A Distância De Um Beijo escrita por ThiagoRocha


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Oie?!?!



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Capítulo XIII


POV Ju



“A rua estava deserta, exceto pela minha presença e do Gil que andávamos tranqüilamente sobre a fraca luz da lua. A rua terminava em um cais, onde barcos e lanchas permaneciam ancorados. Eu não fazia a mínima idéia de que lugar era aquele, mas resolvi continuar observando a vista enquanto nos aproximávamos do mar.

Nos dois entrelaçamos nossas mãos e sentamo-nos na beira do cais para que pudéssemos tocar a água com a ponta dos pés.

­—Então, por que você me trouxe até aqui? — eu perguntei.

Pra gente conversar, ter um momento especial… só nosso — ele falou tentando fazer soar ternamente.

— Aqui é lindo — digo admirando o horizonte.

— É mesmo — ele sorriu — Minha mãe que me apresentou esse lugar. Ela vinha com o meu pai aqui pra passar o tempo. Agora, aqui vai ser o nosso lugar.

Ele sorriu e me deu um beijo.

— Não podia ser mais perfeito — eu senti meu coração acelerar — Sabe, Gil. Às vezes, eu fico feliz por tudo que aconteceu na minha vida. Tipo, se a Lia e o Dinho não tivessem fugido juntos, talvez a gente não tivesse se aproximado tanto e nos tornado amigos. E conseqüentemente, nós não estaríamos aqui agora, vivendo esse momento.

— Talvez seja o que as pessoas falam que é destino — um sorriso suave vagueia pela superfície do seu rosto, pousando em seus olhos.

Apoio a minha cabeça no seu ombro e ficamos abraçados contemplando a vista por um longo tempo.

— O que tem para comer? — aponto com os olhos para a cesta de piquenique ao lado dele.

Você tá brincando? — ele bufa de mentirinha — Só você mesmo pra estragar o clima — sorri.

Ele se aproxima e encosta seus lábios nos meus.

— Tudo bem, faça as honras — ele fala e me passa a cesta.

— Tá, vamos ver o que temos — digo enfiando a mão dentro da cesta exagerando um pouco no gestual — Hm, sanduíches… suco, uma toalha quadriculada, pão de queijo, bolo. É, parece que você pensou em tudo — lanço um olhar sorridente pra ele.

— Claro, tem que estar tudo perfeito.

— Só é estranho fazer um piquenique no cais — falo por alto — A maioria das pessoas fazem nos parques, praças, esse tipo de lugares.

Ele inclina a cabeça, lança-me um olhar cético, erguendo as sobrancelhas.

— E quem disse que nós precisamos ser iguais a todo mundo? — ele diz.

—Hm.. Boa resposta — falo sorrindo.

Lanchamos e não trocamos uma mísera palavra sequer, naquele momento não era preciso ser dito nada. Palavras não eram necessárias, elas eram apenas suplementos.

Deitamos um ao lado do outro, olhando para o céu e o brilho das estrelas.

As nuvens se agruparam e o ar está pesado com a possibilidade de uma rara chuva de verão.

 Gil segurou a minha mão e eu me viro para encará-lo. Trocamos rápidos olhares investigativos, cada um de nós imaginando o que viria acontecer, surpresos diante da facilidade de se sentir completo – e é apenas um momento, quase indescritível, como quando você acorda e a luz ofusca sua visão.

— Ju, eu preciso te falar uma coisa — ele quase sussurrou.

— O quê? —digo, tentando não parecer tão entorpecida quanto estou.

— Eu não sei como dizer — havia uma urgência no seu olhar — Eu tenho pensado muito nisso, desde que eu vi a possibilidade de te perder, não sei se você gosta de mim do jeito que eu gosto de você… — dá para sentir a dor na sua voz.

— Eu gosto — e, sem pensar, acrescento — Muito — e agora não consigo mais respirar. Uma situação que só piora pelos lábios que agora pressionam os meus.

Ele me olha curioso assim que paramos o beijo. E eu devo estar com uma expressão estranha por que ele me questiona:

— Você está bem? — pergunta. Suas mãos afagam meu braço e ele olha para mim.

— Sim — respondo ao mesmo tempo em que me pergunto como as pessoas conseguem respirar em situações como esta. — Estou bem.

—Você está bem — afirma, olhando para mim com a maior cara de bobo.

Eu apenas sorrio, adorava aquele riso bobo e o brilho no olhar dele.

—Você é linda sabia? — então suas mãos estão no meu rosto — Eu nunca imaginei me sentir assim…

Não estou mais ouvindo nada. Estou apenas imersa no seu olhar.

