E o Amargo Vira Doce escrita por Iulia


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Sagazmente postando só dois dias depois, sendo pura eficácia rsrsrs mds. Ainda que seja curto, é quase o antepenúltimo, então tenho que agilizar. Espero que esteja tragável c:



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Cato de fato se dá conta do quão idiota sua ideia soaria se fosse aplicada aqui.

Há um casulo ativo na nossa frente e ele solta um vapor que parece deixar as pessoas em carne viva. Junto com a neve, agora de fato não há nada que você possa ver além do que está exatamente no seu nariz. No meu caso, só há neve.

Não há visibilidade e se você for generoso, também pode fingir que não há som e ignorar os disparos e os gritos e as ordens e todos os outros sons do caos. Mas é claro que ignorar qualquer coisa aqui é um convite para a morte e uma vez que já o recusei demais, não seria de bom tom aceitá-lo agora, a esse ponto da minha vida no que seria uma morte definitivamente não ao estilo do Distrito 2, sem nenhuma glória, sem nenhum reconhecimento.

Então Cato vem para o meu lado jogando um revólver na minha mão. O posiciono apressadamente e sem me dar ao luxo de fechar os olhos, acerto quem quer se mova. Ser racional não é mais uma opção.

Ajudando a aumentar a pilha de mortos indignos, finalmente chegamos à última esquina. Estou ofegante agora, lutando para se lembrar que isso não é glorioso como me ensinaram em casa. Isso é desumano, selvagem, irracional e lamentavelmente sádico.

Minha brecha para pensar dura pouco. No meio do caminho para o outro quarteirão, eu percebo esse outro casulo ativo e recuo rapidamente, agarrando os outros pelas roupas. Ele o ilumina intensamente e as pessoas pegas por ele são mortas medonhamente. O sangue espirrando de seus corpos como jatos d’água presos por um só dedo, a agonia condicionada a eles é indescritível. Suas expressões, suas armas caindo. Seus corpos ao chão em um minuto.

Estou tendendo a querer passar um tempo aqui, me recuperando bem embaixo dessa escada de tudo o que vi, mas provavelmente não me levantaria nunca mais e todos os outros saem correndo e me puxando para deslizar docemente em restos ensanguentados do que um dia foram alegrias, aborrecimentos e amores.

Mas não estou absorta o suficiente para não empurrar Cato e me jogar imediatamente junto com os outros para o chão. Sendo como eles, notamos o modo cruel com o qual essas pessoas embotadas estão tratando os mortos. Minha mão paira no sangue de alguém, mas mortos não sentem nojo e tampouco faz diferença a quem pertence o sangue.

Assim que eles saem, corremos.

Paro para respirar no quarteirão seguinte. Olhando ao redor, há mais cidadãos acessados do que soldados. Mas, como da última vez, não é o que eu vejo que me alerta, mas o que escuto. Há algo se quebrando. Seja o que for, tem o poder de quebrar todos os nós, como se uma marreta descesse sobre a Terra e a partisse ao meio.

Um tempo depois, descubro que a metáfora que usei foi quase literal. Esse casulo se trata de uma fenda aberta no meio do quarteirão.

Então eu simplesmente corro para onde batem meus olhos.

Tentando achar Cato, descubro que talvez vá acabar caindo nesse abismo, porque não consigo parar de fazer minhas botas deslizarem para que possam me levar pra longe. Mas como sempre, é na quase morte que amo Cato mais do que nunca, porque ele está me levando com ele para a outra interseção.

Ofegante, aperto a mão de Finnick, caído exatamente ao meu lado, nós três encostados em uma parede de tijolos.

Não tenho forças pra tentar esconder minha identidade de novo. A peruca caiu na fuga e não me resta nada além do gorro que não sustenta meus cabelos e nem esconde meu rosto. E o cachecol me mataria sufocada agora, de modo que o jogo pra longe para abraçar Cato e começar a chorar como o bebê que eu sou.

Mas eles matam bebês aqui também e não tenho muito tempo para tomar consciência de que esses apetrechos jogados fora foram o pior erro de toda a minha vida. O único mortal.

Um deles aparece de novo.

Encurralados como ratinhos, é claro que um de nós vai morrer. E pelo olhar por trás do capacete dele, eu me dou conta de quem ele pretende que pertença o sangue que vai manchar o ladrilho.

É quando eu empurro Cato para o chão com uma força que eu não tenho. E vejo claramente a bala acertar minhas costelas.

*******

Eu quero dormir.

Se esse é o sono eterno, não faz diferença. Parece exatamente como o sono normal. Tudo está desacelerando, os sons soam distantes.

Eu não acho que Cato tenha demorado sequer um minuto pra puxar o seu revólver e matar o Pacificador que atirou em mim. Mas parece isso. Eu o vejo gritar e se levantar para fazer seja lá o que fosse para causar dor à pessoa, mas Finnick o segura e aponta pra mim.

Com uma série de negações de partir o coração, ele se joga ao meu lado. Cato chora. Eu preferia nunca ter visto isso.

– Não fecha os olhos.

A bala entrou e levou o ar dos meus pulmões como se fosse um palito furando um balão. Mas eu reúno milagrosamente o que resta.

– Não vou.

– Busca ajuda! – ele grita de repente, para Finnick. – Traga alguém pra salvar ela, corre imbecil!

Odair sai e descubro que manter meus olhos abertos dói muito.

– Por favor, Clove, abre os olhos! – eu acho que ele me sacudiria se não tivesse o resto de bom senso que eu o ensinei.

Falar requer esforço demais. Faço que sim com a cabeça e choro porque ele está chorando.

– Eu vou salvar você. Você disse que se alguém achasse que você ia morrer, você ia fazer questão de não morrer. Só não fecha os olhos.

Cato não fala mais nada. Tapa seu rosto, grita. Ele só chora como se estivesse sem chão, como se não soubesse o que dizer. Ele está perdido.

E essa é uma trágica maneira de se levar o resto da vida. Então seguro uma de suas mãos:

– Cato. Eu não vou morrer.


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Notas finais do capítulo

Realizei meu sonho de escrever a reação do Cato na morte da Clove. Ainda que ela tecnicamente não tenha morrido, foi o momento mais importante da minha vida, muita emoção rs. Enfim. Obrigada por lerem e até o próximo, espero que seja logo '8'



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