Mind Clock escrita por Metal_Will


Capítulo 20
Capítulo 20




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Capítulo 20 - Absorção

  Diego pediu licença a seu pai e a amiga para se retirar. Ele precisava compreender aquela confusão toda. Tanto Vanessa quanto seu próprio pai viram linhas de tempo diferentes e mudaram o tempo conforme suas necessidades. Mas que consequências toda aquela salada teria na vida de Diego, caso os fatos descritos foram mesmo verdadeiros? O que ele iria fazer com o poder de seu Mind Clock? Ele precisava colocar as ideias no lugar.

-Acho que é melhor deixá-lo sozinho por um tempo - comentou Vanessa com Alberto, enquanto os dois terminavam de comer - Por mais racional e inteligente que ele seja, declarações como as nossas deixariam qualquer pessoa atordoada.

-Ainda mais envolvendo a mãe dele - disse Alberto - É um assunto muito delicado.

Vanessa fez uma expressão de ternura. Deu um gole em seu suco e falou:

-Sinto muito pela sua esposa, Sr. Alberto. Imagino o quanto deve ter sido difícil não ter impedido a morte dela.

Alberto sorriu.

-Obrigado - disse ele - Fico feliz que tenha acreditado em mim.

-Por que eu duvidaria? O senhor é o criador de uma máquina do tempo! Não é tão surpreendente que tenha voltado ao passado...e além disso, ninguém brincaria com um assunto desses.

-Tem razão. Mas apesar de ter comprovado o funcionamento do Mind Clock em uma escala tão grande, como voltar anos ao passado, para mim ainda é tudo muito esquisito.

-Entendo como se sente - comentou Vanessa - É difícil de acreditar que tudo não tenha sido um sonho, embora no treinamento o senhor já tivesse me alertado disso.

-Heim? Treinamento?

-Oh, desculpe. Isso aconteceu na minha linha do tempo. Eu tive um curso rápido sobre viagem no tempo e um certo preparo para conseguir cumprir minha missão. 

-É verdade...você também deve ter vindo de um futuro difícil, não é?

-Mais ou menos - riu a garota - Na verdade, também vou entender se o senhor não acreditar na minha história.

-Você sempre foi brincalhona - disse Alberto - Mas quando veio outro dia na minha casa contando tudo isso, eu entendi perfeitamente o que estava passando. Afinal, eu mesmo já passei por isso.

-Sobre o seu futuro... - balbuciou Vanessa, enquanto pegava mais suco - ...é verdade que o Diego arranjou uma namorada?

-A Beatriz - disse Alberto - Sim. Era uma linda garota. Linda demais para ele, se quiser saber.

-Acho que o Diego não iria gostar de ouvir isso - comentou a amiga.

-Eu reconheço que o meu filho não é um primor de beleza - falou Alberto - Nisso ele puxou a mim....além de ter puxado minha inteligência, é claro.

-Seja como for, ele conseguiu uma namorada, certo? - perguntou Vanessa, ignorando o último comentário - Se é assim, então é possível mudar o futuro onde ele se torne um cientista louco devido à dor de cotovelo.

-Imagino que sim - disse Alberto - É muito radical achar que nunca vai arranjar alguém só porque levou um único fora.

-Na mente do Diego, parece ser o fim do mundo - falou Vanessa - Mas se na sua linha do tempo ele não ficou com a Bianca, e ficou com essa...

-Beatriz - disse Alberto - O nome dela era Beatriz.

-Beatriz... certo - continuou Vanessa - Se ele ficou com ela, então também há chances de encontrar-se com essa menina nessa linha de tempo, não há?

-Bem, Diego conheceu essa Beatriz na faculdade - falou Alberto - Se ele seguir a carreira de engenheiro, como na minha linha de tempo, é possível que a encontre.

-Engenheiro? Isso não é um cientista, mas é bem próximo da ciência. Há riscos dele enlouquecer se não encontrar um amor logo - ponderou Vanessa, com a mão no queixo e uma postura pensativa - Mas se ele sabe que corre esse risco, talvez se force a não enlouquecer. Mas se é loucura, não dá pra garantir nada. O melhor que temos a fazer é garantir o bem-estar dele e impedir que ele caia em desilusão.

