Mind Clock escrita por Metal_Will


Capítulo 12
Capítulo 12




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Capítulo 12 – De Novo

Aquele intervalo não foi nada fácil para Diego. Saber que algo desagradável vai acontecer nunca é fácil e era justamente a situação pela qual Diego estava passando. O garoto assistia de longe Ciro e Bianca sorrindo um para o outro e andando de mãos dadas. Na verdade, pareciam estar até mais grudados do que da outra vez.

–Ei – chamou Vanessa enquanto tomava um suco de caixinha – Vai ficar olhando para eles o intervalo todo?

–Tsc. É uma cena horrível...mas não consigo deixar de olhar e lembrar o quanto fui fracassado.

–Se sabia que isso iria acontecer por que não foi correndo falar com a Bianca antes do Ciro? Você não sabia que ela iria pra lá? - perguntou Vanessa.

–Claro que sabia – respondeu Diego – Mas o problema maior é o bilhete.

–O bilhete?

–Ora, Vanessa. Você é menina – falou Diego – O que pensaria se um garoto te deixasse um bilhete querendo se encontrar com você em um lugar isolado da escola?

–Hmm...pensaria que ele estava a fim de mim. É, é verdade.

–Entendeu? Mesmo que eu falasse com a Bianca agora, ela estaria com o bilhete do Ciro na cabeça. Ela já deve ter uma resposta pronta para a declaração dele antes mesmo de falar com o cara.

–Psicologicamente falando, faz sentido – disse Vanessa – Suas chances seriam maiores se ela não estivesse com outro pretendente na cabeça.

–É por isso que eu preciso evitar que aquele bilhete chegue às mãos da Bianca – falou Diego, com uma expressão séria (um tanto contrastante com seu boné virado para o lado) – Se eu me declarar antes que ela sequer tenha ideia de que o Ciro gosta dela, terei alguma chance.

–E se ela não corresponder? - questionou Vanessa.

–Daí eu pergunto qual o problema, volto ao passado e manipulo a situação para ela corresponder. Simples assim.

–Não, não é nada simples.

–Você entendeu – disse Diego – Posso voltar ao passado quantas vezes forem necessárias até formar um futuro onde eu fique com Bianca.

–E eu espero que esse futuro seja possível – disse Vanessa, com um tom mais sério do que de costume.

–Em algum momento será possível – falou Diego – Não é possível que eu falhe todas as vezes. Mesmo que demore muito, vou insistir até conseguir falar com ela.

Vanessa não falou nada e nenhum dos dois tocou mais no assunto até o fim das aulas. Ao final do dia, Diego se fechou em seu quarto e preparou o Mind Clock mais uma vez.

“Certo”, pensou ele, “E lá vamos nós de novo”

O garoto fez o download de sua memória e, novamente, enviou sua memória ao passado. A dor de cabeça se fez forte como sempre, mas funcionou.

–Argh! - gritou ele, caindo na cama e segurando a cabeça – Nunca vou me acostumar com essa dor...mas é necessário.

Diego olhou para o relógio do computador e sorriu satisfeito ao ver que a máquina ainda funcionava perfeitamente bem. Agora ele tinha mais dados para realizar um plano ainda mais elaborado.

“Tá legal”, pensou ele, sentando-se na mesa do computador e retomando o que vira no futuro, “A linha de tempo anterior foi um fracasso total, mas pelo menos agora eu posso garantir que Ciro colocou o bilhete na mochila de Bianca exatamente às 07 horas e 21 minutos. Só preciso chegar na escola entre 07h15 e 07h21 para evitar esse evento. O problema mesmo foi ter tomado um caminho longo para chegar à escola. Pegando esse caminho, eu encontro aquela mulher com o cachorro e o gato acaba subindo na árvore. Nada que eu não consiga evitar, mas não preciso pegar aquele caminho...posso pegar o caminho normal mesmo.”

