Cassie

Cheguei atrasada para a aula, mas como tinha avisado, não tive problemas. Prestei atenção nos primeiros momentos, mas logo minha mente viajou para a imagem do garoto desconhecido. Ele parecia transtornado, o que me assustava. Mas, ao mesmo tempo, despertava em mim uma angústia profunda. Seus olhos pareciam tão sofridos, torturados, até. A aula acabou e eu nem vi, e já era hora de voltar para casa. Como sempre acontecia, voltei com Anita à pé, e mesmo sem querer confirmar, acabei procurando por ele no estacionamento.

"Posso saber o que a senhorita tanto procura?" perguntou Anita, me tirando da distração.

"Procurando nada, sua espanhola, louca, chata!" ela riu, e abraçou meus ombros, e seguimos para casa.

No caminho conversamos muito,eu lhe contei sobre o garoto, mas omiti detalhes como o fato dele ter me chamado de Katherine e sobre minhas opiniões sobre ele. Ela morava uma rua antes da minha, e depois de deixá-la em casa, corri para a minha. Ao chegar em casa, beijei minha avó, que me esperava na cozinha, e corri para tomar um banho rápido. Vesti uma calça moletom preta e uma regata branca. Prendi os cabelos em um coque frouxo e fui almoçar.

Durante o almoço, conversamos sobre nossos dias e rimos com a discussão que minha avó havia tido com o vizinho. Depois de comer, fomos para a sala, onde minha avó sentou no sofá e eu deitei a cabeça e seu colo. Ela ficou acariciando meus cabelos.

"E então. Vai me contar o que tanto te incomoda ou vamos ficar fingindo que nada aconteceu?" questiono

Fiquei meio surpresa, mas logo depois ri. Minha avó era realmente especial.

"A senhora é impossível..." comentei. "Hoje eu estava correndo para a sala, tropecei e um garoto me ajudou. Mas ele me chamou de Katherine, e parecia atordoado"

Ela me encarava, prestando atenção a cada palavra que eu dizia.

"Mas, o que realmente me deixou confusa foi seu olhar. Ele parecia sofrer. Muito. Fiquei angustiada."

"Quantos anos tem esse garoto?"

"Não sei, vó. Uns 18, sei lá. Mas seus olhos pareciam tão mais velhos..."

"Ô, meu amor. Vai ver essa Katherine foi alguém importante para ele."

"É vó. Pode ser." suspirei "Mas nada me tira da cabeça seu olhar, ou o jeito que eu me senti com ele."

"Hum, acho que alguém está se apaixonando..."

Levantei, surpresa.

"Ah, vó. Por favor, né. Não, mesmo." disse, meio brava "Acho melhor ir fazer meus deveres. Tchau."

Subi as escadas correndo, não sem antes ouvir sua gargalhada. Minha avó adorava esses comentários inusitados. Puff.

Sentei em minha cama e comecei as tarefas. Não eram muitas, por isso, em menos de uma hora, terminei. Me senti sonolenta, e resolvi dormir um pouco. Pela hora, minha avó deveria estar no telefone com sua irmã. Aconcheguei-me na cama e em poucos minutos cai no sono.

SONHO

"Eu corria num lugar espaçoso, parecia um parque, com muitas árvores, grama e flores, um lugar realmente bonito. Acho que estava brincando com alguém, pois me sentia feliz. Usava um vestido diferente, longo, rosa bem claro. Corri mais rápido, eu ria alto e ouvia gargalhadas atrás de mim. Era uma risada gostosa, rouca e bonita. Curiosa, me virei para trás, para ver a quem pertencia tão bela voz. Parei, cansada e senti braços fortes rodeando minha cintura. Ele me pegou e me girou, fazendo soltar um gritinho de felicidade.

"Te peguei!" ele disse, fazendo-me olhar para seu rosto. E foi uma grande surpresa."

Acordei meio assustada. Ah, qual é. Eu o conhecia há pouquíssimas horas. Nem sabia seu nome. Não podia estar sonhando com ele.

Irritada, joguei-me novamente na cama, decidida a dormir. Mas não consegui. Ainda estava incomodada. E não só pelo fato de ter sonhado com ele, e sim por que aquele sonho não parecia um sonho. Parecia uma memória. Apesar do desconforto, o sono falou mais alto, e pouco depois voltei a dormir.