Trauma escrita por Aluada


Capítulo 3
A verdade


Notas iniciais do capítulo

Vocês sabem como eu gosto de escrever fins duvidosos - esse é mais um deles. Não deixo explícitos os motivos, isso é conclusão da cabeça de cada um.
Por isso, gostaria que antes soubessem que a temática da minha fic não tem a intenção de ofender qualquer pessoa por seu comportamento ou religião, bem como qualquer religião.
Tudo o que foi escrito corresponde a minha visão das coisas, e propositalmente eu pus a dupla interpretação pra não chegar a uma crítica direta.

Você é livre pra pensar o que quiser, leitor, e saiba que é isso o que eu mais quero: pense!



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             Quando o telefone tocou, a senhora Silva, mãe de Ricardo, Catarina e Bianca, o atendeu. Esperava a ligação do psicólogo há horas.

            — Como foi a consulta, doutor?

            — Seu filho está visivelmente incomodado, minha senhora — começou —, e é muito introvertido. Chegou usando o pretexto de que queria conversar sobre os problemas de um amigo. Isso revela a falta de manejo, principalmente por medo, se enfrentar os próprios problemas.

            — Mas o que ele disse que o amigo tinha..?

            — O tratou como um maníaco-obsessivo, esquizofrênico, prestes a perder a cabeça ou mesmo atacar alguém. Pediu insistentemente que lhe recomendasse algum tipo de tratamento, porque não poderia suportar vê-lo em “ algum hospício ou manicômio”.

            — Ah, doutor...

            — Não se alarme, senhora. Não creio que esse auto-diagnóstico seja correto; tudo o que vejo é introversão e pressão excessivas, próprios desse período do fim da faculdade. Não se preocupe. Leve-o para umas férias, melhor ainda se ele for acompanhado de algum jovem da família. Quando ele voltar, marcamos uma nova consulta.

             Aquelas palavras foram o suficiente para a senhora Silva. Desligou e ligou em seguida o telefone sem-fio, para conversar com o marido sobre a possibilidade de pagarem uma diarista que limpasse o chalé que tinham que Campos do Jordão.

            Naquele mesmo sábado, Ricardo fora convocado para suas férias forçadas. No bando do passageiro do carro que dirigia, estava Catarina. Ela e Bianca passaram a viagem inteira cantando I believe in Jesus animadamente, a contragosto do motorista.

            Os primeiros dias Ricardo passou trancado em seu quarto, jogado em cima da cama e se entupindo de doces e livros. Logo de manhã, o chalé já estava mergulhado no silêncio. Sabia que a irmã teria ido à Igreja para voltar somente no fim da tarde, quando ela também ia se trancar em seu quarto.

            Contudo, logo no terceiro dia, o silêncio cessou.


  

            As paredes vibravam com os gritos histéricos de Catarina. As enxaquecas pareciam estar matando-a. Não aceitava os remédios, não tinha mais forças nem para ir à missa. Jogou-se na cama e lá ficou por três dias, movida apenas por água e orações.

            — Onde ela está?

            — Quem — ?

            Ricardo a viu surgindo na cozinha, o rosto lívido numa mistura de branco e vermelho.

            — Bianca! Ela sumiu! Onde ela está?

            — Do que você está —?

            — Onde você a escondeu? O que fez com ela?

            Ricardo encarou-a nos olhos, os dois parecendo feras fitando a presa.

            Abriu a boca, numa inconfundível gargalhada. Ria com superioridade. Com desdém.

Humilhação.

            — MONSTRO DEMONÍACO!

            Não teve mais tempo para pensar logicamente. Ela partiu para cima dele com uma faca. Não teve escolha. De qualquer modo, ele era mais forte. Depois de tirar dela a arma, trancou-a no quarto.

            A partir disso, tudo era gritos. “O que você fez com ela? O que você fez com a Bia?”.

  


            Lembrava-se disso com flashs curtos, desesperado. Deveria ter tomado cuidado, deveria ter revistado o quarto antes... e se a polícia de fato viesse? O que ele diria? Que tinha assassinado uma irmã e feito de prisioneira a outra..?

            Abriu uma garrafa de vinho seco e bebeu do gargalo. A situação estava ruim mesmo, não faria diferença o cheio de álcool do hálito. Tinha que relaxar, ter um tempo para pensar, armar uma gambiarra que fosse.

            E teve meia hora. Passados exatos trinta minutos, ouviu batidas na porta da frente.

            — Boa tarde, somos da Policia Municipal. Nós recebemos uma ligação anônima que nos indicava este endereço.

            Silêncio.

            — Podemos entrar?

            Somente abrindo passagem com o corpo, ele permitiu que os dois policiais entrassem. Enquanto o líder anotava os dados de Ricardo, seu subordinado seguiu a ordem de vasculhar a casa por qualquer coisa que fosse suspeita.

            Foram menos de trinta segundos para que ele noticiasse a presença de Catarina, trancada em seu quarto.

            — Graças a Deus vocês vieram! Graças a Deus!

            O chefe de polícia levantou uma das sobrancelhas ao jovem ao ouvir o socorro passado.

            — O que significa isso?

            — Ali! O herege! MONSTRO!

            Catarina vinha trêmula do quarto em que fora presa, correndo em direção ao irmão, apontando o dedo em sinal de condenação.

            — Você a matou! Eu sei que você a matou! Monstro!

            — Senhorita, mantenha a calma —

            — Minha irmã — ela gemeu, quando o policial mais rebaixado a segurou —, está morta.

            — Senhor Silva, isto é verdade? — o inspetor foi firme em sua pergunta.

            Rodrigo abaixou a cabeça e deu um longo suspiro antes de responder.

            — Sim. Bianca está morta.

            Catarina soltou um grito involuntário e se jogou no chão de joelhos, aos prantos,  unindo ambas as mãos em sinal de prece, murmurando em meio da fala automática coisas como “não... assassino... monstro... herege...”...

            — O senhor está preso, senhor Silva. O senhor tem o direito de se manter em silêncio ou chamar por um advogado. Para o seu próprio bem, eu recomendo que o senhor colabore conosco — falou sério, enquanto pegava as algemas — Nós precisamos saber a localização do corpo.

            Rodrigo não pôde responder de pronto. As lágrimas também saiam descontroladas de seus olhos agora, e a cada tentativa de falar um soluço de choro e desespero prorrompia de sua garganta

            O policial se impacientou.

            — Onde está o corpo?!

            — No cemitério da Vila Madalena.

            — Como —?

            — Bianca morreu há um ano atrás.

            — ASSASSINO!

            Quando eles voltaram suas cabeças para olhar Catarina, viram a loucura saltando de seus olhos.


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