Diego pegou seu celular e programou o despertador para cinco minutos mais tarde. Seu pai não estranharia um atraso de cinco minutos e, além disso, poderia andar mais devagar pelo caminho habitual. Tudo era muito simples. Bastava enrolar o suficiente no caminho da escola para chegar em um horário entre 07h15 e 07h20. Agora tudo estaria sob controle.

Feito esse planejamento, Diego se deitou e levantou exatamente cinco minutos após o habitual. Obviamente, ele teve que fazer um teatro para seu pai, fingindo que acordou um pouco mais tarde.

–Oh, droga – disse o garoto, descendo as escadas correndo – Esqueci de programar o despertador!

–Que estranho – falou Alberto, preparando o mesmo café da manhã que Diego já havia tomado duas vezes – Isso nunca aconteceu antes.

–Fiquei tão feliz de ter terminado um jogo ontem que acabei indo dormir sem nem lembrar que no dia seguinte tinha aula – falou Diego, passando margarina no pão enquanto falava.

–Sei – disse Alberto – Ou estava vendo alguma coisa na Internet que não pode contar?

–Hã?

–Ora, filho. Eu também já tive sua idade. Sei bem como é. Mas achei que você estava tão envolvido apaixonado por aquela menina que tivesse deixado isso de lado.

–Para de falar bobagem, pai. Mas é claro que ainda continuo interessado na Bianca.

–E já falou com ela?

–Estou planejando tudo isso direitinho – falou ele – E meu plano já começa quando eu chegar na escola.

–Plano, é? Posso saber no que está pensando?

–Nada demais – disse Diego – Estou apenas observando e aguardando o momento certo de agir. Aguardar o momento certo, essa é a tática. Hehe. Logo, logo terei meus frutos.

–Opa, bom te ver animado assim – falou Alberto, tomando seu café – Nem parece o moleque anti-social que só queria saber de ficar enclausurado em casa no computador o dia inteiro.

–É...o amor faz coisas incríveis – comentou Diego – Eu me sinto até outra pessoa!

–Parece mesmo – reparou Alberto – Mas acho bom que esteja feliz. Ah, e eu quero conhecer logo essa minha nora, heim?

–Assim que eu tiver resultados, pai – disse o rapaz, ainda esbanjando confiança – E dessa vez, eu terei!

–Assim que se fala!

Confiante, Diego saiu de casa um pouco mais tarde, mas ainda com tempo suficiente para chegar na escola no período de tolerância. Sua ideia, mais uma vez, era chegar atrasado entre 07h15 e 07h20, o horário em que Bianca chegaria. Feito isso, bastaria ele puxar conversa com Bianca e evitar que Ciro encontre uma oportunidade de colocar seu bilhetinho de admirador.

Dessa vez, Diego escolheu o caminho que sempre seguia e andava a passadas lentas. Mantendo sua velocidade de sempre, chegaria na escola cedo demais, mas diminuindo o ritmo, poderia chegar lá no período planejando, a menos que ocorresse algum imprevisto. Mas estava tudo sob controle. Que tipo de imprevisto poderia acontecer?

Bem, existem situações que mudam seus planos por uma margem diminuta de erro. Por exemplo, imagine que você está caminhando pela rua de manhã e a mulher em uma das casa, que por alguma razão queria lavar a calçada naquela hora, acaba jorrando a água da mangueira bem em cima de você? Seria muito azar e pelo que parecia Diego estava nesses dias de azar.

–Ops – disse a mulher, totalmente distraída em sua cantoria matinal, assim que percebeu a situação que Diego havia se metido – Desculpa, moço. E-Eu...eu não te vi passando. Molhou muito?

–Ai, droga – reclamou ele – Acho que...molhou o suficiente para me obrigar a trocar de roupa.

–Desculpa, desculpa mesmo. E-Eu...eu não sei o que dizer e...

–Não tem problema – falou Diego – Eu moro aqui perto. Posso trocar de roupa lá.

