Raios De Luz escrita por Noderah


Capítulo 18
Raios


Notas iniciais do capítulo

Vocês provavelmente estão P da vida comigo porque eu demorei séculos. Mas esse capítulo é muito importante para mim... Ele está pronto agora e acho que ficou muito bom! Digam-me o que acharam, sim?
Boa leitura.



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                Eu estava inconsciente. Minha cabeça latejava quando eu acordei. Abri os olhos, relutante, eu estava em um cubículo com paredes brancas. Eu tinha espaço o suficiente para quinze corpos deitarem.

                ...

                Saímos do barco e dois homens de preto param na nossa frente.

                - Foxie Firing, Vossa Majestade, deve nos acompanhar. – O mais alto falou.

                Olhei para Falkon, mas ele não olhava para mim. Os olhos deles estavam sem foco.

                ...

                Antes de me levarem para o carro, o mais baixo deles tirou um spray do bolso e o espirrou no meu rosto. Eu protestei, mas meus joelhos cederam e eu cai. Os três se abaixaram para me ajudar, os homens de preto com muito cuidado para não tocar no meu pescoço. Lembro-me de franzir as sobrancelhas e olhar para o que eles olhavam, mas só encontrei o colar em volta do meu pescoço. Mas a força para dobrar a cabeça foi demais, meu pescoço cedeu ao peso e meu tronco caiu para trás, sendo levado pela minha cabeça e fechei os olhos, cedendo ao entorpecimento.

                ...

                Um baque surdo ecoava bem longe. Eu quase não ouvia. Sinos tilintavam perto do meu ouvido esquerdo, mas uma voz recitava atrás de mim.

                Era um sonho. Um sonho lindo, em que eu não via nada. Apenas adivinhava o que eu achava que seria.

                Minha cabeça latejava. Mexi meu corpo um pouco. Primeiros os dedos da mão, apenas as pontas. Em seguida, dobrei os braços, testando. Flexionei os dedos dos pés, testei as dobras dos joelhos, balancei o quadril e suspirei. Nada doía, tudo funcionava, minha respiração era perfeita. O ar era ótimo. Eu não sentia cheiro de nada, mas não era como se isso fosse ruim. Eu não ouvia mais nada especifico, só um som regular, não tinha ritmo, mas era contínuo. Nunca era interrompido, mas era baixo e estava perto, porém eu sabia que não podia toca-lo.  Parecia um riacho, mas um riacho gotejante, bem distante.

                Abri os olhos, relutante.

                De repente, o riacho ao longe sessou. Eram murmúrios. Pessoas conversando tentando manter o silêncio. Mas elas pararam. Eu não queria que parassem, elas faziam bem aos meus ouvidos. O riacho seguia o ritmo do meu coração.

                Pensei em fechar os olhos de novo, mas achei que isso seria estupido.

                Situei-me no espaço. Eu estava deitada em um quarto branco. As paredes eram encurvadas assim como o teto, as quinas pareciam macias e o chão era confortável, apesar de duro. Não tinham portas nem janelas, eu estava dentro de um cubo. Tateei o chão e olhei em volta. Sentei-me e o som do silêncio foi substituído pelo som do nada. Que é diferente e muito pior. O silêncio é provocado, o nada é estabelecido. O silêncio é contido, o nada é artificial.

                Mesmo não vendo, eu sabia que algo tinha acontecido do outro lado daquele cubo.

                Olhei para os meus braços e eles estavam lisos, sem manchas. Passei os dedos pelo rosto e estava como antes. Eu estava com a mesma roupa, mas sem o casaco.

                Tentei lembrar o que tinha acontecido, pensar que aqueles homens eram caçadores, mas eles foram tão gentis, e pareciam até culpados. Não imagino que caçadores possam ser assim.

