Mind Clock escrita por Metal_Will
Capítulo 19 – Mais verdades
Diego estava transtornado. Se o que seu pai estava contando era verdade, então ele teve a oportunidade de reconstruir a história. Ele teve a chance de evitar que sua mãe não sofresse aquele terrível acidente de carro. Mas não foi o que aconteceu: a mãe dele ainda estava morta. O evento não foi impedido. Que desculpas Alberto teria para esse ocorrido.
-Fala, pai! - Diego nunca pareceu tão sério – Por que não impediu o acidente da minha mãe?!
-Diego, por favor, se acalme – disse Alberto, mantendo seu tom sério.
-Não me peça calma! - exclamou o rapaz – Se você voltou mesmo ao passado do jeito que está falando, então teve a chance de impedir que ela morresse, não teve?
-Eu tive...
-Então por quê? Por que minha mãe não está aqui, agora, com a gente! Responde!
Diego não conseguiu segurar o choro. Vanessa se levantou imediatamente, sem saber o que dizer. Naquela situação, apenas Alberto poderia dar uma resposta.
-Dr. Alberto – disse Vanessa, também séria – Se era para acontecer isso, era melhor não ter falado nada.
-Eu sei...era melhor não ter contado nada – reconheceu o cientista, mas Diego já havia ouvido demais para voltar atrás.
-Não! - exclamou Diego – Agora que começou, termina. Quero ouvir a sua razão para não ter impedido minha mãe de ter morrido!
-E eu impedi! - retrucou Alberto – Eu impedi a sua mãe de morrer, sim! Acha que não voltei pensando nisso?
-Mentira! Então por que ela não está aqui? Como pode falar que impediu?
-Diego...por favor, fica calmo – Vanessa tentou intervir.
-A sua mãe... - Alberto gaguejou - ...sua mãe foi a pessoa que eu mais amei na vida. Como pode achar que eu perderia a oportunidade de salvá-la daquela morte horrível?
-Você só precisava chamá-la...ou impedir que ela saísse...ou simplesmente atrasá-la por um minuto que fosse...um minuto, e ela não teria atravessado a rua distraída e sido atropelada – reclamou Diego.
-Eu sei! - gritou Alberto – Não precisa me falar do óbvio! É claro que eu sabia disso!
-Então...
-Não fale do que não sabe – retrucou o cientista – A sua mãe morreu atropelada, sim. Mas foi nessa linha de tempo.
-Hã? - Diego ficou surpreso – Do que está falando?
-A sua mãe morreu atropelada...depois que eu voltei ao passado. E ela não morreu por acidente.
-Como? Não morreu por acidente? - Diego estranhou a resposta de seu pai – Como assim? Alguém empurrou a mamãe?
Alberto desviou o olhar mais uma vez. Após alguns segundos, ele finalmente respondeu.
-Não, não foi isso – disse Alberto – Sua mãe...morreu porque ela quis morrer.
Diego arregalou os olhos. Suicídio? Era isso? Sua mãe havia tirado a própria vida? Impossível.
-Mentira! Cale essa boca! - exclamou o garoto, voltando a chorar – Não acredito que minha mãe fosse assim..
-Eu também não acreditava nisso – falou Alberto – Mas a morte original dela...não foi um atropelamento.
-Então o que foi? - perguntou o garoto.
-Bem..
Alberto suspirou e olhou para cima, como se estivesse relembrando. Como se fosse no dia anterior.
*Início de Flashback*
-No que está pensando, querida? - disse Alberto, abraçando sua esposa ao chegar por trás dela, que olhava pensativa pela janela, enquanto ela trabalhava em alguns documentos na sua mesinha.
-Nada – respondeu ela.
-Nada, Susana? - perguntou o cientista – Nunca é nada. Vai, pode falar.
-Só estava pensando...se tem alguma coisa além da vida.
-Além da vida?
-Sei lá. É que...o mundo é estranho só pelo fato de existir. Parece que tal algo que transcende muito mais do que tudo isso aqui.
