Mind Clock escrita por Metal_Will


Capítulo 11
Capítulo 11




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Capítulo 11 – Atraso

20h45m. Era o horário que o relógio do computador de Diego marcava naquele dia. O rapaz estava atento às horas, aguardando o momento exato de ativar sua máquina do tempo e pelo que parecia esse momento finalmente havia chegado.

“Certo”, pensou ele ao olhar mais uma vez para o marcador de horas na tela de seu desktop, “Se eu usar o Mind Clock agora, volto 24 horas atrás, justamente no horário onde eu já estava no meu quarto. Precisa ser agora!”

Ele suspirou, fechou os olhos e pegou aquele celular tijolão, pronto para ser usado mais uma vez. Após colocar uma das extremidades do fio na testa e executar a cópia de suas memórias para a memória do celular, era hora de mudar o universo mais uma vez. Ele aperta o botão de Enviar e, puf, sua mente volta ao passado, ocasionando mais uma horrível dor de cabeça.

- Ai! Que dor! - reclamou ele, evitando gritar para que seu pai não ouvisse e massageando a cabeça o máximo que podia – Nunca vou me acostumar com essa dor “pós - Mind Clock”. Sem chances de eu usar esse negócio duas vezes seguidas.

Enquanto sua dor de cabeça passava, ele observou o relógio do desktop. Mais uma vez havia funcionado. E, por enquanto, tudo estava correndo bem. Naquele momento, a mente de Diego se encontrava 24 horas no passado. Ele se lembrava perfeitamente do dia seguinte, onde veria Ciro pedindo Bianca em namoro. Esse era o evento que ele precisava evitar caso ainda quisesse ter o mínimo de chances com a garota de seus sonhos. Hora de planejar seus passos.

“Muito bem”, pensou ele, abrindo um novo documento de texto em seu computador, “Hora de recapitular o futuro”

Ele começou a escrever tudo que se lembrava daquele dia. Lembrou que Bianca chegou na sala apenas na segunda aula, significando que, no mínimo, ela teve que esperar o segundo sinal no pátio da escola. Para isso, ela precisaria ter entrado na escola quinze minutos após o primeiro sinal. Ele também lembrava que Ciro colocou um bilhete na mochila de Bianca. Ele não devia ter feito isso antes da segunda, caso contrário os dois já teriam conversado antes do intervalo. Provavelmente, com uma grande porcentagem de chance, Ciro colocou o tal bilhetinho de amor na mochila de Bianca antes dela subir para a segunda aula. Para isso, é provável que Ciro também tenha chegado atrasado na escola. Conclusão: se Diego quisesse evitar a declaração, precisaria chegar na escola atrasado e ficar perto de Bianca tempo o suficiente para que Ciro não tentasse nada.

- É isso! - disse ele, após revisar toda a lista com todos os dados que conseguiu reunir do último dia – Se eu também chegar atrasado amanhã, encontrarei Bianca no pátio da escola. Daí, só preciso evitar que o Ciro se aproxime dela e me declarar antes dele. Simples.

Nada como saber o futuro. Na cabeça de Diego, o plano parecia ideal. Ele dormiu tranquilamente, acordou no mesmo horário (podia acordar atrasado de propósito, mas preferia ter total controle da situação). Desceu para a cozinha, pronto para comer o sanduíche com pão velho que seu pai preparou no café da manhã (afinal, ele ainda não consertou a torradeira). Como tinha planos de chegar atrasado, Diego não teve a menor pressa em tomar seu café da manhã.

- Finalmente aprendeu a comer devagar, é? - reparou Alberto.

- Ah, tô no horário mesmo – disse ele.

- Parece calmo, para quem vai encontrar com a garota dos sonhos hoje...

Diego tossiu o leite com chocolate que estava tomando.

- O que isso tem a ver?

- Já falou o que sente para ela? Se deixar para depois, pode ser pior.

- Estou com tudo sob controle - falou Diego – Posso não ter experiência com garotas, mas a Bianca é diferente.

