POV Nico

Quanto mais eu andava, mais nervoso eu ficava. Porque, primeiro, eu estava levando Jessie para conhecer um lugar que eu nunca mostrei para ninguém, e segundo, ela caminhava em silencio, um silencio constrangedor se espalhou pelo local e eu não sabia o que fazer. E se ela quisesse ficar sozinha? Aproveitar o seu tempo livre para fazer coisas que ela sempre quis fazer? E se ela não quer conhecer esse lugar comigo? E se ela não gostar do lugar? Perguntas e mais perguntas rodeavam meus pensamentos e, ao mesmo tempo, eu não sabia se observava o caminho ou a garota que estava ao meu lado.

Não sei ao certo se estou fazendo a coisa certa, foi por impulso e por instinto que eu a convidei para conhecer o meu lugar, mas agora eu ficava pensando: isso está correto?

Filhos de Hades gostam de ficar sozinhos. No acampamento, eu ficava trancado no meu chalé. Vim para o Mundo Inferior, onde me escondo mais ainda e, para piorar, achei um lugar que só eu (eu espero que só eu) conheço. Não tem como ficar mais isolado, e, do nada, eu estou mostrando esse lugar a uma menina que eu acabei de conhecer?

É uma sensação estranha, como se eu conhecesse essa garota há muito tempo, mas, ao mesmo tempo, eu não sei nada sobre ela.

–É ali – eu disse, pela primeira vez, apontando para uma pequena caverna que se encontrava perto da margem de um rio.

–Uma caverna? – ela perguntou estranhando.

–A minha caverna.

Tive que ajudá-la a entrar. O caminho é um pouco, só um pouco, perigoso. Precisa andar por umas pedras, que são bem escorregadias, e pular entre uma e outra, até você chegar à caverna. Depois, você anda mais um pouco, em um lugar escuro e abafado, como se fosse um labirinto, até chegar à parte oca da caverna. Lá, está o final, ou o começo (ainda não descobri) daquele rio. Um pequeno lago, com as águas azuis e quentes. (http://sphotos-a.xx.fbcdn.net/hphotos-prn1/c102.0.403.403/p403x403/63686_206671592791529_622392383_n.jpg)

Não me lembro como encontrei aquele lugar. Faz uns anos. Só sei que eu fico lá quando preciso pensar um pouco. Trouxe algumas almofadas e uns livros, tem também comida, tudo que eu preciso.

Jessie pareceu se espantar com a maravilha daquele lugar, ela ficou com a boca aberta e seus olhos estavam brilhando.

–Isso é lindo – ela disse sem desviar os olhos da caverna – Como você a encontrou?

–Não me lembro direito. – eu admiti.

–E só você conhece esse lugar?

–Até agora – eu disse rindo. – Eu venho aqui para pensar.

Ela sorriu quando viu as almofadas e foi se sentar nelas, eu fui junto. Ficamos lá sentados, ela ainda admirava o lugar. Peguei uma coca cola na caixa térmica e comecei a beber.

–Por que você me trouxe aqui? – ela perguntou, do nada.

Fiz uma careta, não queria que ela perguntasse aquilo, porque nem eu mesmo sei responder.

–Hum... – eu tentei pensar em uma resposta – Porque eu confio em você.

Ela sorriu agradecida.

–Fico feliz com isso – ela disse. – Mas para um filho de Hades, porque você veio se isolar em um lugar que tem água?

–Acho que a beleza desse lugar não encanta apenas os filhos de Poseidon. – eu disse pensativo – Aqui é uma prova que Poseidon e Hades podem trabalhar bem em conjunto, porque esse lago está no Mundo Inferior.

–Esse rio é o Rio Estige, estou certa? – ela disse chegando mais perto do lago.

–Sim – eu disse – Mas ele é diferente, ele não tem o mesmo poder que o rio. Ele é apenas...água.

–Como você sabe?

–Eu queria perguntar ao meu pai, mas daí eu iria entregar esse lugar, então eu me joguei nele, e não aconteceu nada.

–Então da para nadar?

–Sim – eu disse e seus olhos se iluminaram. – Você quer nadar?

–Sim, mas outro dia.

–Por que?

–Não estou com roupa de banho, alias, eu nunca tive roupa de banho, vou precisar procurar no meu novo e belo armário. – ela disse rindo.

–Você pareceu uma filha de Afrodite – eu disse sem pensar.

–Será? – ela perguntou.

–Eu não sei. Pode ser. Você é linda. – senti minhas bochechas queimarem – Mas você não tem um jeito de uma. Filhas de Afrodite nunca limpariam nada, a não ser a própria maquiagem.

Ela riu envergonhada.

–Mas você gostou bastante desse lago – eu disse – Pode ser filha de Poseidon.

–Posso ser filha de... Perséfone! Eu admiro muito ela!

–Ou filha de Hades – eu murmurei tentando imaginar essa situação.

–Daí eu seria sua irmã. Mas não. Eu não quero isso. – ela disse e eu sorri – Não gosto daqui, sem ofensas. Por isso, não sou filha de Hades.

–Ainda bem – eu sussurrei aponto dela não ouvir.

–Temos que esperar para ver – ela disse rindo.

