Luana POV’s

Era hoje.

Larissa volta hoje, e eu estou muito feliz.

Bem, pelo menos gostaria de estar me sentindo assim.

Feliz, não posso negar que estou um pouco, quero dizer, ela é uma ótima amiga e eu estava morrendo de saudades, mas não era só felicidade o que eu estava sentindo, por mais que eu quisesse. Eu estou nervosa, apreensiva, querendo gritar e tenho certeza de que minhas unhas não vão me perdoar por hoje, mas não posso fazer nada com a minha mania de roer as unhas, principalmente quando estou nervosa. Isso também era um dos principais motivos para eu não ir a manicures, pois eu sabia que não adiantaria em nada se daqui a um dia e meio as unhas estariam todas roídas e com o esmalte descascando.

Ah sim, também fico pensando em coisas totalmente aleatórias quando estou nervosa, ou a beira de um colapso, tanto faz.

Ontem á noite eu conversei com Harry sobre isso porque eu acho muito estranho me sentir assim; Larissa é minha amiga. Como sempre, Haz me acalmou um pouco, dizendo que era normal, que a gente ainda não se viu desde que tudo aquilo aconteceu. Como eu mesma não tinha uma explicação melhor acabei concordando com ele e suspirei alto, deitando minha cabeça em seu colo logo depois. Ele fez carinho em meus cabelos por um tempinho, mas sabia que ele queria falar sobre mais alguma coisa. Alguma coisa que só me deixaria mais nervosa.

–Harry, o que foi? - Perguntei sentindo que ele queria continuar conversando, mas não era mais sobre Larissa.

– Nada... Fica tranquila Lu, não é nada - Ele disse dando de ombros como sempre faz quando quer que eu deixe algo para lá, mesmo sabendo que devo ser a pessoa mais curiosa que ele já conheceu, e também a mais persistente.

Meu pai sempre me disse que persistência é uma ótima qualidade, porque ela, junto com a ambição, poderia fazer acontecerem coisas inimagináveis. Eu não entendia o que aquilo significava, até porque com oito anos eu não sabia o significado da palavra “ambição”.

– Harry, sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa... - Disse levantando a cabeça e lhe dando um selinho.

– Eu sei Lu - Ele falou passando as mãos pela minha cintura e eu me senti acolhida em seus braços, como sempre me senti para falar a verdade - Mas você já está nervosa o suficiente com isso da Lari voltar e não quero te deixar com mais coisa na cabeça - Haz falou e em seguida me beijou.

Golpe baixo. Ele sabe que o beijo dele me deixa tonta e meu cérebro fica igual a uma gelatina, ou seja, nada de pensamentos coerentes. Ah sim, e normalmente depois do beijo eu tenho aquela tendência de esquecer o que estávamos falando.

– Harry, isso é golpe baixo! – murmurei e ele deu uma risadinha enquanto olhava diretamente para mim com aqueles olhos tão verdes que chegavam a me deixar um pouco tonta – Vai, pode me dizer – Ele percebeu que dessa vez seu beijo não me causou um amnésia, porém ele nem imaginava o tamanho do esforço que eu precisei fazer para que isso não acontecesse.

– Eu só queria saber como vão as coisas com Dona Madalena – Haz falou e lógico que não acreditei, primeiro porque isso não me deixaria mais nervosa e segundo que eu o conhecia bem demais para saber quando Harry Schmitt estava mentindo.

– Falta só uma semana para acertarem as coisas e logo ela estará embarcando num avião – resolvi responder, mas o senti tremer quando falei embarcar num avião, sabia que, para Haz, aviões agora significavam adeus e dor.

– Já disse que sou muito orgulhoso de você? – Ele perguntou enquanto fazia carinho em minha barriga.

– Já, mas eu sei que não era isso que você queria falar Haz – Falei e seus dedos fizeram um padrão estranho perto no meu umbigo antes dele falar de novo.

– Já disse que você é muito persistente? – Harry me respondeu com uma pergunta e eu esperei pacientemente enquanto brincava com seus dedos – Mas não, não era isso. Eu queria falar sobre aquela minha suspeita – Pude sentir que ele esperava minha reação.

– Aquela em que você disse que na verdade, o incêndio não foi um acidente? – Ele assentiu – Pode falar Haz, e não precisa ter medo de minhas reações ok? Acredite eu aprendi a ser forte.

– Eu sei Lu, e você não faz ideia do quanto eu queria que você não tivesse aprendido dessa forma – Eu sempre adorei o jeito como Haz se importava comigo, como um verdadeiro amigo.

Mas não é isso que somos, amigos? Com certeza. Nos amamos? Com todas as forças.

– O que você queria me dizer? – Perguntei voltando ao assunto.

– Que bem, já que vamos “investigar”, temos que começar por algum lugar. Eu tenho alguns jornais velhos de quando aquilo tudo aconteceu e você trabalha na biblioteca... Deve ter algo por lá – Harry falou e eu senti algo dentro de mim revirar.

– Também poderíamos pedir ajuda para seu pai... Se você concordar é claro.

