Mind Clock escrita por Metal_Will


Capítulo 2
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Olá, como vão? Estava muito empolgado para escrever a continuação e mandei ver na escrita.
Embora seja o segundo capítulo, ele pode te deixar meio tonto (já deixo avisado). Mas os próximos serão bem mais lights, prometo!
Anyway, boa leitura!



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Capítulo 02 - Mind Clock


Máquina do tempo? Diego havia escutado direito? Por mais que seu pai fosse inventor (um inventor meio atrapalhado, mas ainda assim um inventor), criar uma máquina do tempo, pela ciência atual, seria simplesmente impossível.


– Pai...com todo respeito, mas...você andou bebendo? - perguntou Diego.


– Claro que não! - ralhou Alberto, sugando mais um fio de macarrão do yakisoba - No papel, aquilo seria mesmo uma máquina do tempo!


Diego apenas fitou seu pai com um olhar cético. E, já que entrou no assunto, Alberto se viu na necessidade de dar explicações para o filho.


– Como eu disse - continuou o cientista - Posso mostrar agora mesmo!


– Então, tá. Vamos ver essa maçã agora! - desafiou Diego.


Mas, naquela mesma hora, começou um episódio de um dos desenhos preferidos dos dois.


– Ah! Padrinhos Mágicos! - falaram os dois ao mesmo tempo.


Ambos se olharam.


– Tá legal...depois do episódio eu te mostro - disse Alberto - Pelo menos vou te mostrar que poderia dar certo.


– Duvido muito que eu vá concordar com sua explicação, mas...tá legal, vamos ver.


Terminado o desenho, pai e filho desceram para a salinha da garagem, um cubículo de poucos metros, onde Alberto realizava suas experiências. E Diego sempre se perguntava como seu pai conseguia trabalhar tanto com tão pouco espaço. De qualquer maneira, uma máquina do tempo, algo que gastava milhões de joules (*) de energia, deveria ocupar um espaço maior. Sem contar que o próprio Diego saberia que o pai estava trabalhando em um projeto tão grandioso. Se ele estava mesmo trabalhando em uma máquina assim, como conseguiu esconder tão bem? A resposta veio logo.


– Bem...já vou pegar a máquina...cadê...


– Ei, uma máquina do tempo não deveria ser gigante? Por que está revirando nas gavetas? - perguntou Diego.


– Heh! Aí que está...minha máquina do tempo não foi projetada para ocupar muito espaço! Na verdade, ela é bem pequenininha mesmo - explicou Alberto.


– Pequenininha? - estranhou Diego - Tá de brincadeira, né?


– Tcharans! - exclamou o pai, mostrando um modelo antigo de celular "tijolão" que tirou da gaveta - Aqui está ela, minha máquina do tempo!


– Pai... - Diego podia sentir uma gotinha escorrer por sua cabeça - Isso é só um celular antigo. Eu...vou chamar o médico.


– Que médico o quê?! Isso aqui poderia mesmo funcionar como máquina do tempo!


– Explique-se - pediu Diego.


– O que tenho em mãos é um protótipo da primeira máquina do tempo mental.


– Mental?


– Sim. Por isso o chamei de Mind Clock!


– Mind Clock? O "Relógio da Mente"? - repetiu Diego.


– Exato. Esse celular antigo tem memória o suficiente para armazenar os dados necessários para fazer sua mente voltar no tempo.


– Dá pra explicar melhor?


Alberto suspirou e preparou o pequeno quadro negro que havia na salinha para dar uma breve aula para Diego que, por sua vez, usou a única cadeira velha ali para se sentar e ouvir as maluquices que seu pai tinha para dizer.


– Diego...você está familiarizado com o conceito de seta do tempo? - perguntou Alberto, enquanto desenhava uma seta no quadro.


– Você fala...o fato do tempo estar caminhando no sentido do passado para o futuro?


– Isso. E se eu te dissesse que o futuro não existe?


– Como assim?


– Ora, ele não aconteceu ainda. Como poderia existir?


