Capitulo 14 – Lágrimas de Anjo.

“Anjos choram! Mas os motivos são apenas do conhecimento deles.”

Cambaleei assim que meus pés tocaram o chão. Mas eu não podia fraquejar agora.

Respirei fundo e abaixei-me tocando ambas as mãos no chão de mármore.

Rapidamente um circulo dourado apareceu abaixo de mim. Eu podia ouvir o som da terra sendo deslocada e escavada. Em questão de segundos uma fenda apareceu a minha frente.

Respirei fundo antes de jogar-me dentro do buraco.

O meu redor escureceu, e tudo o que eu sentia era o vento devido à velocidade com a qual eu caia. Ao fim da queda meus pés encontraram o chão com brutalidade, pude ver o chão rachar-se abaixo de mim.

Quando ergui o olhar logo deparei-me com o grande portal de pedra. A sua frente havia um tipo de altar e sobre ele pude ver a minha replica deitada.

Sorri torto, então a Fairy Tail havia fracassado na missão... ou então a Eu do futuro criou outra replica.

Pus-me de pé já sentindo o olhar atento de Arcadius, do Rei e da princesa sobre mim.

- C-Como...? – começou o homem de armadura reluzente.

Dei meu melhor sorriso.

- Vocês nunca me capturaram – afirmei, e em um breve aceno a figura deitada sobre o altar de pedra desapareceu em partículas luminosas. – Sou a verdadeira Heartphilia!

- N-Não... ela prometeu... ela me disse que tínhamos de concertar tudo, disse que havia capiturado a verdadeira – falou a princesa. Eu já podia ver lágrimas se formarem em seus olhos.

- Eu concertarei tudo – confirmei. – Mas ninguém voltará no tempo!

- Eu voltarei! – afirmou o cavaleiro. – Nem que eu tenha de te matar para que o plano Eclipse aconteça. Eu voltarei e impedirei que Zeref e Acnologia existam!

Ri.

- E depois? Hm? – indaguei. – Você mudara o curso da historia, e depois o que acontece?

- Tenho certeza que a historia será mudada para melhor – confirmou-o. Desta vez não pude me segurar.

E minha risada alta ecoou.

- Crianças, é isso que vocês são... Crianças que acham que podem mudar o passado para que o futuro se torne melhor – neguei. – Não existe essa de “futuro melhor”! – dei um passo em direção a eles enquanto sentia minhas asas estremecerem e se alongarem. – Se Zeref e Acnologia não existirem não haverá mais “Trevas” ou “Luz”. Não haverá mais vida. Esta mesmo disposto a quebrar o equilíbrio apenas por que o agora não lhe é conveniente?

Vi-o dar um passo em minha direção.

- Esta mentindo! – afirmou.

- Olhe ao seu redor. Por que eu mentiria? Que motivos eu teria para isso? – mexi as mãos devagar e pude ver as diversas chaves de ouro desencaixarem-se do portal e virem para mim. Peguei-as e as depositei na pequena bolsa que havia no meu cinto de couro. – Essa sua ambição não passa de algo sem sentido. Desista! Isso é tudo o que posso lhe aconselhar antes eu mesma resolva lhe punir, por que agora, nesse exato momento, existem magos que estão lutando para que exista um futuro. – vir-me-ei para encarar a princesa. – O que ela havia lhe falado é verdade, Acnologia veio destruir tudo. Mas só seremos vencidos se perdermos a fé em nossos nakamas. Se vocês desacreditarem naqueles que estão tentando vos proteger, vai ser o mesmo que declarar a própria derrota nessa guerra. – ela estava à beira de entregar-se as lágrimas.

Neguei.

- Esse plano acaba aqui – afirmei e curvei-me tocando as mãos no chão. Respirei fundo. – Tsuchi: Sekai no Hakaimono (Terra: Destruidor de Mundos).

Pude ver diversas fissuras se abrirem indo em direção ao portal, mas nenhuma chegou a danificá-lo.

Mordi o lábio. Yuki-nee faz seus portais com bastante capricho. Será difícil me livrar desse.

