Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 18
Capítulo 18 - Decodificando




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Andy estava certo em ficar furioso, mas ele estava bravo pelos motivos errados. Sim, eu não lhe contara sobre as situações com Enzo, mas não havíamos feito nada de fato.
–- Quem te contou isso?! – perguntei, sem pensar.
–- Quer dizer então que é verdade mesmo?! - Andrew rosnou. Então, puxou sua mala do banco e jogou-a no ombro.
–- Por que você está tão furioso?! - perguntei enquanto o seguia - Você está achando realmente que eu... Que eu poderia... - Não consegui terminar a frase. Olhei em volta e percebi que aparentemente ninguém havia notado nosso pequeno início de guerra.
–- Você é inacreditável! - Andrew aumentou a voz, enquanto andava em passos largos. - Mente pra mim e continua agindo como se fosse a vitima.
–- Eu não menti Andrew! Só não queria que brigássemos.
–- Ah, por favor! Mentir, omitir... Que diferença faz?! - ele voltou a andar, afastando-se de mim.
Apertei o passo e peguei no braço de Andrew.
–- Acredite em mim! Foi só uma carona, Abby estava mal. - Abby! - Ela estava conosco aquele dia. Eu jamais faria algo assim Andrew, ainda mais na presença de Abby!
–- Consegue imaginar como estou me sentindo?! - ele parou e virou-se abruptamente - O pior nem foi você pegar carona com aquele cara, o pior foi saber de tudo por Ben Milan!
O choque dessa revelação fez-me soltar Andrew e baixar as mãos, fechei-as apertando-as fortemente. O que Ben estava querendo com tudo isso? E como ele descobrira?
–- Você me conhece há mais de 10 anos. Andrew, se você acha mesmo que o magoaria. Então, termine comigo agora. - encarei-o e ele retribuiu-me o olhar, então, desviou os olhos novamente.
–- Eu conhecia você Mel, mas agora... - Andrew encarava o chão. - Agora você está diferente. Escondendo-me coisas, esquecendo-se de me ligar, não reclama mais de saudade e nem assiste aos jogos.
–- Eu errei em não lhe contar, mas não o fiz exatamente por saber qual seria sua reação. Além do mais, eu liguei várias vezes naquele dia para o seu celular e você não atendia. Só aceitei a carona porque era a única opção...
–- Ah, agora a culpa é minha?! Ultimamente nada a ver com você tem a ver comigo. – Andrew esbravejou - A questão não é sua família ou o que quer que seja. Eu simplesmente estou sendo deixado de lado Mellany. - ele deu-me as costas - Preciso ir para o chuveiro. Espero que aproveite bem seu tempo livre. - ele gritou, enquanto afastava-se de mim e entrava no vestiário masculino.

