Censure os meigos olhos azuis escrita por Honda Sakura


Capítulo 1
Pacto não, juramento


Notas iniciais do capítulo

"Nunca um juramento fez algum réu dizer a verdade."
(Cesare Beccaria)



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Seus passos apressados faziam ruídos pelo corredor da escola. Era a única coisa que perturbava o silêncio, porque, neste momento, as aulas já haviam iniciado. Ela parou em frente a uma das várias portas que se encontravam naquele extenso corredor. Delicadamente bateu na madeira pintada de turquesa e aguardou, arrumando algumas mechas de seu cabelo volumoso. A porta abriu-se, revelando uma mulher ruiva, com o rosto judiado pela vida, um tanto acima do peso e de lábios pintados de escarlate, e quando esta viu quem era, a expressão em seu rosto passou de séria a carrancuda.

– Com licença, Sra. Farsten - disse a mocinha ofegante.

Era uma garota de rosto delicado, bochechas salientes, salpicadas com blush, assemelhando-se a uma boneca de porcelana. Seus cabelos pretos carregavam cachos grandes e perfeitos combinados com uma franja que precisava ser cortada brevemente, ou taparia seus olhos. Ah, estes olhos, da cor do céu em um dia de sol, davam a ela um ar de meiguice. Só ares...

– Espero que seja a última vez que se atrase, senhorita - a mulher abriu a porta completamente para deixar a aluna entrar na sala, mas sua fuzilação ocular mantinha-se - Trouxe o trabalho que era para ser entregue hoje?

– Sim, Sra. Farsten - ela entregou três folhas grampeadas para a professora.

– Pode sentar-se agora, Tepnora.

A garota já executava o ato antes mesmo da fala da docente. Foi até a fila perto das janelas e sentou-se no fim dela.

– Oi, anjo - disse uma aluna de longos cabelos loiros com franja também, rosto firme, um tanto sério, digamos. Era ela que se sentava na frente de Tepnora. Alta, magra, usava óculos e tinha várias pulseiras e colares - Por que o atraso?

– Tive que passar na casa da Eunice - respondeu Tepnora.

– Por quê?

– Dei a ela cinco reais para fazer esse trabalho de português que a Sra. Farsten me pediu agora.

– Você é maluca!

– Não, Geovanna, sou apenas esperta - disse Tepnora deixando escapar um sorriso.

Tepnora Einot e Geovanna Albuquerque eram melhores amigas desde a sexta série. Agora, ambas com 15 anos, estavam na oitava série.

Na hora do recreio, as duas amigas ficaram em um corredor vazio do segundo andar, olhando pela janela as crianças brincarem de pega-pega e jogarem ping pong no pátio da escola.

– Você sabe que corre grande risco de ser reprovada esse ano, Tepnora. Acho que você deveria fazer os seus trabalhos e não mandar a Eunice fazer em seu lugar - repreendeu Geovanna.

– Mas eu não mando, eu pago - falou Tepnora.

– Você já rodou uma vez, não é mesmo?

– Já... Mas rodei porque os professores não iam com a minha cara.

– Fala sério, Tepy! Você rodou porque não fazia os trabalhos e os exercícios, então quando chegava dia de prova, você se ferrava porque não sabia nada!

– Fica calma, não vou rodar.

Geovanna cruzou os braços e bufou. Tepnora abraçou a amiga e disse:

– Eu juro que vou me dedicar aos estudos de corpo e alma.

– Então já que você jura, vamos fazer um pacto.

Tepnora afastou-se de Geovanna com uma cara de espanto.

– Pacto!? Não gosto dessa palavra, ela tem um ar macabro... Não pode ser um juramento?

– Está bem, como você quiser.

– E qual o negócio a ser fechado?

– Todos os exercícios e trabalhos, você mesma terá que fazê-los. E nas provas, você tem que tirar sempre nota azul. Caso sua nota seja vermelha, você pedirá recuperação sem reclamar.