-Mesmo?
-Você desdenha porque não acredita em nada. É o mal do cientista.
-É que minha formação só consegue enxergar medidas e números em tudo – disse Alberto – Mas o que quer dizer com isso?
-Não acho que a vida seja só isso que está à nossa volta. Deve ter alguma coisa a mais.
-E o que você acha que é?
-Não sei. Pode ser melhor...ou pior...talvez um dia a ciência descubra.
-Nossa, você tá bem filosófica hoje, né?
-Eu diria melancólica.
*Fim de flashback*
-E foi melancólica até o fim – disse Alberto – Sua mãe sofria de depressão crônica.
-Como? - Diego não conseguia acreditar – Por que nunca me contou isso?
-Não queria que tivesse uma memória ruim de sua mãe...eu nem queria contar, mas como a conversa chegou nesse ponto.
-Diego...- Vanessa apoiava o rapaz.
-E como ela morreu de verdade? - perguntou Diego.
-Envenenamento – respondeu Alberto – Um dia, quando cheguei mais cedo do trabalho, ela já estava morta...deixou um bilhete de despedida, falando que não suportava mais a angústia de viver em um mundo desses.
-Minha mãe...foi assim que ela morreu?
-Quando voltei ao passado, eu tirei tudo que considerasse perigoso na casa. E disse para ela que a amava, antes de sair. Isso garantiu mais alguns dias de vida para ela.
-E mesmo assim...
-Sim, Diego, mesmo assim ela sucumbiu à depressão – respondeu Alberto, em tom sério – No mesmo dia em que cumpri minha missão, achei a garota que precisava, entreguei a bebida para ela e voltei para casa...não encontrei sua mãe. Ela havia se lançado na direção de um carro.
-Que triste – balbuciou Vanessa.
-Não pode ser – Diego mal podia acreditar – Minha mãe...uma suicida.
-Era um problema dela – falou Alberto – Mesmo que eu impedisse a morte dela de um jeito, ela mesma iria querer se matar de outro. Era a depressão dela.
-Difícil de acreditar – disse Vanessa.
-Mas o legado dela...foi me deixar uma visão menos materialista do mundo – disse Alberto – Eu pude pensar na teoria da Mind Clock com mais clareza por tê-la conhecido.
-Não foi um caso de destino ou karma da premonição, então – disse Vanessa – Simplesmente...o senhor não foi capaz de mudar a mente da sua esposa.
-Talvez ou talvez isso tivesse mesmo que acontecer – disse Alberto, colocando as mãos nos bolsos e olhando para a janela – Eu queria desenvolver o Mind Clock e voltar de novo para impedir isso. Mas não sei se posso. Era uma escolha dela. Precisaria mudar a mente dela.
Diego ficou em silêncio. Era mesmo um assunto difícil de lidar. Os três ficaram quietos por mais algum tempo, até que Diego quebrou o silêncio.
-E quem era a menina, afinal? - perguntou Diego – Digo, a menina que você precisava entregar a tal bebida?
-Era uma jovem da mesma idade que você – falou Alberto – Se não me engano, o nome dela era Bela.
-Bela? Não conheço nenhuma Bela – disse Vanessa.
-Muito menos eu – falou Diego – E qual a relação de uma garota dessas com o fim do mundo?
-Segundo NeoMessiah, era ela a responsável. Mas uma vez que eu a encontrei e coloquei a bebida no refrigerante dela, o mundo aparentemente foi salvo. Não sei de mais detalhes além disso – disse Alberto, caindo no sofá – E essa é a verdade. Não queria que soubesse sobre sua mãe desse jeito, mas...
-Tudo bem, um dia eu teria que saber, não? - disse Diego – Mas diante disso...meus problemas amorosos são pequenos.
-O que vai fazer agora, Diego? - perguntou Vanessa.
-Eu não sei – respondeu o garoto – Ouvi muita coisa para um dia só. Primeiro...preciso colocar minhas ideias no lugar.
Que outros mistérios ainda estão por vir?
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