– Mas se formos pensar assim...o passado também não existe, existe?


– Heh. Aí é que está. O passado existe, mas o futuro não. Essa é a hipótese que eu tomei como base!


– Então é só uma hipótese?


– Mas ela faz muito sentido. É só pensar em mecânica quântica, aquela teoria de que nada pode ser previsto com exatidão, apenas com probabilidades.


– Ah, sim, mecânica quântica...aquela coisa de que um átomo, por exemplo, pode estar em todos os lugares possíveis antes de você observá-lo, não é? - disse Diego, em uma declaração espantosa para qualquer aluno de Ensino Médio, mas lembrando que ele era filho de um físico, não era tão espantoso assim.


– Isso! Isso mesmo! Antes de uma observação, tudo é possível e nada é exato! Logo, o futuro não é determinado, só existem probabilidades de futuro - falou Alberto, colocando no quadro uma seta se dividindo em várias outras - Então...temos vários futuros possíveis, mas apenas um é selecionado.


– Tá, tudo bem, você acha que o futuro não é definido antes de uma observação. E no que isso te ajuda na construção da máquina do tempo portátil aí?


– Mais respeito com meu Mind Clock - reclamou Alberto - Bem, deixa eu te fazer uma pergunta: quando você digita um texto, vai escrevendo, escrevendo normal, até que uma hora você escreve uma bobagem. O que você faz?


– Deleto a bobagem que escrevi, oras - respondeu Diego - Todo mundo faria isso!


– Não só todo mundo, o universo faria isso - disse Alberto - E minha abordagem sobre tempo é justamente essa: o tempo é uma linha em construção, não existe futuro determinado. Todas as pessoas fazem escolhas diferentes, percorrem caminhos diferentes, mas todas estão dentro da mesma linha universal de tempo que está se construindo.


– E aquela história de que o tempo é relativo? - perguntou Diego.


– Ah, fala da teoria da relatividade de Einstein? - disse Alberto, com um certo descaso na voz. Afinal de contas, o que era a teoria da relatividade perto da teoria que ele estava apresentando naquele instante?


– É. Quanto mais rápido você anda, mais devagar o tempo passa pra você. O tempo passa de um jeito diferente para algumas pessoas. Isso não fura sua teoria, não?


– Claro que não - respondeu Alberto - Uma pessoa com alta velocidade cujo tempo passa mais devagar é apenas uma pessoa andando em um referencial diferente de uma pessoa em baixa velocidade. Mas, no final das contas, o que importa é a linha do tempo global do universo, a linha de tempo da união de todos os referenciais do universo juntas!


– Então deixa eu ver se entendi...você acredita que exista uma linha de tempo absoluta que está me construção...e essa linha é como se fosse um processador de texto digitando o tempo todo. É isso?


– Exato. O universo é um grande processador de texto.


Diego virou-se e tentou sair.


– Ei, onde você vai?


– Chamar um médico. Isso é demais até pra você.


– Deixa disso. Senta aí e escuta o resto da explicação.


– Tá bom, mas é melhor ser boa, ouviu?


– Ouça - continuou Alberto - Eu disse que quando se faz uma bobagem durante o texto, você o apaga e começa de novo.


– Sim.


– Então imagine...você está escrevendo e, do nada, o computador começa a alterar todo o texto sozinho a partir de um certo ponto. Por mais esquisito que pareça, o que você faz?


– Como estragou o que escrevi, deleto tudo o que está errado a partir daquele ponto...qualquer um faria isso.


– Exatamente. E é isso que o universo fará quando alguém estragar o sentido da linha de tempo.


– Sentido?


– Sim. A linha de tempo precisa, no mínimo, seguir a lógica das leis naturais, como, por exemplo, leis de causa e efeito. Mas eu sou capaz de caducar parte da linha com um único procedimento.


– Que seria?


– Alterar o passado.


– E é aí que entra a viagem no tempo? Acertei?


