Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

~

Era incrível imaginar como fui forte durante todos esses sete anos, lutando para não me aproximar de Luke. Era incrível imaginar quão estúpida fui. Eu fugia de mim mesma ao tentar evita-lo, eu fugia da minha realidade, da real Thalia. Eu fugia de tudo que fui e de tudo o que sou. A garota punk apaixonada pelo filho de Hermes. A cara-de-pinheiro apaixonada pelo Herói da profecia. A Thalia Grace apaixonada por Luke Castellan.

E finalmente tê-lo ali, comigo, me mostrou o que tentei me livrar em vão durante esses anos, e o quanto eu perdi nesse tempo que eu apenas poderia tê-lo perdoado por seus atos.

Era uma tapa que atingia minha face. Um balde d’água que me trazia de volta para a vida.

Os lábios do loiro eram suaves nos meus, como uma fresca brisa de primavera. Algo em seu cheiro me lembrava de menta e madeira, e eu nunca me sentira tão protegida como naqueles braços. Meu corpo se apertava contra o dele e eu podia seu coração palpitando. Aquilo era bom, não era? Ao menos ele estava vivo.

Uma de suas mãos se prendeu em minha cintura, enquanto a outra se apoiava no sofá para sustentar seu peso. Meus dedos prenderam em seus cabelos cor de areia, puxando-o, e não o retardando como eu achei que faria quando o visse. Nossos lábios se afastaram por uma fração de segundo e se encostaram novamente, agora entreabertos. Sua língua umedeceu nossos lábios lentamente, e começou a fazer movimentos suaves em minha boca que retribuí de muito bom grado. A sensação era incrível.

Meu primeiro beijo, pensei comigo mesma. Era estranho, considerando que se eu não fosse uma árvore durante anos, e se não passasse tanto tempo imortal, eu teria, sei lá, vinte e dois, vinte e três anos... Deuses, a imortalidade.

Afastei-me com o pensamento súbito. Eu não estava virando cinzas, ou algo assim? Luke fitou-me, inicialmente assustado, mas um sorriso bobo logo tomou conta de seu rosto.

– Você não explodiu. Nem eu. Bom sinal, não acha? – sua mão tomou meu rosto, e Luke tombou pra trás, deixando-me deitada em seu peito.

Eu não sabia o que falar. Aquele sem dúvidas fora o momento mais mágico e perfeito de minha vida. Havia ultrapassado a barreira do proibido e, aparentemente, sem nenhum dano ou consequência. Mordi meu lábio, perdida em pensamentos, quando sua voz me trouxe de volta.

– Eu não beijo assim tão mal, né? – o loiro perguntou-me, ainda com o sorriso bobo na face, mas de certo modo eu sabia que ele falava sério.

– N-não, de jeito nenhum... – engasguei-me com as palavras que saiam afobadas – Foi... Perfeito, Luke. – sorri com o canto dos lábios, meus olhos perdidos nos seus. Deuses, porque ele tinha que ser tão... Luke?

– Ah bom – ele suspirou, fingindo certo alívio – Porque, você sabe, as garotas do acampamento sempre gostaram, então eu assustei que você não expressou sua felicidade. – ele riu de modo tão gostoso que me fez ri também.

– Convencido! – empurrei-lhe com certa força, rindo. Eu sempre soube que ele ficara com metade das garotas do acampamento, isso é verdade. Mas algo me disse que foram tentativas de esquecer o que tinha acontecido comigo.

– Fazer o que, sou irresistível! – seus dedos de demoravam em meus cabelos – Até o próprio Apolo tem inveja de mim!

Eu sorri, mas no fundo concordava com ele. Luke tivera uma segunda chance. Ele poderia ira até a amada e consertar as coisas, compensar seus erros. Mas o deus do Sol nunca poderia. Ele nunca poderia se deitar no sofá, com Ártemis apoiada nele. Ele nunca poderia beijá-la demoradamente como se não houvesse mais nada a ser feito.

Ele nunca poderia amá-la de direito.

Mas ocorria, de fato.

Um nó se fechou em minha garganta. Nos anos que passara com Lady Ártemis, ela sempre fora muito honesta e educada com todas nós. Mas sempre triste. Uma vez, antes mesmo de me tornar caçadora, Zöe havia me dito que era por causa de Órion, um amor perdido. E era verdade. Mas assim como a grande profecia fizera referência à Percy e Luke, a tristeza de Ártemis também existia devido à presença de mais do que um homem.

Afinal, o Amor talvez não fosse a coisa mais poderosa do mundo.

De que adianta o poder se não pode ser usado pra ser feliz?

~

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... Tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

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