Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 17
Capítulo 17 - Laços Quebrados




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Após a prova do vestido, Jean nos convidou para um chá. a seguimos rumo á sua "sala particular", enquanto ela e Rick conversavam sobre os velhos tempos.
–- E a cor do seu cabelo, nunca muda não é? - Rick perguntou.
–- Já foi de tudo, Meu Bem! Mas o roxo é minha cor, você sabe. - ela deu umas tapinhas no lado da cabeça. - Já os seus vejo que estão sendo visitados por amiguinhos! Ai! Como esse tempo é maligno! - ela disse dramática, referindo-se aos cabelos grisalhos que surgiam em meu pai.
–- Sim, é verdade. Mas até que ele foi bondoso conosco. - ele riu.
–- Com você mais do que comigo; e ele amava Liane, não é? Aquela mulher parecia ter nadado no formol! - ela riu. Então, percebendo o que havia dito, tapou a boca novamente. - Jesus, tire-me a voz ou me dê bom senso. Eita mulher pra falar caraminholas!
–- Está tudo bem. - meu pai disse. Seu pensamento parecia um tanto distante. - Liane sempre foi mesmo muito bonita, qualquer um poderia ver isso por fora, mas por dentro ela era dezenas de vezes melhor. Eu sei bem disso.·.

Fiquei observando meu pai desviar o olhar para o longínquo. Ele parecia pensar em algo, algo que estava fora de minha capacidade de compreensão. Quem visse o sentimento com qual falava sobre minha mãe e a forma como trata Abby e a mim, imaginaria que ele sempre nos amou. Mas, se for assim, então por que? Por que não aparecia ou enviava notícias? Por que nunca antes nos procurou? Recordei-me de quando ele se foi. Toda a noite sentava-me no sofá, e o aguardava chegar do trabalho, até adormecer. Então, Rick me pegava no colo e levava-me para a cama, eu despertava e conversávamos um pouco. Mas, um dia ele não chegou para conversarmos e no dia seguinte ele também não apareceu. Mesmo assim, e após Mamãe conversar comigo, nos dias seguintes eu o aguardava. Até o dia em que cansei de esperar.
–- Entre. – Jean disse, sinalizando a porta. Rick entrou, porém quando fui passar, ela barrou-me. – Mellany, por que não procura Rebecca e pede para que ela nos sirva fatias de bolo? Faça esse favor, sim?
Jean estava falando diferente de sua forma característica.
–- Bem... Por mim tudo bem. – respondi.
–- Ah, leve Abby com você. Ela deve estar cansada de ficar sentada. – ela aproximou-se de Abby – Não é bebê?
–- Não. – Abby respondeu, com sua sinceridade infantil, fazendo Jean soltar um riso sem jeito.
Logo entendi que Jean gostaria de falar a sós com meu pai, mas sobre o que?
–- Venha Abby, vamos dar uma volta.
Abby me deu a mão e voltamos a caminhar pelo corredor. Porém, assim que eles já haviam entrado, dei meia volta.
–- O que você tá fazendo? – Abby perguntou-me.
–- Shh. Preciso ouvir o que eles estão dizendo. Fique quietinha, ok?
-- Isso é muito feeeio. - Abby repreendeu-me, balançando a cabeça enquanto eu dava passos precisos e silenciosos, aproximando-me da porta da sala de Jean. Enfim, pude ouvir o que diziam.
–- Acho realmente que você deveria mandá-las para o colégio interno. Você não tem aptidão nem tempo para bancar o papai Ricardo! Criar uma relação leva tempo. – Jean disse.
–- Já fiz isso antes, cuidei de Mellany até seus 9 anos, e como você sabe, eu e Liane tivemos aquela recaída, foi daí que surgiu a Abgail. Sei que não tenho muito tempo, mas estamos nos adaptando.
–- Ela já é quase uma adulta Ricardo, você perdeu muita coisa. Essas meninas são um doce, mas não têm nada a ver com o seu estilo de vida. – ouvi um som, imaginei que fosse Jean colocando sua xícara no pires. – Você pode lhes comprar coisas caras e polir seus modos e gostos, mas elas sempre serão o que são.
–- E o que você acha que elas são?! – Rick perguntou, nervoso. – Eu não quero molda-las, só quero que sejam tão felizes quanto eram antes de... Você sabe. Não posso compensar o tempo perdido. Mas não foi culpa minha, você sabe o quanto eu sofri quando ela me deixou.
–- Só acho que como amiga de Liane eu devo defender uma coisa, e você há de concordar comigo. Você está indo contra toda a educação que elas recebem a anos.
–- E o que eu posso fazer? Foi ela quem me privou de vê-las! De repente, sem muitas explicações. Disse-me que não poderíamos seguir juntos, mal respondia minhas cartas. Nem se quer enviou-me seu novo endereço, ela me queria o mais distante possível. O que eu fiz pra merecer isso Jean? Se você sabe de algo, me diga, pois até hoje não sei! E não me diga que o motivo era minha família, pois eu larguei tudo por ela, e no fim ela me largou.
–- Fale mais baixo, elas podem te ouvir. – Jean alertou - Você sabe que ela sempre te amou, não teve ninguém além de você.
–- Agora isso não importa mais. Só o que tenho são minhas filhas e elas ficarão comigo e ponto final.
–- Bom, você quem sabe. Só saiba que se precisar de ajuda, estarei aqui. Vamos mudar de assunto, elas podem estar voltando.
Não consegui imaginar minha mãe tendo atitudes como essas. De tudo isso, só pude concluir que haviam muitas coisas que ficaram mal resolvidas. Amores separados que não se dissolveram com o passar dos anos. Não era como um divórcio qualquer.