–Mesmo? - perguntou a dona.

–Mesmo, dona. Não se preocupa. Hehe.

Mas o sorrido de Diego escondia claramente um sentimento de raiva.

“Droga. Como eu não previ isso?”, pensou ele, enquanto corria de volta para casa. “Eu lembro dessa mulher lavando a calçada de manhã sabe-se lá porque, mas não imaginei que ela fosse um fator de risco. Agora eu vou precisa correr!”

Diego entrou em casa correndo, para espanto de seu pai.

–Ei, o que foi? Você não tava atrasado? - disse Alberto, preparando-se para sair naquela hora – Vai dizer que pretende matar aula?

–Que matar aula! - reclamou Diego – Eu sofri um acidente..olha só.

O garoto mostrou sua camiseta ensopada. O pai fez uma cara de piedade e mandou ele subir, se secar e pegar uma camiseta do uniforme da escola.

–Deve estar em algum lugar do seu quarto – disse Alberto – Bem, eu vou trabalhar. Até.

–Até – Diego se despediu na mesma hora que já havia subido as escadas para seu quarto. Em segundos, ele pegou sua toalha do banho, tirou a camisa e se secou ainda mais rapidamente.

–Agora..deixa eu pegar uma camiseta nova.

Ele abriu as gavetas da cômoda, depois as do guarda-roupa, verificou o cabide, mas não achou nenhuma camiseta do uniforme.

–Será que...já foi para o cesto de roupa suja? Mas eu lembro que estava aqui em algum canto...ah, deixa pra lá, a escola não exige uniforme mesmo.

Diego pegou a primeira camiseta que viu pela frente e já estava pronto pra sair, quando o telefone tocou.

–Alô? - atendeu o rapaz.

–Bom dia. É o consultório do Doutor Carlos, eu..

–Não, minha senhora. Aqui é residência – respondeu Diego.

–É? Oh, desculpe..e eu ainda liguei tão cedo – disse ela – Desculpa.

–Tá, tá bom. Tchau! - Diego desligou o telefone imediatamente. Mas, assim que colocou a chave na fechadura, o telefone tocou mais uma vez.

–Alô? - Diego atendeu de novo.

–Oh, desculpe. Liguei errado de novo – falou a mesma senhora do telefonema anterior.

–Não foi nada – disse Diego, praticamente atirando o fone no gancho e partindo para a escola. Agora ele realmente teria que correr se quisesse chegar antes das 07h21m. O garoto praticamente voava, quase deixando seu boné para trás na correria. Ele olhou para o relógio do celular e esbugalhou os olhos ao ler 07h19m.

–Caraca! Se eu não correr vou chegar tarde de novo! - disse ele, assim que encarou as horas. E as coisas até poderiam ser fáceis, se o semáforo, o único semáforo que ele precisava passar para chegar à escola, não tivesse fechado naquela hora. Por que o sinal sempre está vermelho quando se está atrasado? Seria a lei de Murphy? “Se algo tende a dar errado, dará”. Péssima hora para descobrir que ela está correta. Diego correu e chegou na escola já passando das 07h20m. E era uma pena que a inspetora tenha resolvido falar mais algumas palavras com Diego ao dizer que ele está atrasado.

–Esses meninos estão chegando cada vez mais atrasados – reclamou a mulher, enquanto ajeitava os óculos – E justo você, Diego? Você sempre chega na hora.

–Eu sei, mas...

–E ainda sem uniforme. Você quase sempre vem de uniforme pra cá. Tá diferente mesmo, heim?

–É, mas... - já era tarde. Enquanto a inspetora falava, o rapaz já pode ver Ciro colocando o bilhete na mochila de Bianca. Mais uma vez, Diego tinha falhado.

“E-Eu não acredito”, pensou ele, “Não consegui de novo!”

Aquilo já estava começando a ficar estranho...



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Notas finais do capítulo

Bem estranho...aguarde os próximos caps.