Censure os meigos olhos azuis escrita por Honda Sakura


Capítulo 2
O beijo roubado


Notas iniciais do capítulo

"Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido."
(Jean Rostand)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/304188/chapter/2

Todos estavam em silêncio na sala 802. Em vez de um professor na sala, era a vice-diretora que estava ali. Batidas na porta interromperam tudo. Todas as cabeças miraram a atenção na entrada da sala. A vice abriu-a. Era Tepnora.

– Com licença, vice-diretora. Posso entrar? – falou Tepnora.

– Passou na secretaria? – perguntou a vice-diretora.

Tepnora entregou a mulher um bilhete que a secretária dava aos alunos atrasados para terem a permissão de entrarem na sala de aula. Após entregar, sentou-se em seu lugar, atrás de Geovanna.

– Por que entregou aquele bilhete a ela? – sussurrou Geovanna, virando-se para trás.

– É a permissão para entrar nessa prisão – respondeu Tepnora, revirando os olhos.

– E por que você não entrega esse bilhete a Sra. Farsten?

– Ela não pede.

– Vocês duas aí atrás, silêncio! – reclamou a vice.

Geovanna celeremente virou-se para frente. Então Tepnora começou a escrever um bilhete e passou à amiga. Geovanna, suando frio com medo que a vice visse, o abriu e leu.

“O que essa velha burlesca está fazendo aqui?”

Geovanna respondeu:

“A professora Viviane não veio dar aula, então em seu lugar vai ficar a vice até saberem o que aconteceu com ela.”

Ela passou o bilhete para Tepnora. Enquanto a garota lia, não percebeu o que Geovanna percebera.

– Tepnora... – sussurrou Geovanna, mas não continuou, porque teve medo de quem se aproximava.

Tepnora foi olhar para a amiga e deparou-se com a vice-diretora ao seu lado. Esta, arrancou o papelzinho das mãos da aluna e o examinou.

– Interessante... Gosta de fazer conclusões precipitadas das pessoas, estou enganada? – falou a mulher suavemente, não mostrando o quanto estava enervada.

– Está – respondeu Tepnora seriamente, enquanto encarava a vice, com aqueles meigos olhos azuis.

– Bem, mocinha... Acho que alguém vai ficar depois da aula...

– Só se for a senhora, porque eu tenho um compromisso após a aula.

Alguns alunos deram risadas abafadas.

– Garota, venha comigo! – exaltou-se a vice-diretora, dando um murro na classe da aluna.

Tepnora levantou-se e foi indo na frente. As duas seguiam porta a fora, quando Geovanna falou:

– Eu também estava escrevendo bilhetes. Devo ser punida igualmente... Eu acho?...

– A senhorita vai anotar o nome de quem conversar enquanto eu estiver ausente – disse a vice para Geovanna.

Então a mulher e Tepnora saíram da sala.

O primeiro período acabou e nenhum sinal da vice ou de Tepnora foi apresentado. O professor de educação física entrou na sala e prosseguiu a aula até a hora do intervalo. Quando o apito soou para o recreio, Geovanna encaminhou-se para a diretoria e aguardou Tepnora sair.

– E aí, o que aconteceu? – questionou Geovanna.

– O diretor quer ver meus pais. Que droga! – esbravejou Tepnora – Só por causa daquela vadia! Ai, que raiva!

– Eu tentei diminuir sua pena, mas você viu que ela não deixou... O pior é que eu anotei o nome de cada pessoinha que conversou e ela nem veio pegar as anotações... Ela me fez gastar uma folha inutilmente! Vadia! – disse Geovanna sarcasticamente.

Tepnora sorriu. Julgava Geovanna uma menina boba, mas não conseguia viver sem ela.

– Eu disse para você que os professores não vão com a minha cara.

Geovanna cutucou a amiga, então apontou para frente. Tepnora olhou para o que ela indicava e soltou um suspiro. Não de amor, mas de incômodo.

O que Geovanna estava mostrando para a amiga, era um rapaz negro que vinha na direção delas. Ele era alto, magricelo e espinhento. O garoto, chamado Marc Smith, estudava na mesma sala que elas. Todos os dias, vinha com uma boina verde e era um dos mais inteligentes da classe.