– Está bem. Eu faço todo esse sacrifício.

– Caso não siga o pacto...

– Juramento, por favor.

– Caso você não siga o juramento, nossa amizade terminará, ok?

Tepnora fez sinal de positivo.

– Levante sua mão direita - disse Geovanna.

Ela levantou a mão e Geovanna continuou.

– Repita comigo: Eu juro...

– Eu juro...

– ... Que farei todos os exercícios e os trabalhos por conta própria...

– ... Que farei todos os exercícios e os trabalhos por conta própria...

– ... E em provas, eu tirarei notas boas.

– ... E em provas, eu tirarei notas boas.

– Caso minha nota seja ruim, eu pedirei recuperação.

– Caso minha nota seja ruim, eu pedirei recuperação.

– Se eu quebrar o juramento, minha amizade com a Geovanna acabará.

– Se eu quebrar o juramento, minha amizade com a Geovanna acabará.

– Aperto de mão agora.

As garotas deram um longo aperto de mão. Geovanna calou-se e Tepnora também, olhando novamente as crianças lá fora, até que o sinal que anuncia o fim do recreio tocou.

Na saída, Tepnora convidou Geovanna para ir almoçar na casa dela, mas antes teriam que passar na casa de Eunice para lhe pagar o serviço prestado, já que não pagara no momento em que pegara o trabalho, por causa da pressa em não chegar atrasada. Eunice era a prima de Tepnora que já estava no ensino médio. Esta morava longe da escola, por isso, com certeza as meninas chegariam tarde para o almoço.

Durante o percurso, passaram em uma rua onde o sinal estava fechado para os carros. As duas meninas atravessaram a faixa de pedestre. Tepnora viu um homem dentro de um Sedan prata que lhe atraiu muito, então jogou um beijo para ele. O homem apenas deu um “tchauzinho”.

– Você só tem a cara de santa, né? – falou Geovanna.

– Ah, qual o problema? Com certeza eu nunca mais vou cruzar com ele.

– Como tem tanta certeza? Sabe, Tepy... O destino é uma caixinha de surpresas.

– A placa não era daqui.

Elas riram tanto sem saber o porquê, que quase tropeçaram no cordão da calçada. Pararam na frente de uma casa lilás, cheia de plantas ao redor e com um enorme portão branco.

– Eunice! – gritou Geovanna.

– Não precisa berrar. É só apertar a campainha – falou Tepnora.

Ela apertou o botão, provocando o som convencional e irritante que as campainhas fazem. Em seguida, as moitas que rodeavam a casa começaram a tremer rapidamente, como se a qualquer momento algum animal feroz fosse saltar em direção as meninas. Com as unhas na boca, roendo-as de tensão, Tepnora e Geovanna viram surgir das folhas um homem magro e alto, vestindo um macacão amarelo e segurando um saco velho e sujo de terra. Apenas não riram do momento para não causar a impressão de que estavam de gozação com a cara do individuo.

– Sim, senhoritas? – disse o homem.

– Ah, olá, senhor. A Eunice se encontra no momento? - perguntou Tepnora.

– Ela saiu há uns 10 minutos atrás, moça.

– Está bem, obrigada e desculpe pelo incômodo, senhor.

Então foram para a casa de Tepnora. Já era meio-dia passado.

– Nossa, filha, por que se atrasou? – disse a mãe de Tepnora, logo ela notou que a filha tinha trazido companhia – Oi, Geovanna!

– Olá, D. Isabel – cumprimentou a loira.

– Nós chegamos um pouco mais tarde, porque tínhamos que ir à casa de uma amiga nossa.

– Está bem, meninas. Vão lavar as mãos e venham almoçar.

Depois que se alimentaram, as duas passaram a tarde toda usando o computador que ficava no quarto de Tepnora, enquanto fofocavam sobre a escola.

Às 8:00 horas da noite, D. Isabel deu carona para Geovanna e levou-a até a casa dela.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Comentem, titia Smooth agradece! *-*



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