Mind Clock escrita por Metal_Will


Capítulo 13
Capítulo 13




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Capítulo 13 – Replay

Sem muita escolha, Diego apenas ficou vagando pelo pátio aguardando o sinal da segunda aula, mais uma vez sem ter impedido Ciro de ter colocado aquele bilhete na mochila dela. O pior de tudo é que outra amiga dela também estava atrasada e Diego não podia nem falar com Bianca tranquilamente antes dela ver o bilhete. Foi mesmo muito azar. Ao dar o sinal da segunda aula, o rapaz subiu com uma cara nada feliz, o que foi imediatamente percebido por Vanessa.

-Nossa, você nunca chega atrasado – disse ela, com uma expressão de surpresa – Já tava dando uns pegas na Bianca, não é?

-Não – respondeu Diego de forma ríspida – Meu plano deu errado de novo.

-Errado de novo? Como assim de novo?

Diego suspirou e explicou mais uma vez o que havia feito. Vanessa ouviu tudo com atenção e ficou ainda mais espantada.

-Nossa, isso é bizarro demais – disse ela, de certa forma exagerada – Então essa é a segunda vez que você volta no tempo para impedir essa história e não consegue. Que esquisito...

-Não fale tão alto! - disse ele – Não quero ninguém se metendo nesse assunto.

-Relaxe, ninguém liga pra gente mesmo – falou ela – E agora? O que vai fazer?

-Não é óbvio? Vou voltar de novo!

-Será que vai funcionar?

-Só tive azar duas vezes. Não é possível que eu não consiga numa terceira vez.

-Não sei, não.

-Voltarei quantas vezes forem necessárias. Impedir a Bianca de receber aquele bilhete é fundamental se eu quiser ter alguma chance com ela!
 

-E ela gosta mesmo desse Ciro?

-Pelo olhar que ela dá pra ele...se ela suspeitar que o tal Ciro tem algum interesse nela, vai aceitar na hora! - reclamou o rapaz – Não posso deixar isso acontecer, em hipótese alguma!

-Entendo...vai ser um problema se você não conseguir...

-Problema? - perguntou Diego.

-Nada, nada, eu não disse nada – Vanessa apressou-se em dizer – Mas se você acha que vale a pena tentar de novo, então, boa sorte!

-Isso. Vou tentar de novo. Só preciso esperar à noite.

-Se você soubesse onde ela morava poderia tentar falar com ela antes dela sair de casa, não?

-Parece que ela vem de carona com o pai. Não conseguiria conversar com ela no caminho.

-Sei...então vai mesmo tentar falar com ela na escola e impedir que ela receba o bilhete?

-Exato. É aquele bilhete que estraga tudo.

-Tem certeza? E se ela preferir você?

Mas Diego não tinha muitas esperanças nisso.

-Impossível. Entre mim e um cara que ela já achava interessante desde o jardim de infância, nunca vou ter chance. O único jeito é ela nunca suspeitar dele.

-Mas mesmo que você impeça o Ciro de entregar o bilhete, será que ele não pode contar para ela mesmo depois de você ter se declarado?

-Pode ser, mas se eu me declarar antes e ela aceitar, ele não poderá fazer nada.

-E se você levar um fora?

-Daí eu pergunto qual é o problema e volto ao passado mudando a abordagem. Com o Mind Clock, posso evitar todos os erros que dependam de mim. O difícil mesmo é evitar os agentes externos como esse Ciro que saiu sei lá de onde.

Vanessa cruzou os braços e olhou para cima pensativa.

-É...espero que dê certo.

-Dessa vez, tem que dar!

E o dia passou. Diego esperou a noite chegar e usou sua máquina do tempo mais uma vez. Feito. Agora era só tomar cuidado com cães fujões, gatos que sobem em árvores e vizinhas distraídas lavando a calçada.

-Beleza. Dessa vez vai funcionar!

Diego replanejou todos os seus passos, inclusive calculando com cuidado a hora de sair de casa para não ser atingido pela vizinha. Foi o que fez. No entanto, ele não esperava que ao invés da vizinha, quem fosse molhá-lo agora era um carro que passaria correndo por uma poça de água.