Fiquei ali, parada. Como eu o faria entender, se nem eu mesma entendia minha conexão com Enzo? Sentei-me no banco e senti uma mão tocar meu ombro.
–- Dê um tempo pra ele. – era Daniel. – Ele está de cabeça quente... Você sabe como ele é, daqui a pouco ele se acalma e vocês conversam.
–- Daniel, você sabe que ele está enganado, não é? – perguntei, sentindo algumas lágrimas virem.
–- Cara, fica de boa. Eu sei e ele também sabe. – Daniel passou o braço por cima de meus ombros, então começamos a caminhar. – Estou muito a fim de surrar o Ben, o que você acha? – ele riu.
–- Eu também, mas prefiro conversar com ele antes. Não sei como essa estória chegou nele... Eu deveria ter contado ao Andrew, mas achei que ele teria um surto de ciúmes... Fiz tudo errado.
–- O que o Ben me disse foi que ele encheu a cara em um bar e quando acordou estava com essa história na cabeça, encontrou com os caras do time, contou pra eles e eles contaram para o Andrew. O estranho é que eu não sabia que aquele cara era de beber assim...- Então, alguém havia colocado aquela história na mente de Ben. Alguém que não queria ser descoberto. – A omissão é como um remedinho pros nossos erros, sabe? Alivia, mas não cura, só faz você se sentir bem enquanto as coisas estão piorando por dentro. Já a verdade é uma injeção; Pode doer, mas é ela quem realmente cura. – Daniel disse tudo com uma voz apaziguadora que realmente confortou-me. Eu não esperava isso, tanto que fiquei em silêncio.- Tá me entendendo, ou eu to viajando? – ele perguntou, com uma voz que me fizera rir.
–- Estou! Obrigada, você é demais. Quase um Shakespeare! – Eu ri, então percebi que estava rindo e chorando ao mesmo tempo.
–- O que é isso?! – ele disse, rindo comigo. - Espere, depois converse com ele na base da sinceridade.
Daniel me fizera sentir realmente melhor, mas ainda haviam pessoas com quem eu precisava falar.
Neste momento, meu celular tocou. Era Rick. Após atendê-lo normalmente, Rick disse-me que se atrasara para me buscar.
–- Você está falando a sério ou vai dar uma “escapada” como ontem e aparecer por aqui? – perguntei.
–- É sério dessa vez. Vou me encontrar com meu corretor, ele precisa de minha assinatura na venda da casa. – ele explicou-me.
–- Mas, já venderam?! – Senti um aperto no coração só de imaginar. – Já compraram nossa casa? – Nossa casa laranja, a casa de mamãe. Era uma casa antiga e pequena, fiquei imaginando quem teria tanto gosto em comprá-la.
–- Sim, logo que saímos. Um tal de Enzo Portocallo pagou, á vista. – “O que?!” gritei em minha mente. Então Rick continuou - Melhor assim. Tenho de ir, vou me atrasar cerca de 40 minutos, já avisei á professora de Abby.
Rick desligou sem eu me despedir.
–- Daniel preciso ir. – eu disse, às pressas. – Por favor, você sabe onde o Ben está?
–- Em casa, deve estar numa ressaca das boas.
Droga!
–- E a Luna? –perguntei.
–- Na aula de inglês. É melhor você correr antes que a segunda aula comece.

