POV Nico

 Era apenas um jantar. Todo mundo janta. Seria um jantar como todos os outros que eu tenho todos os dias. Então, por que eu estava tão ansioso? Eu me preocupei na hora de me trocar, coisa que nunca acontece comigo. Coloquei uma calça jeans e uma camiseta preta. Não estava a fim de colocar minha jaqueta preta, porque estava é um pouco quente aqui em baixo e eu estava um pouco nervoso, não me pergunte o porquê.

  Será que era porque eu vou jantar sozinho com a Jessie? Como eu queria que meu pai e Perséfone estivessem aqui. Quer dizer, eu não queria não.

 Quando abri a porta para sair fiquei esperando por ela do lado de fora. E se ela não estivesse pronta ainda? E se ela já tinha ido para o salão? Decidi bater na porta para ver se ela estava lá, para acompanhá-la.

 Fiquei com um pouco de receio em bater na porta. E se ela achasse que eu estava apressado? E se ela achasse que eu era intrometido? E se ela não quisesse minha companhia até o salão?

 Bati na porta de uma vez e me arrependi depois. Mas eu já tinha feito, então esperei para ver se ela iria atender. Passou um tempo bem pequeno e ela abriu a porta.

 Ela estava... Linda.

 Aproveitei que ela não olhava em meus olhos, não sei o motivo, e observei cada centímetro dela. Segurei-me para não abrir a boca. Foi quando percebi o motivo dela não olhar em meus olhos. Ela estava olhando para mim. Para minhas roupas. Do mesmo jeito que eu olhava para ela. Fiquei um pouco envergonhado, e ela, quando percebeu a situação, também ficou.

-Tenho que agradecer pelo armário que tem aqui – ela disse tentando quebrar o clima chato – Nunca iria conseguir me arrumar.

Eu ri sem motivo, acho que era porque eu estava um pouco nervoso.

-Vamos? – eu perguntei e ela afirmou, me seguindo.

 O jantar foi ótimo... Até certo momento. Eu e Jessie estávamos jantando como pessoas normais, tirando o fato de fantasmas estarem nos servindo e nós estarmos no inferno. A comida estava ótima e nós conversávamos animadamente, algo sobre como devemos agir se uma vaca entrar no seu chalé enquanto você toma banho. Até que ele apareceu.

 Como assim? Pelo que me falaram, ele iria demorar uma semana para voltar! Por que ele apareceu naquele momento? Perséfone disse que iria dar um jeito nele!

 Hades nos encarava mortalmente. Um olhar que eu sempre tive medo, mesmo sendo filho dele. Ele ficou nos observando por um tempo. Jessie, que estava ao meu lado, estava paralisada e dava para ver o medo em seu olhar.

-Então quer dizer que o meu filhinho decidiu ajudar a escrava? – Hades disse de um modo sarcástico. Meu pai nunca foi malvado, mas quando acontecia algo que ele não gostava, ele conseguia se tornar o vilão de toda a história.

-Pai – eu me levantei da mesa e fui para perto de Jessie, eu tinha que ficar ao lado dele, para protegê-la – Eu posso explicar. Você não pode tratá-la assim.

 Meu pai fez um sinal com a mão e dois esqueletos apareceram na sala de jantar. Eles começaram a andar até Jessie.

-Deixem ela no quarto dela – meu pai disse a eles- O quarto novo dela. E não deixem ela sair de lá.

 Jessie ficou um pouco mais calma ao ver que teria que ir para o quarto novo dela e não para aquele lugar horrível, mas eu, mesmo assim, não queria que eles tocassem nela.

 Os esqueletos puxaram-na pela blusa e começaram a empurrá-la para o quarto. Eu tentei impedi-los, mas eles foram mais rápidos. Logo depois que ela saiu meu pai fez um sinal para que eu o seguisse. Fomos andando em silencio, até que eu estava no escritório dele, um dos lugares que eu nunca tinha ido antes, acho que só uma vez, não me lembro direito.

-Nico – ele disse se sentando em uma cadeira e pedindo para que eu sentasse em outra, na sua frente – Parece que já está na hora de saber uma parte da historia dessa menina.

 Sentei na cadeira e fiquei em silencio, para que ele continuasse.

-“Há um tempo atrás, mais ou menos há 16, 17 anos, aconteceu uma guerra entre os Deuses. Foi uma guerra pequena, nem sei se posso chamá-la de guerra, e sim de discussão. O motivo não interessa. A única coisa que tenho que te explicar, é que eu precisei da ajuda de um Deus. Ares. Ele iria me ajudar muito. Ele aceitou, mas ele tinha uma condição: eu teria que cuidar da filha dele. Ares teve uma filha com uma mortal, mas a filha dele (de acordo com o oráculo) seria muito poderosa e a maioria dos Deuses iriam matá-la quando ela crescesse.

 E para isso não acontecer, ele teria que escondê-la de todo mundo. O Mundo Inferior seria o melhor lugar. Eu aceitei. Ares nunca mais pode ver a filha, pois ele não podia entrar aqui e a menina não podia sair, mas foi a única coisa que ele podia fazer para protegê-la. Eu trouxe a menina para cá.

 No começo, cuidei da menina como se fosse minha filha, já que meus verdadeiros filhos (você e Bianca) estavam longe de mim. Eu e Perséfone nos apegamos muito a ela.

 Mas um tempo depois, eu percebi que aquilo não era o certo. Eu tinha perdido aquela guerra, mas não podia me desfazer da menina. Descobri o passado dela, isso é uma coisa que eu não posso te contar, por enquanto.

 Saiba que ela tem um elo com você que ninguém tem. Vocês tiveram uma historia muito bonita. Mas isso é perigoso. Essa menina não pode ser vista por nenhum Deus, ela precisa ficar aqui. E se você descobrir esse passado, tudo poderá entrar em um colapso, criando uma futura guerra entre os Deuses, de novo.

Jessie é filha de Ares, tem um elo com você e está em perigo, muito perigo. E se você quer protegê-la, precisa deixar tudo como estava antes.”