Capítulo 3

Era de tarde e Arya esperava impacientemente por notícias de Eragon. Não sabia o que se passava com ela. Desde que falara com Eragon por vidência que o via de maneira diferente. Já não o olhava há algum tempo e, embora o tivesse visto a partir de um espelho, ela notara diferenças nele. Parecia-lhe muito mais velho, mais adulto, mais seguro de si, mais bonito… “Pára de pensar nisso! Ele já de deve ter apaixonado por alguma aluna... Porque esperaria por mim?”. No momento em que parou de pensar uma voz dela conhecida ecoou na sua mente. Fírnen.

“Calma Arya. Ele adora-te e tu sabes. Não te esqueças que mesmo depois de o rejeitares ele continuou a lutar por ti.”

“Não tenho assim tanta certeza disso. Passaram muitos anos desde que nos encontrámos pela última vez. Tal como eu mudei e me apaixonei por ele, também ele se apaixonou por mais alguém…”

“Mas tenho eu. Quando lhe enviaste o barco enfeitiçaste-o para que o pergaminho apenas fosse visível se ele te amasse.”

“Ou se sentisse a minha falta. Pode apenas sentir saudades de casa. Isso não justifica o que dizes.”

“Então dou-te outro argumento. Ele ama-te porque eu sei que sim, sinto isso. Instinto de Dragão.”

“Mas para mim o instinto não chega.”

“Mas cheg…”. O dragão interrompeu a frase e Arya sentiu uma onda de felicidade invadir a sua mente, vinda de Fírnen. “Eles chegaram! Sobe rápido.”

Mais rápida do que uma loba, Arya saltou para o dorso de Fírnen. Ele rugiu poderosamente e voou velozmente até Saphira. Pouco tempo depois ouviu-se um rugido ainda mais poderoso vindo de Saphira e ela começou a voar mais rápido do que Fírnen até os alcançar.

Os dois dragões observaram-se mutuamente durante alguns minutos e Arya sentiu um murmúrio da conversa que partilhavam mentalmente. Durante esse tempo Arya aproveitou para observar Eragon. Ele estava lindo. Usava uma camisa branca com corte em v, que permitia ver o quão demarcados estavam os seus músculos do peito; umas calças pretas e umas botas também pretas. O cabelo dele estava mais curto, mas continuava a ter a cor loura de sempre. As pequenas mudanças que observara eram pequenas, mas faziam-no parecer mais velho. A elfa sentiu os olhos dos alunos e de Eragon a percorrê-la.

Finalmente os dois dragões aterraram. Antes de Fírnen tocar o chão Arya concentrou-se em esconder o sorriso que brilhava na sua cara desde que ele anunciara a chegada de Eragon e Saphira. Quando desmontou já agia normalmente e quando fitou Eragon cumprimentou-o levando os dois dedos à boca e dizendo:

“Atra du evarínya uno.”

Eragon respondeu dizendo:

“Atra esterní ono thelduin, Arya”

Quando terminaram as formalidades, sem se conseguir conter, Arya abraçou-o e murmurou-lhe:

“Tive saudades…”.

Arya sentiu Eragon a apertá-la mais e percebeu que este tinha ficado surpreso com o seu comportamento. Por fim ele respondeu-lhe, num murmúrio ainda mais baixo que o dela.

“Eu também…”

Quando se separaram perceberam que os aprendizes de Eragon os observavam incrédulos, a ela e a Eragon e a Fírnen e Saphira. Apressadamente Eragon apresentou-lhe, a ela e a Fírnen, os três pares de cavaleiros e dragões e deu-lhes permissão para irem para as suas cabanas.

Pouco depois da partida dos alunos, Fírnen e Saphira voaram juntos para a floresta, onde ele tinha deixado uma refeição para ambos, caçada de manhã. Quando ficaram sozinhos, Eragon e Arya, partiram juntos, caminhando calmamente pelas ruas de Ellesméra, até a antiga cabana de Oromis.

Sentaram-se a conversar alegremente sem se aperceberem do tempo que passava. Quando deram por si já anoitecera e Eragon levantou-se para se despedir e partir para a sua cabana. Arya impediu-o de sair, agarrando-o pelo braço e puxando-o para si.

“Não queres ficar? Há dois quartos e seria bom Fírnen e Saphira puderem estar os dois sem ter de deixar de estar perto dos seus cavaleiros.”

Eragon ficou pasmado, o que não passou despercebido por Arya.

“Claro que sim, rainha!”.

Respondeu ele alegremente.

Com a mudança Eragon pôde ficar a conversar com Arya até altas horas da noite sem nenhum se preocupar com as horas que eram. Quando se despediu dela para se dirigir ao seu quarto, ela repetiu-se dizendo:

“Tive saudades.”

Desta vez Eragon aproximou-se dela e puxou-a para si. Ela sentiu-se tensa por alguns segundos mas quando os lábios de Eragon se começaram a aproximar toda a tensão desapareceu. No momento em que se iam beijar os dragões aterraram assustando-os, que não tinham notado que estes se aproximavam e ainda agarrados um ao outro olharam para os dragões que riam baixinho no fundo das suas mentes. Quando se aperceberam do porquê da risota ambos se soltaram e cada um seguiu para o seu quarto.

Antes de se deitar ainda falou com Fírnen:

“Vês! Eu disse que ele não te tinha esquecido. Vocês estavam muito divertidos…”

“FIRNEN!”

“Pronto só estava a comentar… Boa noite.”

“Boa noite.”

A última coisa que Arya ouvira nessa noite fora os risos surdos de Fírnen e Saphira na sua mente, e pressupôs que Saphira estava a ouvir a conversa através dele.