A sala – naturalmente – não tinha eco. Concentrei-me novamente, para ouvir os sons do lado de fora. Através da parede que eu não podia ver, nem sentir, eu ouvia as vibrações das palavras. O riacho tinha voltado a gotejar, mas agora pareciam apenas lembranças. Eu não ouvia com os ouvidos, mas como algo interior. Como se apesar da parede estabelecida para provocar o nada, eu ainda pudesse ouvi-los bem ao fundo.

                - Olá? – Me assustei com a minha própria voz; Estava rouca e o som saiu cortado.

                Quando falei, o riacho parou de novo. Abracei os joelhos ao peito e suspirei.

                Eu não tinha ideia de quanto tempo eu havia dormido, nem quanto tempo eu estava lá, mas eu queria sair. Eu me senti como um pássaro sendo observado por cima de um pano. Não, não exatamente um pano, mas um pano que os de fora podiam ver os de dentro. E não, não exatamente um pássaro, mas algo grande, forte e selvagem.

                - Por favor, quem está ai? – Implorei.

                Levantei-me em meus calcanhares e andei pela sala. Passei as mãos pelas paredes e elas não eram exatamente macias como eu achava. Ela era apenas lisa e branca, assim como o chão e tudo.

                Eu queria saber o que estava do outro lado e de repente senti uma imensa curiosidade. Já não era mais curiosidade, era um dever; eu precisava saber o que tinha do outro lado.

                Abri as palmas na parede mais perto de mim e fechei os punhos. Bati na parede com os punhos fechados e os olhos lacrimejando.

                - Por favor!

                Tornei a abrir as mãos sobre a parede e escorri até o chão. Acariciei a parede lisa e uniforme. Eu já desistia de um som. De um movimento, uma sensação ou a volta de um ritmo. Quando uma sensação chegou. Pareciam lembranças como o riacho era agora. Eu só sabia que estava lá, eu não tinha provas, mas sabia que algo estava do outro lado do cubo e da parede.

                Levantei a cabeça e procurei na sala com o olhar algum sinal. Algo mudado, mas não tinha nada novo. Apenas a sensação.

                Meu rosto era o de alguém que canta a glória!

                Sentei confortável no chão e tirei uma das mãos da parede, colocando-a no chão para me apoiar. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos. Nada no quarto era interessante, eu não precisava da visão.

                ...

                Quando abri os olhos, tentei me lembrar de onde estava. Mas o cenário havia mudado.

                As paredes ainda eram arredondadas, o chão e a parede ainda tinha a mesma sensação, mas agora eram de vidro. Do outro lado, muitas pessoas estavam paradas com as bocas meio abertas. Nenhum deles piscava, todos usavam um jaleco branco. Eles estavam em volta de mesas de vidro com todo tipo de parafernália cientifica. A única luz que os iluminava era a luz que fugia do meu cubo de vidro.

                As mulheres eram muito bonitas. Todas usavam o jaleco e uma calça jeans ou um vestido por baixo. Algumas estavam de salto alto, outras com sapatilhas. Todos os padrões femininos de beleza reunidos.

                Os homens eram encantadores. Com seus jalecos brancos e pele brilhante. Eles todos me lembravam de alguém. A inspiração me veio quando um deles, aparentemente o mais velho deles, deu um passo a frente. Ele logo parou quando minha atenção se voltou a ele.

                Mexi meus pés e olhei para as minhas mãos paradas. A apoiada na parede de vidro, estava separada de outra apenas pela parede. A outra mão era grande e com longos dedos. Ela vinha acompanhada de braços longos e fortes, o corpo das mãos estava sentado no chão com as pernas cruzadas e a cabeça abaixada. Ele estava dormindo. Falkon estava dormindo.

                Bati forte da parede e gritei, me movi para ficar de joelhos no chão de vidro.

                - Falkon! Falkon! Olhe para mim! – Bati na parede com força.

                Eu não prestava atenção, mas do outro lado, as pessoas de jaleco se moveram. Elas mexiam em papeis, corriam para os computadores, conversavam afobados entre si e pareciam desesperados.

