Duplicidade escrita por Needy, LuM


Capítulo 1
Prólogo




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Phoenix, Arizona. 1993

Já havia se tornado uma tradição. Os fortes raios de sol que reluziam sobre Phoenix finalmente cessaram se escondendo atrás das montanhas enevoadas ao longo do horizonte. Reneé observou a noite cair por uma pequena fresta em sua janela enquanto cantarolava baixo uma canção de ninar, um mantra das famílias que assegurava as mães de primeira viajem de que seus bebês dormiriam, não por toda a noite, mas dormiriam. Tinha funcionado.  No entanto ser mãe era algo que não se encaixava em seu livro de sonhos – evaporado pela realidade, aliás, o tempo. Nunca desejara isso, mas aos poucos estava desistindo da ideia de abandona-las. A maternidade não era uma coisa coerente à criminalidade e prostituição em que ela vivia, ainda mais ter um filho de um de seus clientes. Reneé cresceu nesse império da luxúria, seu pai a ensinou tudo o que sabia. De como roubar carros até saber quando um cara é bom ou não para um programa. Ela sentia nojo de si mesma enquanto colocava um dos bebês no berço, mas a criança berrou.

A jovem revirou os olhos castanhos e pegou a criança com todo cuidado – e paciência extrema - do pequeno berço ao lado da cama. Duas meninas berrando em seus ouvidos, por um lado ela estava ficando louca – principalmente na opinião de seu velho pai, Steve, que torcia por um aborto. O que adiantaram as campanhas contra DST ou “use camisinha”? Ele disse friamente - mas por outro não podia negar sua imensa felicidade. De relance ela absorveu todo o cheirinho doce de seus bebês, sabia que em breve não poderia fazer mais isso, não em uma cadeia. Eram tão idênticas que ela não sabia distinguir. Algumas lágrimas rolaram por seu rosto pálido e doente, mas os mesmos logo se arregalaram ao ouvir passos. Quem seria? Estava tarde demais para receber visitas não é?

Ela continuou a ouvir os passos quase que cautelosos. Conformada de que lá era um local seguro e que aqueles armários nos portões eram confiáveis, ela suspirou aliviada e direcionou um olhar carinhoso para as meninas, finalmente mais quietas, enquanto passava as mãos brutamente no rosto, tentando parecer saudável. Queria sair dali, ela odiava hospitais, o cheiro, a comida até as flores e lençóis, mas agora era necessário. No fundo Reneé não esperava mais quando sua porta foi aberta lentamente e então viu quem a incomodava: James. Ela gelou, mas isso não a impediu de pular da cama e se por na frente das filhas, como uma leoa defendia seus filhotes. Seu rosto de traços finos, porém um pouco maltratados pela circunstância, acomodava uma cara amedrontadora, claro, se James tivesse medo dela. Não era o caso. A porta branca foi fechada lenta e sadicamente atrás do visitante. Um frio correu pela espinha dela ao reparar no volume na cintura dele, sentiu a morte manuseá-la assim como o homem manuseava a arma já em sua mão, divertido até.

- SAI. DAQUI. SEU VERME! _ ela cerrou os punhos falando pausadamente

- Esse é o jeito que recepciona as visitas, mas que feio! _ um sorriso sarcástico se formou nos lábios finos do loiro. Reneé não moveu um palmo e então ele sorriu mudando de assunto, trocando os pés categoricamente em sua caminhada até a mulher. Estremeceu.   

- Até que você teria sucesso como cantora, só não funcionou com as pirralhinhas ai _ olhou com desdém para as crianças. A mandíbula da morena travou.  – Então posso segurar? Acho que já esta na hora de conhecerem o titio James... _ satirizou caminhando até o berço.

Tudo aconteceu mais rápido do que o cérebro de Reneé pode processar. Ela pulou em seu pescoço, atrapalhando a caminhada mortal de James que tentava desenroscar as mãos ágeis da garota em seu pescoço, o tirando o ar. Ele ofegava, tossia, seus dedos longos e sujos enroscava-se nas mãos suadas de Reneé que o enforcavam. Os cabelos longos e castanhos dela formavam uma cortina mogno sobre os olhos de James - já que ela se mantinha em cima dele, ágil e determinada a matar – mas ainda sim ele pode vê-la atirar a arma para um canto com os pés. James fechou os olhos, cansado, porém seu interior estava a mil esperando que ela caísse na sua. Finja que está morto, no entanto ela ainda sim teve tempo e atirou, fazendo o liquido vermelho brotar do abdome ferido de James. Ambos sentiram o sangue manchando o avental hospitalar de Reneé que estranhamente, não riu.  

Ela levantou-se satisfeita, porém assustada. Não matava muito, não o pessoal de seu pai. Depois de alguns segundos respirando fundo ela se voltou para suas pequenas, preocupada. As meninas – das quais ela não teve nem tempo e muito menos criatividade para dar um nome – dormiam feito pedras. Bebês eram inconstantes, ela pensou sorrindo. Na mesma rapidez que surgiu o sorriso se fechou, um pedaço de concreto caiu do teto em direção ao berço que ela jogou para longe rapidamente, graças a um disparo. Ela virou - se lentamente pronta para receber o golpe. Sentir a dor , por se no lugar de suas vitimas por um minuto. Ele não disparou, não até ela franzir a testa e a bala finalmente invadir cada um dos ossos de seu crânio, esmigalhando-os.

Não houve tempo de sentir o objeto metálico cortando sua carne, atingindo suas fibras as cortando e queimando como um incêndio particular. Não tinha como reagir

James ouviu o barulho mortal e engoliu seco, querendo ou não ela era como uma irmã para ele, porem bastarda. No mundo em que viviam não havia lugar para laços. Então o corpo, já sem vida, da jovem caiu em câmera lenta sobre o chão, brutalmente de joelhos até atingir a ponta da cama e depois o chão assoalho, espirrando mais sangue por onde passava diante a queda eminente. O liquido escarlate escorreu violentamente de sua testa, embreando - se ao cabelo longo e castanho, e manchando o chão após sujar o ferro retorcido que formava a cabeceira como a tinta branca descascada, jorrando uma gota em cada canto. Seus bebês berraram, com o sangue de uma mãe morta respingado em seus corpinhos. James riu sádico antes de sucumbir.

- Te vejo no inferno mamãe, me espera lá viu!... _ a arma tamborilou pelo chão quando ele a largou, morto. Os olhos, abertos, porém sem vida, refletiram a luz do corredor no instante em que a porta era aberta...   


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Notas finais do capítulo

E ai? Eu sei, eu sei. Meus prólogos são enormes rsrs. Bem façam uma autora feliz...
Bjuss, até o próximo