– O-oi, meninas – disse ele.

– Oi, Marc. Como vai? – falou Geovanna.

– Vou bem.

Houve uma pausa entre os três.

– Nossa, Tepnora... – disse Marc – Você foi intrépida ao enfrentar a vice-diretora. Quem me dera ter a mesma coragem que a sua...

– Se isso é um elogio, obrigada – disse Tepnora aborrecida com a presença de Marc – Vamos ao banheiro, Geovanna.

Tepnora não fizera uma pergunta e sim uma imposição, então, sem esperar resposta, puxou o braço da amiga e arrastou-a até o banheiro feminino.

– Por que não gosta do Marc? Ele é tão simpático – quis saber Geovanna.

– Gente feia tem que ser simpática, Gigi! É lei de sobrevivência e, aliás, ele é grudento e chato – disse Tepnora, enquanto mexia em seus cachos, admirando-se no espelho.

– Bem, você sabe que ele gosta muito de você...

– Então por que você não diz a ele que eu não sinto o mesmo por ele?

Geovanna saiu rapidamente do banheiro sem Tepnora perceber. E quando a garota notou a ausência, já havia apitado para o quarto período.

Na sala, Tepnora resolveu perguntar o porquê de Geovanna ter saído sem avisar.

– Fui fazer o que você me pediu – respondeu a loira, só que dessa vez sem virar para trás.

– E o que eu pedi? – disse Tepnora, segurando o braço da amiga, fazendo com que Geovanna pendesse para trás, assim, encarando-a.

Me larga, Tepnora! – Geovanna puxou seu braço, mas de nada adiantou.

– Geovanna, o que você fez?

– Eu disse para o Marc que você não gosta dele e que o acha grudento, feio e chato! – gritou Geovanna, tirando a mão de Tepnora de seu braço.

A turma toda olhou para Marc e ele olhou estagnado para as duas garotas.

– Ei, silêncio! – berrou o professor Oliver de educação física – Peguem suas roupas de física e vamos para a quadra.

Geovanna pegou suas roupas e saiu rapidamente da sala. Tepnora entendeu o recado e durante toda a aula de educação física manteve-se o mais longe possível dela.

No dia seguinte, na hora do recreio, Tepnora foi falar com Geovanna. Ela encontrava-se sentada a uma das mesas redondas da biblioteca e ao seu lado estava Marc. Tepnora aproximou-se e parou à frente deles. Marc e Geovanna, que estavam conversando e rindo, silenciaram-se.

– Acho que vou deixar vocês a sós... – disse Marc, mas Geovanna interpelou-o.

– Não, Marc. Fique aqui.

– É, fique aí – disse Tepnora, então encarou Geovanna e disse – Você terminou nossa amizade, mas eu não tirei nenhuma nota vermelha, nem paguei a Eunice para fazer algum trabalho meu... Até agora... E então, o que me diz?

– Não entendi – disse Geovanna.

– O juramento, Gigi. Lembra que você disse que a nossa amizade só acabaria se eu não fosse aplicada na escola? E o que eu fiz pra você ficar tão ofendida?

– Quero voltar a ser sua amiga, mas acho que se você me respeita, também deveria respeitar aos meus amigos, Tepnora... Se é que me entende...

Tepnora olhou para Marc com repugna, mas pensou no bem de sua amizade com Geovanna.

– Eu lhe entendo, Gigi. E prometo que vou respeitar seus amigos.

Geovanna levantou-se e abraçou Tepnora.

– Acho que você deveria pedir desculpas a alguém – sussurrou Geovanna.

– Marc, me desculpe por ter falado aquelas coisas de você – disse a morena, olhando nos olhos de Marc, fingindo um ar de sinceridade – Aliás, você me parece ser bem legal...

Aquele momento pedia um guardanapo para limpar o veneno que escorria dos lábios de Tepnora.

Emocionado, Marc levantou-se e pôs-se na frente da garota.

– E você é a garota mais linda do mundo!

Tepnora sorriu falsamente. Geovanna enrubesceu e pareceu estar desconfortada diante a situação.

– O próximo período é com a professora Viviane, não é mesmo? – disse Tepnora, tentando quebrar o clima, pois havia percebido o incômodo de Geovanna.