                Atrás de Falkon, uma mulher se jogou ao seu lado. Bati com força na parede, repetitivamente, tentando alerta-lo que alguém estava lá. Gritei para que ela não o tocasse, mas ela não me ouvia. Todos os outros voltaram sua atenção para mim, para o meu eu de dentro do cubo e observaram a mulher. Ela balançou o ombro de Falkon e ele acordou. Levantando a cabeça e virando em direção a mulher. Ela falou algo para ele e ele se voltou para mim.

                Sua boca se mexia e ele sorria, mas eu não ouvia nada. A parede invisível ainda estava lá, me bloqueando.

                Ele percebeu que eu não ouvia e parou de falar. Seu corpo relaxou e ele olhou para mim, nos meus olhos.

                Olhei ao redor, para fora do cubo e notei um grande painel. Linhas vermelhas ondulavam nele e percebi ser meu ritmo cardíaco. No painel estava escrito “White Fox”* no topo. Sentei novamente e comecei uma longa passada, tentando me acalmar. Eu parecia sentir o jeito que as pessoas de jaleco ficavam. Elas estavam desesperadas, mas iam se acalmando ao ritmo em que eu ia me acalmando. Voltaram a conversar entre si e a desfilar lindamente pela sala, sobre as sombras da minha iluminação.

                - Onde estou? – Perguntei baixinho.

                Me virei para o homem que tinha chamado minha atenção. Levantei e corajosamente andei até onde eu podia, o mais perto dele. Ao redor dele, as pessoas paravam para me observar. O homem de jaleco se aproximou. No olhar dele havia compaixão e igualdade. Não me pergunte como sei disso, mas eu o sentia. Era com meu pai que ele se parecia.

                Ele se aproximou de mim também. Estávamos tão perto do vidro, que nossas respirações deixavam o vidro turvo. Parecia água.

                O homem de jaleco estava com uma prancheta embaixo do braço. Ele tinha um brilhante cabelo loiro, com uma mecha branca no topo. Sua pele era um tom suave de rosa. Ele era alto e em forma. Tudo nele exalava profissionalidade, mas ele parecia abobado comigo. Perguntei-me como ele me via, mas antes que pudesse perguntar algo, ele levantou um dedo, ele pedia para eu esperar.

                Balancei a cabeça e ele correu até uma das mesas com um grande equipamento de som. Uma pessoa sentada atrás da mesa passou a ele um microfone. O homem o aproximou da boca e uma mulher fez um contagem. Quando ela parou, o som do nada foi substituído pelo som do silencio. Eu os ouvia. A parede tinha sido retirada totalmente.

                - Foxie. Bom dia.

                Ah, então eu havia passado apenas algumas horas dormindo?

                - Deve ter muitas perguntas, mas a mais importante deve ser o que faz ai. – O homem disse. – Eu sou o Dr. Faithlin. Somos seu sangue. Somos Luz como você. Você está na vila da Luz, em um dos nossos laboratórios. Estamos mantendo-a ai dentro sobre ordens maiores. Estamos fazendo testes, querendo descobrir como você é, como funciona. Se foi... – ele desviou os olhos dos meus – Infectada.

                Olhei para Falkon.

                - Não... Não por ele, mas sobre as ideias de que é caçada. Nos, Luz, somos muito frágeis, somos bloqueados com qualquer pedra. Logo você será libertada. Eu rezo para que não guardes rancor.

                Dr. Faithlin tirou o microfone lentamente de perto dos lábios e observou minha reação. Surpreendentemente, eu não sentia rancor. Não sentia raiva nem me sentia traída. Eu me sentia acolhida. Faithlin parecia me proteger, de algo que eu não sabia o quanto perigoso era.

                Balancei a cabeça afirmamente e voltei a me sentar em frente à Falk. Ele estava sorrindo para mim e arranhava a unha no vidro. Senti uma pontada na cabeça e uma luz vermelha acendeu em um painel. Outra pontada mais profunda, que me fez franzir as sobrancelhas de dor, me acertou em cheio.