— Eu simplesmente não sei descrever o que está acontecendo comigo — ele disse enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha — Eu me sinto capaz de enfrentar qualquer coisa, qualquer um, estando ao seu lado…

— Gil, você tá me deixando nervosa…

— Me deixa terminar… — sorri e pressiona o dedo indicador contra os meus lábios, deixa-o lá até meu coração ficar bastante acelerado — Ju, eu te amo…

E naquele momento sinto meu coração parar por um milésimo de segundo, não sabia que o amor era assim, como se nos transformasse em brilho.

— Eu.. Eu tam..  — tento terminar a frase, mas algo dentro de mim impede.

Busco forças pra gritar aos quatros ventos que sentia o mesmo, mas infelizmente essa força não vem.

E de repente não era mais Gil que estava me encarando, era como se ele houvesse sumido.

— Gil… Gil — suplico com um grito emudecido.

Era outra face que agora se encontrava a minha frente, o fantasma de Dinho, me atormentando mais uma vez.

Uma pequena lágrima escorria dos meus olhos e descia até a ponta do meu rosto. Limpo as lágrimas do rosto com a intenção de que Gil não as visse, mas logo que ele percebe sua face se entristece.

— A última coisa que eu queria era te magoar — era a voz de Dinho que ecoava na minha cabeça.

Forço a minha mente a voltar à realidade, e aos poucos o rosto de Dinho vai sumindo. E de repente ali está Gil de novo, ao meu lado, sem entender e com uma expressão angustiada. Ele demora o que parece cerca de uma eternidade para fazer menção de que vai falar.

Sei bem o que ele vai perguntar e então faço a única coisa em que consigo pensar para impedir que a pergunta saia de sua boca: beijo-o. Quer dizer, beijo-o de verdade, como nunca havia o beijado ou qualquer outro. E não há nada de doce e suave nesse gesto.

Quando nos separamos eu olho para o horizonte e vejo que a lua parece mais clara e brilhante nessa noite. Em seguida me viro e a última coisa que vejo é o rosto angelical daquele garoto sob a luz fraca do luar.”



Sinto meu corpo em uma superfície confortável e macia, abro os meus olhos e minha visão estava embaçada, mas aos poucos os meus olhos se acostumaram à luminosidade. O quarto tinha paredes azuis e um abajur em cima do criado-mudo, além de bilhetes e presentes. Do outro lado do quarto, Gil estava sentado numa cadeira lendo uma revista.

Minha garganta estava seca e eu acabei pigarreando, e ele olhou pra mim curioso e sorriu. Ele vem até mim, e me entrega um copo de água. Bebo um gole, e me sinto melhor. Neste momento, percebo que não tenho mais agulha de soro injetada na minha veia. Fico feliz, isso deve ser um bom sinal. Logo, logo sairia desse lugar depressivo.

— Bom dia, linda — ele sorri e encosta os seus lábios nos meus.

— Bom dia — sorrio — Cadê o Bruno?

— Ele aproveitou que eu tava aqui e foi tomar um café no refeitório — ele diz — Ele não queria te deixar sozinha.

 — Por que você tá de uniforme?

— Por que eu disse pra minha mãe que ia pra escola — diz sem o mínimo remorso — E como ela não vai dar aula hoje, ela não vai ficar nem sabendo.

— Que coisa feia — eu me sento na cama e cruzo os braços.

— Nossa, manda me prenderem — ele ri sarcasticamente enquanto senta-se a minha frente — Sabia que você fica linda dormindo?

— Há quanto tempo você tá aqui? — pergunto arqueando uma sobrancelha.

— Hm, sei lá. Acho que uma meia hora — diz enquanto coça sua nuca.

— Tá, desembucha logo — digo de supetão.

— Como assim? — ele ri surpreso.

— Toda vez que você faz isso — repito o gesto de coçar a cabeça — É por que você quer perguntar alguma coisa ou tá confuso.

Ele ri novamente.

— Tá bom. É que eu to curioso — diz sem graça —Posso saber com o que você tava sonhando?

— Quem te garante que eu sonhei hoje?

— Já te falaram que você fala enquanto dorme — ele sorri vitorioso.

Sinto meu rosto corar gradativamente.

— Ai, meu deus — escondi meu rosto com as mãos — Eu disse alguma coisa constrangedora?

— Na verdade não.

— Melhor — volto a encará-lo — Mas, o que eu disse?