****

Já no carro, Abby estava adormecida no banco de trás, quando encostei minha cabeça na janela. Permaneci admirando as árvores que formavam uma paisagem turva lá fora, acabei adormecendo e tive um sonho estranho. Uma mulher de cabelos lisos e escuros estava de costas em uma sacada, admirando o mar, quando uma mão masculina tocou seu ombro e então a mulher descansou seu rosto na mão do homem.. “Achei que não viesse.”, ela lhe disse. “Perdoe-me, prossigo em meus deveres, tente entender”, ele respondeu. Ela virou-se e encarou o homem que a todo o momento estava de costas para minha visão. Era uma bela mulher, de verdade. Ela acariciou-lhe o rosto com o dorso de sua mão.
–- Mellany? Vamos? – despertei com o chamado de meu pai.
Naquela noite fiquei sabendo que tia Amanda viajara. Nem eu, nem meu pai éramos bons na cozinha, então o jeito foi pedir o jantar. Após comermos, Rick sugeriu que fossemos á uma doceria que havia perto de casa. De prontidão imaginei a qual ele se referia e neguei a oferta. Aquele homem convencido era a última coisa que eu desejaria ver! Decidimos assistir a uma partida de vôlei na TV, Abby logo adormeceu novamente, seguida por mim e finalmente por Rick.

Acordei pela manhã com o toque de meu celular, era Andrew.
–- Mellany? Como você está? – Andy me chamando de Mellany? A coisa tava feia.
–- Bem, que bom que você me ligou, se não todos aqui em casa teríamos nos atrasado. O que aconteceu? – perguntei.
–- Hmm... Nada. É que você ficou de me ligar assim que chegasse, esqueceu? – De fato eu havia esquecido.
–- Desculpe amor, sério. Ontem foi um dia muito corrido...
–- Ok. – Andrew cortou-me. – Conseguiu uma carona?
–- Sim. Foi tudo bem, e você? Melhorou? – perguntei, referindo-me ao mal estar que Andrew tivera na quadra.
–- Estou ótimo, você também parece estar. Com quem foi embora ontem?
–- Com o meu pai, por que? – A voz de Andy sinalizava que algo não ia realmente bem. – Ele conseguiu sair mais cedo da reunião e aproveitou para me buscar.
–- Que bom. Me procure na entrada, precisamos conversar. – “Precisamos conversar” a frase que te dá dor no estômago.
Assenti e desligamos.
–- O que foi? – Rick perguntou-me.
–- Também gostaria de saber... - respondi confusa, dando de ombros.
·.
Mais tarde, Rick deixou-me no colégio. Fui direto rumo a quadra procurar por Andrew, eu não conseguiria prestar atenção em nada se não soubesse logo o que havia acontecido para ele estar tão frio no telefone.
–- Hey! – Dei um grito da arquibancada, tentando chamar atenção dos garotos que corriam na quadra. – Alguém viu o Andrew?
–- Ele está no ginásio! – um deles respondeu-me, após secar-se com uma toalha que estava em seu pescoço. – Se eu fosse você, não iria lá. O treinador tá o cão!
–- Deixa. – eu disse – Com esse daí eu já to acostumada.
E estava mesmo, o treinador Carter fora meu técnico de vôlei quando eu ainda jogava. Era um homem frustrado e solitário que descontava suas infelicidades nos alunos. Quanto melhor você fosse, mais gritos recebiam.

Logo que cheguei no ginásio, avistei Andrew, Daniel e os demais, realizando um circuito cronometrado. Andrew avistou-me também e assim que terminou, veio em minha direção.
–- Você está com tempo? – ele perguntou, depois virou uma garrafa de água na boca.
–- Bom dia pro você também. Sim, agora seria minha aula de Geografia, mas ele faltou. O que foi?
–- Que história é essa de aquele cara ser seu professor agora? E por que você não me contou que ele te deu carona até o hospital?
Andrew me encarava com olhares acusadores, enquanto eu permaneci inerte, apenas imaginando, por que Luna havia lhe contado isso? E será que realmente fora Luna? Se não fora, quem mais saberia?


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Notas finais do capítulo

Enfim aqui novamente! Já voltei a responde-los normalmente. Espero que gostem. Beijos! ♥