Trauma escrita por Aluada


Capítulo 1
O quarto


Notas iniciais do capítulo

Texto baseado em um dos personagens do livro "Bloodline" ("Linha de sangue" [?]) do Sidney Sheldon.
Inicialmente, era pra ser onehsot, mas... ahn... ficou um pouco longa demais... ^^°



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A figura santa a sua frente a admirava com olhos de misericórdia.
— Oh, meu Senhor, por favor... ajude-me...
Os olhos de Catarina realmente careciam de toda aquela piedade. Estavam inchados de choro, cobertos de lágrimas salgadas, cheios de desespero, agonizados com a paisagem a sua volta.
O quarto que a rodeava estava na penumbra, pobremente iluminado por algumas velas no chão. Ao contrário, Catarina o consideraria “iluminado” – protegido por suas divindades, anjos e santos caracterizados por suas várias esculturas. Sem perder o fôlego, ela rezava, pedia, suplicava por sua libertação. E a da sua pequena irmã...
Às vezes encostava o ouvido na parede mais próxima, a que dividia com o quarto de Bianca, sua irmãzinha de nove anos. Procurava por uma palavra, um suspiro que fosse – ficaria contente até mesmo com um grito. Porque os dias passavam, e com eles ia também sua esperança. Não ouvia nada, absolutamente nada.
Tinha medo de pensar no pior. E sempre que tinha medo, rezava.
— Oh, meu anjo da guarda... proteja Bianca... proteja Ricardo... proteja esta casa...
A porta estava trancada pelo lado de fora. De vez em quando ouvia passos no corredor, e Ricardo lhe deixava um prato de comida. Mas não comia. Não poderia saber o quê tinha além da comida. Contentava-se apenas em alimentar a alma. E rezava...
Além da janela, as árvores batiam umas nas outras, dançando com a brisa da chuva fina que caía. Estavam em Lugar Nenhum, perto do Nada. Não havia vizinhos, os empregados havia sido todos dispensados. Ela não tinha contato com mais ninguém. Não tinha como pedir ajuda. Estava perdida.
E sua cabeça doía...
Interrompeu a reza e levou as mãos ao rosto. Estava toda suada, um suor frio, de fome, de dor. Arrastou-se até a cama de casal que ficava no centro e deitou um pouco, admirando o teto que girava acima de si. Virou-se e caiu no chão, batendo e derrubando, antes, o criado-mudo ao lado.
Dentro das gavetas abertas, um telefone celular.
Salvação!
Com as mãos trêmulas, segurou-o e apertou três teclas brilhantes. Um. Nove. Zero.
— Alô? Polícia? Por favor, me ajude, meu irmão me trancou no quarto, ele está maluco, ele matou minha irmã —
O desespero explodiu em forma de soluços incontroláveis pela sua boca quando pronunciou essas palavras. Morta, sim, achava que estivesse... sua irmã... sua amada Bianca... pequena... indefesa...
Assustou-se com o barulho da porta sendo escancarada. Ricardo estava lívido, pálido, furioso, as veias das têmporas pulsando de terror. Numa pancada, jogou o celular contra a parede, antes que ela pudesse completar o endereço da casa.
— Catarina, o que foi que fez?
— O que foi que você fez! Seu monstro! ASSASSINO!
— É pecado pensar assim de uma pessoa que gosta tanto de você — respondeu, a voz mais calma — Não faça mais isso. Não precisamos da polícia aqui, não é? Vamos tentar nos divertir sozinhos, eu e você, como quando éramos pequenos...
Sentado no chão também, abraçou-a por trás, num aparente gesto de ternura. Catarina não se moveu. Ele tinha razão. Era pecado.
E quando Ricardo finalmente a largou e se foi, ainda trancando a porta ao sair, ela voltou a rezar. Que a polícia pudesse detectar a ligação, reconhecer o endereço, tirá-la dali... limpar a mente insana de seu irmão... oh, que Bianca não estivesse realmente morta...
Sua cabeça voltou a martelar.
Antes era por causa dos gritos explosivos do irmão mais velho. Agora, era por causa do silêncio, que permitia sua mente a perder-se em lembranças dolorosas, pensamentos que fazia questão de esquecer. Mas era inevitável.
Começou no dia primeiro de novembro...


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