Capitulo 15 – Luz e Trevas.

“Sem Trevas não existe Luz. Assim como não existe Luz sem Trevas. Uma completa a outra. Ambas são irmãs, e caminham sempre juntas dentro de cada ser.”

Arregalei os olhos quando os gritos dolorosos de Acnologia me atingiram. E ele gritava mais e mais enquanto a poeira baixava.

Assim que um vento leve bateu levando o amontoado de grãos de areia que se erguerão na atmosfera, não deixei de me assustar perante a cena que se mostrava.

Eu sei que Acnologia é perigoso. Sei que deve ser parado. Mas...

Mas isso não quer dizer que deve ser morto. Ele... ainda é um ser vivo. Apesar de todo o mal que ele fez – e que ainda fará – ele ainda merece viver e pagar por tudo que fez.

Senti minhas asas pesarem novamente. E devagar meu corpo rastejou para o chão enquanto minha visão não desviava daquela cena horrorosa.

Do chão, grandes estalagmites de metal se erguiam atravessando – em diversos pontos – o corpo do Dragão fazendo o sangue do mesmo escorrer e pingar manchando o chão.

E quando reuni coragem o suficiente para observar a dona de tal feito foi apenas para sentir-me enojada.

Lá estava eu. Ou melhor, lá estava meu corpo com sombras dançando a seu redor. Mas ela – ou eu – não demonstrava nada.

Nem raiva ou receio. Apenas o nada.

E então ela veio em minha direção e parou ao meu lado ainda encarando seu feito.

- Por quê?

- Você sabe o porquê! – afirmou-a baixo. – Eles machucaram aqueles que amamos.

- Mas ele não merece morrer! Merece pagar por tudo o que fez, sim, mas matá-lo não vai nos tornar melhor que ele.

Foi então que fui pega desprevenida por um sorriso.

- Precisamos deles – informou-a. – Apesar de que trabalhamos melhor juntas... – resmungou ao fim.

- A união faz a força! Mas enquanto estamos separadas aproveitarei para despertar Weisslogia e Skiadrum.

- Boa sorte, sendo que apenas aquele loiro girassol pode te ver – ela fez uma careta. Logo se voltando para o Dragão. – Sutairu no Hantã: Akuma! (Estilo do Caçador: Demônio)

Observei a armadura dourada de detalhes em negros tomar-lhe seu corpo assim como suas asas tornaram-se maiores e emitiam um brilho esverdeado. Uma espada de lamina negra e detalhes em ouro apareceu em sua mão – a espada do juiz do apocalipse -, e a bainha desta pendia sob o cinto de couro marrom. Seus cabelos – meus no caso – tornaram-se branco-azulados, alem de terem ficado incrivelmente maiores. E por fim a pele... sua pele tinha adotado um tom escuro meio brilhante enquanto sombras dançavam ao seu redor.

Aquela era a Eu demônio. O ser que passou séculos sendo temido. Um monstro. Agora, a minha Luz e a única esperança.

Logo ela tomou voou.

O grito choroso de Acnologia rapidamente chegou a meus ouvidos. Este logo sendo seguido por um grunhido de raiva quando as estalagmites de metal já não mais existiam.

E a batalha recomeçou.

Apenas ela contra a criatura.

Vir-me-ei logo encontrando um par de olhos claros sobre mim. Eles estavam cheios de dor.

Apressei o passo até Sting. Ele ainda estava caído encostado sobre o pequeno muro e pude ver Rogue próximo a ele tentando erguer-se.

Assim que cheguei até eles e abaixei-me ao lado de Sting. Afinal era apenas ele que me via naquele momento.

- H-Hei – murmurou-o para mim. Sorri.

- Não devia falar – cantarolei vendo-o me franzir o cenho enquanto Rogue fazia o mesmo, só que para ele.

- Esta falando com quem? – indagou o moreno.

Soltei um riso baixo.

- Não esta v-vendo a blonde aqui? – ele apontou para mim enquanto olhava para Rogue. Continuei rindo.

O Cheney negou franzindo ainda mais a testa.

- Pergunta a ele se ele sente isso – pedi curvando-me sobre Sting e aproximando-me de Rogue dando-lhe um leve beijo nos lábios.

Afastei-me com um sorriso pequeno enquanto o loiro me olhava de testa franzida.

- O que diabos foi isso? – indagou-me.

- O que? – coitado do Rogue, não esta entendendo nada.

- Ela acabou de te beijar! – afirmou enraivecido.

Vi Rogue arregalar os olhos.

- Certo então. Vamos ao que interessa – afirmei ficando seria. – Sting me dê sua mão.

Devagar ele estivou a mão para mim. Assim que toquei sua pele pude sentir o calor da vida que escorria por dentro das veias circulando por todo o corpo.

Respirei fundo.

- Shugo Sutairu: Tenshi (Estilo do Guardião: Anjo) – murmurei logo sentindo o calor da magia de Sting envolver-me.

Rapidamente uma voz chegou a meus ouvidos.

Enfim me achou... Afirmou Weisslogia. Quanto mais acha que eu esperaria? Ignorei-o. No fim ele possuía a mesma personalidade chata que o Eucliffe...

Quando abri os olhos foi apenas para deparar-me com um Rogue muito assustado.

Sorri e logo o vi ofegar.

- É... r-real? – indagou. Dei um breve aceno em afirmação.

