Capítulo 18 – NeoMessiah

-Impediu o fim do mundo? - repetiu Diego, com uma cara não muito crédula – Tem ainda algo pior do que eu me tornar um cientista louco?

-Tá dizendo que o senhor viveu em uma linha do tempo onde o Diego literalmente destruiria o mundo e não apenas causaria um problema populacional? - perguntou Vanessa, mais apreensiva.

-Por que eu tenho que ser o culpado? - ralhou o garoto.

-Desculpe – disse a amiga, meio sem-graça – É que sua loucura me deixou meio traumatizada...

-Fala que raio de história de fim do mundo é essa, pai – falou Diego, ignorando a implicância da amiga – O que aconteceu? Ou o que aconteceria? Ah, o senhor entendeu!

-Bom...- Alberto pigarreou e se preparou para uma explicação – Antes, é melhor deixar todos localizados. Eu não me lembro da linha de tempo que Vanessa está falando, pois aparentemente, só ela viveu esse futuro. Mas...eu me lembro da linha de tempo que eu vivi.

-Uma outra linha de tempo? - perguntou Vanessa – Uma linha de tempo diferente da minha?

-Sim. Eu não sei o que ocorreu no seu futuro, mas posso afirmar que eu já vivi um futuro avançado...que acarretaria no fim do mundo...ou devo dizer do Universo.

Diego e Vanessa se entreolharam admirados.

-Você chegou a vivenciar o mundo acabando? - perguntou Diego.

-Não.

Os dois amigos se entreolharam de novo.

-Então como diabos sabia que o mundo iria acabar? - perguntou Diego.

-Mas o fim do Universo parecia estar previsto pela ciência daquela época.

-Mesmo? - perguntou Vanessa.

Alberto fez que sim com a cabeça, apresentando agora uma expressão mais séria.

-Exatamente. Dados astronômicos mostravam que partes do Universo estavam simplesmente desaparecendo.

-Como assim desaparecendo? - perguntou Diego.

-Desaparecendo, desaparecendo – falou Alberto – Sumindo, do nada.

-Mas matéria e energia não somem do nada, apenas se transformam – corrigiu Diego.

-Por isso mesmo era estranho. Não havia nenhuma detecção de transformação, radiação, nada. Tudo simplesmente estava sumindo a uma velocidade espantosa.

-Não faz muito sentido – comentou Diego.

-Claro que não – falou Alberto – Mas a única coisa que fazia sentido era a expansão dessa onda apagadora.

-Onda...apagadora? - repetiu Vanessa, com cara de quem não estava entendendo muita coisa.

-Quer dizer que tudo no Universo estava se apagando de forma gradual – falou Alberto – E assim como a onda do mar alcançaria a praia, haveria um momento onde essa onda atingiria o sistema solar. Sabíamos disso, uma vez que tínhamos a informação desse fenômeno ocorrendo há poucos anos-luz de nossa galáxia. Se as coisas continuassem daquele jeito, a NASA já previa que a Terra seria deletada em poucos anos.

-Então vocês ainda tinham tempo – falou Diego – Poderiam achar uma saída, não poderiam?

-Esses dados eram secretos – respondeu Alberto – Ninguém além de algumas poucas pessoas da NASA sabiam desse segredo.

-E como você sabia? - perguntou o filho.

Alberto arrumou os óculos, enquanto esboçava um sorriso orgulhoso antes de pronunciar as próximas palavras.

-Eu obtive esses dados – disse ele – Tive acesso a todos eles!

-Como? - perguntou Vanessa – O senhor pode ser um gênio, mas hackear a NASA é uma tarefa pra lá de difícil.

-Aí é que está. Eu não precisei mexer um dedo para obter esses dados. Eles vieram até mim – respondeu o cientista, com um ar cada vez mais orgulhoso.

Diego levantou uma de suas sobrancelhas, ainda tendo dificuldades em aceitar aquele depoimento.

-E como pode uma coisa dessas? - questionou Diego – Ninguém recebe informações super secretas assim do nada.

-Claro que não – concordou Alberto – Mas não surgiram do nada. A pessoa que estava me enviando isso, sem dúvidas, tinha informações do futuro.

Vanessa e Diego se entreolharam.

-Outro viajante do tempo? - indagou Vanessa – Quem era?

-Não sei. Nunca vi o rosto dele. Só tive contato com essa pessoa por e-mail – respondeu Alberto, para uma leva irritação por parte de Vanessa e Diego.

-Você tá gozando da nossa cara, né? - reclamou Diego – Como pode confiar nas informações de alguém que você nunca viu o rosto!

-Mas ele ou ela me convenceu – respondeu Alberto – Ele deu previsões muito precisas do futuro.

-Era um tipo de John Titor(*)? - comentou Vanessa.

-Mais ou menos – respondeu Alberto – Não era esse o nick que ele usava...Ele preferia se denominar “NeoMessiah”

-NeoMessiah? - repetiu Diego – Isso é algo como Novo Messias? Só o nome já é bem pretencioso.

-Exato. Mas ele tinha uma diferença em relação ao charlatão do John Titor. NeoMessiah só se comunicava comigo.

-Por quê? - perguntou Vanessa.