                As pessoas de jaleco se voltaram para o painel e se moveram para suas pranchetas e mesas. Outra mulher fez uma contagem, ela levantou os dedos indicando “três” e os abaixou, uma das luzes deste painel se desligou... Você está bem?!, Eio perguntou.

                “Eles estavam bloqueando-a?” Estavam. “Você sabe de fora?” Sei. “Eles dizem a verdade” Sim. “Quem é essa força maior?” Um homem que administra a família real. Disse que você poderia estar contaminada com o saber. Vão te deixar ir. Eles sempre souberam que você estava pura, se não, eles estariam contaminados também. “Está dizendo que ele armou para mim? Mas por quê?”, Eio não me respondeu. “Eio!” Pare. Eles vão interromper nossa ligação se você se agitar. Suspirei. As pessoas de jaleco observavam o painel. Você precisa entender que o que eles estão fazendo, é proibido. Não era para eles lhe contarem. Você não devia ver. Mas eles sentem você, estão tão perto. Se Eio fosse física, eu conseguiria vê-la se punindo por me contar demais.

                A mulher que acordou Falkon se aproximou dele. Ela – “mulher 1” a partir de agora – tinha o cabelo brilhante e castanho claro preso em um coque ajeitado. Seus olhos eram azuis, e a semelhança com a cor dos meus era assustadora. Os dela eram apenas mais escuros.

                Ela disse algo a Falk e ele a negou com a cabeça. A mulher 1 se levantou e andou até uma mesa, segui-a com o olhar até perdê-la de vista.

                Falk sorriu para mim, me dizendo que estava tudo bem.

                Algumas horas devem ter se passado. As pessoas de jaleco estavam muito calmas, elas sorriam às vezes e muitas vezes olhavam para mim. Um grupo veio até mim e me pediu para virar o rosto algumas vezes e fazer alguns movimentos com as mãos. Eles observavam com extrema atenção e anotavam tudo.

                Algumas vezes grupos de pessoas vinham até mim e faziam testes como esses, mas em geral eles só me observavam. Algumas mulheres encantadoras passavam os dedos pelo vidro e sorriam para mim, me encorajando a imita-las. Quando nossas digitais se compartilhavam pelo vidro, um alívio na nuca me passava. Elas pareciam sentir o mesmo.

                ...

                Estava deitada no chão, eu olhava para Falk enquanto ele tentava seguir os meus dedos com os dele. Toda vez que conseguia, um arrepio cruzava o meu peito. Apesar da separação do vidro, nos ainda partilhávamos dos arrepios.

                Eu estava calma, como se estivesse em casa.  Tinha reconhecido que o riacho distante que me fazia sentir bem, eram aquelas pessoas falando.

                Falk parou de seguir os meus dedos e se levantou depressa. Todos do outro lá se remexiam nervosamente, eles olhavam para mim com medo nos olhos e depois para uma porta dupla na sala. Sentei-me quando as portas balançaram de repente e um homem alto, com o cabelo em corte militar as cruzou. Ele olhou para mim e apontou, gritando na sala. Eu podia ouvi-lo, mas não entendia o que ele dizia. Parecia que estava surda de um dos ouvidos. Ele gritou com todos e senti algo no fundo do peito. Ele andou até uma das mesas, a maior delas. Dr. Faithlin se postou em seu caminho e o homem simplesmente o bateu. Levantei-me e me encolhi depressa, sentindo uma dor no fundo do abdômen. Arfei e gotas de suor desceram pela minha nuca. O homem jogou no chão uma mulher que estava em frente à mesa e apertou um botão. Cai no chão instantaneamente, desmaiada.

Notas:

*Raposa Branca.


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Notas finais do capítulo

O QUE ACHARAM!?
Amore ♥



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