-Filho da... - mas Diego não tinha nem palavras para terminar o xingamento. Ele havia se molhado de novo. Agora ele teria que voltar rapidamente para casa. E era uma pena que o fato de ter saído de casa alguns minutos mais tarde não tenham impedido o telefone de tocar enquanto ele se trocava e, mais uma vez, era engano. Era exatamente o mesmo engano, mas com alguns minutos de diferença. Mesmo assim, Diego tentou correr o máximo que conseguia. Ao chegar no semáforo, ele demorou exatamente o mesmo intervalo de tempo da outra tentativa. E, ao chegar na escola, mais uma vez não conseguiu impedir Ciro de colocar o bilhete na mochila de Bianca.

-Impossível..eu não consegui de novo! - reclamou o pobre garoto, praticamente se ajoelhando no chão e derramando lágrimas de raiva.

Alguns minutos depois, ele voltou a contar o caso para Vanessa. A garota não tinha muito o que dizer.

-E agora? Vai tentar de novo?

-É claro! Dessa vez não pode ter falhas!

Mas teve. Diego esperou o dia acabar mais uma vez e repetiu o dia com o Mind Clock. Dessa vez, ele saiu de casa com um guarda-chuva, observando tudo e todos, evitando o mínimo movimento aquático que percebesse. O problema é que dessa vez a ameaça não seria água e sim um cachorro. Mas não o poodle como da outra vez e sim um dobberman furioso que escapou de uma casa e saiu em disparada na direção de Diego.

-P-pai amado! - exclamou o pobre garoto que, nessas horas, mesmo sendo um sedentário assumido, correu mais do que havia corrido em sua vida inteira. Ao ver uma árvore na pracinha, subiu ali imediatamente. O cachorro quase mordeu o traseiro dele naquela correria, mas ele conseguiu escapar.

-Rex! Volta aqui! - disse o dono do animal, um homem careca (e não muito rápido) que veio correndo preocupado com Diego – Garoto, você tá bem? Nossa, como eu pude ser tão descuidado! Você podia ter se machucado feio!

-Não...não foi nada – disse Diego, de cima da árvore, quase colocando os pulmões para fora – Podia ter acontecido com qualquer um

-Tá tudo bem mesmo? - ele voltou a perguntar.

-Sim. Não precisa se preocupar...- respondeu Diego, descendo da árvore e não percebendo que um dos galhos estava muito perto de sua calça – Ai.

-O que foi? Tá doendo alguma coisa? - perguntou o dono do cão, que, naquela altura, para a felicidade de Diego, já estava bem dominado.

-Não, é que...deixa pra lá. Eu preciso voltar pra casa – falou Diego, ao perceber o enorme rasgo não planejado em sua calça.

-Ei, garoto. A sua calça...

-É. É por isso que eu vou voltar pra casa!

Se o intestino de Diego fosse menos preso, certamente o motivo de precisar trocar de calça não seria apenas pelo rasgão, mas, de uma forma ou de outra, ele não podia aparecer na escola daquele jeito. Assim que chegou em casa, ouviu o telefone tocar e, obviamente, se recusou a atender. Já sabia que era engano. Depois de trocar de roupa e engatar em uma nova corrida, Diego percebeu que estava em uma situação extrema novamente. Ele precisava chegar rápido. O problema é que o semáforo, mais uma vez, estava fechado quando ele chegou no cruzamento. Resultado: mais uma vez, sua tentativa de impedir Ciro de entregar o bilhete para Bianca falhara.

-Então...essa é a quarta vez que você tenta voltar e não consegue chegar na hora certa? - perguntou Vanessa, assim que recebeu a notícia.

-É! Parece que...tem alguma coisa errada nessa história...

-Só parece? E então? O que vai fazer? Tentar de novo...e se dessa vez você for atropelado por um carro e não conseguir chegar nem para a hora da aula.

-Eu não sei...eu não sei se vou tentar de novo – falou Diego.

-Não?

-Vanessa...- disse ele, colocando as mãos no ombro da amiga – Precisamos pensar juntos. O que está acontecendo?

Essa era uma boa pergunta. Afinal de contas, por que Diego nunca conseguia impedir aquele evento?


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