Apressei-me pelas escadas, rumo á sala 17. O sinal tocou e todos os alunos saíram, tentei prestar atenção para ver se alguém me lançava olhares estranhos ou cochichavam. Pelo visto, não. Ninguém além do time e Ben sabiam da fofoca. Assim que encontrei Luna, contei-lhe sobre a briga e sobre o que Daniel havia me contado.
–- É obvio que eu não faria isso, quem mais sabia?
–- Que não foi você eu sei. Procurei-lhe exatamente para saber se você tem algum palpite.. – respondi. – Luna, alguém contou isso á Ben com um propósito Alguém muito espero que não queria ser descoberto.
–- Não tão esperto assim. Foi uma boa tentativa, mas temos como descobrir.
Ergui as sobrancelhas. Luna e suas ideias loucas.
–- Como? – indaguei.
–- Indo até a casa do Ben e perguntando á ele. – ela disse, dando de ombros.
–- Mas, Luna ele está de ressaca, talvez nem queira nos receber.
–- Ah, vai! Ele VAI nos receber. – ela deu um sorriso. – A não ser que queira que o Sr. Milan saiba da farra dele na última noite.
–- Nossa! Você é terrível, heim. – brinquei.
–- Você ainda não viu nada. – ela riu.
–- Você terá de interrogá-lo sozinha. Tenho outra coisa para pesquisar.
Pensei em contar á Luna sobre os carregadores, sobre tia Deborah, que não dava noticias há dias e como Enzo parecia se conectar e ao mesmo tempo não ter nenhuma ligação com tudo isso.
–- Vou lhe contar se descobrir algo. Prometo.
–- Ao menos conte-me sobre quem é! – ela insistiu fazendo um beiçinho. Lancei-lhe um olhar sugestivo que ela entendeu bem. – Eu sabia! Sabia que uma hora você também perceberia.
–- Você acha que não pode ter sido ele? Não sabemos nada sobre ele e mesmo assim ele parece estar em todos os lugares. Ele foi uma ótima pessoa comigo no hospital, tanto que... Bom, você sabe. Mas, depois disso, a presença dele tem me causado arrepios.
–- Minha mãe disse que quando o viu pela primeira vez seu corpo se arrepiou completamente. Meu pai que não gostou muito disso.
Rimos juntas.
–- Imagino. Ele sabe muito bem como ser uma pessoa muito envolvente, mas... Ele é um mistério. - concluí
Luna concordou com um aceno de cabeça.
–- Só sabemos que ele é chegado num açúcar e em você.
–- Idiota! – brinquei. - Não sei se é por que estou nervosa, mas meu pensamento está voando. Não lhe contei, mas recebi rosas há uns dias. Com certeza não foi o Andrew, e o que tinha no bolo que Enzo me dera? Uma rosa! – Luna ouvia tudo em silêncio. - O bolo, a carona, as flores, as aulas, a conversa com meu pai.
–- Conversa com o seu pai? – Luna indagou surpresa.
–- Sim, ontem eles se encontraram no estacionamento e aqui meu pai o acha o rapaz mas respeitoso do mundo. E você não sabe da última. – Luna esperou-me prosseguir. – Ele comprou a casa de minha mãe!
–- Não acredito! Mas, como seu pai pode vendê-la? Ele tem esse direito?! – ela falou alto.
–- Sim, eu não sabia antes, mas aquela casa sempre esteve no nome de Rick. Ele a comprou para minha mãe... – Senti uma leve tristeza me abater, recordando-me do dia em que Mamãe me contara, com um olhar sonhador sobre o dia da compra da casa. Ela contara-me que após o casamento, quando procuravam uma casa, ela apaixonou-se de cara por aquela velha casa com ar de chalé cercado por árvores, próxima ao centro, porém em uma rua quase inabitada. Nossa vizinha mais próxima era tia Deborah e depois Luna.
–- O que você acha que ele quer com aquela casa? – Luna disse, despertando-me de minhas lembranças. - Um homem tão rico como ele aparenta ser, não teria interesse em uma casa antiga e simples.
–- Não sei, ainda. Preciso saber quem é Enzo, e eu vou descobrir. Algo me diz que tudo isso não é uma coincidência Luna.
–- Eu sempre soube. Meu sexto sentido não falha. Mel, cuidado. Esse cara já deixa minha aura perturbada e mal o conhecemos há um mês.
O sinal soou nos fazendo olhar para cima, de onde vinha a sirene.
–- Tenho que ir, te ligo assim que souber de algo.
–- Espere. Como você está? O Andrew estava a ponto de explodir quando o vi.
–- Não sei... Estou brava comigo mesma, talvez mais do que o Andy. Me sinto ridícula só de lembrar em como deixei Enzo me envolveu daquela maneira...
–- Ainda mais você, que sempre foi tão centrada. Encontrar alguém que te deixe assim de guarda baixa me deixa de boca aberta.
Ela estava certa. O que Enzo me fazia sentir só com o olhar era algo quase sobrenatural. Apenas respondi com um aceno de cabeça.
Nos despedimos e segui para minha aula de Geografia.

O resto da manhã se seguiu calmamente para os outros alunos, enquanto cada vez mais em mim crescia um nervosismo. Parte de mim estava infeliz por brigar com Andrew, o medo de que ele me deixasse vinha, mas eu o afastava. Tentei não me deixar entristecer tanto. Eu faria o que Daniel disse, aguardaria Andrew se acalmar para conversarmos. Coloquei toda minha esperança no pensamento de que ele, após tantos anos, conheceria minha verdadeira essência. Aquela que jamais o magoaria.
A outra parte de mim não parava de pensar em como seria ter aulas com Enzo estando com essas dúvidas em mente. Havia coisas que eu não podia afirmar, mas a rosa no bolo e aquele buquê de rosas, sem dúvidas estavam ligados. O bolo, a carona, as flores, as aulas, a conversa com meu pai e agora minha casa! Fui percebendo o quanto em tão pouco tempo esse cara, que eu só sabia o nome, havia adentrado em minha vida.
Tantos conflitos em minha mente, e só uma certeza: a de que estava mais do que na hora de Enzo ser decodificado, e era isso que eu faria.


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Notas finais do capítulo

Quem tem o primeiro dia de aula daqui a uma hora e tava escrevendo? Eeeu D: Pressinto que passarei o dia com olheiras. Beeeijos ♥