- Agora preciso trazê-los para a forma original de vocês – informei esticando a mão para tocar o rosto do Cheney para assim contatar Skiadrum.

Sempre a sua disposição My Lady. Afirmou a voz de meu Dragão Negro.

- O que quer dizer com isso? – indagou Sting. – Eu e Rogue somos humanos!

Abri os olhos para encará-los.

Suspirei.

- Não tenho tempo para explicar tudo, então darei um breve resumo. – afirmei.

- Hikari (Luz) isso é para hoje ainda? – ouvi a voz da minha parte trevas ao longe.

- Mais cinco minutos Yami (Trevas) – gritei. Voltando-me para os rapazes. – Quando vocês mataram seus Dragões, Weisslogia e Skiadrum, eles na verdade transferiram a vida deles para seus corpos. Agora as almas deles repousam no interior de vocês dois, assim como a magia deles também.

Afastei minha mão da do loiro e levei-a para seu rosto fazendo-o corar de leve.

- Vocês deixaram de ser humanos muito jovens. Agora são dragões com forma de humanos, mas diferente de Dragões originais – dei um curto sorriso triste - vocês podem ficar o tempo que quiserem como humanos, mas em compensação não podem assumir a forma Draconiaca por mais que alguns dias.

Quando acabei ambos encontravam-se de olhos arregalados.

- E-Então... q-quer dizer... – gaguejou Rogue.

- Vocês não os mataram... Não são uma escoria como se definem. – neguei. – Muito pelo contrario... Vocês tornaram-se o maior sonho deles. – eu já podia sentir as lágrimas escorrendo por minha face.

- L-Lucy... – murmurou o loiro.

- Me perdoem, eu não tenho muito tempo – chorei. Levando a mão e tocando o ponto onde o coração deles batia rápido. Fechei os olhos. – Pelas Trevas e pela Luz. Eu ordeno que os Guardiões do Equilíbrio despertem. Weisslogia e Skiadrum abram seus olhos para o mundo mais uma vez!

Respirei fundo erguendo-me enquanto os gritos de agonia de Sting e Rogue chegavam aos meus ouvidos. Eu não suportava ouvi-los sentir dor, mas era necessário.

Fechei os olhos e vir-me-ei caminhando para onde minha Yami pousava ofegante.

- Pronta? – indagou-a.

- Mais do que você – afirmei.

Logo estivamos as mãos tocando uma na outra.

Eu podia ver tudo ao redor se iluminar com a luz que irradiava de mim assim como podia ver o destaque das trevas de Yami.

Fechei os olhos sentindo-me ser puxada de volta para meu corpo. Era uma sensação boa, claro que até ser substituída pela dor.

Ofeguei caindo de joelhos já quando me encontrava de volta em meu corpo. Eu estava em minha forma humana mais uma vez.

Por mais uma vez os gritos – misturados a grunhidos – chegaram a mim.

Coloquei-me de pé apesar da dor. E quando me virei foi apenas para deparar-me com as criaturas mais belas que já vi.

Eram grandes e possuíam cores opostas – um negro como a noite possuindo asas com detalhes acinzentados e o outro branco como neve com asas e alguns detalhes na cabeça em azul celeste. Eram eles... ou melhor, era apenas a forma deles.... ali ainda eram Sting Eucliffe e Rogue Cheney.

Eles vieram em minha direção. Abri um curto sorriso perante o breve deja vu que senti.

Notei que o dragão Negro – Rogue – abaixou a cabeça para olhar-me de frente.

Acariciei-o notando que o mesmo apenas fechou os olhos e inclinou um pouco a cabeça. Como na manha em que nos beijamos...

- Por favor, mantenham Acnologia ocupado enquanto faço um feitiço de aprisionamento para ele – murmurei sentindo a fraqueza em minha voz.

Eles assentiram e logo o moreno ergueu a cabeça novamente.

E assim ambos partiram para cima do Dragão Negro que, infelizmente, era maior que os dois juntos. Mas eles estavam conseguindo afastá-lo para que não machucasse – ou matasse – mais ninguém.

Suspirei desviando o olhar para o que restara do local.

Tudo destruído... mas logo avistei algo brilhando. Cerrei o olhar apenas pra deparar-me com uma espada intacta pouco ao longe.

Franzi a testa já tendo uma idéia.

Desviei o olhar em busca de Yukino.

Talvez... só talvez. Eu pudesse punir Acnologia sem precisar matá-lo e eu já tinha a idéia perfeita de como fazer isso.

Sorri e logo segui para onde a lâmina se encontrava.

xXx

7 de Julho de X791. Acho que era por volta de três da tarde, ou talvez fosse até mesmo mais tarde. Não dava para ter certeza.

Mas eu sei que foi naquela hora que eu tive uma idéia incrível. E apesar de saber que aquilo era estritamente proibido, sem contar que era por deveras arriscado. Eu, ainda sim, o fiz.

Naquele momento eu tinha certeza que aquilo era o melhor a se fazer. E ainda hoje eu penso assim. Mas talvez eu devesse ter pensado em outra coisa... algo menos complicado...

Ou talvez eu apenas deve-se ter deixado que o matassem.

Mas não importa mais isso... no fim de tudo... quando o sol iluminasse mais uma vez os céus... eu daria adeus a aqueles que amo.