P.O.V. Desconhecido

Como se atreve! Ela sofrerá! Sim....sim sofrerá... Ambos sofrerão....A primeira parte do plano está concluída... Só preciso de reunir os aliados. O jogo começou.... Desta vez serei eu quem escolhe o tabuleiro! Prepare-se mestre Eragon... Estou a chegar com mais força do que possa imaginar!

P.O.V Eragon

Acordei na manhã seguinte com o corpo nu de Arya pressionado contra o meu. Olho para o rosto sereno da elfa encostado ao meu peito. Ela é tão linda. Mesmo com o cabelo embaraçado e as bochechas rosadas parece impecável. Intocada. Pura. Minha...

O sol da manhã atravessa as cortinas e ilumina o quarto o suficiente para que seja possível alguém vaguear por ele. Eu movo os meus olhos para o teto. Imagens da noite passada envolvem a minha mente deixando um sorriso aparecer nos meus lábios. O corpo de Arya sobre o meu. A forma penetrante com que os seus olhos liam a minha alma. O emaranhado de sons e sensações... Paradisíaco! Nunca nem nos meus sonhos mais profundos pensei que a noite de ontem acontecesse. Eu nem devia voltar a Alagaësia depois de partir... Pergunto-me se o significado da minha sina seria mesmo esse. Ângela é uma bruxa maravilhosa e uma exímia vidente mas a!go sobre esse detalhe não bate certo. Eu voltei... Certo? O meu pensamento é interrompido pelo movimento de alguém em cima de mim. Eu olho novamente para Arya e beijo os seus lábios quando está abre os olhos ensonados.

“Bom dia.”

A voz de Arya soa diferente. Como se algo dentro dela se tivesse alterado. Ela não parece ciente disso por isso decido não fazer comentários. Ela sorri para mim e segura o meu rosto, beijando-me.

“Bom dia.”

A minha resposta sussurrada junto aos lábios da elfa parece despertar o seu lado mais obscuro. Aquele que eu vi o ontem. Como se uma chama começasse arder dentro do peito dela e invadisse as suas veias. Como se o seu toque a fizesse alastrar e alcançar o meu próprio peito. Os olhos de ambos brilham e eu sei o que se segue. Não são precisas palavras. Tomo a sua boca na minha e deixamos que os nossos corpos tomem controlo sobre nós. Os nossos instintos mais primitivos estão à flor da pele e guiam os nossos corpos como se de um só se tratassem. O sangue nos lençóis parece desaparecer quando mergulhamos num transe de puro prazer.

P.O.V Murtagh

O meu coração bate com toda a força contra o meu peito como se de tambores tratasse. Estou completamente surdo a qualquer outro som quando caminho a passadas largas e decididas para o quarto de Nasuada. Desta vez ela tem de me ouvir! Thorn avisou-me sobre todos os possíveis (e muito prováveis) desfechos que a conversa que estava prestes a enfrentar podia ter. Nenhum deles ligeiramente animador... Eu não queria ter de pensar sobre isso agora ou começaria a acovardar-me. Finalmente, faço um desvio à direita e estou no corredor que pretendia. Só tem uma porta, ao fundo. Aparentemente colocaram-na no quarto mais afastado do meu. O pensamento entristesse-me. Tenho perfeita consciência que foi ela quem exigiu essa distância de mim. Por um momento já não tenho tanta certeza acerca desta conversa. Abano a cabeça vigorosamente. Não! Não volto a fugir! Com este pensamento em mente levanto a mão devagar e bato levemente na porta. Não ouço resposta nem nenhum som vindo do quarto. Viro o corpo ligeiramente mas respiro fundo e volto a olhar a porta. Bato novamente. Desta vez o som soa mais alto e urgente. Nada. Suspiro, pesaroso, e começo a afastar-me. Quando estou prestes a alcançar o corredor principal ouço o barulho silencioso de um trinco a abrir mas só acredito que não estou a sonhar quando a ouço...

“Murtagh?”

Ela parece ensonada. Sorrio levemente e viro-me. Embora a forma como esfrega os olhos seja adorável, tornasse impossível para mim não reparar no seu corpo coberto apenas por uma camisa de dormir praticamente transparente. Os meus instintos são desafiados pela minha mente quando me obrigo a olhá-la nos olhos.

“Bom dia.”

O seu rosto muda e endurece quando acaba de expulsar o sono.

“O que fazes aqui? Não te avisei que queria distância de ti?”

A sua voz soa dura e fria. Magoada... Sinto um apertar no coração mas forco-me a caminhar para junto da porta sem nunca deixar os seus olhos. Ao contrário dos olhos enevoados de Nasuada os meus mostram as minhas sensações como um espelho de água.

“Nós temos de conversar.”

“Não, não temos. Vai Murtagh... E não voltes!”

Nasuada cospe as palavras como se fossem veneno. Como se o meu nome fosse algum tipo de maldição. Eu fui sempre isso aos olhos das pessoas... Ela tenta fechar a porta mas eu sou mais rápido. Forço a porta a manter-se aberta.

“Não! Tu tens de me ouvir! Por favor…”

A minha voz inicialmente forte e decidida torna-se mais frágil e silenciosa à medida que falo. Ela sai quebrada quando termino. Os olhos da rainha penetram-me impiedosamente.

“Eu não tenho de ouvir nada! Há muito tempo que me habituei ao teu silêncio…”

Por entre os muros dos seus olhos escapa um brilho de dor, quase como que confirmando a sua afirmação. As palavras repetem-se na minha cabeça. Um turbilhão de emoções consterna-me. Não! Não posso perder esta oportunidade! Em meio a pensamentos confusos e pânico projeto a minha mente contra a de Nasuada. Facilmente quebro as suas barreiras e eu vejo quando o seu rosto se contorce com a intrusão. Estou ciente do quão doloroso é sentir que alguém invade os nossos pensamentos. Melhor do que ninguém… Mas neste caso é absolutamente necessário tomar este tipo de medidas. Num instante começo a reproduzir as minhas memórias na sua mente. Os seus olhos ficam desfocados e olham o vazio com as pupilas bem abertas. Agora ela vai ver... Vai perceber... Tudo!