Ouçam enquanto lêem!!

P.O.V. Desconhecido

Consegui. Roubar o ovo foi fácil mas finalmente encontrei forma de o chocar. Finalmente sou um cavaleiro do dragão, já tenho uma desculpa para procurar ajuda junto dos elfos da ilha dos dragões. Ainda bem que ele partiu para Alagaesia, será mais fácil penetrar no seu meio se passar despercebido por ele.

O dragão cresce depressa mas ainda não me consegue transportar.

Os meus aliados já se preparam, escondidos na sombra que os esconde de olhares indesejados.

O meu plano é simples: Atingi-la, a ele e aos Urgals que me roubaram a vida.

Como pode ela permitir que tais criaturas se tornassem cavaleiras do dragão? Já se esqueceu de quem me tirou a vida? Fui assim tão insignificante para ela?

Não interessa. Eu voltei e vou destruí-los. A ela, dar-lhe-ei a hipótese de escapar, aceitá-la-ei de volta a meu lado e protegê-la-ei, novamente e até à morte; dar-lhe-ei a oportunidade de salvar aquele que carregará, sem saber, no interior da sua barriga… Se não aceitar torturá-la-ei como aos outros, esquecerei quem ela foi e ainda é para mim, com eles morrerá, pela mão dos seus iguais.

…

P.O.V. Murtagh

Repeti vezes sem conta que nada disto aconteceu. É só um pesadelo que vai acabar a qualquer momento, quando eu acordar e a olhar encostada ao meu corpo com uma respiração calma e peito oscilante… Mas não. O meu coração sabe. Ele já sabe que não é uma fantasia e por isso contrai-se, aperta e dá voltas desconfortáveis pelo meu peito. Ele não acredita na loucura que a minha cabeça preparou para o enganar. Ele sabe que ela se foi. Ele sabe que ela se escapou pelos meus dedos, como a água que corre pela terra seca. Ele sabe que ela está quebrada… E por isso ele próprio se quebrou.

Sempre me ensinaram que chorar é para os fracos. Nunca me permiti a libertar uma lágrima que fosse. Nunca expeto agora. Uma lágrima e apenas uma… Carrega dor, saudade e principalmente, culpa…

Ela tem razão. Eu escolhi, fugi sem ao menos me despedir. Não perguntei por segundas opiniões pois sabia que não mudaria o meu ponto de vista, mas talvez fugir não seja a solução para nada na vida. Solucionou grande parte dos meus problemas, libertou-me a alma e o pensamento… Pelo menos grande parte dele, alguma acabava por estar sempre, ainda que de forma discreta, a gritar para que voltasse para junto dela.

Eu simplesmente não podia voltar. Não tinha a coragem para a enfrentar. Depois de passar tanto tempo com outras mulheres eu simplesmente não tinha coragem para dizer que a amava a ela e a mais ninguém, embora fosse e seja essa a verdade.

Foi preciso que ela me rejeitasse para que eu abrisse os olhos. Só consegui perceber o quão errado foi envolver-me com essas mulheres agora. Foi preciso perdê-la para saber que a amava realmente.

Não posso voltar a ficar sozinho. Não aguentarei viver cem vidas de homem sem ela a meu lado. Vou ter de encontrar forma de consertar o seu coração partido, mas como?

Fugir libertou-me o pensamento mas roubou o meu coração… O pior? Não sei como o recuperar…

P.O.V Eragon

A reunião revelou factos preocupantes sobre o presente estado de paz em Alagaesia. Tanto tempo a lutar por um direito tão simples e precisamente quando estava novamente feliz e em paz, algo vem atrás de mim e da minha felicidade. Alguém pelo que percebi. Alguém que me quer morto a mim e aos Urgals. Por estranho que pareça, as horrendas criaturas têm um lado dócil e carinhoso. Nenhum urgal que pisou Vroengard deu qualquer tipo de problemas e revelaram-se todos bastante trabalhadores e abertos a aprender. Acho que nunca ninguém lhes tinha dado uma hipótese para se revelarem na sua plenitude.

A questão é que algo nos persegue e com certeza tentará matar todos os que me apoiem e aos Urgals. É urgente que convoque uma reunião com os chefes das tribos urgals, Arya, Nasuada e Orik. A segurança dos nossos povos está em perigo novamente.

No meio de todo o rebuliço quase me esquecia do meu aniversário. Faltam apenas dois dias para ser oficialmente um ano mais velho…

Só espero que a idade me entregue sabedoria suficiente para proteger desta ameaça repentina aqueles que sempre me apoiaram …

P.O.V. Arya

Eu sei que deveria prestar mais atenção a esta ameaça mas é-me impossível concentrar sabendo que o aniversário de Eragon se aproxima.

Quero preparar-lhe uma festa como nunca teve e entregar-me-ei completamente a ele. Será esse o dia em que seremos um só.

Tudo tem de estar perfeito. Os convidados já estão avisados e as prendas embrulhadas. Já pedi para ser preparado um banquete especial para a ceia desse dia e, pela primeira vez desde que a minha mãe morreu, pedi para que a suite real fosse enfeitada com flores, os lençóis trocados e o perfume de rosas vermelhas derramado na sua lavagem para o quarto assumir um ambiente romântico.

Devo lembrar que nós elfos só nos entregamos àquele que acreditamos ser a nossa cara-metade, alma gémea, parceiro… Isso significa que, embora tenha mais de uma centena de anos, nunca perdi a pureza… Ele vai roubar-ma e ficará para sempre com ela, o que me assusta ligeiramente. Definitivamente nunca pensei que fosse perder a minha inocência de menina com um humano, ainda por cima cavaleiro do dragão e filho de Brom.

A nossa história é peculiar em tantos aspetos que nunca acreditaria nela se não a tivesse vivido.

Bem, faltam dois dias e antes de poder festejar tenho ainda de consolar Nasuada. A minha querida amiga merece o melhor e para ela o melhor é Murtagh… Tenho de pôr algum juízo naquele cabeça de vento para ver se ele acorda para o amor da sua vida e para a sua oportunidade única de encontrar a felicidade.

Eu encontrei essa felicidade no Eragon, só espero que ele sinta o mesmo a meu respeito…

Vou procurar Nasuada nos jardins, eu conheço o seu amor pela natureza e pela paz que só os jardins do Du Weldenvarden possuem, talvez consiga animá-la ligeiramente.