-Hoje em dia isso é difícil...as mulheres causam tanta desilusão.

-Ei! Isso só acontece porque vocês homens nos dão motivo! - reclamou Vanessa - Nós mulheres só queremos alguém que nos ame e que possamos amar. E ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Apesar do que aconteceu com Diego na minha linha de tempo, não culpo Bianca por não corresponder o pobre do Diego. A culpa é totalmente dele por se deixar levar pela loucura.

-Essa Bianca que vocês falam...- agora Alberto é quem faz uma cara pensativa - ...não me lembro dela na minha linha de tempo.

-Será que a sua alteração do passado não mexeu nisso? Sei lá, a Bianca dessa linha de tempo só nasceu porque você deu a bebida para aquela menina...essas coisas de teoria do caos são imprevisíveis.

-Não sei que relação aquela menina podia ter com essa Bianca...mas se Diego é tão fixado nela como você diz...talvez a minha ação no passado tenha causado o surgimento de Bianca e, por consequência, a loucura de Diego.

-É possível - concordou Vanessa - Mas agora estamos em uma linha de tempo diferente. Aparentemente, você salvou o mundo dando a bebida para aquela garota. Depois disso, eu alertei Diego quanto aos perigos de se deixar levar pela dor de cotovelo. Em outras palavras, entramos em uma nova linha de tempo com um novo futuro.

-E agora esse futuro precisa ser bom, não é? - disse Alberto.

-Eu espero que sim - falou Vanessa - Se evitamos as respectivas catástrofes de nossas linhas do tempo...é possível. Mas ainda assim, tem muita coisa estranha nessa história.

-Como o quê?

-Mais especificamente na sua linha de tempo. Quem diabos era esse NeoMessiah e por que raios aquela menina...era Bela, não é?

-Sim, Bela.

-Por que diabos essa Bela seria a responsável pelo fim do mundo? Que tipo de poder ela tinha?

-Era uma menina totalmente comum quando a conheci - falou Alberto - Segundo os dados de NeoMessiah, era uma garota adotada por um casal de boa situação financeira.

-Adotada - repetiu Vanessa - E o que você sabia sobre os pais biológicos dela?

-Nada - respondeu Alberto - Eu perguntei sobre isso a NeoMessiah, mas ele disse que isso era irrelevante para o plano.

-Então não sabemos a procedência dessa Bela - disse Vanessa - E você sabe o que ela está fazendo agora?

-Não tenho ideia. Apenas fiz ela tomar a bebida, colocando-a no suco dela quando a encontrei no centro da cidade e nunca mais a encontrei.

-Você não sabe nem onde ela mora?

-Não sabia nem se ela era dessa cidade - falou Alberto - A única coisa que importava era o fato dela estar ali, naquele lugar, em determinada data e horário. Nada mais do que isso.

-Isso de acordo com esse NeoMessiah - completou Vanessa, com uma expressão desconfiada - Mas nada garante que não tenha mais coisas estranhas envolvidas.

-Confesso que não confiava totalmente nele no começo, mas pelas informações que ele tinha, só podia ser uma pessoa confiável - respondeu Alberto - Se eu não o conhecia naquela época, tenho certeza que o conheceria no futuro.

-Sei - balbuciou Vanessa - Mas mesmo assim, nada garante que ele não tenha planos próprios...e se aquela bebida ocasionar um futuro problemático?

-Bem, se isso acontecer, já tenho meus planos - falou Alberto.

-Planos?

-Exatamente - disse ele - Já estou trabalhando na construção de um Mind Clock mais potente com novas tecnologias. O Mind Clock de Diego volta sempre no dia anterior, mas eu já estou preparando um modelo para viajar mais de uma semana ao passado. Em poucos anos, terei desenvolvido um Mind Clock capaz de voltar anos atrás. Se algo der problema, basta descobrirmos o que deu errado e voltar para impedir.

-Será que isso vai funcionar?

-É claro. Eu me conheço. Sei que se der alguma zebra, teremos uma mensagem do futuro logo, logo.

