar destemido.

– Meninas parem com isso! Não precisamos gastar nossas forças com ela, quando podemos mostrar quem é os melhores no W.M.A. – a garota rechonchuda fez questão de empurrá-la ao chão antes de se afastar e foi quando Scorpius finalmente se aproximou.

Rose Weasley fazia uma careta de dor, enquanto massageava a raiz de seus cabelos, que agora pareciam um ninho. O garoto também reparou no corte no canto dos lábios da garota que começava acumular sangue, fazendo-o pegar um lenço do bolso e estendê-lo.

Ela levantou o olhar reparando pela primeira vez nele e vendo que esta não esboçava reação, ainda o encarando surpresa, Scorpius se abaixou e passou com suavidade o lenço sobre o corte dela.

Os orbes azuis fitaram o rosto a sua frente como se fosse a primeira vez que o vira, uma piada, já que com certeza o tinha visto antes. Ela sabia o nome dele e o sobrenome também.

– O que você quer? – perguntou afastando a mão dele de seu rosto.

Ele estreitou os olhos com a pergunta.

– Como assim o que eu quero? Só estou limpando seu corte.

A garota ruiva ergueu-se abruptamente.

– Por acaso eu pedi a você alguma coisa? – questionou o deixando ainda mais confuso, mas por que diabos essa garota está irritada comigo? perguntou-se mentalmente – Só porque você é da Grifinória, não muda o fato de que eu e você, Malfoy, nunca seremos amigos.

– Por que você não gosta dela? – repetiu Albus parando de caminhar, vendo a demora do amigo em respondê-lo.

Scorpius hesitou, porém acabou preferindo contar a verdade.

– Porque quando eu quis ser amigo dela, ela preferiu me ter como um inimigo.

–x-x-x-

Era uma tarde de terça-feira, quando Scorpius e Lysander estavam sentados juntos em uma das mesas da biblioteca, ele pegou seus fones de ouvido, cansado do seu trabalho de poções, e seus olhos pousaram na figura ruiva a duas mesas de distância.

Como navios na noite

Deixando balas de canhão voarem

Diga o que quer dizer

E se transforma em uma luta

Sua face parecia um ima para seus olhos, e aquilo já não incomodava. Estava acostumado a se pegar olhando para ela. Seu coração falhou uma batida – e ele explicaria que fora pelo susto –, quando os azuis dela flagraram os seus.

Eu viro a intensidade das luzes

Ando por essas salas sozinho

Nós podemos nos sentir tão longe tão próximos

De repente algo sobre a mesa dela, chamou-lhe a atenção e Scorpius percebeu que era o celular. Rose sorriu enquanto parecia ler alguma mensagem, o que o fez voltar a se perguntar se não era do seu misterioso par do baile e aquilo o perturbou de uma maneira que não entendia.

–x-x-x-

Albus caminhou até o corujal para mandar uma carta para seu pai, porém ao entrar lá, esbarrou em uma garota de cabelos castanhos.

Arregalou os olhos sentindo seu estômago revirar, quando os olhos castanhos ergueram-se na direção dos dele. Ao tentarem desviar um do outro, acabaram indo na mesma direção, esbarrando-se de novo.

Alice Longbottom sorriu sem graça e desviou dele.

Albus abriu a boca, no entanto nela, nada parecia querer sair. Deu meia volta mordendo os lábios.

– Alice – chamou sua voz saiu quase num sussurro. A garota parou e virou-se de frente para ele – É... – hesitou sentindo a garganta seca, então pigarreou – Vocênãogostaria deiraobailecomigo?

Assim que falou, recriminou-se, agora parecia um idiota. A garota o olhou surpresa, os segundos que se passaram pareciam durar minutos, de repente Albus queria se enterrar ali mesmo.

– Sinto muito, mas eu já fui convidada e aceitei. – disse realmente parecendo triste por isso.

– Tudo bem. – respondeu o garoto decepcionado.

–x-x-x-

A garota ruiva procurava livros na estante, e na de trás, um garoto loiro escondia sua face atrás de um livro grosso.

Estava à procura de um livro para finalizar um trabalho, que queria terminar rapidamente para poder se encontrar com Lorcan. Sempre que estava de baixo humor, ele parecia estar lá para salvar o seu dia, era por isso que gostava tanto dele.

E suspeitava que o garoto que a vigiava estava pronto para estragar o seu dia.

– Sei que está ai atrás, Scorpius – falou sem desviar o olhar do livro que folheava – Até quando vai ficar aí?

Scorpius prontificou-se em tentar sair de fininho e Rose voltou seu olhar para ele, irritada.

– O que você quer? – perguntou e Scorpius, vendo-se sem saída, saiu por trás da estante com a pose mais digna que pôde.

– Quero que diga com quem vai ao baile. – respondeu encostando-se a estante.

– Por que isso é tão importante para você? – questionou recolocando o livro que estava em sua mão de volta para a prateleira.

– Não é importante – Rose arqueou a sobrancelha – É mais pela curiosidade.

– Então pegue sua curiosidade e dê o fora daqui. – falou voltando sua atenção ao que fazia antes, contudo Scorpius a virou para ele, segurando-lhe os ombros.

– Você sabe com quem eu vou, não é justo. – ela engoliu em seco vendo o quanto ele estava próximo dela.

Como navios na noite

Você continua passando por mim

Nós estamos apenas desperdiçando tempo

Tentando provar quem está certo

E naquela tarde o mundo de Rose Weasley pareceu girar de um modo que apenas Scorpius Malfoy era capaz de fazer. Suas respirações se encontravam, seus olhos pareciam cravados um no outro, coisas que a instigavam a algo que a garota consideraria pecaminoso.

Ela não queria se deixar abalar por aquela proximidade. Não podia pelo menos. Não quando o sobrenome dele era um aviso para manter-se longe.

Scorpius continuou a fitá-la. Uma pequena cicatriz estendia-se perto da sobrancelha da garota, lembrando-o como ela a fizera e com isso as palavras perderam-se de sua boca e ele esqueceu-se completamente do que iria dizer.

Rose, desconfortável, desviou o olhar e chutou-lhe certeiramente na canela de Malfoy, fazendo-o afastar-se e fazer uma careta de dor.

– Não importa se é justo ou não, isso não é da sua conta.

E se tudo batesse no mar

Se fosse apenas você e eu tentando encontrar a luz

Como navios na noite

Você continua passando por mim

Você continua passando por mim

Como navios na noite