– Sim – falou Marc – Mas ouvi boatos de que ela está internada em estado grave.

– Estado grave? O que aconteceu com ela? – perguntou Geovanna.

– Não sei.

– Provavelmente vamos ter aula com aquela vadia da vice... – disse Tepnora, cerrando os punhos.

Quando o recreio acabou, eles entraram na sala atrasados e quem estava à espera deles não era a vice-diretora, mas um homem jovem, bonito e alto. Cabelo loiro escuro, arrepiado naturalmente sem a ajuda de gel algum, olhos verdes e claros. Tinha um rosto lindo, era musculoso. O jeito que ele estava vestido era diferente de qualquer outro professor daquela escola. Enquanto os professores usavam uma camiseta simples com uma faixa transversal com o nome da escola estampado, ele usava o colete dos estudantes, que era branco com botões, golas e uma pequena faixa em cada ombro da cor preta. Todos os alunos usavam o colete por dentro das saias ou das calças, enquanto ele usava-o fora da calça e a gola levantada.

– Posso ajudá-los? – disse o homem, mirando seus olhos sedutores para Marc, Geovanna e Tepnora que estavam empacados à porta.

Também revelando que sua voz era viril, mas ao mesmo tempo angelical.

Os três entraram rapidamente, sem dizer nada e sentaram-se em seus respectivos lugares.

– Bem, alunos, meu nome é... – ele escreveu seu nome na lousa e leu-o em voz alta, e que voz! - ... Pablo Hoffman e vou ser o professor substituto de inglês.

– Ele é tão sedutor, tão jovem, tão... Nossa, ele é um deus grego, Geovanna! – disse Tepnora excitada.

– Ele é bem gostoso – falou Geovanna, corando as bochechas.

– A professora Viviane deixou um trabalho em grupo para vocês. Então reunam-se e eu o explico – disse o novo professor – No máximo, quatro componentes.

– Vamos convidar o Marc para vir com a gente – opinou Geovanna – Aí, ficamos nós três.

– Tá bem – concordou Tepnora, contra a sua vontade – Mas eu quero convidar a Roberta, ok?

– Sim, ela é boa em inglês.

Depois que os grupos foram formados, Pablo explicou o trabalho.

Tepnora havia entendido o dever, mas fingia que não. Então, quando percebia que Pablo estava sem fazer nada, ela pedia ajuda e ele vinha até seu grupo. Cada vez que Pablo chegava perto, ela podia sentir o cheiro do perfume dele, uma fragrância oriental amadeirada. Seu corpo ficava cálido e ela atrapalhava-se na hora de fazer as perguntas a ele.

No final da aula, Tepnora disse para Marc e Geovanna irem na frente, porque ela iria se atrasar. Quando todos saíram da sala, ficaram somente Tepnora e o substituto.

Tepnora guardou seus materiais e foi até a mesa do professor.

– Você não sabe o que aconteceu com a professora Viviane? – perguntou ela.

– Perdoe-me, mas não sei... – disse Pablo, enquanto ajeitava a mesa e suas coisas.

– Não sabe quando ela vai voltar?

– Também não sei.

– Está bem, obrigada.

Tepnora foi se encaminhando até a porta, mas parou antes de sair. Viu que Pablo estava vindo para sair. De repente, por impulso, ela fechou a porta. Pablo parou atrás dela. Tepnora virou-se e ficou frente a frente com ele.

– Há mais alguma coisa que queira perguntar? – disse o professor, parecendo tranquilo diante da atitude da aluna.

Subitamente, Tepnora começou a arfar e desmaiou. Pablo, assustado, jogou seu material no chão, abaixou-se e a pegou no colo para levá-la a enfermaria.

Quando o homem foi tentar abrir a porta, Tepnora abriu os olhos, agarrou o pescoço dele e beijou-o na boca, intensamente. Mas o homem não correspondeu ao beijo, apenas desceu a garota de seus braços, juntou celeremente suas coisas do chão e retirou-se da sala.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O capítulo anterior foi nada à ver, eu sei, mas era algo para ambientá-los no mundo de Tepnora. A partir deste segundo capítulo, as coisas começam a engrenar...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Censure os meigos olhos azuis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.