-Espero que esteja certo.

 Enquanto Vanessa e Alberto discutiam, Diego estava em seu quarto, deitado de barriga para cima em sua cama, pensativo, jogando uma bolinha de tênis para cima e para baixo, enquanto as histórias de sua melhor amiga e de seu pai ainda se misturavam em sua mente.

"Que droga! E eu achando que era o máximo por poder voltar um dia ao passado", pensou Diego, "Se o meu pai e a Vanessa estiverem falando a verdade, então a história é mais complicado do que pensei."

 Ele continuava pensativo, enquanto revisava os fatos em sua mente.

"Na primeira linha de tempo, pelo que parece, o mundo acabaria por algum motivo que meu pai não soube explicar direito...daí, ele recebe informações sobre como construir um Mind Clock, volta ao passado e impede o fim do mundo...embora não tenha conseguido impedir a morte da minha mãe", pensou o garoto, "Essa história tem muita coisa mal contada, mas não é do feitio do meu pai brincar com algo tão sério como a morte da mamãe"

 Diego continuava a jogar a bolinha para cima e para baixo.

"Depois que ele impediu o fim do mundo, entramos na linha do tempo da Vanessa. Ocorre tudo normalmente até o momento em que levo um fora de Bianca, viro um cientista louco e faço uma poção que deixa as mulheres jovens e apaixonadas só por mim. Difícil de acreditar numa doideira dessas, mas levar um fora é sempre algo ruim...se for verdade, a Vanessa voltou para a época de escola e me avisou disso, na verdade, ela até me apoiou a usar meu Mind Clock para evitar erros e conseguir conquistar Bianca. O problema é que eu nunca conseguia conquistar a Bianca...e essa é a terceira linha do tempo, onde eu não conquisto a Bianca, mas aparentemente não estou enlouquecendo..bem, se eu não desistir depois que levar o fora, não enlouqueço. Na pior das hipóteses, basta eu continuar voltando e voltando um dia antes até dar certo. Mas e aquela história do bilhete?"

Sim, Diego estava se lembrando de suas tentativas falhas de nunca conseguir impedir Ciro de entregar um bilhete de amor para Bianca e se declarar para ela antes dele. Isso não era o mesmo que levar um fora? Mas qual o motivo dele não conseguir impedir esse evento? Por que Ciro ficar com Bianca é um evento tão inevitável? Que razões o universo teria para não querer isso? Não havia muita lógica naquilo e Diego, como um bom jovem da ciência, não acreditava em destino. Ele poderia passar pelo mesmo dia inúmeras vezes até conseguir. Em algum momento daria certo, afinal, ainda tinha poucos dados para firmar a teoria de que era necessário que Ciro e Bianca ficassem juntos. Que tipo de necessidade lógica existe na união de duas pessoas? É perfeitamente possível imaginar um universo onde ele e Bianca ficaram juntos! 

"E se eu pedisse para o meu pai melhorar o Mind Clock, nem que seja para ele voltar dois ou três dias atrás? Assim eu posso ser mais direto no meu e-mail e falar o que sinto...ah, mas a Vanessa disse que a Bianca não acessou o e-mail dela no fim de semana. Mesmo que eu mudasse a mensagem, ela só saberia disso depois de se encontrar com Ciro. E se eu não consigo impedir a Bianca de ficar com o Ciro...", a cabeça de Diego já estava se esforçando bastante.

 O rapaz jogou a bola em um canto (por pouco não quebrando a janela) e simplesmente soltou seu peso na cama, olhando para o teto, como se implorando por uma ajuda divina ou por uma revelação dos tecelões do carpete do espaço-tempo. O que ele poderia fazer?

 Vanessa foi embora. Diego nem jantou naquela noite, acabando por adormecer, enquanto pensava naqueles assuntos complicados. No dia seguinte, ele acordou no horário correto, enquanto Alberto tentava animar o filho.

-É você mesmo, filho? Ou veio de um futuro? - perguntou ele.

-Para com isso - reclamou Diego - Eu não usei mais o Mind Clock.

-Não?

-Ainda não decidi o que vou fazer quanto à Bianca - disse ele - Ainda gosto muito dela, mas se ela estiver com aquele Ciro.