- A garota que amamos sempre é diferente – comentou Alberto – Achava a mesma coisa da sua mãe.

Alberto sempre suspirava ao lembrar de sua falecida esposa. Diego terminou de tomar o café e partiu sem pressa para o colégio. Agora, tudo que precisava fazer era chegar atrasado, no mínimo, quinze minutos após o primeiro sinal tocar. Pelas regras da escola, isso iria garantir sua permanência no pátio durante a primeira aula.

Diego foi andando devagar e, para garantir seu atraso, tomou o caminho mais longo. Pelos seus cálculos, mantendo velocidade constante e estimando a distância de sua casa até à escola por aquele caminho, ele certamente chegaria quinze minutos depois do primeiro sinal. Na verdade, ele já chegaria um pouco atrasado se fosse pelo caminho comum naquela velocidade, mas queria garantir uns quinze minutos. Por outro lado, não queria se atrasar muito, pois seria perigoso chegar depois de Bianca (principalmente se Ciro já estivesse lá). O rapaz continuou sua trajetória quando, de repente, viu uma mulher com roupa de ginástica passeando com um cachorrinho poodle na coleira. Não era uma cena muito incomum, afinal, fazer uma caminhada matinal é sempre saudável. O problema é quando, de repente, esse cachorro vê um gato do outro lado da esquina e acaba escapando das mãos da dona, totalmente distraída com a música em seus fones de ouvido.

- Ah, Lulu! - disse ela, espantada ao ver que ele havia escapado. Diego vê o cãozinho correndo em sua direção, mas ele passou direto, perseguindo o gato que, imediatamente, subiu em um muro. Depois disso, o cãozinho deu a volta na esquina, provavelmente na intenção de pegar o bichano do outro lado.

- Por favor – disse a mulher, aproximando-se de Diego – Pode me ajudar a pegar meu cachorrinho?

- E-Eu? - exclamou Diego.

- É. Ele corre demais.

Não era irônico uma mulher mais atlética pedir ajuda a um garoto franzino que sempre era o último a ser escolhido na Educação Física? De qualquer forma, Diego estava mesmo com tempo e resolveu ajudar a moça. Mas as coisas seriam bem mais fáceis se o gato não tivesse pulado de novo do outro lado e causado uma nova correria do poodle.

- Ah, ele tá indo cada vez mais longe – reclamou a mulher.

- Tá legal, vou tentar pegá-lo!

Pegar o cachorro não era muito difícil. Bastaria pisar na correia e pronto. Mas claro que isso só seria fácil para alguém acostumado a correr, o que claramente não era o caso de Diego. O garoto tentou perseguir o cachorro, mas ele era bem mais rápido. Apenas quando o gato subiu em uma árvore que Lulu parou e sua dona foi capaz de pegá-lo no colo de novo.

- O-Obrigada – balbuciou a moça.

- N-Não foi nada – disse Diego ofegante.

- Miau – ouviu-se a voz do gato que acabara de subir na árvore.

- Ah, agora o gato não consegue descer – reparou a mulher.

- Uma hora ele tenta pular...gatos sempre caem de pé, não tem problema – disse Diego.

- Mas ele tá assustado – disse a mulher – Por favor, tenta tirar ele de lá.

- E-Eu? - Diego gaguejou de novo.

- É! Não é tão alto, você consegue subir, não consegue?

- Bom, eu..

- Eu vou embora para o Lulu não fugir de novo – disse ela – Obrigada de novo, mas, por favor, tira o gatinho de lá.

- M-Mas..

A mulher já havia se retirado. Diego olhou no relógio de seu celular e viu que já estava atrasado mais do que o suficiente. Podia sair dali agora e, correndo, chegaria exatamente quinze minutos atrasado. Quando estava para fazer isso, escutou o miado do gato.

- Ah, mas que droga – disse Diego, olhando para cima e vendo o jeito meio assustado do gatinho – Tsc. Não adianta. Tenho mais compaixão por animais do que por humanos. Fala sério!

