E o Amargo Vira Doce escrita por Iulia


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Olá. Eu realmente sinto muito pela demora, mas agora estou comprometida em acabar isso logo. E de repente, isso é até uma promessa. Nesse já há toda aquela confusão dos combates na Capital, mas ainda não é tudo. Com uma pequena parte extra sobre isso, no próximo eles já vão estar na Mansão do Snow e toda essa treta já vai ter acabado.



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Eu me sinto como se isso fosse animador. Se por algum momento, enquanto eu entrava nos Jogos havia uma pontinha de entusiasmo, isso me parece exatamente como tal. Há uma certa empolgação sádica pairando em algum lugar da minha mente.

Como pouco. Durante o período de tempo que os outros ingerem um conjunto estranho de alimentos, afio minhas facas novamente me dou conta da beleza que há em simplesmente não saber o que fazer. Como uma pessoa do 2 que não possui a força física característica de lá, precisei de outros atributos que pudessem compensar. Meu intelecto me ajudou até agora, mas, pela primeira vez, não sei o que fazer.

Cato acaba de comer sua porção com sua expressão de raiva suprema e se separa dos outros, indo ficar incessantemente furioso num canto.

– Seria doentio demais dizer que eu morreria feliz se o fizesse matando um Pacificador? – pergunto, me aproximando.

– Seria idiota demais – ele resmunga, mexendo nas suas armas. Não posso evitar rir, isso soa exatamente como o tipo de coisa que eu falaria.

– Cato, eu definitivamente amo você – retruco, me sentando ao seu lado.

Não é o tipo de coisa que se espera ouvir depois de falar uma grosseria dessas, então ele é pego de surpresa. Com um pouco de culpa, sorri.

– Você é a pessoa mais bonita e a mais corajosa que eu conheço – continuo.

– Não pode estar falando isso porque pensa que vai morrer de verdade – Cato fala, levemente gentil, quase tragável sorrindo.

– Eu não. – Me defendo, nessa lamentável discussão amenizada por sorrisos culpados. – Eu só estou expressando minha gratidão. Você sabe, eu já teria morrido umas catorze vezes nos últimos anos se não fosse você, então...

– Eu sei – ele me interrompe, dispensando o agradecimento erguendo uma mão. – Só que você não vai morrer Clove.

Soa quase como uma promessa. Eu só confio nele.

– Eu aposto que não. Aposto que você vai me salvar pra sempre, loiro.

Cato e eu nos encaramos por um tempo e enquanto o beijo, me pergunto qual é a minha real intenção, o objetivo interno que eu não estou conseguindo tocar. São como balões. E eles estão no teto, acima de minha cabeça.

Se eu tocá-los, saberei se espero alcançar minha promessa de futuro perfeito e crianças gordinhas ou se eu realmente não me importo.

Os balões estão muito altos até estarmos aguardando nossa vez para sermos ocultados por Tigris, quando Cato coloca algo na minha mão.

– A Capital deu uma aliança pra gente, mas esse era da minha mãe.

É um anel dourado. Uma pequena pedra verde está entalhada no centro. É uma dessas coisas que parecem tão bonitas que contrastam com tudo que há de ruim.

– É lindo. Obrigada, loiro – falo, alternando meu olhar entre ele e a pequena jóia parada na minha mão.

– Ela era legal antes de enlouquecer. E verde combina com você.

– Eu sei – sorrio. Não há dramatização aqui, mas nessa crueza, há mais sentimento do que tudo que eu poderia citar. Coloco o anel no anelar da minha mão direita.

– De repente isso te dá sorte. Quando for ter as crianças, você deve se lembrar que não pode desistir quando há pessoas que precisam de você.

Faço que sim com a cabeça, sendo pega de surpresa por suas palavras. Permaneço estarrecida, pensando sobre o modo como Cato só joga essas coisas na minha direção e me deixa pensado no que ele quis dizer.

– Eu preciso de você também, Clove. Não faça nenhuma besteira – então ele se levanta, porque eu gosto dele exatamente por não sentimentalizar demais.

– Mas você se arrependeu, Cato? – pergunto finalmente, segurando sua mão. – Ou não entendeu que eu não vou ter filhos com outra pessoa?