-Ele acreditava que eu era o único cientista capaz de adiantar a construção de uma máquina do tempo – falou Alberto – Mas não uma máquina do tempo comum e sim uma máquina do tempo capaz de transportar a mente.

-Ou seja, o Mind Clock – disse Diego.

-Exato – falou Alberto – Esse cara conhecia os segredos do Mind Clock.

-Conhecia? Pelo que está contando, o Mind Clock foi ideia dele e não sua! - retrucou Diego.

-Nada disso – rebateu Alberto – Ele afirmou que eu desenvolveria a teoria do Mind Clock anos no futuro, mas seria tarde demais para colocá-lo em prática.

-Quando diz tarde demais...- interrompeu Vanessa - ...está falando do fim do mundo?

-Exato – respondeu o cientista – NeoMessiah, depois de ter provado seu conhecimento sobre o futuro com previsões exatas, me convenceu que estava falando a verdade e que eu deveria começar a construir o Mind Clock imediatamente.

-E em que época você começou a receber mensagens desse cara? - perguntou Diego – Se disser que foi a partir de 21 de dezembro de 2012...

-Não, não, isso tudo de profecia maia é bobagem – falou Alberto – Só comecei a receber essas mensagens quando o Diego começou a namorar com a Beatriz.

-Quê? Quê? Quê? Como? - Diego mudou de cara quase que imediatamente – Com quem que eu comecei a namorar?

-Com a Beatriz – disse Alberto – Foi uma moça com quem você se casou.

-Quer dizer...que eu arranjei alguém sem usar poção nenhuma? - perguntou Diego.

-Sim e era uma garota muito bonita, por sinal. Por isso acho estranho que ainda não tenha conquistar uma simples garota nessa época – falou Alberto – E mais estranho que tenha caído em tanta desilusão segundo o futuro da Vanessa.

-Então...eu tenho chances de arranjar alguém – disse Diego – Fantástico! Ouviu isso, Vanessa?

-Tá, ouvi. Isso é estranho...mas não acha que ouvir sobre o fim do mundo é mais importante do que isso agora? - rebateu Vanessa.

-Desmancha prazeres... - reclamou Diego.

-Posso continuar a história? - falou Alberto – Bem...estive em contato com NeoMessiah por alguns anos e graças a minha grande genialidade, pude absorver rapidamente as futuras fórmulas do Mind Clock e algumas coisinhas a mais.

-Que coisa a mais? - perguntou Diego.

-Também recebi o que era necessário para impedir o fim do mundo de vez – falou ele – Havia uma pessoa em especial no passado que desencadearia tudo isso, de acordo com NeoMessiah.

-Que pessoa? - perguntou Vanessa.

-Era uma garota – disse Alberto, agora mudando um pouco a voz.

-Uma garota? - estranhou Diego – E o que você precisava fazer? Matar essa garota?

-Não, não era algo tão radical – disse Alberto – Eu precisava...preparar uma coisa...e entregar para essa menina, assim que a visse.

-Que coisa era essa? - questionou Vanessa.

-Era uma bebida esquisita – disse Alberto – Eu não tinha a menor ideia dos efeitos dela, embora imaginasse que envolvia atuação na mente. Eu sou físico, não químico. Pelo que parecia, aquela menina seria a causa de todos os males futuros, embora o NeoMessiah não tivesse entrado em muitos detalhes. De qualquer maneira, ele insistia que essa menina era a causa dos eventos futuros e apenas tomando aquela bebida o apocalipse seria evitado.

-E de que época era essa menina? - perguntou Diego – Certamente, de uma época que você ainda existia ou o Mind Clock não iria funcionar.

-Sim – respondeu Alberto – Era de uma época distante.

-Distante? - questionou Vanessa.

-Mais precisamente...- agora Alberto estava com uma expressão realmente séria - ...na época em que minha mulher era viva.

-Quando...a mamãe era viva? - balbuciou Diego, com as mãos trêmulas.

-Exatamente – disse Alberto, entendendo a delicadeza do assunto – Eu revivi o passado, desde aquela época.

-Você me falou...que a mamãe morreu atropelada, não foi? - disse Diego, não conseguindo evitar que a emoção o dominasse.

-S-Sim – gaguejou Alberto.

Vanessa não dizia nada, mas percebia que a situação estava bem tensa emocionalmente.

-E...você voltou antes disso acontecer? - perguntou Diego.

-Sim – respondeu Alberto com firmeza, embora sério.

-Então...então...-Diego fechou os punhos, enquanto todo o seu corpo tremia – Então você podia ter evitado a morte dela, não podia?

-Diego...- balbuciou Vanessa. Alberto manteve silêncio.

-RESPONDE! - explodiu Diego – Por que...por que você não impediu que a minha mãe morresse?!

O garoto estava em lágrimas. Alberto desviou o olhar e fechou os olhos. Afinal, o que havia acontecido no passado?

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(*)=John Titor foi um personagem real dos primórdios da Internet (época do MIRC, por volta de 2000 e 2001). Uma pessoa postava em um fórum dizendo ter vindo do ano 2036. Ele compartilhou diversas informações sobre o século XXI, prevendo guerras e eventos. Obviamente, a veracidade do que dizia era duvidosa.