— Você sussurrou o meu nome enquanto dormia — ele dá um sorriso bobo — Então sobre o quê era o sonho?

— Eu não me lembro — minto, e sei que ele não acredita. Mas, não insiste no assunto.

— Pronta pra ir embora? — ele muda de assunto.

— Não vejo a hora — eu o abraço. E ficamos assim por bastante tempo.



Uma semana havia se passado e eu estava me sentindo muito bem. Consegui voltar ao meu peso normal e não tinha tido mais recaídas.  O Bruno, Gil e a Lia estavam me ajudando, apesar da minha melhor amiga estar num momento difícil, ela me deu muita força nesse tempo. Ela estava melhor, mas não conseguia esconder que estava sofrendo muito. E eu também me esforçava ao máximo pra que ela se sentisse melhor, mas esse tipo de mágoa só é esquecida e superada com o tempo.

Estávamos no pátio do quadrante esperando o sinal tocar quando um garoto de olhos azuis se aproximou da gente.

— Oi Lia — ele sorriu — Lembra-se de mim?

—Ah, oi — Lia disse um pouco sem graça — Vitor, né?

— Isso. Bom te ver — ele diz e percebo que considero seu rosto familiar.

— É bom te ver também — ela disfarça o desconforto — Esses são a Ju e o Gil — ela nos apresenta.

— E ai — eu e Gil dizemos ao mesmo tempo.

— O que você veio fazer aqui no quadrante? — ela o questiona.

— Eu vou estudar aqui — ele parecia entusiasmado — Vim transferido do quadrante de Brasília.

— Você morava em Brasília? — me intrometo na conversa.

Ele balança a cabeça afirmativamente.

— Minha família é de lá — eu digo — Acho que te conheço de algum lugar…

— Não sei, como é o seu sobrenome?

— Menezes — eu respondo mesmo sem entender o porquê da pergunta.

Gil olha pra mim com uma expressão estranha.

— O único Menezes que eu conheço é o Olavo — ele diz.

— Olavo é o meu pai — eu falo surpresa — De onde você o conhece?

— Ele foi advogado do meu pai em algumas causas da empresa — ele reponde de forma evasiva.

— Ah, prazer te conhecer — eu digo pensando numa desculpa pra deixar ele e a Lia conversando sozinhos — Mas, eu e o Gil precisamos ir até a biblioteca devolver um livro. Até mais — falo me despedindo dos dois.

Eu e Gil saímos de perto deles e quando chegamos perto da biblioteca ele me questiona.

—O que foi isso?

— O que? Por que eu deixei ele e a Lia sozinhos? — pergunto confusa.

— Não por isso. Pelo papinho de “acho que te conheço de algum lugar” — ele faz biquinho.

— Ai ciumento, não posso nem conversar com o menino — brinco — Relaxa, apesar dele ser bonito — Gil fica com uma expressão dura — Não faz o meu tipo, parece ser certinho demais…

— Acho bom. E nada haver chamar outro cara de bonito na minha frente, tenho certeza que você não gostaria se os papéis estivessem invertidos.

— Tá bom — puxo-o para um beijo e espero que ele esqueça isso logo.

— Bem melhor assim — ele sorri — Vamos almoçar lá em casa hoje?

— Claro — sorrio e puxo-o para a sala de aula.



O sol está se pondo e a luz alaranjada típica deste horário atravessa a janela do quarto de Gil. Eu estou deitada olhando para o teto enquanto ele está sentado na sua escrivaninha rabiscando algo. E imediatamente sinto como se a situação fosse um déjà vu, lembro do dia em que estávamos nestas mesmas posições.

No entanto, diferente do outro dia, hoje eu estava encafifada com algumas coisas que rondavam a minha cabeça. Lembro da conversa que tivemos naquele dia e fico ainda mais confusa. Essas suposições já pairavam na minha cabeça há algum tempo, mas parecia que hoje as coisas estavam mais intensas, mais urgentes.

Sinto-me incomodada e me ajeito para ficar sentada em cima da cama. Depois deste gesto, ele me olha preocupado e se senta a minha frente.

— Tá, tudo bem Ju? — ele pergunta intrigado.

— Tá. Só estou pensando na vida.

— Quer me dizer algo? — ele insistiu.

O que levar em consideração numa hora dessas? A razão ou a emoção?

Acho que evitar sairmos magoados seja a melhor opção.

 — Gil, eu preciso de um tempo — digo, tentando parecer segura da minha decisão.

— Como assim? — ele tenta entender a situação.

— A gente precisa terminar por aqui.


"Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração."

William Shakespeare





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