– Exatamente. Basta uma simples, uma ridícula alteraçãozinha no passado, que um paradoxo é criado se o futuro continuasse do jeito que está. Daí, o universo não tem outra escolha a não ser deletar aquele pedaço de futuro e começar de novo.


Por incrível que pareça, Diego estava vendo um mínimo de sentido naquela teoria. Só tinha um problema: como ele poderia alterar o passado?


– Tá, tá legal, então se você enviar algo para o passado, sei lá, num instante t, o Universo é obrigado a apagar a linha de tempo a partir  daquele instante t. Boa teoria. Mas tem alguma prova?


– Bem, matematicamente faz sentido - disse Alberto, meio sem graça.


– Então não passa de especulação, não é?


– Pode até ser, mas é por isso que comecei a trabalhar em como alterar o passado.


– É? Como? - Diego perguntou de forma sarcástica. Ainda continuava bastante cético.


– Simples. Enviando memórias para o passado! - disse Alberto.


– Memórias? - estranhou Diego.


– Sim. É por isso que se chama Mind Clock - falou Alberto - Ele é capaz de armazenar sua memória na memória dele.


– Impossível. Como o senhor conseguiria fazer isso?


– Ah, fiz algumas pesquisas em consciência, neurociência, blábláblá...cheguei a conclusão de que toda a nossa memória pode ser traduzida em dados e transformada em ondas.


– Se isso realmente funcionasse, o senhor estaria rico - falou Diego.


– Pois é...eu pensei, pensei, escrevi, calculei, trabalhei...até que finalmente consegui ampliar a memória de um celular antigo para abrigar a memória de uma pessoa e enviá-la para o passado!


– Mas...só as memórias de uma pessoa são um número absurdo de dados - falou Diego - Como conseguiria colocar tudo em uma simples memória de celular?


– Já ouviu falar de WinZip ou WinRar? - perguntou Alberto - Então...usei um esquema parecido pra compactar um grande número de dados!


– Fala sério... - balbuciou Diego, agora realmente sentindo uma gotinha escorrendo pelo rosto - Até parece que é tão simples.


– Bem, é que a mente humana também tem outros segredos...


– Como assim?


– Bom, o maior problema com as tentativas de construir máquinas do tempo é que as pessoas querem transportar matéria para o passado. Isso é muito difícil. É muito mais fácil enviar informação, através de ondas eletromagnéticas e um sistema de programação que burla o princípio de incerteza...


– Peraí, peraí, você disse burlar o princípio de incerteza? - disse Diego que, obviamente, sabia muito bem o que era princípio de incerteza.


– É. O princípio de incerteza de Heisenberg. Aquela história de que você não pode medir tempo e energia com a mesma precisão. Se conseguir medir muita energia, não consegue medir muito tempo e blábláblá. Pois bem...a mente humana tem um estoque absurdo de energia metafísica.


– Energia metafísica?


– Isso mesmo. Já ouviu falar de espírito, energia espiritual, ki, cosmo energia, essas coisas, então... ei, onde está indo? Vai sair de novo?


– Agora eu vou mesmo ligar para o médico - falou Diego.


– Senta aí! Agora que vem a melhor parte!


– Nem imagino como isso vai terminar - suspirou Diego.


– Acontece que medindo uma quantidade tão grande de energia vindo do espírito humano, tenho uma incerteza gigantesca no quesito energia e com isso eu consigo ter uma incerteza mínima no tempo. Com isso, posso encontrar uma quantidade minúscula de tempo que permite encontrar uma brecha para enviar ondas eletromagnéticas para além do espaço-tempo.


– Tá brincando, não é?


– Claro que não! É só acompanhar esses cálculos! - Alberto apresenta um caderno cheio de fórmulas avançadas. Embora Diego soubesse um pouco de física avançada, aquilo era demais para ele, sem contar que muitas equações eram de teorias próprias do pai dele.


– Vou considerar que essa matemática está certa - falou Diego.


– Bem, no papel é tudo bonitinho - disse Alberto - Eu montei o Mind Clock com a capacidade de fazer download da memória da pessoa, enviá-la para além da linha do tempo do Universo e colocá-la 24 horas no passado.