- Droga... – então vamos mudar a tática. Juntei as mãos frente ao corpo. – Em nome da guardiã dos portais eu ordeno que feche – proclamei. – Azarashi! (Selar)

E então eu vi a superfície da pedra trincar assim como também podia sentir a magia esvair-se de meu corpo.

O gosto metálico do sangue invadiu meu paladar enquanto minhas pernas fraquejavam. Separei as mãos apontando dois dedos para o portal e tocando a outra mão completamente no chão de pedra.

- A-Azaras-shi... – murmurei.

Aos poucos o portão desfazia-se em pedaços.

Ofeguei quando vi o ultimo pedaço quebrar. Arg... todas as dores do meu corpo estavam voltando... eu podia sentir, até mesmo, minhas asas latejando. Maldição!

Sentei-me no chão e levei uma das mãos à cabeça. Oh, que dor... foi então que de canto de olho eu vi uma parte do teto desmoronar.

Maldição! Quanto azar eu ainda hei de ter?

Com as mãos tremulas peguei a chave de Virgo e a convoquei.

- Hora da punição Hime? – neguei.

- L-Leve todos de volt-ta para cima – pedi. Vi-a assentir e logo abrir os braços enquanto um imenso circulo mágico dourado aparecia abaixo dos presentes. Apenas eu, a própria Virgo, a princesa, o rei e Arcadius.

Fechei os olhos por alguns segundos a fim de amenizar a dor e tentar controlar a respiração. Apesar de que estava difícil fazer o mais simples movimento. Quanto a respirar? Bom, cada golfada de ar que adentra em meus pulmões me faz ter a breve impressão de que estou me afogando em nada.

Assim que abri os olhos novamente tudo o que pude ver foi o mundo girar. Eu estava no limite.

- V-Vão para a-alg-gum lug-gar segur-ro – murmurei e logo os vi correr para longe. E assim meu corpo pendeu rapidamente encontrando o chão de terra.

Soltei um gemido baixo. Virgo não mais estava presente. E eu não possuía magia para chamar qualquer espírito estelar. Posso sentir que Loki está machucado devido a ter tentado atravessar o próprio portal quando ainda tinha a chave ligada a aquele portal do tempo.

Vir-me-ei para encarar o céu.

Era impossível avistar qualquer estrela. Havia apenas nuvens acinzentadas, nem mesmo a lua eu conseguia avistar.

Tentei erguer-me mais não dava. Doía... cada músculo do meu corpo... era como se estivessem me despedaçando... eu já passei por isso, e não é algo muito agradável.

Com um suspiro fechei os olhos.

Você precisa ir Luce... precisamos de você. Ouvi a voz de Weisslogia. Eu queria... eu precisava ir até eles... mas... não dava. Doía demais.

Lu... por favor, Lu... nos salve... ele esta nos matando... precisamos de você. Todos precisamos de você. Skiadrum... Senti-me uma idiota fraca naquele misero segundo. Eu estava abandonando-os... estava abandonando quem eu amo... meus amigos... irmãos... meus Dragões...

Com dificuldade consegui erguer-me.

Minhas pernas estavam bambas. Minhas mãos tremiam. Todo o meu corpo doía. Eu podia sentir lágrimas escorrendo por minha face há cada grito que ouvia ecoava pelos céus. Minhas asas pareciam pesar demais e minha cabeça latejava mais a cada segundo.

Mesmo assim comecei a caminhar. Queria ter forças para voar, mas não dava.

- P-Por f-fav-vor... não m-morram... – murmurei para mim na esperança de que eles me ouvissem. – Eu... E-Eu vou c-cheg-gar a voc-cês... eu v-vou salv-vá-los... só... aguent-tem... – chorei logo tropeçando e logo sentindo a terra abaixo de mim.

Solucei enquanto forçava meu corpo a erguer-se.

Tentei e tentei, mas não dava. Eu fraquejava e escorregava, sempre voltando ao chão.

E então... eu apenas desisti. Fechei meus olhos e apenas deixei-me vagar. Deixei minha alma escorrer para fora de meu corpo. Enquanto meus lábios moviam-se entoando uma canção perdida.