– Claro que você não vai. Não te dei esse anel pra ver você dando a mão pra outro cara.

Esse garoto é arrogante como o demônio, mas isso coloca um fim no meu questionamento. Com tudo isso, Cato selou uma promessa de que vamos ter filhos para que eu nunca desista da vida olhando para esse anel. Então isso advém do ponto em que nós dois ficamos vivos.

Ele me entregou os balões. Eu só não sei se carreiristas do 2 merecem um final feliz como esse prometido.

Nenhum de nós fala nada como despedida. Katniss confessou sua mentira, mas não enxergo com muita clareza o que ela quer fazer daqui em diante. Divididos em quatro grupos, ouço o Caçador questionar se Cato e eu não seríamos reconhecíveis se fôssemos juntos. Eu ainda não arranjei nenhum modo de investigar os meios que Cato usou pra fazer Gale prometer que não iria me deixar morrer se ele o fizesse, mas risco “amizade” da minha lista. Cato continua pondo o diabo nos olhos quando olha pra Gale.

– Sem chance – ele diz, quase ameaçadoramente. É constrangedor que eu sinta como se tivesse de lembrá-lo que, apesar de ele ter feito isso a vida toda, agora ele não é o líder.

– Vocês ficam juntos o tempo todo. Se qualquer um ver uma garota pequena do lado de um cara enorme vão atacá-los que nem fizeram com o sósia do Peeta – o garoto do 12 argumenta, com seu habitual tom de incredulidade e aborrecimento com a idiotice alheia.

– A Clove vai comigo. Nós não vamos ser mortos por pessoas armadas com sapatos de salto.

A coragem estúpida de Cato também me mata de raiva, mas a razão inquestionável de Gale enfia flechas por todo o meu corpo enquanto escuto sua voz.

– Eu vou com o Cato. Se houver algum problema, dou a mão para o Odair.

Logo em seguida, Cressida e Pollux saem. Esperando dar o tempo para o segundo grupo partir, cutuco as costas de Cato com o cotovelo e aponto para Tigris com a cabeça. Ele me olha como se eu estivesse sendo inconveniente e caminha até ela.

– Obrigado – ele fala, estendendo a mão. Tigris a aperta emitindo um ronronar. Com uma expressão de estranheza enquanto acena com a cabeça, Cato se afasta olhando pra mim como seu típico olhar de “se vira aí”.

– Nós temos uma dívida enorme com você. Se precisar de qualquer coisa, a única coisa digna a se fazer vai ser te ajudar. Eu sinto muito – hesito, pensando no que dizer daqui em diante – por todos os problemas que te causamos.

Ela me encara longamente com seus indecifráveis olhos de felino e então finalmente fala algo:

– Eu torci por você – e essa é uma ótima resposta. Sorrio e vou me posicionar perto da porta, para que outros possam se despedir.

Assim que o segundo grupo o faz e sai, Finnick vai falar com a ex estilista. Agora só resta nós três e Peeta. Sinto algo estranho, uma espécie de alerta, quando penso na proposta de deixar um telessequestrado sozinho, independente do quão bem ele pareça estar. Mas ele sorri pra mim enquanto o fito, então aceito que não há mais nada a se fazer e sorrio de volta.

Há um grosso cachecol em volta do meu pescoço e uma espécie de touca estilosa por cima da peruca vermelha. Os ajusto de modo que ocultem ainda mais minhas feições e dou um braço para Finnick, me olhando pacientemente. Depois de dar um tapinha nas costas de Cato, que se convenceu em deixar Finnick entre nós, falo para Peeta que estamos esperando ele para uma visita no 2 mais tarde.

Então eu saio.

O tempo é nosso aliado. Está escuro e a visibilidade não podia ser pior. Você não pode ver quase nada, e isso também implica que não podemos ver os outros, mas se só seguirmos a multidão como é pressuposto que eles façam, a chance de nos perdermos é mínima.

Pessoas da Capital são tão exageradas que seus ganidos e lamentações me fazem lembrar dos suspiros finais dos tributos na arena. Suas crianças gritam por brinquedos irrecuperáveis e refeições perdidas com uma persistência detestável. No entanto, a atmosfera ainda é a que se espera de uma guerra, independentemente dos cabelos verdes dos civis.