POV Perséfone

–Afrodite! – eu gritei entrando, com bastante raiva, naquele salão cor de rosa, que me dá enjôo só de ver. Aquele castelo dela, era todo rosa com fru fru, e eu odiava aquilo.

–Pers! – ela gritou toda animada, mas quando viu minha expressão, ficou confusa – O que aconteceu com você? Brigou com Hades de novo? Quer minha ajuda? Eu juro que não me intrometi dessa vez!

–Primeiro – eu disse tentando manter a calma – Não me chame mais de Pers! Isso nem é um apelido legal! Me chame de Perséfone! Meu nome é Perséfone! Segundo: Não, eu não briguei com Hades.

–Tudo bem – ela disse toda feliz e voltou a sentar em seu “trono” cor de rosa.

Ela era uma criança por dentro. Eu pensei.

Ela estava linda, odeio admitir, mas estava linda. Usava um vestido longo e vermelho, seu cabelo solto e lindo, mas eu tentei não reparar nisso.

–Olha – eu disse – Esse tempo todo eu fiquei pensando em uma coisa que não saia da minha cabeça. E você é culpada. Nico, filho de Hades, parece que ele está... Apaixonado.

–Sim! – ela disse batendo palmas – Graças a mim! Hahaha! Pela Jessie!

–Como você sabe dessa garota? Você não pode saber! Ninguém sabe! – eu disse em desespero. E se outro Deus soubesse?

–Ah! Eu sou Afrodite! Tenho que pesquisar sobre todas as garotas que ficam ao redor dos meus meninos, para formar meus casais! Mas fique tranqüila! Ninguém sabe! E ninguém pode saber! Eu sei sobre ela faz uns anos.

–Você precisa manter segredo, ouviu bem? – eu disse.

–Claro! Fique tranqüila!

–Muito bem, vou voltar para o Olímpio.

–Até logo! Ah! Hades necessita de você, se é que me entende.

–Afrodite!

POV Jessie

–Acho melhor irmos – eu disse.

–Tudo bem – Nico disse se levantando e limpando as calças. – Só quero que saiba que esse lugar agora é seu também. Toda vez que você quiser pensar, venha aqui, é um ótimo lugar.

–Obrigada Nico.

–E toda vez que você quiser me encontrar – ele riu envergonhado – Eu estarei aqui.

–Bom saber.

Voltamos para o castelo, ficamos conversando sobre coisas banais, como, por exemplo, se Hades tem um ursinho de pelúcia guardado do armário dele.

–Você vai jantar hoje? – ele perguntou quando já estávamos na porta de nossos quartos, que era um do lado do outro.

–É claro que sim –eu disse – Quer dizer, ainda não me acostumei com a idéia de que vou jantar em uma mesa toda refeição, mas eu vou, pois estou morrendo de fome.

Ele riu do que eu disse e eu me senti um pouco envergonhada. E se ele estivesse rindo porque eu era uma idiota? Acho melhor eu calar um pouco minha boca.

–Tudo bem – ele disse – O jantar é às 20 horas, lá na sala de refeições.

–E que horas são?

–Seis e meia. – ele disse – Tempo o suficiente para tomar banho, se arrumar e fazer mais alguma coisa. Te vejo lá.

Ele se aproximou e dei um beijo demorado na minha bochecha, fazendo meus joelhos ficarem bambos.

–Ta – foi à única coisa que eu consegui responder.

Entrei em meu novo quarto. Ele era gigante. Nada comparado aonde eu dormia antes. Tomei um banho e demorei um pouco, já que eu amava tomar banho, principalmente quando se tem ótimas condições. Saí enrolada em uma toalha e fui até o meu armário.

Era difícil escolher uma roupa, porque eu nunca fui de escolher roupa. Não sabia o que era para cada ocasião. Não sabia o que combinava com que, ou o que estava na moda.

Foi aí que eu reparei. Ali, em baixo de algumas roupas, tinha um caderno. Fui folheando e vi desenhos com combinações de roupas, com as roupas que tinham no meu armário. E em cima de casa desenho estava escrito uma ocasião.

Na ultima folha tinha um recado.

Para te ajudar.

Abraços.

Afrodite.

Fui folheando e montando os modelos. Peguei uma calça jeans escura, uma blusa branca com um desenho em dourado e por cima, coloquei uma jaqueta preta (que de acordo com o caderno, Nico adora). Estava escrito para eu colocar um salto alto, dei uma risada tão alta que fiquei com medo do Nico ouvir, já que ele estava no quarto ao lado. Como uma garota como eu, que mal usou um calçado em sua vida, vai andar de salto?

Ignorei totalmente o desenho e coloquei um all star preto que tinha lá. Olhei no espelho, e Uau! Estava bonita! Deixei meu cabelo solto, ele secava sozinho e nem toquei na maquiagem que tinha lá.

Olhei no relógio. Sete e meia. Tinha um tempo ainda. Como eu sou muito curiosa, coloquei meu ouvido na parede, que dava de lado com o quarto do Nico, mas não consegui ouvir nada, o que me chateou.

Fiquei andando de um lado para o outro, daqui a pouco eu iria cavar um buraco no chão de tanto andar no mesmo lugar, até que alguém bateu na porta.

Fui abrir e vi algo perfeito.