Se eu não podia salva-los, queria ao menos vê-los antes do fim.

E quando abri novamente os olhos foi apenas para ver meu corpo caído ainda tendo lágrimas escorrendo por sua face... lágrimas negras. Lágrimas de anjo.

Eu podia sentir que mesmo em espírito eu também chorava. Eu sentia... o fim estava próximo.

Remexi levemente minhas asas. Estavam mais leves assim como meu corpo. Abaixei a cabeça para mim mesma e pude ver que não possuía nenhum machucado.

Ignorei o fato de que estava ótima e em um leve bater de asas segui rumo ao local onde o Dragão Negro lutava com meus filhos.

Assim que cheguei deparei-me com uma cena horrível.

Zeref e Rogue lutavam contra Acnologia unindo magias. Mais atrás Wendy, mesmo cheia de machucados, dava suporte.

Não consegui localizar mais ninguém. Havia diversos escombros e varias casas caídas ao longe.

Bati asas e subi mais. E logo avistei Gajeel escondido atrás de um muro que se desfazia, em seus braços jazia o corpo de Levy mais pálido que o normal enquanto podia-se ver uma grande quantidade de sangue manchando a roupa da azulada.

Ele estava chorando.

Desviei o olhar da cena apenas para deparar-se com Hibiki e Kagura tentando tirar alguém debaixo dos escombros de um prédio.

Caída um pouco ao longe estava Juvia que se arrastava até Gray desacordado. A azulada deixava um rastro enorme se sangue para trás enquanto o moreno também possuía uma grande poça de sangue abaixo de si.

Eu podia sentir meu coração afundar. Quando virei o olhar foi apenas parar deparar-me com Natsu caído tentando pôr-se de pé. Próximo a ele estava Sting sentado encostado em um muro baixo segurando fortemente o braço esquerdo.

De relance pude ver apenas um vulto negro correr para voltar a atacar o Dragão.

E havia mais.

Ichiya estava caído, morto provavelmente.

Não havia nem sinal de Erza, Mira, Laxus, Makarov ou Jellal.

Ao norte pude ver Jiemma – mestre da Saber – arrastando-se em direção a onde o corpo de Minerva repousava. Eu podia sentir o arrependimento dele. Ele queria apenas ter cuidado melhor da filha.

As lágrimas intensificaram-se.

Por que tem que terminar assim?

Coloquei as mãos sobre o rosto e solucei.

Por quê?

Eles não merecem morrer. Se há alguém que merece a morte, esta sou eu! Foi por minha culpa, por minhas escolhas que tudo isso esta acontecendo.

Solucei novamente. Foi então que senti um torpor e rapidamente uma nuvem de poeira ergueu-se.

E então aconteceu.

- Josei Chikyü Sutairu: Kinzoku e no Gyaku Henkan! (Estilo da Dama da Terra: Conversão Reversa ao Metal)

xXx

Quando eu me lembro daquele dia... quando lembro de tudo... eu não deixo de me perguntar se eu sou realmente muito azarada ou sortuda a ponto de não precisar de uma alma.

Quando eu vi aquela figura aparecer em meio à poeira. Quando a vi em pé preparando-se para investir contra a fera ferida eu me senti alegre e assustada ao mesmo tempo.

Alegre por que ela estava lutando contra o Dragão e eu tinha plena certeza que sozinha Ela poderia vencer.

Mas amedrontada por que quando Ela acaba com um alvo... Ela caçaria o próximo... por que não há como controlá-la. Ela apenas ira caçar até que não haja mais vida a sua volta.

É sempre assim... Ela é incontrolável. Por que Ela é as trevas. Ela é a parte de mim que ninguém jamais deve conhecer.

Nem um Demônio, Nem um Anjo.

Apenas um corpo vazio e irracional que sabe apenas lutar e lutar.

Ela é a verdadeira Eu!

Isso era o que eu pensava. Eu achava que a esperança já tinha ido embora a muito tempo. Mas hei de que minhas Trevas tornaram-se minha Luz.