Finnick sussurra que avistou o pessoal do 12. Entramos por um beco e os uniformes brancos deles é tudo o que vejo por uns instantes. Minha vida se resume em um vislumbre a todos as situações em que nos encontramos.

– Fiquem à direita! – um Pacificador ordena. Ignorando a tensão nos meus músculos e a súbita pontada de dor viva na minha cicatriz que nunca me deixa esquecer o que eles me devem, faço obedientemente o que eles pedem como todos os outros.

– Está tudo ok, não é? - Finnick indaga imparcialmente, sem deixar resquícios que possam nos incriminar como os procurados nacionais.

– Aham.

– Então nós estamos orgulhosos de você.

Claro que isso é uma espécie de mentira, porque estou apertando o braço de Odair querendo que fosse a mão de Cato com todo o fervor que ainda possuo enquanto andamos por esses demônios. Mas Finnick age como se não soubesse que eu sei que ele sabe exatamente o quão perturbada eu estou.

Interrompendo minha filosofia escapatória, inicia-se um tiroteio. As pessoas caindo ao redor de nós mancham a neve de sangue e forma uma visão quase bonita se não fosse tão trágica enquanto nos arrastamos para baixo do telhado de uma loja. Os ruídos dos outros e as balas não me deixam ouvir o que Finnick está tão afobadamente dizendo, como se gritasse com veementemente com alguém.

Identificando os rebeldes acima da minha cabeça matando inocentes como se pisam em formigas, identifico também a voz de Cato, me mandando dizer se não é mais inteligente darmos um jeito de subir e nos juntarmos aos péssimos atiradores lá de cima.

– Não vão nos proteger nem nada assim – argumento, tentando falar mais alto do que todos os barulhos ao meu redor, sentindo todos esses gritos agonizantes me puxarem de volta para os pesadelos. Esse com certeza deve ser a essência de uma parte do inferno. Os rostos afundados na neve, o sangue que você derrubou uma vez, a agonia que você ajudou a criar. De repente é a minha parte do inferno.

– Vão parar de querer matar a gente, ao menos!

– Eles querem os Pacificadores, Cato! – grito de novo, exasperada pela sua persistência em me contrariar até nessa situação.

– E eles só têm o que querem, mesmo. Não há até bebês mortos, de qualquer jeito.

Interrompendo nossa discussão inoportuna, Finnick aponta Gale e Katniss correndo entre cartazes coloridos. Claro que nos levantamos e os seguimos, porque de fato não temos nenhum plano. De repente, eles param. Me aproximo para ver um Pacificador, caído rente a um muro. Não nos reconhecendo, ele clama por ajuda.

É conflitante notar os olhares apreensivos de todos em minha direção e é ainda mais faiscante ter aquela arma empurrada em minhas mãos por ninguém mais que Gale. Mas há alguma coisa me dizendo que não há melhor lugar do que entre a selvageria para uma fera emergir. Pessoas se esqueceram do que é serem humanos e são só bichos. Para que não aconteça o mesmo comigo, não tenho outra opção a não ser não aceitar a arma.

A minha essência é forte demais para que eu possa controlá-la e eu sinto o cheiro do caminho de destruição que eu trilharia se matasse mais essa pessoa exatamente aqui, em meio ao sangue e a tudo o que foi meu melhor amigo por um longo tempo.

Eu só me livro desses pensamentos.

Continuamos correndo até uma interseção, onde o Caçador atira em outro Pacificador e pega sua arma. Cato simplesmente decidiu que há alguma vantagem em se revelar, mas todos os outros acham que devemos continuar disfarçados. Não há tempo para discutirmos planos que nunca dariam certo e tampouco eu sei o que pensar sobre as duas linhas de raciocínio, mas prendo sua mão quando ele a dirige ao pescoço para retirar os apetrechos.

– Se você morrer por um Pacificador, não tem ideia do demônio que vai estar soltando.

Então nós dois corremos juntos até o outro quarteirão.


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Notas finais do capítulo

Até mais c:



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