O pai de Harry já trabalhou como investigador, mas devido ao seu trabalho ocorreram diversos problemas sua mãe achou que a solução seria o divórcio. Haz ficou destruído por muito tempo, pois sempre fora ligado a mãe. Foram as quatro semanas mais difíceis para nós, porque eu passei por tudo aquilo com Harry.

– Eu posso ligar para ele depois. Ver se ele concorda em nos ajudar. Mas não se preocupe ok Lu? A gente não vai começar agora, até porque Lari estará de volta amanhã e bem... Você entendeu. Depois a gente poderia perguntar se ela nos ajudaria...

– Não. Não quero envolve-la nisso, parece... Perigoso demais – Eu disse o cortando e depois suspirei. Se eu achava que era perigoso, porque eu mesma estava pondo-me em risco e à Harry? Maldita curiosidade, maldita persistência.

– Luana, se você não quiser...

– Não Harry, eu quero. Ou melhor, eu preciso. Porque, se há mesmo algo para ser descoberto, se há algo para eu saber, eu quero saber. Eu quero entender.

Eu quero, mas será que eu me machucaria muito ao descobrir? Será que conseguiria enfrentar as consequências? Ou ainda, será que essas consequências seriam catastróficas? Quero descobrir, mas estou com medo de tentar.

– Olha, não precisa ter medo ok? Eu entendo que você quer saber, mas se tiverem grandes consequências eu estarei aqui, por você. Com você – Me virei da melhor forma que consegui levando em conta que estava em seu colo e o beijei mais uma vez, um beijo singelo, mas muito significativo – Amanhã ligarei para meu pai. Quando Lari se estabelecer e matarmos as saudades vou te dar mais um tempo para você se decidir se vai ou não querer que ela se envolva e depois disso, te digo a resposta – Assenti e dei um sorriso e ele espelhou meu movimento.

– Eu te amo – Ele disse e senti todo meu corpo se esquentar e meu coração bater mais forte. Harry me amava, era só isso que importava.

– Eu te amo – Sussurrei de volta para ele como se qualquer barulho mais alto pudesse atrapalhar esse momento.

Lembrar de ontem me fez apetar um pouco mais forte a mão de Harry, que estava entrelaçada a minha.

– O que foi? Nervosa ainda? – Ele me perguntou e balancei a cabeça como uma negativa.

– Só pensando – Respondi e ele me lançou um sorrisinho de lado.

– O voo dela pousa daqui a quinze minutos – Haz falou apontando com o queixo para o painel dos voos e eu suspirei. Não estava mais nervosa, porém continuava apreensiva – Tem certeza de que está bem? – Ele checou uma última vez e eu lhe dei um beijo rápido.

– Certeza absoluta, vamos? – Eu perguntei e Harry se levantou e continuamos de mãos dadas ao caminhar até a área de desembarque.

O mesmo aeroporto, o mesmo lugar onde há praticamente dois anos atrás eu me despedi do Haz, onde o deixei sozinho sentindo uma culpa desnecessária. O mesmo lugar onde desembarquei há três meses achando que ele não tinha ido, achando que ele desistira de mim.

Agora Lari desembarcará daqui a dez minutos nesse mesmo lugar. Só que agora Haz não estava magoado e eu não estava destruída. Agora as coisas estavam certas; em seus devidos lugares.

Harry POV’s

Ainda estava preocupado com Luana. Era muita coisa para a cabeça dela; para a cabeça de qualquer um, mas ela estava determinada a entender o que quer que tivesse acontecido em seu aniversário de dezesseis anos já que a própria polícia não se deu o trabalho de explicar muita coisa.

Na verdade, ela estava tão focada nisso somado à chegada de Lari que acho que Luana se esqueceu de que fará dezoito anos daqui a duas semanas. Sacudi a cabeça dando uma risadinha e ela levantou uma sobrancelha, mas nada disse.

Esse aeroporto definitivamente faz parte da minha vida. E não do jeito bom.

E eu não quero pensar nisso, não de novo e muito menos agora que as coisas estão se acertando. Que tudo está voltando para seu eixo.

– Harry, como você acha que ela está? – Luana me perguntou olhando fixamente para a porta da área de desembarque.

– Bem, nós vamos descobrir agora certo? – Disse no momento exato em que uma voz anunciou o pouso do voo e uma aeromoça surgiu aconselhando às pessoas que rodeavam ali para afastarem-se só um pouco para dar espaço aos passageiros que desembarcavam.

Uma a uma, as pessoas foram descendo do avião e Luana se esticava ao meu lado para conseguir enxergar por cima das cabeças amontoadas. Como eu era mais alto conseguia ver com maior facilidade e assim localizei facilmente uma figura um pouco alta, esguia de cabelos cor de caramelo e olhos castanhos profundos, carregando uma mala azul simples vestida com uma jaqueta jeans, blusa preta, calças e sapatilhas beges.

Ela encontrou meu olhar e deu um pequeno sorriso, cutuquei Lu e a ajudei a passar pelas pessoas até chegarmos à menina de castanhos olhos profundos.

– Larissa! – Luana falou ao meu lado, mas seu tom estava parecido com o de alguém que prendia o ar por muito tempo e que agora conseguia solta-lo com facilidade.