– 24 horas? - perguntou Diego - Só isso?


– Só isso? Só isso? Tem ideia do trampo que é fazer só uma ondinha viajar um minuto para o passado? Um dia é algo extraordinário! A capacidade de transmissão do Mind Clock é limitada..talvez com o avanço da computação dê pra criar modelos melhores, mas com esse tijolão aí, um dia é o máximo que dá!


– E o que acontece com a memória?


– Essa é a melhor parte! Fiz todos os cálculos necessários para mandar a memória direitinho para a mente da pessoa a quem ela pertence. São contas complicadas, mas na teoria funciona muito bem - falou Alberto, como se sua teoria fosse a coisa mais simples do mundo.


– Mas na prática, nada, né? - falou Diego - Lembro que você enfatizou bem que foi um belo fracasso.


– E foi - disse Alberto - Porque nem baixar a minha memória eu consigo.


– E como se faz isso? - perguntou Diego.


– Assim. É só colocar um plug desse fio no celular e outro na minha cabeça - falou Alberto, seguindo exatamente as próprias instruções, por mais ridículo que fosse colocar um fio na própria testa - Daí você se concentra e ....começa o processo de download da memória.


– Tá - Diego observava totalmente cético - E?


– Só que...o processo para no meio e dá erro - falou Alberto, mostrando a mensagem de erro.


– Você programou até a mensagem de erro? - reparou Diego.


– Eu planejei tudo! - falou Alberto - Mas deve ter alguma coisa que não estou considerando.


– Só alguma coisa? - disse Diego.


– Tá legal, muita coisa é especulação - disse Alberto - Mas se essa especulação estiver certa e se o sistema de download de mentes funcionasse...seria a primeira máquina do tempo funcional da história!


– Mas...mesmo que ela funcionasse, o que aconteceria com a gente? Seríamos deletados?


– Deletados até o ponto em que a memória foi enviada - disse Alberto - Mas nós não sentiríamos nada. Se eu usasse a máquina agora, o universo mudaria imediatamente para um dia atrás onde eu teria uma visão do futuro. Daí, a linha do tempo continuaria a partir daí, com a diferença de que agora eu saberia o que estava acontecendo.


– Seria bom demais para ser verdade. Sem paradoxos temporais, sem divisão de universos paralelos, continuaríamos na mesma linha...você acha mesmo que está certo?


– Estudei muitos anos nas horas vagas para chegar a essas conclusões, meu filho - disse Alberto, confiante - Claro que o fato de eu ser um gênio também ajuda.


– Sempre modesto - falou Diego. É, nisso ele não puxou o pai.


– De qualquer forma - disse Alberto - A teoria sem uma prova prática não passa de filosofia barata e especulação. Esquece esse troço.


– Já esqueci - disse Diego, indo logo atrás dele, mas não sem antes olhar para trás e refletir sobre toda a viagem que seu pai acabara de contar.


"Mandar minhas memórias para o passado, heim?", pensou Diego, "Daria pra fazer muita coisa interessante. Heh. Mas isso nunca vai funcionar. Viajar no tempo fica só na ficção mesmo"


E Diego fechou a porta da salinha. O Mind Clock continuou ali, em cima da mesa de trabalho de Alberto, esquecido. Talvez aquilo fosse mesmo um fracasso. Eu disse, talvez...



(*) = unidade de medida para energia no sistema internacional de unidades.



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Notas finais do capítulo

Resumindo: a ideia é enviar sua memória por meio de um celular para um dia no passado. Quando isso acontece, o universo é obrigado a deletar todo o futuro e você poderia refazer seu dia tendo consciência de tudo que ocorre no futuro!
E será que esse Mind Clock não funfa mesmo? Até parece que vocês tem alguma dúvida disso..hehe.
Outra coisa, repararam...Einstein...Albert Einstein...Alberto...heim?Heim? Fica a dica da inspiração do nome! XD
Até a próxima, gente. Fui!