-Ciro? Que Ciro?

-A Vanessa não te contou? É o cara que deu em cima da Bianca...parece que os dois eram amigos de infância há muito tempo...em uma das linhas de tempo de um dia em que usei o Mind Clock descobri isso.

-Será que não é melhor desencanar? Você ouviu a Vanessa...se deixar seu coração pesado por conta disso, pode acabar enlouquecendo e...já sabe.

-Eu sei - falou o rapaz, enquanto passava geleia em uma torrada - Não vou enlouquecer, agora que sei desse futuro bizarro. Mas ainda não consigo esquecer a Bianca.

-Bem, sempre há mais peixes no lago - disse Alberto - Lembre-se que na minha linha de tempo, você encontrou uma garota chamada Beatriz e parecia bem feliz com ela. Sua solidão e loucura podem ser evitadas.

-E no futuro da Vanessa eu fiz uma poção que me fez ficar com várias...

-Sinceramente, você não tem cara de cafajeste. Você é do tipo que se dedica a uma mulher só. Desde que esteja são, é claro.

-Já não tenho muita certeza da minha sanidade depois dos últimos acontecimentos - reclamou Diego - Mas tentarei não enlouquecer. Só espero não ver a Bianca e o Ciro de mãos dadas hoje, se isso acontecer, acho que não tem mais volta.

-Não consegue mesmo evitar isso?

-Não acredito em destino - falou Diego - Mas é tão tedioso viver o mesmo dia tantas vezes...que talvez seja melhor deixar pra lá. Além disso, depois de ouvir sua história...vi que há coisas muito mais sérias do que os meus problemas.

 Diego estava pensando em sua mãe e do problema de depressão dela.

-Ouça, sua mãe te amava, mas tinha os problemas dela - falou Alberto - Se eu puder voltar de novo, tentaria impedir aquilo...mas talvez fosse necessário que...aquilo acontecesse.

-Será que há mesmo um destino? - perguntou Diego - Há mesmo algo que não podemos evitar?

-O Mind Clock consegue mudar muita coisa, mas você lembra do que eu falei, não lembra? O universo é como um processador de texto, onde as palavras somos nós e escrevemos nosso futuro. Mas isso não exclui a possibilidade de haver um usuário digitando nesse processador...se há alguma coisa que ele precise intervir, ele virá.

-Não tem muita lógica...se o fim do mundo foi evitável, porque um simples namorico de adolescente não pode ser evitado?

-É uma boa pergunta, mas eu não sei te responder - falou Alberto, suspirando - Desculpe.

-É muita filosofia para o café da manhã, vou acabar tendo indigestão - falou Diego - Deixa eu ir logo pra aula. Fui.

-Até - despediu-se Alberto.

Diego caminhava em direção a seu colégio sem muitas esperanças. Talvez ele não pudesse mesmo evitar o namoro entre Bianca e Ciro. E mesmo que pudesse, talvez fosse um processo tedioso. E se a probabilidade de impedir aquele evento fosse de 0,000001%? Pela física quântica, qualquer coisa que tenha a probabilidade de acontecer não é impossível, mesmo que essa probabilidade seja quase zero. A probabilidade de uma pessoa atravessar a parede não é nula, mas é tão baixa, mas tão baixa, que é praticamente desprezível. Mesmo assim, ela existe. A probabilidade da Terra explodir do nada também é quase nula, mas ainda existe. Tudo que é provável, não é impossível. Mas apesar de não ser impossível, não significa que a probabilidade fosse alta. Mas coisas improváveis acontecem o tempo todo e Diego descobriria isso logo. Enquanto se aproximava dos portões de seu colégio, uma voz inusitada chama pelo rapaz.

-Ei! - chamou esta voz.

-Hã? - estranhou Diego - Mas você é o...

-Olá. Finalmente consegui uma oportunidade de falar com você - disse o dono da voz, com um sorriso aparentemente simpático no rosto.

 A pessoa diante de Diego era ninguém mais, ninguém menos que seu rival no amor: Ciro. Que tipo de novidades aquele cara teria?


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