Diego acabou tentando subir na árvore. Primeira tentativa: se atrapalhou ao colocar o pé em uma parte da árvore e escorregou, caindo com o traseiro no chão. Segunda tentativa: ele se aproximou do gato, mas ele parecia ainda mais assustado com Diego chegando perto. O animal percebeu que logo atrás havia um muro, saltou para lá e desceu para uma casa próxima. Fim do problema.

- Maldito...por que não olhou para trás logo? - reclamou o garoto.

Passado esse acontecimento, Diego saltou da árvore (quase caindo com o traseiro no chão de novo), olhou para o relógio mais uma vez e arregalou os olhos. Já havia se passado tempo demais nessa brincadeira e ele precisaria correr. E mesmo assim, não chegaria com quinze minutos de atraso e sim com uns dezessete ou dezoito.

- Oh, droga – reclamou ele – Mas tudo bem...ela não deve ter chegado em cima da hora mesmo.

Diego apertou o passo, mas já havia corrido demais naquele dia. Não aguentava correr muito e, quando chegou, já haviam se passado vinte minutos desde o primeiro sinal. A inspetora não o deixou subir para a aula e ele teve que ficar no pátio. Bem, pelo menos isso, estava de acordo com seus planos. O problema é que seu atraso foi maior do que pensava. Diego olhou para uma das mesas do pátio e viu Bianca conversando com Ciro. E, exatamente naquela hora, ele viu o garoto colocando o bilhete na mochila dela. Sim, Diego havia se atrasado demais.

- Cheguei tarde demais – disse ele – Droga!

O rapaz não conseguiu impedir aquele evento. E o que podia fazer? Tentar tirar o bilhete da mochila dela? Se ela visse, Diego poderia ser acusado de ladrão ou algo pior. E se o bilhete estava assinado por Ciro, não podia nem mesmo disfarçar e dizer que o bilhete era dele mesmo. Sua tentativa de impedir a ação de Ciro falhara.

- Nossa, você nunca chega atrasado – disse Vanessa, ao ver Diego chegando para a segunda aula – O que aconteceu? Já tava dando uns pegas na Bianca?

- Antes fosse – respondeu Diego, não muito humorado.

- O que foi? Pela sua cara, aconteceu alguma coisa ruim.

- Digamos...que meu plano não deu certo.

- Plano?

- É. Eu usei o Mind Clock. Já sei o que vai acontecer nesse dia.

- Aff...é você que usa o Mind Clock e eu que fico confusa. Nunca sei quando você sabe o futuro e quando não sabe.

- E o futuro que eu vi não é dos melhores...

Diego explicou tudo que aconteceria entre Ciro e Bianca naquele dia e como ele não conseguiu impedir o evento.

- Mas você é muito azarado mesmo, heim? - comentou Vanessa – E agora? O que você vai fazer?

- É simples – disse ele – Vou usar o Mind Clock de novo!

- Vai reviver esse dia de novo? Isso não é entediante?

- Muito. Saber tudo que vai acontecer no dia é uma sensação horrível. Mas é necessário!

- Bom, espero que dessa vez dê certo. Tem que dar.

- Ainda bem que você está torcendo bastante.

- Tenho que torcer...

- Como assim?

- Por que somos amigos, né? - disse ela, mudando logo de assunto – Mas me conta: o que mais vai acontecer hoje?

- O professor de geografia vai faltar e teremos sociologia no lugar.

- Ai, que saco – reclamou ela.

A ação de Diego não deu certo, mas o rapaz ainda não desistiu. Na mesma noite ele usaria o Mind Clock de novo e calcularia melhor seus passos. Pelo menos agora ele tinha uma pista a mais: o horário exato em que Ciro colocaria o bilhete na mochila de Bianca. Sua próxima tentativa não poderia dar errado. Será?


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Notas finais do capítulo

Será que esse é o tipo de evento que pode ser impedido? Continue acompanhando ^^